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História Life : Matar ou Morrer - Rosas


Escrita por: Maori-san

Capítulo 15 - Rosas


 

- E onde foi que encontrou essa arma? - Perguntou Baxter, analisando o objeto nas mãos de Yuki. O ruivo olhou para uma bolsa cor de rosa aberta, em cima da pequena mesa de vidro na lateral do sofá. Baxter abafou uma risada levando uma das mãos aos lábios, com sua antiga voz sarcástica.

- Sério? Vasculhando as bolsas das damas? Que falta de cavalherismo... - E levantou o revolver de suas mãos no ar, fazendo uma expressão pervertida - Esse aqui estava na gaveta de soutiens daquela loba...

Embora a situação fosse realmente grave, Yuki sorriu e deu uma risada rápida. Aquela situação era nostalgica o suficiente para fazê-lo sentir falta de Baxter em suas missões externas, quando ainda eram os inseparáveis Hunters. 

No instante seguinte, a garota loira desceu os degraus do primeiro andar carregando uma pequena caixa branca, de com cerca de dez centímetros de largura e quinze de altura. Ela estava com os olhos vermelhos e inchados ao redor de sua íris azulada, e quando chegou ao térreo, ignorou os rapazes caminhando com pressa para a porta da câmara. Baxter se perguntou porque não havia encontrado ela nos andares superiores.

- Ei, você não vai soltar "ela", vai? - Brincou Baxter de maneira inocente, observando a loira descer os primeiros degraus. Ela não respondeu e continuou descendo. - O que acha que ela vai fazer lá? 

- Eu realmente não sei, vamos... - Yuki se levantou e reduziu a fala até o completo silêncio, fitando o corredor térreo. Ainda precisava verificar se Sophie estava melhor. Olhou rapidamente para as escadas do porão onde a loira havia desaparecido e guardou o revolver na cintura. -... Vou ver a Sophie primeiro, espere por mim antes de descer.

O moreno se espreguiçou no sofá, esticando os braços e as costas. 

- Não preciso da sua ajuda por enquanto. - Disse, guardando o revolver na cintura também. 

O barão deu os ombros e caminhou até a porta branca, adentrando-a e fechando em seguida. 

[Yuki] 

A enfermaria estava em silêncio e escura, com todas as luzes apagadas. Pela janela, luz da Lua cheia iluminava em um feixe retangular no chão e na parede em frente, e a feiticeira estava sob o segundo leito, deitada. Parecia tão frágil, com o pescoço imóvel e enrolado por faixas manchadas de um rosa úmido. Os lábios entreabertos forçando uma respiração rouca e os olhos lacrimejantes pareciam cansados com uma expressão distante.

- Sophie? - Chamei-a em um tom calmo, caminhando até a cama ao lado, com a mesma janela aberta entre nós. 

Ela não respondeu. Segundos depois, fechou os olhos e as lágrimas empoçadas finalmente escorreram pelo rosto em finos rios brilhantes. Naquele momento, eu não a achava parecida com Agatha Howl, a cruel feiticeira que matou à sangue frio a esposa e a filha de Baxter. Esse rosto alvo e esses cabelos lisos, embora azuis, juntamente com essas lágrimas numa expressão de dor me recorda a minha falecida mãe. 

 

" - Querida, você vai melhorar em breve... Sullin está desenvolvendo uma vacina junto com outros médicos do M.U. Ele voltará de Crystal City essa tarde... - Dizia o barão Von Yuki I, sentado na beira da cama de casal com lençois brancos, que envolviam uma mulher de cabelos lisos e avermelhados.

Ela tossiu com dificuldades, abrindo as palpebras trêmulas e fitando o barão com seus olhos castanhos. Suas bochechas estavam avermelhadas devido à uma forte febre e seus lábios entreabertos para respirar. 

-... Eu sei que ele vai... Ele é um incrível médico... - Disse com uma voz rouca e esperançosa, tossindo em seguida. Ela fechou os olhos por alguns segundos e abriu-os, piscando devagar. - Onde está o Yuki?

O Von olhou para a porta entreaberta do quarto, e um menino ruivo de olhos verdes espiou relutante.

- Lidmark, sua mãe quer vê-lo, entre por favor - Pediu o homem, fitando o garoto com carinho e estendendo sua mão. Lidmark era seu apelido dado pelo avô materno, que possuia descendência direta dos últimos indígenas sul americanos, e em sua lingua nativa significava "pequeno com grande coração". Lidmark andou em direção ao pai, abraçando-o com uma expressão preocupada e olhando sua mãe. 

Ela sorriu acolhedora enquanto observava a criança nos braços de Yuki, sendo acariciada em sua cabeça. 

