1. Spirit Fanfics >
  2. Lifeline - Before the End >
  3. Borboletas

História Lifeline - Before the End - Borboletas


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Oieee
Sexta-feira chegou e é dia de Lifeline.
O capitulo de hoje, tem Merle e toda aquela atmosfera que cerca o personagem, mas também tem DixChechas.

Obrigada pelos comentários divos e maravilhosos. Vocês não tem ideia de como eu fico contente quando recebo reviews *--* (fica a dica fantasminhas, mas sem pressão, okay? uahuahsuash)

E agora vamos ver o que o Merle vai aprontar.
Boa leitura

Capítulo 10 - Borboletas


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Borboletas

• DARYL DIXON •

Merle estava de volta. Chegou em casa como se só tivesse ficado fora por uma hora, mesmo que na verdade fossem quase três semanas. Ele sempre fazia isso...

— E aí irmãozinho? Vamos sair e beber muito? — Perguntou, empurrando meu ombro.

Era sexta à noite, eu tinha acabado de chegar da oficina e mal havia me deitado quando ele apareceu como se fosse o dono do mundo.

— Estou cansado do trabalho. — Respondi, sem tirar o braço que cobria meus olhos de cima do rosto.

— Que trabalho? Desde quando você trabalha Darlyna?

— Desde que você roubou minhas ferramentas e quebrou minha caminhonete.

— Uma porra que quebrei. Você que nunca conserta aquela merda! — Retrucou, fuçando no armário e jogando roupas para todo o lado. — Anda, levanta esse traseiro inútil e vamos pegar mulher. Eu preciso dar uma boa transada hoje.

— Vai sozinho. — Virei e coloquei o travesseiro na cabeça.

— Qual é, irmãozinho, está trabalhando de gigolô pra estar tão cansado, por acaso? — Jogou uma coisa qualquer sobre mim.

Perdi a paciência e me levantei. Merle não pararia, ele nunca parava.

— Estou trabalhando com o Cooper. — Respondi, pegando minhas botas.

— O Cooper voltou é? Ótimo, estou precisando de uma graninha extra.

— Estou trabalhando na oficina do Cooper. — Deixei claro.

Merle fez uma careta de escarnio.

— Credo! Nem parece que você tem culhões, Darlyna. Já te disse que esses servicinhos podres não são para os Dixons.

— Não tem nada de errado com o serviço.

O problema com meu irmão era que ele nunca ficava satisfeito com nada que eu fizesse, nunca era bom o bastante... Ou a expressão correta seria "nunca era ruim o bastante"?

Me criticar era o passatempo preferido dele. Às vezes eu me perguntava por que ele voltava pra casa? Nunca era por um bom motivo, isso eu asseguro.

— Esquece a porra do serviço de merda e vamos logo pegar mulher, a menos que tenha algo errado com o seu pau... — Debochou, com aquela rizada escandalosa.

— Não enche, Merle! — Sai, andando na frente.

— Quanto tempo faz que você não molha o biscoito, hein? — Senti seu cotovelo bater em mim e me esquivei. — Aposto que desde a Agnes. Eu não sei qual o seu problema, Darlyna, mas já aviso que se tu for boiola eu te capo. Nenhum irmão meu vai gostar de pau.

Ele entrou na caminhonete primeiro e eu apenas bufei. Merle era um idiota que falava coisas idiotas.

E não, eu não era gay. Meu problema em me relacionar com as pessoas não tinha a ver com isso. Tinha a ver com a porra te um trauma que grudou em mim. Era mais forte que eu.

Merle dirigia, contando qualquer merda que ele achava engraçada, mas os meus pensamentos estavam longe. Talvez ele tivesse razão, talvez eu fosse só um maricas...

Descemos no Joe's, dei graças do meu velho não estar por lá, mas quase tropecei nos próprios pés, quando me dei conta de quem estava perto da mesa de bilhar: Peter e Natalie Cooper.

Ela não me viu de imediato, rindo de alguma coisa qualquer, o cabelo balançando em um movimento descontraído. Por que ela tinha que brilhar tanto?

As coisas continuavam ruins entre nós. Quer dizer ela havia me trazido uma lanche na quinta, mas ainda me evitava. Tinha começado a "trabalhar" na oficina também, não nos carros, na verdade o trabalho dela se resumia a telefonemas e papeis. Não falou comigo mais que o estritamente necessário, apenas para perguntar sobre o carro de um cliente que estava no telefone.

