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História Lie - Five - Traços e diferenças


Escrita por: ParkGoJeon

Notas do Autor


Hello Hello meus unicórnios, sei que demorei para postar um capitulo novo, mas estava sem internet todos esses dias...um capitulo sairá em breve, então não se preocupem e aproveitem porque é longo...

Capítulo 2 - Traços e diferenças


Capitulo 1

O segredo é saber lidar com diferentes tipos de pessoas, mesmo que elas não façam o mesmo, sem deixar de impor sua opinião e personalidade.

* Rafael coelho dos santos.

15.03.2011

Sinceramente, hoje não é o meu dia.  Desde que eu acordei atrasado para ir para a escola eu soube que o sono e a lerdeza — que já é embutida no meu corpo — iria me atrapalhar de alguma forma. Acordar cedo nunca foi o meu forte, eu não nasci para abrir os meus olhos inchados às 05:00 da manhã, mas infelizmente minha tia conseguiu esquecer disso quando foi fazer a minha matrícula .

Eu devia começar a ser responsável e fazer as minhas coisas.

Voltar para Seoul não estavam nos meus planos, pelo menos não na minha lista desse ano. Infelizmente não dava mais para ficar em Busan, estava ficando pequena demais para mim, eu precisava respirar e o único lugar que estava disponível para isso — segundo a minha tia — era Seoul.

Não era como se eu não gostasse da ideia de me mudar, eu não tinha amigos para fazer falta e meus pais viviam se matando de trabalhar para não poder olhar na cara um do outro, então para mim o processo da mudança foi relativamente fácil.  Acho que a pior parte foi ter que empacotar tudo sozinho e carregar aquelas caixas pesadas até o carro do meu tio, que não mexeu sequer um pé para me ajudar. Não o culpo, faria a mesma coisa.

O problema é que meu corpo de adolescente fraco não consegue sustentar meu corpo, imagine caixas de papelão cheias de revistas, porcarias e coisas que eu nunca precisaria. A viagem foi demorada, enjoativa e meu tio tinha um péssimo gosto para música, clássica não era o meu forte.

A mudança — feita por mim mesmo — foi um tanto árdua, e nem tudo coube no flat extremamente apertado. Faz um mês que eu estou com aquelas caixas mofando no canto, me fazendo bater nelas toda vez que me levanto pra beber água de noite. Os vizinhos também devem me odiar um pouco, eu sou um adolescente que gosta de música alta e gargalha como se tivesse um microfone nos lábios, o problema é deles se esperavam um morto.

Nesse um mês eu consegui me divertir um pouco, as ruas de Seoul quando se está de olhos fechados parece ser outro mundo, pelo menos é isso que eu acredito. É o famoso ditado “quem não tem cão caça com gato.” No meu caso eu adapto para “Quem não tem L.A fica com Seoul mesmo.” Eu realmente gostaria de sair da Coreia, não é que eu não goste dela, mas as pessoas estão se tornando muito padronizadas ultimamente. Eu gosto de coisas novas. Cores diferentes. Olhos de preferência nada asiáticos e um ombro largo e musculoso. Pode dizer que sou do contra, eu deixo.

Meu despertador também é um pequeno problema, ele parece que ganha vida própria e se desativa sozinho. Quer dizer, talvez eu ajude um pouco para que ele se desative, mas nada muito ao extremo.

Apresso os passos e aperto meu casaco sobre o peito, conseguia sentir o frio passar pelo casaco e congelar minhas costelas aos poucos, e eu ainda tinha mais meia hora para chegar na escola.

Eu podia muito bem pegar um ônibus, não correria o risco de chegar atrasado e provavelmente não ficaria resmungando o quanto o frio iria congelar todas as minhas costelas em menos de poucos minutos. O problema eram as pessoas do ônibus, elas gritavam  muito alto , se empurravam e haviam pessoas que estavam chegando do trabalho e não cheiravam nada bem. Meu perfume era caro demais para se perder naqueles assentos nada confortáveis.  Pelo menos é isso que eu gosto de repetir para mim mesmo enquanto ando.

