História Take me to the library - Caminhadas e café

Faziam duas semanas que os garotos começaram a ir embora juntos. Wonwoo sempre ficava na porta da sala esperando o mais baixo juntar o material e irem direto para a loja. Mesmo o moreno andando mais rápido, o ruivo fazia seu melhor para segui-lo de perto. Ás vezes, o mais alto colocava sua mão no final de suas costas, para fazê-lo andar mais rápido, deixando o ruivo arrepiado e corado.

Hoje, Wonwoo seguia na sua frente, dando à Soonyoung uma visão privilegiada de suas costas. O mais baixo já havia analisado o moreno incontáveis vezes, mas nunca tão de perto. Ele era só um pouco mais alto que o outro, na verdade, apenas por exatos 6 centímetros (sabia disso pois já pegara seu perfil escolar na secretaria, mas isso é passado, não precisamos de detalhes), suas roupas largas escondiam o quão magro o garoto era, seu cabelo precisava ser cortado na parte da nuca, deixando Soonyoung tentado a passar os dedos por entre seus cabelos castanhos claros.

O garoto de fios ruivos despertou de seu devaneio quando o moreno virou-se para conferir se ele ainda o seguia.

— Você anda devagar. Espero que nosso jantar seja num lugar perto, senão chegaremos para a ceia. — ele diz, com um sorriso.

— Nosso... jantar? — o ruivo pergunta.

— Ah, sim. Pensei em sairmos para comer depois do seu expediente. — o moreno diz, voltando a andar.

Soonyoung quis sair saltando pelo resto do caminho, mas se segurou e correu para acompanhar Wonwoo que andava dando passos largos. Ele olhou para o mais alto, que estava com uma expressão neutra.

— A gente pode sair outro dia porque eu fico até mais tarde hoje pra fechar a loja. Não quero te fazer esperar.

O moreno deu um sorriso e bagunçou os cabelos do mais baixo, fazendo-o ficar corado. Os dois haviam ficado próximos nas últimas semanas e cenas como essa eram comuns. Jihoon e Mingyu até tinham ido reclamar com o, segundo eles, casal, dizendo que tinham perdido os melhores amigos, deixando os dois envergonhados.

— Não me importo. Não é como se eu tivesse algo para fazer mais tarde, ou em qualquer hora do dia.

Soonyoung sentiu borboletas voando em seu estômago, já ansioso. Para ser sincero, o garoto nunca havia saído com outro garoto antes, na verdade já saíra com Jihoon várias vezes, mas era diferente, já que não tinham interesses amorosos envolvidos. Algumas garotas já pediram para se encontrar com o ruivo, e no começo ele aceitava todos os convites, mas nunca se envolveu seriamente com nenhuma delas. Então, resumidamente, ele não tinha nenhum tipo de experiência em encontros.

O ruivo saiu de seus devaneios e percebeu que Wonwoo carregava uma câmera, filmando a rua e as árvores em volta.

— O que você tá fazendo?

— Filmando um vlog, por que? Você quer aparecer?

Ele virou a câmera para os dois e colocou o braço nos ombros do amigo, que levantou as sobrancelhas, surpreso pelo contato repentino. O mais alto sorriu para a câmera e começou a falar:

— Oi, aqui é o Wonwoo. Hoje eu estou indo para o Book Café, junto com o meu amigo, Soonyoung. ­­­— ele encara o ruivo — Diga oi.

— Ahn... oi. — ele diz, acenando timidamente.

— Ele é o atendente da loja, provavelmente eu já falei dele alguma vez. Aliás, vou deixar o endereço do Café pra vocês visitarem, o lugar é incrível e a recepção é calorosa. — ele diz, olhando na direção do mais baixo, que corou com o comentário.

Wonwoo começou a falar coisas aleatórias, como tinha sido seu dia, como havia ganhado uma partida de um jogo online, que Soonyoung não conhecia, mas que o moreno parecia gostar muito, falou que sairia com o ruivo depois do expediente. E então, o monólogo do moreno com sua câmera se tornou uma conversa entre os dois garotos, já que de algum jeito, começaram a discutir se os animes antigos eram ou não melhores que os atuais.

Soonyung argumentava dizendo que Sailor Moon era um clássico e que não devia ser desrespeitado por um mero mortal, como Wonwoo, quando um moço apressado esbarra no moreno, fazendo sua câmera cair no chão, fazendo os três rapazes pararem, boquiabertos.

O moreno foi o primeiro a falar alguma coisa:

— Puta merda. — foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

— Você devia olhar para onde anda. — o rapaz que esbarrou no outro diz, parecendo entediado — Se me dão licença, eu vou indo. Boa sorte com a câmera.

O moreno o segura pela gola da camiseta. Ele parecia furioso.

