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História Lifeline - Before the End - Campeonato de pesca


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Hello it's me... (já tá meio velha a música mas não dá pra resistir.)

Chegou a sexta, dia de cap novo, e tenho que confessar que senti muita falta de postas durante a semana, já estava acostumada e doeu... Fazer o que, tenho que trabalhar neh uahsauhsuh

Muito obrigada pelos comentários do capitulo passado vocês deixam meus dias muito mais felizes *--*
Comentários sempre me dão um gás a mais gente, isso é sério, não é só lorota não aushauhsuash

Eu estava bem ansiosa pra postar esse, porque tem uma cena dele (do meio pro final) que foi uma das primeiras que escrevi pra essa fic e está no ranking de favoritas de TODAS as cenas da fic (inclusive as que eu não postei ainda) Das que estão postadas é a que fica em primeiro lugar.
Então espero que gostem tanto quando eu.

Boa leitura.

PS: Fiz um DC lindo da Natalie, vou deixar link nas notas.

Capítulo 11 - Campeonato de pesca


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Campeonato de pesca

 

• NATALIE COOPER •

As semanas voaram e o último domingo do mês chegou, nublado, porém abafado.

As coisas estavam boas de verdade. Eu e meu pai não podíamos estar melhor e a chegada de Merle tinha feito das minhas noites muito menos monótonas, isso porque ele ainda pensava que eu e Daryl estávamos juntos e nos arrastava para todo lugar. O que me ajudou a conhecer todos os bares da região.

Daryl não estava confortável com aquilo, ele queria de todo jeito contar que era mentira, mas eu não via motivos para dar satisfação, então, pra minha surpresa, ele simplesmente me deixou lidar com as coisas do meu jeito.

Estava feliz que tínhamos finalmente virado amigos, não era aquilo "nossa, que amizade!", mas era melhor do que quando ele me ignorava totalmente.

Passei a entendê-lo melhor com o tempo, Daryl tinha problemas para se relacionar, era como algum trauma muito irrigado do qual ele não conseguia se libertar. Eu queria saber o que causou aquilo, mas entendia que ele nunca contaria e aceitei que era uma daquelas coisas que não dava pra arrancar de alguém.

Fora isso, ele tinha um jeito muito inferior de ver a si mesmo, era quase deprimente que ele se achasse tão indigno, tão ruim, tão merda e tão fodido como achava.

E tudo isso só me deixou ainda mais motivada a ajudá-lo de alguma forma. Eu queria que ele se visse de outra maneira, que se libertasse daquelas amarras e que pudesse usufruir da vida. Daryl era muito jovem pra estar naquela onda de auto-ódio.

Claro que eu ainda não tinha achado o jeito certo de fazê-lo enxergar as coisas pelo meu ponto de vista, mas encontraria um modo, tinha certeza disso...

Era o dia do tão falado campeonato de pesca, e meu pai parecia bastante animado, o que eu achei ótimo, mesmo que não fosse a maior fã de pesca do universo. Peter Cooper andava um tanto quieto e cansado, eu não gostava disso, então coloquei o maior incentivo quando ele decidiu se inscrever.

Havia gente de todas as cidades vizinhas, reunidas ao redor do enorme lago da reserva que fazia divisa com Dawsonville. Eu não entendia a empolgação de ficar o dia todo em um barquinho, em silêncio absoluto, só pra pegar uns peixes.

Sem contar que todos aquele pobres peixinhos acabariam mortos, com seus olhinhos esbugalhados e sem nenhum ar. Então aquele concurso nada mais era do que genocídio marinho, que premiava, com uma boa quantia em dinheiro, o maior "assassino" de peixes da região.

Mas obviamente eu não diria isso em voz alta, afinal meu pai era um desses "assassinos" e estava bem contente com isso.

A única coisa que salvava, era que todos os peixes pescados ali seriam doados pra instituições ou lares infantis. Pelo menos teriam um bom uso.

Não que eu não comesse peixe, eu comia, na verdade eu adorava, mas ele já vinha fritinho e maravilhoso, eu não tinha que ver os olhinhos mortos deles, tampouco eu mesma matá-los. Um tanto de hipocrisia admito, mas a sociedade era hipócrita e eu vivia na sociedade, sendo assim, eu também tinha meus momentos de hipocrisia.