A verdadeira questão é o dinheiro que anda faltando. Meus tios não mandam  mais dinheiro, não atendem mais os meus telefonemas e meus pais  seguem a mesma regra. O dia de pagar o aluguel e a mensalidade da escola está chegando e eu não sei se meus tios vão voltar a enviar dinheiro.

Paro na rua por alguns segundos, estava a uma quadra da escola e precisava me recompor. Respiro fundo, vejo o meu reflexo através do vidro de um carro, coloco um sorriso nos lábios vermelhos e ando de maneira calma até o campus.

Uma palavra de forma repetitiva define o campus Sopa “dinheiro. Dinheiro e dinheiro novamente.” Tudo era muito caro, pelo menos na minha cabeça de pessoa mão-de-vaca. A única coisa boa era a estrutura e o pequeno museu que ficava dentro do lugar, uma coisa que eu gostaria de ressaltar, o campus não apenas “abrigava” o colegial, havia uma faculdade a poucos metros. Aquele fato me deixava intimidado e animado, eu gosto de pessoas, gosto de descobri-las e ficar pensando como são suas vidas antes de dormir. O meu único problema mesmo se chamava Lee Dong Wook, um sunbae que fazia administração.

DongWook é —segundo os meus cálculos — cinco anos mais velho, embora não pareça. Ele é o tipo de pessoa que ninguém  nota, é sempre muito calado e anda em trio. Nunca vi pessoas tão opostas como aqueles três.

Kim Woo Bin é o que podemos classificar como valentão. Os cabelos penteados para trás cheios de gel, o topete penteado fio por fio. Roupas caras é apenas um bônus, sempre tons de cinza e azul, acompanhado de uma jaqueta de couro que não parece ser nada confortável.

O que é o oposto de Tae Yeon. Os cabelos loiros — quase brancos — a deixavam parecendo um anjo. Usa roupas sempre muito claras que a deixava parecendo um fantasma, os lábios sempre estavam muito vermelhos e chamavam a atenção em meio aquela palidez.

E lá estavam os dois quando eu dei menos de dez passos para dentro do campus. Woo Bin encostado em sua moto cara, os braços cruzados e a famosa jaqueta no corpo. Enquanto isso Tae Yeon o olhava com um sorriso no rosto, usava mais um dos seus vestidos longos e sem cor.

Passo pelos dois ouvindo suas risadas altas, como sempre DongWook não estava com eles, pelo menos não a essa hora. Apresso os meus passos e me esquivo de algumas pessoas que estavam no meu caminho.   Um  dos problemas de se estudar na Sopa é que tudo é muito grande, e a minha sala é a mais distante possível.

Depois de colocar a mochila na sala saio, ainda tinha meia hora para a aula começar e precisava fazer uma coisa. Seoul School Of Performing Arts era um verdadeiro luxo, em principal quando se tratava da sua biblioteca, a variedade era enorme, ainda mais porque dividimos ela com a faculdade. Era o nosso único ponto de ligação em questão de cômodos.

Assim que entro na biblioteca passo pela Sra.Choi, a bibliotecária idosa que sempre tinha os óculos tortos e um olhar de quem não queria estar ali. Lhe dou um sorriso e faço uma mesura, caminho entre as prateleiras fingindo prestar atenção aos livros caros. Passo por mais alguns corredores tentando ao máximo esconder a minha parte “discreta”. Quando já estou em um dos últimos corredores consigo ver DongWook sentado com vários livros sobre a mesa, assim como todos os outros dias estava terminando os trabalhos que provavelmente tinha preguiça de fazer em casa.

Olho para os livros, pego um que tenha a cor bonita e me apoio sobre a enorme estante o observando sobre o livro. DongWook era um verdadeiro mistério para mim, ele estava quase batendo o meu recorde de interesse. Eu nunca fui o tipo de pessoa que se fixa a outra, depois que ela mostra tudo que é para mim, instantaneamente perde a graça. DongWook conseguia ser indecifrável e me fazia catucar a mente e pensar que tipo de ser humano era aquele. Ele era o tipo que fazia os trabalhos na escola, mas era esforçado. O tipo libertino, mas que tinha os seus limites.