No começo isso era tudo que eu queria. A desejava longe de mim, que me esquecesse e fingisse que eu não existia. Mas quando aconteceu realmente, eu me dei conta que não gostava da situação.

E o pior é que era minha culpa, talvez esse fosse o problema, talvez por isso me incomodasse tanto. Ela não tinha apenas esquecido de mim, ela estava chateada. Eu não entendia bem a razão pela qual isso me deixava mal, mas deixava. Me fazia sentir um merda.

Só mais uma coisa, na longa lista de coisas, que me faziam sentir um merda.

Merle viu os Cooper e acenou, andando até eles como se fosse o dono do lugar. Meu irmão estava sempre no centro das atenções, ele gostava de falar alto e chocar as pessoas com as imundices que dizia, era o total oposto de mim.

— Olha só quem temos aqui. Peter Cooper e a Bonequinha da cidade grande.

— Já disse pra não me chamar de Bonequinha. — Natalie revirou os olhos, mas sorriu. — Então você voltou, foi?

— Eu sempre volto, baby. — Merle abriu os braços todo presunçoso e se aproximou para cumprimentar Peter.

Encostei na mesa de bilhar, no canto mais afastado deles e apenas acenei com a cabeça. Natalie me fitou por meio segundo, calma e pacífica, um sorriso mínimo nos lábios perfeitos e então voltou a atenção para Merle.

Fiquei observando como, em menos de dois minutos de conversa, eles agiam como se fossem amigos a vida toda. Natalie ria e retrucava à altura e Merle ria ainda mais, já Cooper apenas observava a filha com um sorriso nos lábios. Era tão óbvio o quanto ele a amava, que eu sentia até uma pontada de inveja. Esse tipo de amor paternal nunca apareceu na minha vida.

Meu velho era um terror comigo, e com Merle não era muito diferente, mas com as outras pessoas melhorava. Peter era o oposto, eu me lembrava bem dele nos tempos obscuros e de como todo mundo o temia, porém com a filha era só amor...

Foi mais ou menos nesse momento que ele pareceu ter um tipo de tontura. No mesmo instante Natalie já estava do lado dele.

— Tudo bem, pai?

— Tudo, é só um mal-estar nada demais. Acho que eu vou pra casa.

— Okay, vamos então. — Ouvi ela dizer preocupada e sem perceber me aproximei mais.

— Não precisa ir, fica aqui, está cedo, divirta-se. Eu estou bem, sério. Sua batata nem chegou ainda.

— Você não vai andar até em casa sozinho. A gente veio sem carro, lembra? — ela retrucou, decidida a ir com ele.

— Eu estou legal. Só devo estar fraco para as bebidas. — Beijou a testa dela e sorriu. — Vou caminhando devagar, o ar puro me fará bem.

— Você está velho, isso sim, Cooper — Merle debochou.

— Velho é você. Meu pai ainda dá um caldo — Natalie retrucou no mesmo instante.

— Eu sou mais novo que o seu pai, menina!

— Pois não parece. — Ela riu e eu tive que me segurar para não fazer o mesmo.

— Bom eu posso te provar... — Merle ensinou e eu senti náuseas.

— E eu posso enfiar aquele taco no seu... — Peter interrompeu o comentário da filha com uma tossida discreta. — ...olho. — Natalie terminou com um sorriso angelical.

Merle riu alto. Sua risada atraindo todos os olhares na nossa direção. Passei a mão no rosto e neguei totalmente exausto.

— Olha só ela rosna, será que morde? — Continuou debochando, como o pateta que era. — Devia colocar a bonequinha assassina na coleira, Cooper.

— Você devia estar na coleira, Merle. — Peter retrucou, sem parecer se importar realmente, ele conhecia meu irmão, sabia que, por mais que Merle fosse um idiota, era só brincadeira.

Trocou algumas palavras com Natalie e se despediu com um aceno.

— Fica de olho nesse seu irmão louco, Daryl, conto com você. — Deu um tapinha amigável nas minhas costas e foi embora.

Fiquei ali, possivelmente com cara de idiota, tentando entender, sem sucesso, o que aquilo significava exatamente.