Avistei Merle vindo ao longe, com Daryl logo atrás.

— Como vai indo a minha cunhadinha preferida? — Ele passou os braços pelo meu ombro todo sorridente. — E aí, Papa Cooper, vai perder pra mim hoje?

— Vai sonhando, Merle. — Meu pai deu um tapinha amigável no braço do meu "cunhado" e passou por nós em direção ao carro, para pegar os materiais de pesca, antes cumprimentando Daryl que estava parado com a cabeça baixa e as mãos nos bolsos.

Merle olhou de mim para o irmão um tanto desconfiado.

— Sabe o que eu reparei? Vocês dois nunca se beijam...

Tirei o braço dele do meu ombro e revirei os olhos caminhando pra mais perto do Daryl.

— E sabe o que eu reparei? — Retruquei em meu tom mais irônico. — Você perde muito tempo reparando na gente. Não tem nada melhor pra fazer?

— Acho melhor amansar essa ferra, irmãozinho, ela é muito arisca. — Merle riu, nenhum pouco afetado pelo que eu tinha dito. — Agora eu tenho que ir, aquela gostosa que organiza o evento está me dando mole. Aproveite pra dar uma rapidinha, porque depois nós vamos ganhar esse porra e a grana toda.

Ele não esperou resposta, saindo decidido em direção a uma loira bem vestida, que estava atrás da bancada de inscrições e que, com certeza, não estava dando mole pra ele.

— Por que é que ainda estamos fazendo isso mesmo? — Daryl perguntou, aparentemente cansado e desanimado.

— Você está legal? — Ignorei a pergunta. Ele não parecia nada bem, como se o simples fato de estar ali o matasse um pouco.

Focou os olhos em mim, surpreso e confuso.

— Por que a pergunta?

— Por que você claramente não que estar aqui... E a sua cara está péssima.

— Essa é a minha cara de sempre. — Retrucou rude, como se ter alguém se preocupando com ele fosse um ultraje.

— Se você diz... — Dei de ombros, não querendo forçar as coisas.

Ficamos em silencio por um tempo, Daryl olhando ao redor, como se esperasse encontrar alguém e eu imaginando quem seria a pessoa que o deixava tão desconfortável.

Meu pai voltou trazendo as varas e todas as outras coisas de pesca. Em uma das mãos um pote de minhocas do qual eu fiz questão de manter distância absoluta.

— Tem certeza que não quer participar comigo? — Perguntou para mim, com um sorriso radiante.

— Se você me levar vai perder, sabe que eu não vou conseguir ficar calada por horas. — Ri, ajudando com as coisas, menos com o pote de minhocas é claro.

— Melhor deixar você em terra firme. — Me acompanhou na risada. — E você, Daryl vai participar esse ano?

Ao ouvir seu nome, Daryl virou na nossa direção e assentiu vagamente. Olhou para o chão por um momento e disse que tinha que ir, na verdade ele murmurou.

— Ele ainda está assim por causa do lance do namoro falso? — Meu pai comentou, colocando tudo dentro de um dos pequenos barcos de madeira.

Neguei, tentando prender o cabelo que voava com o vento forte, quando um trovão cortou o céu, anunciando que a chuva chegaria logo.

— Ele estava preocupado que você tivesse a ideia errada disso, mas eu disse que te contei a verdade e isso amenizou a paranoia dele, acho que o problema hoje é outro...

Sim, eu tinha contado para o meu pai sobre a mentirinha, não fazia sentido esconder e Daryl estava surtando por causa disso, não que ele fosse admitir, é claro. Desta forma, a única pessoa que ainda acreditava na mentira era Merle e todos pra quem ele havia contado no Joe's, o que era praticamente a cidade toda, não que eu me importasse realmente.

Percebi que os apelidos degradantes que Merle dava a Daryl tinham diminuído, mesmo que os deboches continuassem, mas Merle Dixon debochava de todo mundo, esse era o jeito dele, então era algo que nunca mudaria.

Outro trovão cortou o céu e eu me preocupei por um momento.

— Tem certeza que é seguro entrar nessa banheira flutuante com a chuva que está ameaçando?

— É só chuva, não vai durar muito e vai deixar as coisas mais divertidas. — Meu pai estava realmente empolgado e de alguma forma isso me deixava mais feliz do que eu podia descrever. — Mas você pode ir pra casa, ou dar uma volta se quiser, as coisas aqui demoram muito, você vai ficar entediada.