Observo ele levar a mão até o copo plástico de macchiato, assoprar a fumaça e levar o copo até os lábios. Estava quente e ele deu um pequeno pulo, tirando sua atenção do laptop para o copo, como ele fazia todo dia. Acabo sorrindo e olho para o livro em mãos, dou uma passada pelas letras e vejo que nunca leria algo daquele gênero. Volto a fitar DongWook.. Pode me chamar de perseguidor descarado, mas ele é interessante demais, eu preciso saber  o que ele esconde , qual o seu motivo. Não estarei satisfeito enquanto não o compreender.

— Ele vai acabar processando você. — ouço uma voz e dou um pulo.

Seguro o livro que quase caiu no chão e me apoio na prateleira respirando fundo. Olho Hyuk pelo canto do olho sentindo a irritação borbulhar no peito. O observo pegar um livro laranja e mostrar o seu rosto pela enorme brecha que tinha feito ao tirar alguns volumes do curso de direito.

— Omo! Você deveria avisar quando está chegando, eu poderia derrubar o livro e fazer um barulho enorme. A sra.Choi jamais me deixaria entrar na biblioteca novamente. — cochicho e o vejo sorrir, reviro os olhos. Me viro para a prateleira e encontro os olhos de Hyuk, estava novamente com o seu sorrisinho sacana no rosto. Coloco o livro de volta ao lugar. — Vamos, o sinal já vai tocar.

— Uhum. — ele responde.

Caminho até o fim da estante e antes de virar olho para DongWook. Foi inevitável franzir a sobrancelha ao ver um pequeno sorriso nada discreto em seus lábios, parecia até mesmo que ele estava prendendo uma risada. Será que ele percebeu que eu o estava espionando? Viro um pouco o corpo, estava tremendo para ir lá e perguntar o do porque da risada. Respiro fundo com um sorriso no rosto e o dou as costas, é melhor apenas o observar a distância, prefiro fazer suposições sobre ele do que descobrir a verdade e me decepcionar.

— Você deveria parar de o seguir. — Hyuk falou assim que saímos da biblioteca. — vai acabar se metendo em um problema.

— Eu sei.

O olho pelo canto do olho.

Hyuk era alguns centímetros mais baixo do que eu. Os cabelos escuros e brilhosos penteados para a esquerda, as sobrancelhas cheias e a pele um tanto rosada. Usava a farda amarela com um moletom preto que alguns rasgos no braço dando o seu charme.

— Estou falando sério. — seu tom de voz não mudou, era calmo sempre. — ele pode contar para a diretora e ela vai acabar te tirando de alguma atividade importante.

Não respondo, não era necessário. Eu podia muito bem parar, eu tenho o controle do meu corpo. Mas era só DongWook passar na minha frente e me lembrar que ele existia que tudo ia para o chão. Era como um ímã, é inevitável eu não me aproximar dele.

Me sinto ser empurrado para o canto do canto e olho para Hyuk com as sobrancelhas erguidas, sinto sua mão colocar uma coisa em meu bolso, havia um sorriso sacana em seu rosto.

— Vou fazer uma apresentação hoje. No mesmo lugar de sempre, vou estar esperando você.

— Estarei lá, com toda certeza. — falo animado e seu sorriso cresce. — agora vamos, o sinal já vai tocar e o professor não vai nos deixar entrar.

Ele concorda com a cabeça e andamos em direção a sala.

Hyuk tinha realmente sorte, eu tinha que admitir. Ele é —se bem me lembro — filho de uma modelo e um dono de um café bastante importante. Ambos o dão apoio em tudo, até mesmo na vida de cantor solo/idol que ele quer ter. No entanto, por mais que sejam liberais eles tem uma restrição: enquanto ele não ficar famoso e tocar apenas em bares pequenos não pode usar o nome real da família. Então foi assim que nasceu o cantor Dean.