- Está a cada dia mais parecido com o seu pai... - Ele fez uma expressão irritada e soltou-se de Von, que ria e bagunçava seus cabelos. Ela riu baixinho, não deixando de sorrir enquanto apreciava Lidmark. 

Ele se aproximou da mãe e levou suas pequenas mãos até o rosto da mulhere.

- Você ainda está com febre...- Disse o garoto preocupado, agora com o medo evidente em seus olhos.

A mulher fechou os olhos, ainda sorrindo, erguendo suas mãos para as bochechas do menino.

- E você está frio... Eu não disse para vestir uma blusa quando sair? Vai ficar resfriado. - Bronqueou ela, embora seu tom de voz fosse suave e amoroso. Lidmark franziu o cenho e ficou levemente irritado.

- E a senhora não deveria ter ido até aquele hospital em Crystal City. O papai tinha te avisado que aquelas pessoas estavam com alguma doença estranha... Agora a senhora está doente também! - Ele fez uma careta quando seus pais riram da sua bronca.

- Mas Lidmark, aquelas pessoas precisavam de ajuda... - Explicava a mae no mesmo tom sereno, sua voz parecia menos rouca -... A mamãe tem que ajudar a salvar elas, é esse o trabalho das enfermeiras...

Von suspirou concordando, embora arrependido da ida de sua mulher até Crystal City, onde uma nova febre surgira e ainda não haviam vacinas disponíveis. 

Conhecera ela ainda jovem, colega de trabalho de Sullin Dalon, o mesmo que havia apresentado-a para ele. Sempre foi uma enfermeira valente, e muito útil para todos os hospitais do país. Casou-se com ela em menos de um ano e tiveram o sonhado filho que amavam tanto quanto a si próprios.

O garoto abaixou o rosto escurecido por sombras, enquanto tremia.

- Mas eu e o papai também precisamos da senhora! - Gritou ele, em lágrimas. 

As cortinas do quarto balançaram ao vento e a mulher sorriu entre lágrimas, puxando o filho para si e abraçando-o com cuidado enquanto deslizava suas mãos sob os cabelos ruivos de Lidmark. 

- Eu sei. E vou viver por vocês dois... - Acalmava-o ela, fitando seu marido com emoção - Eu não quero deixar vocês, vou melhorar logo... 

 

A mãe de Yuki faleceu na madrugada do dia seguinte, pois Sullin Dalon ainda não havia chegado até Lancastle na tarde pretendida. Ele foi assassinado durante a viagem por dois vampiros Sangue Puro.

Yuki fitou a luz da Lua no chão, envenenando-se com as lembranças do passado. Sophie, com muito esforço, sussurou para que Yuki lhe trouxesse uma bandeija com água morna. 

O ruivo despertou do passado e obedeceu ao pedido, caminhando até o final do quarto onde havia uma pia metálica com duas torneiras. Pegou uma bacia metálica e abriu as duas torneiras, olhando a água preencher o recipiente com um olhar vazio. Ainda estava atordoado com a memória de sua mãe. Levou o recipiente com cuidado até Sophie, que estendeu a mão devagar até tocar a bacia. Abriu os olhos e pronunciou seu feitiço regenerativo, iluminando a água morna que voou da bacia e envolveu seu pescoço. Ela brilhava incandescente, refletindo a luz pelo quarto. 

 

 

Yuki observou em silêncio, apreciando o feitiço de luz com fascinação, pois a magia dos feiticeiros era muito diferente da que estava habituado. Com um baixo ruído agudo, a luz desapareceu e Sophie conseguiu se sentar no leito e retirar os curativos do próprio pescoço. 

- Obrigada Yuki, eu estava com muita dor... - Disse alisando o pescoço intacto e sem nenhuma cicatriz. Em seguida, alisou seus cabelos com a mão e amarrou-os no alto da cabeça em um nó, fitando o ombro do ruivo coberto pelo casaco.

- Obrigado por nos salvar hoje, nós quase morremos... - Agradeçeu ele, olhando os olhos azuis safira da mulher.

- Como está o ombro? - Perguntou ela, retribuindo o olhar.

O Von apertou de leve o ferimento, sentindo uma pequena pontada de dor.

- Já esteve melhor... - Admitiu, sentando-se na mesma cama e espiando a noite pela janela. Foi supreendido pela aproximação de Sophie, que segurou-o pelos ombros e conjurou o mesmo feitiço com os lábios proximo à sua testa. Von corou e sentiu a luz incandescente voar até seu ombro ferido, regenerando.

A feiticeira se afastou, sentando-se na cama em frente ao barão. 

- Está melhor? 

- S- sim... O- obrigado.. - Disse o ruivo, esfregando a nuca com uma das mãos e olhando para a janela. 

- Então... Lena Silver decidiu nos ajudar?

- Com os ferimentos, sim.

A mulher ergueu uma sobrancelha.