Merle desatou a falar de um assunto qualquer e eu fiquei meio de canto. Joe trouxe a porção de batatas fritas da Natalie e pedimos cervejas. Assim a noite foi seguindo, com meu irmão tentando ensinar as regras do bilhar para a Bochechas e me ridicularizando com piadas infames a cada dois minutos.

— Acho que eu posso te ensinar a usar um taco de jeito certo. — Merle insinuou, depois da décima tacada que Natalie errou.

— Saí pra lá, Merle, quem gosta de coisa velha é museu. — Ela bateu nele de leve.

— Não despreze antes de experimentar...

— Eca! — A cara de nojo dela foi quase cômica.

— Anda maninho, dá a merda da sua tacada logo.

Me preparei, colocando o cigarro preso na boca e me debruçando sobre a mesa com o taco. Calculei a força com a qual eu tinha que dar a tacada, mas antes de fazer ergui levemente o olhar. Natalie me observava de um jeito tão intenso que eu me desconcentrei e errei feio.

— Eu sabia que você tinha problema com as bolas, Darlyna, mas problemas com o taco também, é novidade. — Merle riu escandalosamente.

— Vai se foder, Merle!

— Eu ensinei tudo pra esse moleque, mas ele não aprende. — Falou, diretamente pra Natalie, passando o braços pelos meus ombros e bagunçando meu cabelo. — Para de ser maricas e honra essas calças, irmãozinho.

Me desvencilhei dele totalmente de mau-humor.

— Ainda bem que ele não aprendeu, a última coisa que esse mundo precisa é de outro Merle Dixon... — Natalie declarou, com um sorrisinho esnobe que fez Merle lhe lançar um olhar nada amigável. — Sabe o que eu acho, Merle? Acho que está com inveja do Daryl...

Ela só podia ser louca! Por que diabos qualquer pessoa no mundo teria inveja de mim? Eu era o que as pessoas chamavam de "lixo branco".

— Inveja?! De quê exatamente? — Meu irmão me encarou de cima a baixo com um desdém exagerado.

— Sério que você ainda pergunta? Olha pra ele, Daryl é jovem, super gato, ele tem esse olhar de James Dean sexy e o temperamento de um Bad Boy misterioso. Qualquer garota da cidade, que pudesse escolher, ficaria com ele, não com você... Ah, e é claro, ele tem cabelo e você está ficando careca.

Engasguei com a fumaça do cigarro por puro choque e tive que controlar uma crise de tosse, mas acho que isso foi bom, porque devia disfarçar o quão vermelho eu estava. Aquela garota era totalmente louca!

Merle ficou dois segundos totalmente calado, então caiu na maior crise de riso da história. Todo mundo do Joe's começou a encarar.

Natalie tinha um expressão calma, aparentemente ela estava falando sério mesmo.

— Isso é piada, não é? — Merle perguntou debochado.

— Eu não estou rindo, estou? — Ela respondeu, cruzando os braços.

— Minha nossa, ela não bate bem... Você sabia disso? — Meu irmão me deu um cutucão.

— Já chega Merle, não enche! — Retruquei rudemente.

Meus olhos encontraram os de Natalie e ela sorriu muito de leve. Que merda confusa era aquela que estava acontecendo?

— Eu vou te provar que você está errada — Merle declarou, se virando e erguendo a mão. — Shannon, querida, vem aqui um instante!

Shannon veio imediatamente, eu nunca seria capaz de entender porquê ela corria atrás do Merle daquele jeito. Se aproximou com aquele batom gritante e praticamente esfregou o decote na cara do meu irmão. O que ele dever ter adorado, obviamente.

— Diz aqui pra nossa amiga desvairada, Natalie Cooper, quem é o Dixon com maior pegada e quem é o Dixon que as garotas preferem...

— O Dixon com maior pegada é você, certamente, sei disso com propriedade. — Shannon se gabou com aquela voz anasalada irritante. — Mas acho que o seu irmão desse chance para as garotas, elas cairiam matando em cima dele, não ia sobrar nadinha.

Apenas puxei uma cadeira e deixei meu corpo cair, pegando a garrafa de cerveja e dando o maior gole que eu podia. Será que tinha como aquilo ficar pior?

— Viu? — Merle apontou.

— Não vi nada. — Natalie deu de ombros, se sentando na cadeira exatamente na minha frente, do outro lado da mesa.

— Ah, e falando de "dar uma chance" como foi o seu encontro, Daryl? — Shannon, a bisbilhoteira, bocuda, perguntou como se fossemos realmente amigos.

