História Lie {JiKooK} - Segundo destino

Estávamos num hotel não muito caro, pois não tínhamos muito dinheiro connosco. Como já era de noite eu e Jimin decidimos ir dormir um pouco para descansar.

Estava preocupado com o meu Jimin...ele parecia cada vez mais calado e isso não me agradava.  

-Jimin, você está acordado?-perguntei enquanto fitava o teto. Jimin estava de costas para mim. Ele não me respondeu, por isso deduzi que ele estivesse dormindo.  

Aproximei-me do seu corpo e passei meu braço a redor do mesmo, ficando em conchinha. Ouvi Jimin suspirar.  

-O que é que se passa, amor?-perguntei, perto do seu ouvido.  

-N-nada...-ele falou com a voz trêmula.  

-Você está chorando, não está?-perguntei tentando parecer calmo, mas a verdade é que ver Jimin assim me deixava completamente desesperado.  

Senti sua mão ir de encontro à minha, ele a pegou e me puxou ainda mais para si. Colei totalmente meu corpo ao dele.  

-Eu estou fazendo um esforço para ser forte como você, Jungkook- ele falou. Suspirei.  

-Amor...pessoas fortes também choram- falei para lhe mostrar que não fazia mal ele chorar à minha frente. Jimin virou-se e me encarou com os olhos vermelhos e inchados.  

-Então...porquê que você não chora?-ele perguntou, levando sua mão até ao meu rosto e acariciando o mesmo.  Aquela pergunta me atingiu. Eu não sabia o que responder.  

Talvez eu não chorasse porque queria transmitir força e segurança a Jimin. Eu não queria que ele engolisse suas emoções para me consolar. Eu preferia que ele fosse transparente comigo, que chorasse, que libertasse sua dor. Porque Amara tinha  razão quando dizia que Jimin era mais puro e bondoso do que eu. Jimin não podia viver com a dor acumulada no seu peito, isso acabaria com ele. Já eu...era diferente. Eu sabia como lidar com a minha dor, sabia o que fazer para não me abalar da forma como abalava Jimin. Durante estes anos eu percebi que sempre que Jimin era submetido a qualquer tipo de sofrimento, ele ficava frio e uma parte da sua luz se apagava. Por isso, eu não podia deixar isso acontecer.  

-Eu não sei...-menti. Não queria que Jimin se sentisse culpado.  

Ele suspirou e aproximou seu rosto do meu, encostando sua testa na minha. Fechei os olhos. Levei minha mão até ao seu corpo e  puxei mais para mim, o abraçando contra o meu corpo. Jimin se aconchegou.  

-Obrigado...-ele falou, me deixando confuso. - Amo você... 

Abri os olhos e vi que Jimin já me olhava. Sorri levemente.  Jimin ficava lindo mesmo com os olhos e o rosto inchado.  

-Eu  também amo você e nunca me cansarei de o dizer – falei, roçando meu nariz no seu. Jimin sorriu de orelha a orelha, fazendo meu coração acelerar. - Gosto tanto de o ver sorrir, meu amor- falei, completamente rendido ao seu sorriso. 

-Jungkook...-Jimin afastou um pouco seu rosto meu. - Você acha que vamos conseguir encontrar o nosso menino? 

-Eu não acho...eu tenho a certeza- sorri. Jimin sorriu também e assentiu. Ele logo desceu um pouco o seu corpo e enroscou-se no meu corpo. Envolvi-o melhor em meus braços e encostei meu rosto na sua cabeça.  

Agora sim, eu poderia dormir.  

… 

Estava terminado de me vestir, enquanto que Jimin ainda dormia na cama. Ele estava a dormir tão serenamente que não tive coragem de o acordar.  

Meu celular começou a tocar. Corri até meu casaco e retirei ele do bolso, logo atendendo.  

-Estou?- sussurrei.  

-Jeon Jungkook?- ouvi uma voz feminina. Ela falava coreano para minha surpresa, pois o numero não era da Coreia.  

-O mesmo-respondi. 

-Quando é que chegará no clube? O seu voo foi ontem, era suposto ter me vindo visitar ontem também- ela falou firmemente.  

-Você se chama Carter?-perguntei, desconfiado.  

-Não, o Carter era o segurança que o levaria até mim, se você tivesse cá vindo ontem. Mas como não veio, quero-o aqui daqui a uma hora.  

Suspirei. Odiava quando me davam ordens, principalmente vindas destas pessoas.  