Toda semana ele sempre fazia um pequeno show, e quando isso acontecia ele me chamava. Tinha que dizer, toda vez que ele estava no palco parecia que era outra pessoa. É impressionante.

Entramos na sala e só temos tempo de nos sentar para o sinal tocar.  Me viro para Hyuk e conversamos por mais alguns minutos antes do professor entrar.

Abro minha mochila e pego meus matérias os colocando em cima da mesa. A aula vai passando e quanto mais o tempo corre mais eu me desconcentro, meus olhos passavam por cada pessoa naquela sala tentando adivinhar  o que estavam pensando e que tipo de expressão tinham no rosto. Para mim hoje era um jogo fácil e enjoativo, fácil demais.

Cruzo os braços sobre a bancada de madeira e apoio minha cabeça. Viro o rosto para a janela observando a chuva embaçar o vidro. A chuva era uma coisa bastante interessante, ela não possuía expressão, mas tinha um objetivo. Era como DongWook. Era um pouco vazio e oco, tirar alguma coisa dali era difícil, mas não impossível.

Gostaria que a chuva me lembrasse apenas dele, mas nada é apenas uma coisa só, nada é oco e sempre que vem trás uma coisa consigo. A chuva e suas gotículas transparentes me lembrava de alguém no fundo das minhas memórias. Era uma pessoa que detestava a chuva e que passava o dia reclamando de como aquilo atrapalharia sua rotina. Essa pessoa dentre todas que eu conheci e decifrei foi a única que foi mais que um interesse. Ela foi especial.

— KangJoon, ei! KangJoon.  —abro os olhos e observo uma cabeleira vermelha bufante na minha frente. — oh! Você acordou.

Jang Da Hye uma menina de rosto oval, maçã do rosto destacada, nariz longo, boca larga e fina. Os cabelos vermelhos tingidos estavam cacheados hoje. O corpo extremamente magro deixava as roupas grande demais.

Passo a mão pelo rosto e bocejo, apoio a bochecha na palma da mão e estreito os olhos.

— Já é o intervalo? — fecho os olhos e sinto uma mão pesada cheia de anéis acariciar meu cabelo.

— Sim, tocou faz cinco minutos. — Da Hye responde — estávamos pensando em comer algo doce, tipo um pão de mel com chocolate.

Abro os olhos no mesmo instante, sinto a mão que a acaricia o meu cabelo parar, olho para cima e fito Hyuk.

— Quem mandou você parar? — ele revira os olhos e enrola o meu cabelo em seu dedo. Viro a cabeça e encaro Da Hye — você falou pão de mel, certo? — ela concorda — estamos esperando  o que?

゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚

— Eu já falei o quanto pão de mel é bom? — pergunto de boca cheia.

—Ye, Jonn. Você já falou. — Da Hye responde, a boca estava toda suja de chocolate e havia algumas migalhas no rosto ao contrário de Hyuk que estava bem limpinho.

Estavamos os três no pátio do campus, caminhando em direção às cadeiras que ficavam afastadas de todos. Ainda estava bastante frio, mas agora eu estava mais bem coberto com um moletom extra que Hyuk tinha me emprestado. Era bonitinho demais, e fica bem em mim, quem sabe um dia eu o devolva.

Chegamos na parte coberta e nos sentamos. Olho para os lados enquanto ouço Da Hye falar alguma coisa sobre a coleção nova da sua mãe. Havia algumas pessoas da universidade não muito distantes. Já os tinha visto algumas vezes, mas nunca tinha reparado tanto. Continuo a comer e fico os observando, ainda consigo ouvir a voz de Da Hye e os muxoxos de Hyuk, e chego a concordar algumas vezes, mas a conversa daqueles hyungs — por mais que eu não ouvisse muito — estava bastante interessante.

— Yoboya!*

Pisco os olhos algumas vezes e vejo um vulto branco na minha frente, Tae Yeon. A fantasminha tinha os braços brancos e finos em volta do pescoço de Hyuk e tinha acabado de lhe dar um beijo no canto da boca.