— Espera! Encontro? Por que eu não estou sabendo disso? — Meu irmão se indignou e eu senti que ele me fuzilava, mesmo que eu não o encarasse pra saber.

— Ele levou uma garota no Infierno, sexta passada... — Shannon começou a contar, como se eu não estivesse ali.

Se eu pudesse cavar um buraco na terra e me enfiar nele, eu teria feito isso...

— Está levando garotas em lugares bacana, hein irmãozinho? — Merle se aproximou e me estapeou o ombro inúmeras vezes. Shannon apenas voltou ao trabalho, como se não tivesse acabado de jogar uma bomba núclear no meu colo. — Então, quem era a vadia?

Observei Natalie rapidamente e ela encarava Merle com os olhos apertados de raiva.

— Não era vadia nenhuma, porque não era uma vadia. — Retruquei, empurrando-o.

— Quer dizer que você saiu com uma garota sem precisar pagar? — Ele duvidou, puxando uma cadeira e virando-a ao contrário para se sentar, apoiando os braços no encosto. — Ah, então aposto que era uma baranga horrorosa, não é?

Natalie apagou o cigarro que fumava com tanta força, que o cinzeiro tombou espalhando as bitucas pela mesa. Nossos olhos se encontraram e eu daria tudo pra saber o que exatamente ela estava pensando.

— Espera... Espera... — Merle apontou de mim para ela, com uma expressão de quem sabia de tudo. — É você. Você é a garota! Que aposta você perdeu pra ter que sair com o meu irmãozinho?

Eu já estava tão acostumado com meu irmão me inferiorizando que, na maioria das vezes, eu nem ligava. Apenas suspirei resignado e me preparei para contar a verdade, na qual ele nunca acreditaria.

Afinal eu mesmo não acreditava, ou entendia, porque Natalie Cooper tinha tanto interesse em mim. Eu não valia a pena...

— Por que é tão difícil pra você acreditar que o Daryl pode sair com a garota que ele quiser? — Natalie retrucou primeiro que eu.

Nunca a tinha visto usar aquele tom, havia muito de raiva ali. O que não fazia sentido algum... Por que ela estava me defendendo?

— Simplesmente porque ele nunca fez isso antes ué...

— Nunca passou pela sua cabecinha oca que ele só não estava interessado? — A postura de Natalie era totalmente agressiva, o modo como ela estava sentada, o modo como ela tinha erguido o queixo... Ela estava mesmo disposta a brigar com o meu irmão.

— Caralho! Vocês estão transando mesmo? — Perguntou diretamente pra mim, ainda incrédulo.

Óbvio que ele duvidava, quem não duvidaria de uma garota como Natalie Cooper dando trela para um cara como eu?

— Porra, Merle! Já chega cara! Quer saber? A gente não...

— A gente não te deve satisfação. — Natalie me cortou, completando minha frase e me impedindo de dizer a verdade. — Daryl tem razão, a gente não deve mesmo. Mas já que a sua vida sexual é tão frustrante que você tem que viver através das fodas do seu irmão mais novo: Sim, a gente está se pegando. Satisfeito? Será que agora já chega, ou você vai pedir pra gozar com o pau dele também?

Encarei Natalie totalmente chocado. Que porra ela estava fazendo? Eu não conseguia formular um só pensamento coerente, meu cérebro tinha travado feito o motor de arranque de um carro velho.

Merle caiu na risada de novo e eu me preparei pra mais uma leva de deboches. Ele nunca acreditaria naquilo.

— Aí sim, irmãozinho! — Deu um soco de leve no meu ombro direito. — Isso é o que eu chamo de honrar as bolas. — Riu alto, como se estivesse realmente orgulho. Espera ele tinha mesmo acreditado? — Bom, agora eu vou deixar os pombinhos a sós, porque diferente do que a minha cunhadinha pensa: minha vida sexual é foda e esse pau aqui ainda goza pra caralho. — Ele fez um movimento obsceno com o corpo e eu neguei passando a mão pelo rosto.

E então ele simplesmente se afastou. Merle nunca desistia, ele continuava e continuava todas às vezes, mas daquela ele apenas se deu por vencido. Diria até que ele estava feliz por mim (?).

Olhei pra Natalie e ela acendia um cigarro, sua mão tremia levemente de algo que eu imaginei ser raiva.

