História Take me to the library - Poeira e pedidos

A loja estava, como sempre, vazia e Soonyoung esperava impacientemente a chegada de seu cliente assíduo.

Era outono, o vento forte do lado de fora arrancava as folhas alaranjadas das árvores e as levava para longe. As prateleiras estavam um pouco empoeiradas, mas ainda assim, o lugar era aconchegante. A maior parte dos livros estava disponível para a leitura na loja, então o garoto tinha constantemente que passar a sua tarde arrumando-os em ordem alfabética. Sinceramente, a única coisa que Soonyoung fazia todos os dias era reclamar em suas redes sociais, servir café para seus pouquíssimos clientes e brincar, fazendo poemas acrósticos com os títulos dos livros.

O sino da porta tilintou, fazendo aquele barulho irritante, indicando que alguém havia entrado. O garoto de cabelo vermelho vívido olhou ansioso na direção da porta, mas era apenas uma senhora, que provavelmente compraria um exemplar de "50 tons mais escuros" (pode acreditar, esse livro sai muito).

Sinceramente, não havia nada de interessante para se fazer sendo recepcionista daquele Book Café. Seus dias se resumiam à sentar-se, atender alguns clientes que procuravam livros específicos e esperar Jeon Wonwoo chegar e lhe fazer companhia, mesmo que não dissessem nada na maior parte das vezes.

Wonwoo era um garoto de sua universidade, que estudava administração na mesma turma que o ruivo, aparecia todos os dias pontualmente e estudava por horas à fio, sentado na mesa perto da recepção, algumas vezes, ele trazia uma câmera e ficava conversando com ela na poltrona perto da janela, o que o ruivo achava um tanto esquisito. No começo, o mais baixo deixava-o ler e estudar em paz, mas depois de um tempo os dois começaram a conversar e, consequentemente, Soonyoung começou a importunar o moreno, arrancando-lhe risos contidos.

Mais uma vez a porta se abriu, fazendo seu costumeiro barulho irritantemente agudo. Soonyoung odiava aquele sino com todas as suas forças, mas seu pai tinha algum tipo de apego especial pelo item e proibira o filho de tirá-lo do lugar. O garoto alto de cabelos castanhos entrou no estabelecimento. Seu semblante era sério, deixando-o com uma aparência madura. Ele vestia uma camiseta branca larga demais, uma calça preta e uma bolsa estilo carteiro, sem nenhum adereço, mas, sinceramente, ele não precisava de muita coisa para parecer bonito. Wonwoo passou a mão pelos cabelos, ajeitando os fios bagunçados, antes de acenar para Soonyoung. Seu coração parecia dar saltos e cambalhotas dentro de seu peito, mesmo com apenas esse aceno indiferente e rotineiro. Tudo que o moreno fazia parecia afetá-lo imediatamente.

Soonyoung já havia falado como seu coração agia perto do mais novo para seu melhor amigo, Jihoon, mas o mesmo deu uma resposta simples e curta demais: "Pare de agir como um idiota e chame-o logo pra sair, seu covarde". O ruivo revirou os olhos ao lembrar da expressão de desdém do amigo. Não era tão fácil assim, OK?

O garoto de cabelos avermelhados devaneava, suas mãos suando de ansiedade, quando Wonwoo o chamou de um canto da loja, atraindo sua atenção.

— Soonyoung-ah,   — ele chamou — onde ficam os livros sobre história da administração?

O mais velho não prestou muita atenção no resto da frase, apenas encarou-o com as bochechas coradas e indicou uma prateleira à direita. O moreno sorriu encantadoramente e agradeceu. Há essa altura, borboletas dançavam valsa no seu estômago. Wonwoo nunca havia o chamado desse jeito, geralmente procurava por todas as prateleiras até achar o que queria e nunca pedia sua ajuda.

Soonyoung encarava as mãos enquanto criava coragem para falar com o moreno.

Wonwoo estava atrasado.

O garoto havia ficado até tarde na sala de aula copiando a matéria que perdeu e acabou chegando atrasado no café. Soonyoung, como sempre, estava atrás do balcão, provavelmente nas suas redes sociais ou fazendo poemas com as títulos dos livros infantis, que ficavam numa prateleira perto da recepção. Kwon Soonyoung era muito bonito, seu cabelo estava com uma cor vermelha vívida e caía em seus pequenos olhos. Esse garoto adorava importuná-lo, mas ele não ligava, na verdade, gostava de suas piadas, por mais sem graça que elas possam ser. O garoto de cabelos vermelho era... como poderia descrever... peculiar? Ele tinha uma boa aparência e senso de humor, mas Wonwoo não conseguia manter uma conversa longa com ele e isso o deixava levemente decepcionado.