— Ei, onde você pensa que vai? Você vai pagar o conserto da minha câmera.

— Você tá louco? Eu nem encostei na sua câmera, você que deixou cair.

O cara se desvencilhou das mãos de Wonwoo e voltou a caminhar. O mais alto fez menção de segui-lo, mas o ruivo segurou seu braço, vendo os olhos furiosos do outro. Ele apenas suspirou, exasperado e se abaixou, pegando a câmera, que aparentemente, não estava ligando.

O moreno pegou a mão de Soonyoung e saiu andando batendo os pés. Eles não estavam longe da livraria, então foram caminhando sem dizer uma palavra. Wonwoo estava transtornado, por vezes, pensava em voltar e dar uma surra naquele garoto, mas seria burrice já que ele era mais forte. Ele estava frustrado e tentando pensar em como pagaria pelo conserto da sua companheira. Ele continuavam a pensar e devanear quando percebeu que já haviam passado da livraria há tempos.

— Ei, Soonyoung-ah, já passamos da livraria. — ele diz, olhando para o ruivo.

— Eu sei. Mas achei que você precisasse caminhar e esfriar a cabeça antes. — ele diz, brincando com os dedos do mais alto.

O mais novo havia esquecido que estava segurando a mão do ruivo, não que estivesse reclamando, na verdade. Sua mão era quente, pequena e tinha dedos gordinhos, contrastando com a mão fria e grande do moreno. Com grande esforço, Wonwoo largou lentamente a mão do mais velho, dizendo:

— Me desculpe por aquilo, eu não sei o que deu em mim. — ele diz, sentindo-se envergonhado pelo seu comportamento imaturo.

— Ei, a polícia não te pegou, então está tudo bem. — ele diz, brincando.

O moreno riu, envolvendo os ombros do amigo com seu braço e indo de volta para a livraria empoeirada que tanto gostava. Quando chegaram, o ruivo foi para o balcão e o moreno sentou-se no seu lugar costumeiro, na frente da recepção. Wonwoo xeretava na sua pequena câmera, tentando fazê-la ligar, mas sem sucesso.

— Droga, eu tive que pedir dinheiro dos meus pais pra comprar essa coisa e agora vou ter que pagar o conserto. Eu não tenho dinheiro nem pagar por ela, imagina pelo conserto! — ele diz, bagunçando o próprio cabelo.

— Eu posso te ajudar, se quiser. Eu recebo por trabalhar aqui, e não é como se eu gastasse o dinheiro, já que eu quase nunca saio. — o ruivo diz.

— Não posso pedir uma coisa dessas pra você, deve ser caro.

Soonyoung balança as mãos, como se não fosse nada.

— Eu não me importo, juro. Me mande uma mensagem depois, falando quanto ficou. — ele diz, e entra numa salinha atrás do balcão.

Wonwoo estranhou ao ver que o mais velho fora até a sala dos funcionários, ele geralmente ficava o expediente todo em seu posto, só saía para ocasionais idas ao banheiro dos clientes. Quando voltou trazia duas canecas fumegantes com cheiro de café.

— O que é isso? — o moreno diz, quando o outro deixa uma caneca ao seu lado.

— Não dá pra ver? É uma torta de morango. — o ruivo diz, ironicamente.

O mais novo revirou os olhos, mas riu, tomando a caneca (que tinha figuras de um anime antigo que não conhecia) e dando um gole. Estava forte e com só um pouco de açúcar, do jeito que gostava. Soltou um ruído em aprovação e olhou para o ruivo, que o encarava com interesse.

— Está do jeito que eu gosto. Como você sabia?

— Dedução. Você não parece gostar de café fraco, muito menos com açúcar demais. — ele diz, dando um gole no seu próprio café, que estava numa caneca do SHINee.

— E você? Como gosta do seu café? — Wonwoo pergunta, finalmente abrindo seu livro.

— Forte, mas com muito açúcar e creme. — ele diz, mostrando seu café claro, cheio de creme para o mais novo.

A porta fez seu barulho irritante, indicando que alguém havia entrado. O ruivo não pareceu ligar tanto, mas depois olhou confuso para a porta. A curiosidade de Wonwoo foi mais forte e o moreno também se virou para ver quem era.

Na porta, um homem não muito alto (e não muito magro também) estava parado, com um sorrisinho no rosto. Vestia roupas simples, mas parecia ter uma boa vida, pois tinha um relógio de ouro no pulso esquerdo, por ser canhoto talvez. Quando olhou nos olhos do homem logo entendeu a situação. Seus olhos pequenos formavam duas linhas pequenas em seu rosto, como olhos de tigre. Era o Sr. Kwon, pai de Soonyoung.

— Será que estou atrapalhando?