— Eu não vou te deixar aqui sozinho. — Retruquei no mesmo momento.

Meu pai me segurou por um instante, esfregando meus braços e beijando o topo da minha cabeça.

— Só de saber que vamos jantar juntos, hoje, amanhã e depois, já é mais do que eu imaginei em toda a minha vida, você me incentivou a vir, mas não tem que ficar. Eu não estaria aqui se não fosse por você. — Sorriu e me abraçou.

Eu senti que aquilo era mais do que parecia realmente, mas não prestei tanta atenção no momento, apenas o abracei de volta. Peter se afastou dois passos e eu desejei sorte enquanto ele preparava as últimas coisas e entrava no barco.

Olhei ao redor e vi Daryl e Merle arrumando a próprias coisas, me aproximei deles.

— A gente reveza e vamos ganhar essa merda. — Merle dizia empolgado.

Daryl me percebeu ali e ergueu a cabeça por um momento, me observou, ainda com a mesma expressão de antes, e então abaixou a cabeça novamente.

Merle apenas continuou o que estava fazendo, checando cada coisa com atenção desnecessária. Ele queria mesmo ganhar aquele prêmio. Começou a contar uma história qualquer sobre pescaria, na qual eu não acreditei nenhum pouco.

Foi quando toda a postura de Daryl mudou drasticamente, quer dizer, ele estava totalmente desgostoso de estar ali, mas naquele instante vi ele retrair cada músculo, e se afastar dois passos, pegando uma vara de pescar e fazendo de tudo pra se entreter com ela, como se quisesse evitar qualquer contato com o mundo.

Me virei para encarar o ponto em que ele focou e reparei em Will Dixon se aproximando com uma garrafa na mão e os passos tortos. Ele estava totalmente bêbado.

Se aproximou cambaleante, encarando os filhos com desdém.

— Então foi aqui que vocês, inúteis, se enfiaram?

Merle respondeu com um palavrão qualquer, algo que eu não dei importância, pois meus olhos estavam em Daryl. Ele sequer ergueu a cabeça, totalmente calado.

Will Dixon pareceu finalmente ter me percebido ali, me olhou como se eu não passasse de um pedaço de carne podre.

— Ah, mas claro, vocês têm que arrumar dinheiro extra pra gastar com essa vadia de quinta...

Respirei fundo e ergui as sobrancelhas, a resposta estava na ponta da língua, eu cheguei a abrir a boca pra responder, mas parei por um instante. Merle nos encarava, Daryl tinha o punho cerrado o corpo dele parecia tremer.

Desisti. Era um pai de merda, mas ainda era o pai deles. O encarei com o mesmo desdém que ele parecia encarar todo mundo e apenas dei as costas, saindo a passos rápidos pra conter minha vontade de arrastar a cara daquele velho no asfalto quente.

Me sentei em uma das arquibancadas montadas ao redor do lago e tentei não prestar atenção nos três Dixon, que pareciam estar em algum tipo de discussão, ou algo assim. Não era da minha conta.

Avistei meu pai no meio do lago, conversando com o senhor do barco ao lado, era um cara de meia idade com o rosto bem redondo e que tinha um chapéu engraçado, acenei e Peter, empolgado, acenou de volta, me apontando para o homem que também me acenou.

Desejei estar com meu diário só pra poder despejar minha raiva de Will Dixon nele.

Tentei focar nas pessoas ao redor, a maior parte velhos, provavelmente porque pesca era um esporte totalmente seguro para suas saúdes fracas.

Passei a focar em uma família próxima a um dos barcos, um casal de filhos, dois caras, eles obviamente eram um casal também, sorri. A sociedade condenava aquilo, por isso eram tão discretos.

Mas eu olhava as crianças sorrindo felizes e brincando com as minhocas da pesca e apenas ficava feliz por elas. Eu nunca tive um momento daqueles, mesmo que Daniel e minha mãe tivessem se casado, enquanto eu ainda era criança.

Os padrões que a sociedade impunha não eram justos. Só feria as pessoas e impedia que elas fossem realmente felizes...

Minha atenção foi atraída por Daryl que se aproximava. O pai dele e Merle ainda estavam parados no mesmo lugar, porém não pareciam discutir mais.