— Como é que você aguenta? Como se controla pra não socar a fuça dele? — Tragou fundo e soltou a fumaça para cima.

Todos os movimentos dela deixavam claro o quanto estava irritada e isso me fez ver que na noite em que me dera o tapa, ela não estava com raiva, apenas triste. Me senti ainda pior por aquele maldito dia, se é que era possível ficar pior do que eu já estava durante toda a semana.

— Eu já acostumei. — Dei de ombros.

— Pois não devia. Ninguém tem que se acostumar com isso, ninguém merece esse tipo de coisa...

Abaixei meus olhos para a mesa, constrangido por saber que eu tinha dito a ela praticamente o oposto daquilo na semana anterior. Eu não conseguia entender porque ela continuava tentando fazer com que eu me sentisse melhor. Ela devia me odiar...

— Talvez eu mereça... — Declarei, no mesmo tom de antes.

— Não merece.

Ergui os olhos e Natalie me encarava com uma convicção inabalável, ela realmente acreditava que eu não merecia. Queria poder me ver do jeito que ela me via, pelo menos por um segundo.

Me estendeu o cigarro e eu pensei um segundo antes de pegar, era estranho dividir com uma garota. Era estranho colocar a boca onde ela havia colocado a dela segundos antes...

Traguei, soprando a fumaça, enquanto apoiava o polegar nos lábios, com a mesma mão que eu segurava o cigarro entre os dedos.

— Por que tem tanta certeza que eu não mereço? Você nem me conhece. — Perguntei neutro, vendo-a me olhar com aquelas irís muito escuras e redondas como bolinhas de gude.

Natalie continuou me observando por longos segundos, como se estivesse perdida em mim de alguma forma.

— Eu sei que você não merece, exatamente porque você insiste em dizer que merece. É uma reação comum quando sentimos culpa por algo de que não temos culpa. Eu não sei que merda você pensa que merece Daryl Dixon, mas posso assegurar que você não merece. E eu vou continuar repetindo isso, de novo e de novo, quantas vezes for necessário até te convencer disso. — Ela deu um gole na própria cerveja e estendeu a mão pedindo o cigarro.

— Por quê? — Indaguei confuso, enquanto entregava. Eu simplesmente não conseguia entender.

— Bom... — Ela tragou fundo e a brincou com a fumaça por um momento. — Você não me conhece bem, mas tem algo sobre mim que você tem que saber desde já, eu nunca quebro uma promessa... E já que eu prometi nunca desistir de você, eu não vou.

— Isso ainda não explica.

Ela sorriu meio de canto e abaixou a cabeça, apertou os lábios em uma linha fina como se pensasse por um momento. Então ergueu os olhos e negou.

— Eu suponho que deve ter uma explicação lógica. Assim como a libélula orbitar o brilho de uma lâmpada tem uma explicação, assim como negativo e positivo se atraírem também tem explicação. Mas na maior parte das vezes a explicação acaba com a magia da coisa. O motivo não importa, o que importa é o objetivo.

— Você está muito bêbada, ou é louca... — Ri sem humor, pegando o cigarro de volta e me sentindo inquieto com aquela conversa.

— Deve ser. Mas é como dizem "as melhores pessoas são loucas" e "nenhuma boa história começa com um copo de leite". — Natalie deu de ombros e sorriu, aquele sorriso que a deixava com bochechas de esquilo.

Fiquei admirando aquilo por um tempo, como uma pessoa podia ser tão linda mesmo nos defeitos? Quer dizer, não que eu estivesse achando que Natalie era linda, nem pensar. Ou estava?

— Eu não acredito nesses ditados populares. — Bati a cinza do cigarro e bebi da minha cerveja só pra não ficar olhando cada detalhe dela.

— Devia. Alguém escreveu isso quando estava transbordando de um sentimento qualquer, então tem muito de verdade nos ditados populares...

Não respondi, senti que já tinha falado demais por um dia, isso era totalmente atípico de mim. Mas ao mesmo tempo eu queria continuar, era tão fácil falar com Natalie Cooper, e eu não entendia o motivo... Talvez fosse uma daquelas coisas que tem explicação, mas que a explicação não importava, igual ao que ela tinha acabado de dizer.

Eu pensei que nunca mais nos falaríamos, seria a atitude que qualquer um tomaria depois do que eu disse, mas ali estava Natalie, falando comigo normalmente. Eu sinceramente não era capaz de compreendê-la.