Os dois se conheciam há pouco mais de um ano, já que estavam na mesma universidade, mas só haviam conversado quando Soonyoung passou a trabalhar no Book Café de seu pai. Coincidentemente, na mesma época, o moreno estava procurando um lugar calmo para estudar e talvez fazer alguns vlogs para o seu canal. Foi quando um amigo lhe indicou o tal Café e ele acabou ficando mais próximo do atendente. Nas primeiras vezes que ele fora, os dois não se comunicavam, o ruivo lhe dizia quanto tempo ele havia ficado estudando, ele pagava e ia embora, sem enrolação ou rodeios. Mas, depois de 3 semanas indo todo santo dia, Soonyoung começou a perguntar sobre o que eram os livros, às vezes o porquê dele estar lá, e conversavam por algum tempo, até Wonwoo voltar a ler ou fazer as lições. O mais alto geralmente não gostava de ser interrompido quando estava estudando, mas não se importava se fosse o ruivo fazendo.

Wonwoo não conseguia achar a prateleira com livros históricos e chamou o recepcionista, procurando auxílio. Sem pensar, ele diz:

— Soonyoung-ah, onde ficam os livros sobre história da administração?

Ele viu o garoto de cabelos ruivos arregalar os olhos e sorriu com a reação, seguindo para a prateleira da direita. Estava distraído procurando por algum livro que o agradasse, quando o Kwon chamou:

— Wonwoo... — ele começa, tímido — S-será que você... sei lá... gostaria de sair algum dia desses?

Se o garoto estivesse tomando alguma coisa, provavelmente teria cuspido na pilha de livros na sua frente. Quer dizer, ele sabia que não era feio, mas em todos os seus encontros e namoros (que não foram muitos, afinal) era ele que fazia o convite. O mais alto o encarou. Soonoyung tinha as bochechas coradas e suas pequenas orbes castanhas evitavam ao máximo o olhar fixo do outro.

— Sair? — ele diz, inocentemente — Tipo um...

Soonyoung não o deixou terminar.

— Ah, não, não! — ele diz, balançando as mãos afobado — Só... como amigos... sabe... só comer e... conversar. Nós nunca conseguimos ter uma conversa aqui, então eu só pensei que...

Wonwoo se divertia ao ver o garoto, que sempre era tão engraçado e descontraído, afobado e envergonhado com uma simples pergunta. O mais alto se aproximou do balcão, vendo o garoto corado se ajeitar na cadeira.

— Se eu aceitar, — ele diz, com um sorriso brincalhão — onde comeríamos?

— Sendo sincero, eu não faço ideia. Não achei que conseguiria chegar nessa parte.

O mais alto riu do comentário sincero do garoto. Soonyoung também riu, mas parecia nervoso demais, brincava com suas mãos e estralava seus dedos. Wonwoo, apesar de achar o outro atraente, nunca havia pensado em chamá-lo para sair, mas agora que a ideia tinha surgido, parecia não ser tão ruim.

— Certo.

— Certo o quê? — o mais velho perguntou, confuso.

OK, sair com ele seria, no mínimo, divertido.

— Eu vou sair com você, Soonyoung. — diz o moreno, rindo.

— Ah... oh, sim. — ele diz, concordando exageradamente com a cabeça.

O moreno pegou sua bolsa de cima da mesa e caminhou em direção à porta.

— Ahn... — Soonyoung disse, atrás de si — Você não vai ficar hoje?

— Já estudei bastante na escola hoje.

— Então, por que veio? — ele corrigiu — Quer dizer, não que eu não tenha gostado, sabe? De você ter vindo, mas...

— Queria esfriar a cabeça. Conversar com você me anima, Soonyoung-ah. — ele diz, sorrindo e sai, deixando o garoto de bochechas coradas para trás.

Soonyoung queria gritar, pular, talvez jogar todos os livros no chão; o que pensando bem, seria burrice, já que teria que arrumá-los logo depois. Mesmo tendo ficado nervoso e mal ter conseguido falar com Wonwoo, o garoto não estava se importando nem um pouco, já que havia finalmente criado coragem para chamá-lo para um encontro. Tudo bem que ele havia dito que não era um encontro, mas claro que os dois sabiam que era um encontro.

O garoto teria de fechar a loja hoje, já que era o único funcionário trabalhando no dia, mas ele não se importou; nem mesmo quando um menininho derrubou todos os livros de uma prateleira infantil ou quando perdeu o ônibus e teve de esperar por mais 30 minutos. Estava tão feliz que foi saltitando na sua caminhada de volta pra casa.