Ele se sentou quase ao meu lado, totalmente calado e olhando para o lago por um tempo.

— Por que não respondeu o velho? Você chegou a abrir a boca, eu vi, então por que não respondeu? — Perguntou finalmente.

— Respeito. — Respondi apenas.

— Ele não merece seu respeito.

— Não mesmo, mas você merece e ele é seu pai. Então eu estava respeitando você, não ele. — O encarei por meio segundo.

Ela não respondeu, olhou a água de novo e, quando Merle o chamou ao longe, Daryl levantou e estava pronto para voltar.

— Por que está fazendo isso? — Foi minha vez de perguntar e ele focou em mim sem entender. — Por que está aqui se não quer estar?

— Como sabe que eu não quero estar?

— Eu estou vendo isso, é como se tivesse escrito na sua testa. — Dei de ombros.

— Eu não tenho escolha. — Respondeu, mas era como se estivesse falando pra convencer a si mesmo e não a mim.

— Sempre temos escolha. Frase clichê, mas totalmente verdade.

Nossos olhos se encontraram e eu sorri enquanto ele juntava as sobrancelhas pensativo.

— Se seu irmão quer pescar, deixar ele pescar. Vamos dar o fora daqui. — Sugeri, me levantando no mesmo instante.

— Pra onde?

— Não importa. — Dei de ombros novamente, descendo os degraus da arquibancada.

Avistei meu pai no lago e acenei para ele novamente.

— Boa sorte, pai, acaba com eles! — Gritei animada e ele me deu um "tchau" de volta.

Merle gritou alguma coisa em nossa direção, mas eu apenas mostrei meu dedo pra ele enquanto ria.

Daryl me encarou mais um vez e eu apontei o caminho da saída. Ele olhou para Merle que ainda xingava, eu ergui uma sobrancelha em incentivo, finalmente ele pareceu se decidir, também ergueu o dedo médio e virou as costas.

Merle ergueu as mãos para o céu com outro xingamento e outro palavrão, por fim acabou rindo.

— Você me paga por essa, cunhadinha!

Eu dei um tchauzinho e ri cínica, saltitando para o lado de Daryl, observei por um segundo e ele parecia renovado. Respirava levemente ofegante. Eu entendia.

Fazer algo totalmente rebelde pela primeira vez era libertador, um tipo de alegria desmedida explodia no nosso peito, era incontrolável.

Nossos olhos se encontraram e ele sorriu. Isto é, ele sorriu de verdade, um sorriso completo, aberto, sincero, lindo. Senti que estava tendo uma parada cardíaca, Daryl tinha acabado de rejuvenescer cinco anos, mil vezes mais bonito e, se eu não tivesse prometido, teria o beijado bem ali, acho que cheguei a dar um passo pra isso, antes de lembrar da promessa. Sorri sem jeito, abaixando a cabeça.

Chegamos no estacionamento e eu não encontrei a caminhonete, Daryl pegou uma chave do bolso e caminhou em uma direção, que eu tinha certeza que a velharia não estava.

De repente eu vi pra onde ele estava andando: a moto do Merle. Tremi por puro reflexo.

— Algum problema? — Daryl perguntou, medindo cada uma das minhas reações.

— Não. — Menti, com o tom mais natural que eu conseguia. Peguei o capacete da mão dele e tentei sorrir. — Então, vamos?

Assentiu vagamente e subiu na moto, dando a partida, eu montei logo depois, sentindo cada um dos meus músculos tensos. Segurei no apoio traseiro, eu sabia muito bem que Daryl ficaria todo tenso se eu segurasse nele, então não o fiz.

Ele acelerou e eu tentei o máximo que podia controlar minha respiração. O vento gélido castigou meu rosto, fechei os olhos com força, tentando não ser levada pelas lembranças.

Meu corpo todo tremia, senti meu estômago revirar, eu tinha sido jogada de volta no passado, mais precisamente na primeira vez que eu andei de moto. Primeira e última.

Eu tentei. Juro que tentei. Tentei com tudo que eu tinha não surtar, mas não deu certo, meu corpo, minha mente e todas as minhas reações não me obedeciam.

— Para! — Gritei por cima do ombro do Daryl. — Para a moto!

Eu não tive que pedir de novo, talvez pela urgência e desespero presente na minha voz, Daryl parou imediatamente.