— Eu vou te mostrar uma coisa... — Declarou, pegando a bolsa que estava pendurada no encosto da cadeira.

De lá ela tirou aquele caderno, agenda, ou sei lá o quê, com o qual ela sempre estava pra baixo e pra cima, junto com a aquela pena longa e espalhafatosamente azul, que na verdade era uma caneta.

— Esse é o meu diário. Não é bem do tipo: "Querido diário, hoje eu fiquei bêbada e fiz besteira." É mais um lugar onde eu escrevo tudo que eu sinto, de um jeito que eu provavelmente nunca diria pra ninguém.

O tal diário era mais uma agenda, cheia de detalhes, com um fecho em couro cor caramelo, assim como o botão que o prendia. Na capa várias borboletas azuis, parecendo terem sido pintadas a mão, chamaram minha atenção.

Me perguntei se ela realmente iria me deixar ler algo tão pessoal...

— Aqui. — Parou em uma página qualquer. — Escrevi isso faz uns anos. Acho que se encaixa com a sua situação atual.

Hesitei, meio incerto se eu devia mesmo fazer aquilo. Talvez fosse intimidade demais.

— Relaxa, eu vou deixar você ler uma frase só, nem pensar que eu te deixaria ler algo que eu escrevi sobre você. — Riu, me empurrando o diário pela mesa.

— Você escreve sobre mim? — Fui incapaz de controlar a pergunta e senti meu rosto esquentar.

— Talvez...

Peguei o diário de uma vez, antes que as coisas ficassem ainda mais constrangedoras, e encarei a página que ela mantinha aberta, tinha uma porção de desenhos de estrelas, luas, flores e outras coisas espalhadas por ela e, bem no centro, escrito em uma caligrafia levemente deitada, mas muito bonita, estava o trecho:

"Minhas dores e fardos
não me definem.
Sou muito mais do que
os reflexos que o mundo sombreia
sobre o meu corpo...
Eles têm cicatrizes rasas demais
para entenderem a profundidade 
dos cortes que tocam a minha alma.
Não importa o que dizem ou pensam,
não deixarei que me pintem em tons de cinza
quando sei que sou feita de tons de azul."

As palavras ficaram ecoando na minha mente. Eram apenas palavras, eu sabia, mas de alguma forma alcançaram algo dentro de mim que eu nem desconfiava que tinha.

Fechei o diário e o empurrei de volta para Natalie, totalmente sem jeito.

— Escrevi isso sobre mim faz uns anos, eu estava em um momento difícil, e acho que poderia escrever a mesma coisa de você agora...

Não respondi, e ela também não disse mais nada, apenas pousou as mãos sobre o diário e ficou passando os dedos sobre as borboletas, enquanto eu tentava digerir toda aquela conversa.

➷•➷•➷•➷•➷

Merle sumiu com a minha caminhonete, justo quando eu finalmente tinha convencido Natalie a me deixar dar uma carona a ela.

Acabamos caminhando lado a lado pela calçada, eu coloquei minhas mãos nos bolsos e simplesmente não encontrei assunto. Eu ainda estava tentando entender Natalie Cooper; em um minuto ela era a rebelde, no outro a garota maluca, e no outro ela era tão profunda e forte que me fazia sentir inveja, afinal eu nunca teria aquela coragem e aquela força, não daquele jeito que ela tinha, era um tipo diferente de coragem.

Não era como se aventurar na floresta e não ter medo de passar a noite lá, ou de se dar mal se metendo nas brigas do irmão, como eu fazia. Era coragem e força para encarar a própria vida e tomar as rédeas, decidir por si só e não deixar para o destino. Era coragem de dizer o que sentia, sem medo do que as pessoas podiam pensar.

Ela era extraordinária e, de repente, eu me vi desejando conhecer cada uma das cem garotas que havia nela...

Natalie tirou um cigarro do maço e riscou o fósforo, que se apagou com o vento, o mesmo aconteceu com o segundo. Ela parou, pra tentar de novo com o corpo na direção oposta da brisa, mas o palito quebrou no meio.

— Aqui. — Tirei o isqueiro do bolso e me aproximei pra acender o cigarro dela.