-Aí estarei...-falei, sério. Ela desligou a chamada.  

Olhei para Jimin, que ainda dormia. Será que devia acordá-lo? Jimin precisava de descansar. Suspirei e fui até ele. Não queria correr o risco de ele ficar chateado por não lhe ter dito nada.  

-Jimin...-chamei-o baixinho. Ele remexeu-se e esfregou os olhos. - Você quer vir comigo no clube ou prefere ficar aqui, descansando?-perguntei. Ele me fitou e viu que eu já estava vestido.  

-Eu acho que...Eu não sei.  

-Eu não me importo de ir sozinho, depois logo volto e conto o que aconteceu- falei.  

-Mas e se Min-Chul estiver lá?-Jimin perguntou.  

-Se estiver, eu logo o trago até você- falei, sorrindo. Acariciei seu rosto. Jimin suspirou.  

-Tá...então eu fico. Mas se acontecer alguma coisa, me ligue logo, Jungkook- Jimin falou já preocupado.  

-Ok, amor- falei, plantando um selinho em seus lábios.  

Terminei de me arranjar e logo saí. Ainda demorei até encontrar o tal clube pois eu não tinha uma morada, apenas um nome. 

Quando cheguei, vi que o clube estava fechado. Fazia sentido visto que era um clube noturno. Mas devia lá estar alguém. 

Bati na porta preta.  Demorou, mas logo abriram a mesma. Um homem me deu passagem.  

-Você é o Jungkook, estou certo?-perguntou, fechando a porta atrás de si. Assenti. - Por aqui...-ele falou, passando por mim. Fui atrás dele.  

Ele me levou até uma porta rosa, com uma estrela brilhante na mesma.  

-É só bater- o homem falou, logo me deixando sozinho.  

Bati na porta e abri a mesma, lentamente. Deparei-me com uma rapariga sentada numa cama. Aquele quarto era parecido com aquele onde pedi Jimin em casamento.  

-Jungkook...-ela ajeitou-se e fitou-me curiosa. Entrei no quarto e fechei a porta.  

Uma coisa que me estava a intrigar é que aquela menina parecia muito mais nova que eu. Ela parecia ter os seus 16 anos, no mínimo.  

-Você quem é?-perguntei, me aproximando da cama.  

-Sente-se- ela falou sorrindo. Sentei-me um pouco afastado dela. -Eu vou ser breve Jungkook, por isso não precisamos de apresentações-ela falou, mais séria.  

-Como queira...-dei de ombros. Ela pegou um envelope que estava ao seu lado. O envelope tinha a letra "J" desenhada, reparei que aquilo havia sido desenhado com tinta vermelha...ou sangue. Ela logo o estendeu. Peguei o mesmo e olhei para o envelope por uns longos segundos. -É só isto?-perguntei.  

-Sim, tudo o que você precisa está aí- ela falou, baixinho.  

Abri o pequeno envelope mesmo à sua frente. Minha curiosidade estava me matando.  

A primeira coisa que vi, foram dois bilhetes para Madrid, Espanha. Haviam mais instruções a seguir. Naquele momento senti meus olhos marejarem. Mas logo reparei que havia mais coisas dentro do envelope. Tirei-as para fora. 

 Uma lágrima começou a escorrer pelo meu rosto assim que vi que era uma foto do nosso menino. Na foto ele sorria. Amava como seus olhinhos sumiam sempre que aquele sorriso maravilhoso aparecia em seu rosto. Aquilo fazia-me lembrar Jimin. Apesar de ele não ser nosso filho biológico, seu rosto tinha algumas caraterísticas semelhantes às nossas. 

-Ele é muito bonito- a rapariga falou. Encarei-a. Seu olhar me intrigou. Ela tinha um rosto de menina mas  o seu olhar parecia tão carregado de...tristeza.  

-É...ele é muito bonito-sorri levemente.  

Lembrei-me que havia mais alguma coisa no envelope. Parecia outra fotografia. Puxei a mesma. Meus olhos se arregalaram em choque. Era uma foto de Amara, com o pescoço cortado. Ela estava morta... 

Olhei para a menina à minha frente.  

-Quantos anos você tem?- perguntei. Ela suspirou.  

-17...vou fazer 18 daqui a uns meses-ela respondeu, seriamente.  