Tae Yeon e Hyuk namoravam a alguns meses, ela gostava dele desde que eram pequenos, ela era — segundo Hyuk — amiga de infância da sua irmã e por isso eles conviviam muito, mas não tinham muita conversa já que tinham quatro anos de diferença. No entanto, a alguns meses eles começaram a conversar mais e acabaram saindo. Só havia um probleminha, Da Hye também gostava de Hyuk.

— Noona! Não faça isso na frente das pessoas.

Suspiro e seguro a mão de Da Hye discretamente, seus olhos fitavam o all star azul. Aproximo minha boca da sua orelha.

— Quer sair daqui? — sussurro.

Eu particularmente detestava esses momentos, detestava ver os meus amigos se machucando por qualquer pessoa — mesmo que a outra pessoa também fosse muito próxima —, mas eu não podia deixar Da Hye observar Hyuk beijar sua linda namorada enquanto o seu coração se quebrava.

A vejo concordar com a cabeça e me levanto ainda de mãos dadas com ela.

— Estamos voltando para a sala. — Hyuk me olha confuso, seus olhos passam para Da Hye. Vejo sua boca se abrir para falar alguma coisa, mas o corto. — aproveitem o tempo que tem a sós.

Sinto a mão de Da Hye apertar a minha e a puxo para sair dali. Hyuk deveria ser menos idiota, como ele não conseguia ver que Da Hye gostava dele. Era algo tão claro e nítido, era só olhar para os seus olhos e você via o amor inundando as íris castanhas dela. As vezes eu quase achava que tinha ouvido seu coração batendo rápido quando os dois estavam próximos. As pessoas deveriam observar mais e falar menos, tudo seria muito mais fácil. As pessoas sofreriam menos.

Coloco o primeiro pé para dentro da escola e olho para Da Hye por um minuto. Infelizmente as pessoas não observavam e em sua maioria eram egoístas, os corações partidos jamais seriam evitados, é fato.

— Você está be—

— Estava esperando você. — levanto o rosto e vejo Kim Woo Bin encostado em um dos armários, o cabelo cobrindo as sobrancelhas erguidas e os braços cobertos pela jaqueta cruzados sobre o peito. — omoni e appa ligaram para mim. Temos que ir, pirralha.

E esse é o jeito “fofo” e o mais educado que você pode esperar de Kim Woo Bin. Ele se desencosta dos armários e caminha na nossa direção, seus olhos passam por mim.

— Oh, namoradinho novo? — sua voz chega cheia de deboche.

— Cale a boca. Obrigada, jonn.  — ela força um sorriso e me dá um beijo na bochecha antes de ir correndo até a sala.

Suspiro e olho para Woo Bin que me encara com as mãos nos bolsos da calça jeans. Estreito os olhos e passo por ele em passos lentos, estava com preguiça de subir aquelas escadas enormes.

— Woo Bin-ah! —uma voz ecoa, uma voz firme e gelada, paro no mesmo instante já sabendo que era o dono da voz.  Olho para trás fitando DongWook. — Aqui, você esqueceu sua apostila.

E lá estava ele me fazendo parar para apenas observar seus traços completamente intrigado. Usava uma blusa de manga longa cinza, uma calça escura e aparentemente cara, combinando com o seu sapato.  Observo suas feições rapidamente e vejo Woo Bin caminhar em sua direção e pegar a apostila cinza.

— Obrigada, eu realmente tinha esquecido.

Havia um clima entre os dois que me dava nos nervos, ele se conheciam bem demais, provavelmente eram íntimos ao ponto de adivinhar  o que o outro estava pensando. Isso me deixava com raiva, eu queria saber  mais, no entanto não havia coragem no meu corpo para me aproximar de DongWook e manter uma conversa. Covarde era o meu segundo nome, até que combinava.

Os observo sorrir e dou as costas para ambos. Não havia mais nada ali que me interessasse.

゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚

Eu realmente deveria agradecer a minha vizinha da próxima vez. Havia uma ahjumma* do andar de baixo que adorava ver o tempo no noticiário, sua tv não era nem um pouco baixa e eu sempre a xingava mentalmente. No entanto, hoje eu achei que seria interessante prestar atenção e segundo a tv iria chover, por isso eu resolvi que seria legal colocar um guarda-chuva dentro da mochila. Foi uma decisão sábia.

Abro o meu guarda-chuva e olho para além dos portões do campus. O resto do dia — depois que Da Hye se foi — tinha sido um tédio. Hyuk chegou alguns minutos depois do sinal tocar e se sentou logo atrás de mim — no seu lugar de costume — e passou o resto das aulas desenhando figuras geométricas, olhos, bocas e frases em inglês que eu acho que não fazem sentido.

Ele apenas falou quando entrou, perguntando onde estava Da Hye. O resto foi apenas silêncio.

Agora eu estava voltando para casa, era bastante animador, afinal, eu sou uma pessoa ocupada. Vou passar a tarde fazendo tarefa de casa, dando pequenos cochilos, comendo alguma coisa que tenha no armário e tentar ligar para alguém da família. Então a noite cairia e as seis eu me arrumaria, para as sete e meia ir para o pub que Hyuk iria tocar.

Dou o primeiro passo para fora e sinto meu sapato encharcar aos poucos. Enquanto ando vou cantarolando mentalmente, a chuva só vai piorando e eu sei que a rua que eu normalmente volto não vai dar pra passar. Desvio meu caminho e sinto meu estomago roncar.

Alguns carros caros passam do meu lado, cheios de pessoas sorrindo e com coisas caras em mãos. A preocupação e o pequeno desespero passa por mim, que meus tios ou meus pais mandem dinheiro.

Meus passos vão ficando cada vez mais lentos, a preguiça se instalando no meu corpo, eu só queria estar em casa, naquele futon feio e velho. Subo na calçada e pelo canto do olho vou observando as vitrines das lojas e dos cafés.

Eu geralmente não passava por essa rua, era muito comprida e demorava o dobro do tempo para chegar em casa, mas, em compensação era muito bonita. Uma verdadeira rua de luxo. De um lado haviam as vitrines de roupas e maquiagens caras, todas em tons pastéis e com lâmpadas amareladas. Do outro estavam os cafés, restaurantes e mercados, todos em tons fortes e escuros. Era um contraste realmente interessante, me fazia pensar que eu e meu guarda-chuva amarelo estávamos quebrando alguma regra, era um sentimento interessante.

Estava olhando para o chão, observando as partes que tinham poças e que eu deveria evitar. Eu até continuaria olhando para o chão da calçada — as cerâmicas eram bonitinhas — se não tivesse batido em um carro, e ele não tivesse alarmado. Olho para os lados, os olhos arregalados com o susto e só se arregalam mais. Dongwok estava na loja da frente, com uma menina segurando sua mão sobre a mesa, estavam próximos demais, ambos olhavam para mim. O tempo realmente pareceu demorar para passar, era a primeira vez que nos olhávamos nos olhos.

Nunca achei que diria isso, mas era péssimo ser notado. Aperto as alças da mochila, olho para ele a menina incrivelmente bonita, para aquela aproximação desnecessária, vejo seus lábios se comprimirem e suas pupilas se dilatarem. Ouço um ahjussi reclamando e se aproximando, isso me desperta e me faz correr até o meu apartamento.

Correr  uma rua inteira nunca pareceu ser tão rápido, eu corria como se tivesse fugindo de um ladrão. Meu rosto deveria estar completamente vermelho pela vergonha  de ter sido flagrado por ele em um momento inesperado. Também havia o fato de estar com raiva de mim mesmo por estar correndo, era tão infantil.