Tivemos que ficar muito perto, apenas a chama entre nossos corpos e, por incrível que pareça, eu não me senti desconfortável com aquilo. Na verdade eu me senti preso ali, cativo de cada pequeno detalhe; como os fios castanhos balançando com o vento, os olhos negros brilhando, refletindo a brasa recém-acesa e os lábios rosados, perfeitamente desenhados, soprando a fumaça lentamente.

Nossas íris se encontraram e eu não tive forças pra me afastar, minha respiração ficou subitamente pesada, quando os olhos dela observaram cada parte do meu rosto parando na minha boca. Natalie deu um sorriso quase triste e baixou a cabeça dando um passo para atrás e voltando a andar.

Uma parte de mim agradeceu, mas outra gritou em agonia e eu ouvi as palavras de Natalie ecoarem na minha cabeça como uma maldição: "Eu não vou te beijar nunca mais, prometo. E eu sempre cumpro minhas promessas."

Voltamos a andar em silêncio, e mais uma vez ela estendeu o cigarro pra mim.

— O que você está pensando? — Perguntou quando eu traguei.

Dei de ombros sem saber o que responder realmente.

— Por que borboletas? — Me olhou como se não entendesse. — Por que as borboletas azuis no seu diário?

— É por causa da analogia, sabe? Aquela lagarta em quem ninguém vê nenhum potencial, então ela se tranca em si mesma, pra se defender do mundo, e quando finalmente saí ela é um ser totalmente novo, ela pode voar e é livre. Eu sempre quis ser com uma borboleta. Elas são lindas. — Explicou, com um sorriso discreto no rosto.

— Você é. — Declarei, quase no mesmo instante e então percebi a ambiguidade da frase. — Quer dizer você é como um borboleta, e não que você é linda... — Me atrapalhei nas palavras.

Natalie riu abertamente, o cabelo balançando em sincronia perfeita com a cabeça se mexendo e os dentes brancos se destacando nos lábios rosados.

— Então eu não sou linda? Eu sou uma borboleta feia... Okay, é um meio elogio, já é alguma coisa...

— Você entendeu. — Resmunguei, meio sem jeito.

— Sim, eu entendi...

Vi a oficina assim que viramos a esquina e por algum motivo fiquei repentinamente desanimado. Menos de cinquenta metros depois paramos na frente do portão.

— Valeu por andar até aqui comigo. — Natalie sorriu.

— Era caminho. — Menti, eu podia ter chegado em casa faz tempo se tivesse ido por outra rua, mas nunca a deixaria vir sozinha.

Ela estava pronta para entrar, quando eu a chamei de volta:

— Hey, Bochechas. — Se virou pra me encarar e eu travei. Sabia que precisava dizer, mas ao mesmo tempo sentia que as palavras não saiam — Sabe aquela noite? — Murmurei tão baixo que duvidei que ela tivesse ouvido. — Eu não devia ter dito aquilo, eu não queria dizer... Eu... — Não consegui terminar.

— Eu sei. — Respondeu serenamente. — Você estava em um dia ruim e eu cometi um erro estúpido. No fim escolhi uma péssima hora pra ser eu mesma... Mas eu prometi que não vou fazer aquilo de novo e sei que você também não vai falar aquilo de novo, então ficaremos bem...

Assenti, totalmente surpreso que ela simplesmente tivesse me perdoado por ter sido o maior idiota de todos, sendo que eu sequer tinha chegado a pedir desculpas realmente.

As palavras simplesmente se perderam na minha língua. Natalie me observava tão doce e pacata, que eu podia confundir aquele momento com um sonho ou uma visão.

Não sei quanto tempo fiquei ali parado, apenas sentindo o vento frio tocar minha pele e apreciando as estrelas através dos olhos negros.

Natalie finalmente quebrou o contato, abaixando a cabeça e sorrindo enquanto abria o portão.

— Boa noite, Baby Dix.

— Boa noite, Bochechas.      

 


Notas Finais


Essa promessa ainda vai dar trabalho só digo isso aiuhsuahsaush

A Natalie não ficaria muito tempo brigada com o Daryl, ela não é desse tipo que quer falar com alguém e não fala por orgulho.
Merle pensa que eles estão se pegando uahsaushu vamos ver até quando neh.
Daryl eu acho que você já foi fisgado... poxa vida e agora hein? uahsuashuas

Por ter voltado de férias, as atualizações passam a ser uma vez por semana, okay, então até sexta que vem.

Espero que tenham gostado
Bjss


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...