Eu desci da moto e arranquei o capacete um tanto desesperada. Estávamos longe do lago, no meio da estrada. Daryl me perguntou alguma coisa, mas tudo estava fora do foco. Joguei o capacete no chão e simplesmente saí da estrada, andando sem rumo para dentro da floresta.

Comecei a contar em ordem decrescente e tentar controlar a respiração, se eu não fosse tão nova diria que estava infartando por causa da pontada crescente no meu peito.

Me apoiei em uma árvore, minha respiração estava tão irregular que era como se eu tivesse corrido uma maratona. Eu podia sentir as lágrimas brotando dos meus olhos, mesmo que eu não quisesse chorar.

Continuei tentando controlar minha respiração quando percebi, pela visão periférica, Daryl se aproximar empurrando a moto pelo meio do mato.

Droga. Se ele já me considerava louca antes, eu não queria nem pensar o que ele achava naquele momento.

— Você está bem? — Perguntou, fazendo a moto ficar parada a alguns metros.

Fiz um movimento totalmente desconexo com a cabeça, que foi do "sim" ao "não" umas três vezes. Vi ele me encarar preocupado e franzir o cenho, unindo as sobrancelhas.

— É só que... — Parei sem saber exatamente o que dizer, ou como dizer. — Faz uns anos que eu não ando de moto.

— Você tem medo, é isso?

— Não sei... — Dei de ombros e o encarei por um momento. — Eu sofri um acidente. Eu tinha quinze anos e saia com esse cara mais velho, Franklin, ele tinha uma moto muito legal, vermelha, enorme... E eu nunca tinha andado de moto. Ele foi me buscar na escolha e decidimos ir pra praia. Foi assim do nada... Eu não me lembro muito depois disso, acho que ele perdeu a direção em alguma curva da estrada, a única coisa que eu lembro nitidamente é de tudo passando muito depressa pelos meus olhos, foi um só segundo. Eu pensei que ia morrer. Acordei no hospital depois de três dias e muitas cirurgias. Quebrei a bacia... — Virei de costas e abaixei levemente o shorts mostrando a cicatriz exatamente na linha do meu quadril. — Levei uns meses pra voltar a andar totalmente e até hoje os meus ossos doem quando neva. Mas eu estou viva, já o Franklin... — Não terminei. Eu não precisava, Daryl tinha entendido.

— Sinto muito. — Disse, em um tom tão calmo que nem parecia ele.

Respirei muito fundo e deixei meu corpo escorregar pela árvore, me sentando no chão. Apoiei meu rosto nas mãos e neguei repetidas vezes.

— Eu nunca mais subi em uma moto depois daquilo.

Daryl se sentou em um tronco quase na minha frente.

— E por que subiu agora? Por que não disse que tinha medo?

— Eu queria sair de lá. Queria que você saísse de lá... E cá entre nós, você nunca se deixa levar pelas minhas ideias, então eu não queria estragar isso. — Dei de ombros como se não importasse. — E eu precisava tentar, sabe?

Nossos olhos se encontraram e ele assentiu.

— Eu entendo.

Percebi que aquilo era pessoal, era a primeira vez que ele dizia algo realmente pessoal. Fiquei calada, esperando que ele dissesse mais alguma coisa, porém não aconteceu. Daryl nunca se abria comigo...

— Eu não sabia que ainda me afetava tanto. Desculpe. — Pedi com sinceridade, afinal ele não tinha culpa das minhas neuras.

— A gente nunca sabe, até que já está no meio do olho do furação. — Ele acendeu um cigarro e o estendeu pra mim depois de tragar.

A coisa de dividir cigarros tinha se tornado comum, eu gostava, era o mais próximo que eu podia chegar de Daryl e dos lábios dele depois da minha promessa.

Começou a garoar, eu não me importei, eu gostava de chuva. Mas isso não significava que Daryl tinha que gostar também.

— Se quiser ir levar a moto embora, pode ir, eu volto e espero meu pai. — Fiz um gesto despretensioso com as mãos.

— Não... — Foi só o que respondeu, pegando o cigarro de volta.

Parecia bastante confortável ali, sentado no chão no meio de todas aquelas árvores e com a garoa fina caindo sobre ele. A floresta era realmente o habitat natural de Daryl Dixon.