Subir lances de escadas nunca foi tão rápido como hoje, eu subia enquanto o rubor no meu rosto aumentava, a vontade de cavar um buraco e entrar nele só aumentava. DongWook tinha que estar naquela rua, ele tinha que ter olhado para mim. De todos os momentos, de todos os dias que eu ia super-produzido, ele tinha que olhar para mim hoje. Em momento constrangedor.

Abro a porta do flat, a fecho com rapidez e caminho até o meu futon, jogo minha mochila no caminho e afundo o rosto na almofada. Era fato. Eu detestava ser notado.

— AISH!

゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚

Eu realmente devo amar muito Hyuk. Sair de casa não eram os meus planos para hoje — não depois do mico de poucas horas atrás —, eu só queria ficar em casa, me agasalhar e dormir até a semana que vem, mas eu tinha prometido ao meu melhor amigo que eu o veria cantando para mais alguns ahjussi’s bêbados e, umas unnie’s choramingando sobre seus namorados.

Apresso o passo e só sinto mais raiva a cada segundo, ele pelo menos poderia ter escolhido um pub mais perto, eu agradeceria bastante. Quanto mais eu me aproximava mais eu escutava o barulho da música. O pequeno pub ficava em uma rua bem localizada, altamente movimentada e cheia de pessoas dançando e com instrumentos nas mãos. O verdadeiro beco do artista.

Olho para as placas reluzentes e observo as portas lotadas de pessoas com vários estilos diferentes. Hyuk podia não saber, mas era quando ele me chamava para esse tipo de lugar que eu me sentia feliz de verdade. As pessoas gargalhando com os seus cabelos coloridos, seus sorrisos bonitos e interessantes, seus movimentos de quadris hipnotizantes, tudo e todos totalmente diferentes, sem padrão e sem regras. Era a aquele lugar que eu queria pertencer.

Não demoro a achar o pequeno pub, totalmente imprensado pelos outros. Tiro o meu ingresso e dou para o senhor que estava na entrada. Entro e sinto a atmosfera mudar, a música indie e a voz hipnotizante contrastando com o som das ruas. Olho para os lados procurando Hyuk e não o acho, ando um pouco mais para frente e não vejo nem sinal da sua cabeleira escura.

— Ei, KangJoon!

Giro nos calcanhares e dou de cara com Hyuk, ou devo dizer Dean? O olho de cima a baixo, realmente uma outra pessoa. Os cabelos escuros estavam pintados com uma tinta fantasia vermelha, o rosto estava com um band-aid no alto da bochecha embora não houvesse nenhum machucado para se esconder. Blusa listrada e comprida, moletom aberto e amassado, as calças surradas com rasgos e com algumas palavras em inglês, sapatos brancos que eu tenho quase certeza que possuíam algum salto.

Hello, Dean. — brinco e me aproximo.

— Achei que não iria vir, você geralmente chega mais cedo. — se você soubesse que eu nem queria vir... — aqui, peguei um refrigerante para você.

Ele estende a latinha colorida de refrigerante e eu a pego não demorando para abrir.

— Obrigada. — tomo um pouco e o olho de soslaio — Da Hye vai vir?

Olho para os lados a procura de uma cabeleira vermelha, nada.

— Provavelmente não, mandei uma mensagem para ela e ela não me respondeu. — ele cruza os braços sob o peito e eu tomo mais um gole do refrigerante — provavelmente vai estar em mais um dos seus jantares em família.

Me apoio no balcão de bebidas que estava próximo e observo seu rosto tenso, as sobrancelhas mais juntas e a testa cheia de linhas. Estreito os olhos e deixo a garrafa de lado por um momento. Hyuk era realmente uma pessoa estranha, era o tipo de pessoa que eu gosto de chamar como “furacão de emoções” ou de “libriano”. A forma como ele se comporta sempre muda, chega a parecer que o Dean e o Hyuk são pessoas diferentes. É sempre muito instável, e parece nunca sabe para onde ir e o que decidir. Uma hora é Tae Yeon e outra Da Hye, só espero que ele não continue com isso por muito tempo, indecisão demais machuca.

— Deve ter sido isso mesmo. — sussurro e volto a tomar o meu refrigerante.