-O que é que lhe prometeram? ...Você não vai receber nada. Você tem de fugir...-falei temendo pela vida dela. Esta menina tinha algo diferente de Amara. Amara tinha aquela malicia no olhar, já esta menina parecia...ela parecia presa dentro do próprio corpo.  

-Ninguém me prometeu nada, eu sei qual será o meu fim-ela falou, reparei que seus olhos estavam marejados.  

-Quem quer que seja que está por de trás disto, vai matá-la. Você tem de fugir.  

-Fugir para onde?-ela sorriu levemente.- Esta é a minha casa. Eu não tenho para onde ir. E não se preocupe...Eu sei que vou morrer, foi por isso que aceitei fazer isto.  

-O quê?-perguntei completamente incrédulo. 

-Sabe...eu posso ter apenas 17 anos, mas já sofri muito. Ainda sofro...e...eu não vejo mais motivos para continuar aqui.  

Mais lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu não queria ser mais responsável por uma morte.  

-Você pode vir connosco. Você fala coreano, nós podemos arranjar um sitio para você lá na Coreia-falei apressadamente. Ela apenas riu. 

-Você está disposto a arriscar a vida do seu filho por uma estranha?-ela perguntou. Suspirei e baixei a cabeça.- Eu sei que não.  Ainda assim, obrigada pela sua preocupação. Mas agora...acho que devia ir.  

Guardei tudo dentro do envelope e levantei-me. Olhei para a rapariga, que sorriu forçadamente. Suspirei. 

Dei costas e saí do quarto e do clube rapidamente.  

Não conseguia parar de chorar.  

Mais uma pessoa vai morrer por nossa causa.  

Primeiro foi Yoongi que morreu para nos ajudar, depois foi a mãe de Jimin, depois o pai, depois Amara, e agora seria esta menina jovem que ainda tinha muito para viver.  

Andei pelas ruas de Londres. Não queria voltar logo para o Hotel. 

 Andei, andei, e andei até lágrimas não escorrerem mais pelo meu rosto.  

Voltei para o hotel e antes de entrar no nosso quarto, respirei fundo. Tinha de me preparar para mostrar tudo a Jimin.  

Abri a porta e entrei. Jimin estava de costas, perto da janela. Meu coração acelerava violentamente.  

Jimin virou-se lentamente e olhou-me de alto a baixo. Assim que seu olhar se cruzou com o meu, uma enorme vontade de chorar tomou conta do meu corpo. Baixei a cabeça e fitei o chão.  

-Temos de ir para Madrid- falei, ainda tentando parecer firme. Ah...porquê que era tão difícil?? 

Quando dei por isso, Jimin já estava à minha frente. Encarei-o. Ele aproximou-se mais e pegou na minha mão que estava livre. Nossos corpos estavam quase colados.  

-Desculpe não trazer boas noticias- falei com a voz trêmula. Jimin levou sua outra mão até ao meu rosto e acariciou o mesmo. Senti meus olhos marejarem.  

-Me deixe cuidar de você também- ele falou, já com os olhos marejados. Não me consegui controlar e comecei a chorar. - Obrigada por estar aqui do meu lado, Jungkook. Por me tentar proteger, mas...você também precisa de proteção. Eu sei que você é tão sensível quanto eu, não se esqueça que eu sou seu esposo. A mim não me engana...- ele sorriu levemente. Puxei-o para um abraço, enquanto chorava descontroladamente. Ele me apertou, me fazendo sentir reconfortado.- Enquanto  estivermos juntos, haverá sempre esperança. Quando um for a baixo, o outro levantará. Quando os dois formos a baixo, deixamo-nos estar para depois nos levantarmos com o dobro da força- Jimin afastou-se um pouco e sorriu levemente. Ele aproximou seu rosto do meu e plantou um selinho em cada um dos meus olhos.  

-Parece que dormir lhe fez bem...-falei.  

-É...Eu tive um sonho onde eu, você e Min-Chul estávamos na nossa casa, sentados no sofá, assistindo a nossa série favorita. Eu estava com a minha cabeça no seu ombro, enquanto que você estava com um Min-Chul adormecido em seus braços- Jimin sorriu abertamente. - Aquilo me deu esperança. Mesmo que demore, nós vamos conseguir encontrar o nosso menino. Eu tenho a certeza.  

-E agora me explique, como não amar você?- perguntei, o pegando ao colo. Jimin passou os braços a redor do meu pescoço e sorriu.  

-Acho que não é possível, e mesmo se fosse, eu não deixaria isso acontecer.