Olhei a moto alguns metros atrás de mim e me senti estúpida por não poder desfrutar daquilo.

— Podemos tentar de novo quando e se você quiser. Eu piloto devagar e fazemos em um terreno mais seguro. — Ofereceu naturalmente.

Era a primeira vez que ele se oferecia pra fazer qualquer coisa comigo e eu não pude deixar de sorrir.

— Fala sério? — Perguntei um pouco surpresa.

Ele deu de ombros como se não fosse nada e seus olhos focaram em mim por meio segundo antes de desviarem novamente.

— O que acha de uma troca? — Propus, sentindo meu coração disparar de ansiedade.

— Que tipo de troca?

— Você me ajuda com o meu problema com motos e eu te ajudo com o seu problema.

Me encarou como se eu tivesse acabado de xingá-lo do pior nome.

— Que problema você acha que eu tenho, posso saber? — Retrucou rude.

— Pessoas. Eu acho que você tem medo que as pessoas se aproximem demais. Eu posso te ajudar com isso.

— Eu não tenho medo de nada. — Ele se levantou, bravo.

Respirei resignada, claro que não daria certo, nem sei por que eu tentei. Mas já que eu tinha começado a conversa...

— Okay, talvez não seja medo. — Ergui minhas mãos em sinal de rendição. — Mas você claramente é péssimo com essa coisa de intimidade. Talvez seja fobia social, talvez seja um trauma, talvez seja qualquer coisa... Mas, desculpe a minha sinceridade, você é péssimo em relacionamentos intrapessoais, e eu sou ótima neles. Você é ótimo com motos e carros e eu sou péssima com eles. Você me ajuda, eu te ajudo. Não tem nada errado com isso.

— Talvez eu esteja ótimo do jeito que eu estou. — Devolveu, ainda na ofensiva.

— Talvez... — Dei de ombros. — Mas talvez você só não queria admitir.

Nos encaramos por mais meio segundo, ele estava realmente com raiva, mas eu sabia que não era de mim.

Me levantei e limpei meu shorts batendo a mão dele.

— Você que sabe, Baby Dix... Eu não vou forçar você, sou sua amiga, eu só quero ajudar. Mas tudo bem se você não confia o suficiente em mim pra isso.

Daryl pareceu ponderar, segurou o guidão da moto e baixou a cabeça respirando fundo.

— Se eu tivesse esse problema aí. E não estou dizendo que tenho. Mas se eu tivesse, como você pensa que ajudaria? — Cruzou os braços. — Daria uma de psicóloga e me faria falar sobre tudo, por acaso?

Eu quase ri, na verdade precisei de muito autocontrole pra não rir. A coisa com a moto ficando esquecida em algum lugar da minha mente e eu focando totalmente naquela oportunidade que Daryl estava me dando.

Não entendia muito bem por que me importava tanto, mas o fato é que eu me importava, eu apenas queria ajudá-lo de alguma forma, mesmo que não soubesse exatamente como.

— Não. Primeiro: eu não sou psicóloga. Segundo: eu odeio psicólogos, eles nunca funcionaram pra mim. E terceiro: eu te conheço o suficiente pra saber que você nunca me contaria nada. É um passo muito grande... E no fim, eu posso até não saber o que causou o problema, mas sei qual é o problema, então vamos começar daí... — Expliquei o mais naturalmente possível.

— Isso se eu tivesse mesmo um problema, e eu não tenho... — Insistiu em dizer. — Mas hipoteticamente falando, como você ajudaria?

Dei de ombros por um momento, tentando encontrar um lugar para começar.

— Por onde você começaria, se eu te deixasse me ajudar com a coisa da moto? — Reverti a pergunta.

— Começaria te mostrando que só porque você caiu uma vez, não significa que você vai cair em todas elas. Iriamos aos poucos com você na garupa, até você ter confiança suficiente pra ir sozinha. — Ele deu de ombros também e eu sorri.

Era estranho pensar o quanto aquilo parecia simples para ele e difícil pra mim. Daryl sabia o que fazer, porque conhecia perfeitamente as motos.

Foi quando a ideia me ocorreu.