- Espera que ela se alie à nós na Guerra? - Questinou ríspida, porém Yuki suspirou derrotado e soou esperançoso. 

- Isso seria ótimo. Mas estamos com um problema... 

[Baxter]

 

Yuki estava demorando demais, então decidi ir sozinho até o porão. Desci os degraus com muito cuidado e ao virar a esquina, avistei a porta da câmara aberta e a garota loira sentada no chão, ao lado daquela Sangue Puro, com pequenas estrelas cor de rosa voando em volta das duas como vagalumes em círculos. Me aproximei mais e finalmente decifrei a espécie daquela garota ao ver suas grandes asas finas como uma película transparente e brilhantes como porpurina, que atravessavam o sobretudo preto feito um holograma. Uma fada, tão rara nesse país onde o único clã conhecido era o de Gardenee. 

A Loba estava caída no chão, ainda vestido o mesmo macacão de couro e o jaleco branco. Será que Sangue Puros podem se transformar sem perderem suas roupas?

A fada apertava um algodão branco sob o nariz da mulher, que expelia pequenos fios de sangue. A caixa branca estava aberta e haviam outros materiais curativos dentro. 

Me aproximei mais, notando que o cheiro de rosas estava mais fraco. Encostei na porta e cruzei os braços, observando peculiares simbolos nas paredes internas da câmara. 

- De onde vocês são? - Perguntou Daisy, embora já soubesse a resposta. 

- Lancastle. - Respondi ainda olhando os simbolos, tentando decifrá-los. 

Houve um silêncio e a fada trocou o algodão, agora já limpando o restante do sangue. 

- E oque querem com Sien?

- Por hora, nada. Mas somos gratos pela ajuda... - Respondi num tom baixo, concentrado naquelas escrituras. Em poucos minutos já notei um padrão.

As estrelas cor de rosa se aproximaram de Sien e lhe envolveram numa luz calma e fraca. Erguendo seu corpo no ar e flutuando seus longos cabelos. A fada se levantou e estendeu o braço em direção à porta, com as luzes lhe obedecendo e carregando o corpo de Sien. Ela passou por mim desacordada, como se estivesse num profundo sono.

- Não me desconcentre. - Ordenou a fada, fria e séria. Seus dedos tremulavam um pouco, como se ainda não soubesse exatamente como fazer aquilo. 

Fiquei em silêncio observando a façanha, quando as luzes piscaram tal uma lâmpada em curto. Tive um pressentimento que o corpo dela iria despencar no chão, com isso, corri à tempo de pegá-la nos braços.

A magia desapareceu e a fada resmungava ofegante. 

- Que droga! Eu mandei não me desconcentrar! - Ela ajoelhou um pouco confusa e respirou fundo.

- Eu levo ela pra você. Não me parece muito viável esse seu truque mágico. - Me ofereci, olhando a loira tentando se levantar. Não resisti em olhar para Lena, que ainda estava desacordada em meus braços, tão leve e com um aroma de lavanda misturado ao das rosas daquele lugar. Mal conseguia acreditar que ela estava tentando me matar há algumas horas atrás. 

- Okay, me ajude levando ela até o último quarto no segundo andar... - Pediu a fada, levando consigo a caixa branca. Ela parecia esgotada.

Assenti e carreguei a mulher até o segundo andar, abrindo a porta com um dos pés e entrando mais uma vez no quarto. Daisy parecia irritada com a fechadura quebrada, mas permaneceu calada enquanto me assistia deitar o corpo de Sien com muito cuidado na cama redonda, cobrindo-a com um dos lençóis vermelhos de cetim.

Esqueci da presença da loira e dei uma última olhada nela, com suas palpebras caídas num sono profundo causado pelas rosas brancas. A pele dourada com traços indígens era uma perfeita harmonia com os cabelos castanhos e longos. Parte do cabelo cobria seu olho esquerdo involuntariamente, e quase que por instinto, estendi a mão até seus cabelos, tocando sua pele e expondo seu rosto por completo. 

Me arrependi um pouco de ter feito isso, e me afastei, andando em direção à porta. 

"...E no pequeno jardim escuro, cultivarei-te até sua morte.'' - Recitei mentalmente a estrofre faltante do poema das Rosas Brancas, escrito por um conhecido autor meses depois da extinção do Primeiro Mundo. 

Eu me sentia confuso e melancólico, com um peso desconfortável no coração. Odiava me sentir dessa maneira, era como revirar meus piores pesadelos e encará-los em carne e osso. 

Saí daquele quarto e desci até o térreo, notando que Yuki ainda não havia saído da enfermaria... Estou com um pressentimento que ele está começando a gostar de Sophie. Olhei o relógio, indicando duas e trinta e oito da manhã, então decidi fazer mais um pouco de café e continuar revirando a casa.



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