Passamos mais alguns minutos até que ele teve que subir no palco, bastou ele subir as pequenas escadinhas e segurar o violão que a postura relaxou e o sorriso apareceu no rosto. O palco era definitivamente o seu lar, e a música sua mãe.

A musica começou sem demora, encheu todo o lugar com um ritmo diferente, as pessoas se viravam para olhar e eu permanecia lá no balcão o olhando com um sorriso no rosto e aproveitando ao máximo a paz e a tranquilidade que sua musica trazia para mim. As luzinhas iluminavam o seu rosto em tons diferentes e os seus lábios se entreabriam a cada nota maior, o sorriso continuava lá. Provavelmente se eu não enjoasse das pessoas e continuasse amando ela por mais tempo, Hyuk seria o tipo de pessoa a qual eu poderia me apaixonar.

Peço mais um refrigerante e os minutos e as horas vão passando com Hyuk naquele palco, ele tinha um repertório grande, mas eu não conseguia cansar, eram todas muito boas. Eu de certa forma invejava ele, não pelo seu dinheiro ou pela “família perfeita”, mas sim pelos seus talentos. Meu único talento no momento é ser stalker e dormir demais.

Cinco minutos após meu refrigerante acabar Hyuk desce do palco com alguns aplausos, os olhos estavam brilhando e a testa estava cheia de suor.

— Como eu fui? — ele pergunta ofegante, o sorrido rasgando os lábios.

— Foi como sempre é — me afasto um pouco do bar — maravilhoso.

゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚・・゚゚・・゚

— Eu gostaria de te levar para casa, mas infelizmente eu não vou poder. Sinto muito, de verdade.

Estreito os olhos e ergo uma sobrancelha, eu tenho que começar a rever as minhas amizades, elas não são nem capazes de me darem uma carona, que absurdo!

— Aish, seu palhaço! Eu vou ter que andar aquilo tudo de novo. — reclamo e dou um tapa em seu braço. Ele se esquiva e ri, suspiro e paro

com um sorriso derrotado. — é melhor eu ir, vai ficar muito esquisito se eu demorar muito.

Ele apenas concorda com a cabeça, metade do rosto estava escondido por um cachecol azul marinho, os cabelos já não tinham metade da tinta fantasia.

Dou as costas e me abraço pegando o caminho contrario. As ruas ainda tinham algumas pessoas nas calçadas, a maioria dos rostos brilhando abaixo dos postes escuros. Olho desconfiado para alguns pontos e acelero os passos em alguns momentos. Tudo estava muito silencioso, eu detestava isso, as vozes das pessoas me acalmavam e de alguma forma diziam a mim que eu não estava em perigo.  O silêncio para mim não era nada bom.

Caminhando um pouco mais lentamente chego no apartamento. Era bem simples, verde, mofado e com as janelas dos flats cheias de toalhas coloridas e velhas. Subo os lances das escadas escutando ao fundo a voz do meu vizinho de cima reclamando mais uma vez de como a sua mulher era incompetente.

Terminei de subir as escadas e abri a porta do flat, acendi as luzes e me joguei no futon velho. O dia tinha sido realmente cansativo, eu só queria fechar os olhos e dormir por uma semana, eu até poderia fazer isso se DongWook não aparecesse em minha mente e não me fizesse questionar quem era a mulher que estava com ele.

Provavelmente seria a sua namorada ou até mesmo noiva, ele tinha idade pra isso e segundo as minhas observações e minhas avaliações ele gostava de ter algo sério com as pessoas, um relacionamento muito sério.

Ele bem que podia ter algo sério comigo ou até mesmo me explicar e me mostrar o que ele era por dentro, eu já estou ficando cansado de não saber quem é Lee DongWook. Eu quero saber de tudo, não preciso ser próximo a ele, quero apenas que ele me explique o porque quando eu olho pra ele -  e sou arrastado como um imã para o seu corpo – meu coração acelera.


Notas Finais


Obrigada por lerem, espero que tenham gostado<3


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