— É exatamente isso... Quer dizer, se você tivesse um problema é claro, então nós iriamos aos poucos, um passo de cada vez. Eu te mostraria que não importa quem te machucou antes, isso não significa que todo mundo vai te machucar. E que, por isso, não tem nada errado em deixar alguém se aproximar, não tem nada errado em se aproximar. Não tem nada errado com tocar e ser tocado e, definitivamente, não tem nada errado com o que vem depois disso. — Eu o encarava fixamente, mesmo com toda a distância entre nós e ele vacilou, por um segundo apenas, mas vacilou. — Mas você não tem um problema, então sei que já sabe de tudo isso, não é?

Daryl murmurou uma afirmativa qualquer e encarou o chão.

— E como exatamente você faria uma pessoa ver tudo isso? — Indagou, depois de alguns segundos.

— Acho que o primeiro passo seria você confiar em mim. Você confia?

Ele não respondeu, levou canto do polegar até a boca e passou a andar de um lado para o outro, como ele sempre fazia quando estava nervoso.

— Eu devia confiar? — Respondeu de longe.

— Não sei... Eu confio em você, isso é, se me falasse pra subir na moto, depois do que eu te contei, eu sei que não me deixaria cair, acho que isso é confiança. Espero que confie em mim pelo menos o suficiente pra saber que se, hipoteticamente, formos fazer isso, eu nunca machucaria você, de nenhuma forma, prometo.

Nosso olhos se encontraram e ele pareceu surpreso, deu dois passos na minha direção.

— Promete? — Repetiu, como se não pudesse acreditar.

— Sim. — Assenti, dando mais um passo pra frente. — E você sabe que eu levo minhas promessas a sério, não sabe?

Daryl concordou muito levemente.

— Então você confia? — Perguntei novamente.

Ele não respondeu. Ele não confiava. Mas eu não me senti ofendida, não era pessoal, Daryl Dixon não confiava em ninguém.

— Porque, se não confiar, então eu teria que começar ganhando sua confiança, hipoteticamente é claro. — Sorri, amenizando o clima. — Quer saber como eu faria isso?

Os olhos azuis focaram em mim por um instante, antes de Daryl concordar grunhindo algo que eu não entendi.

— Okay, estende a sua mão. — Pedi animada e ele hesitou. — Não é nada demais, Baby Dix, eu não vou arrancar seu braço fora, ou fazer nada despudorado, eu prometo.

Finalmente ele se convenceu, esticou o braço na minha direção.

— Agora é muito simples, eu vou usar meus dedos pra tocar a sua pele. Daqui... — Apontei a palma dele, que estava estendida pra cima. — Até aqui. — Mostrei a parte interna do cotovelo. — Só isso, nada mais. Se você ficar desconfortável ou simplesmente quiser que eu pare, só precisa dizer, está bem?

Daryl respirou muito fundo e por fim assentiu.

— Eu quero que olhe cada movimento meu. — falei em uma voz calma e baixa, sem encará-lo.

E então toquei a palma dele, muito levemente, escorregando meus dedos por sua pele, subindo pelo pulso e passando pelo antebraço, deixando um rasto com as gotículas de água que a chuva deixara ali. Muito de leve, apenas um roçar. Eu sentia como se tivesse eletricidade estática entre nós.

Um pouco antes de chegar na parte interna do cotovelo eu parei, abaixei minha mão e fitei Daryl que uniu as sobrancelhas.

— Só isso? — Perguntou confuso.

— Vou tentar não ficar ofendida por você pensar sempre o pior de mim... — Ri meio de canto e estendi meu braço pra ele. — Sua vez. Você vai fazer a mesma coisa que eu fiz.

— Não vai dar certo, eu não ser fazer esse lance de ser delicado.

— Não precisa ser ué... — Dei de ombros neutra.

Daryl olho de mim para o meu braço e depois fez o caminho de volta, respirou fundo e colocou o dedo na minha palma, subindo pelo mesmo caminho que eu fizera, realmente sem delicadeza nenhuma, não levou um segundo pra acabar.

— Pronto. — Se afastou dois passos, entre rude e totalmente sem jeito.

— Ótimo! Próxima parte agora. Estenda o braço de novo. — Ele o fez sem resistir dessa vez, eu me aproximei um pouco mais e estendi o braço oposto ao dele. — Eu vou fazer a mesma coisa, mas você não vai olhar dessa vez, você vai olhar pra mim, nos meus olhos e, ao mesmo tempo, você vai reproduzir o movimento no meu braço, entendeu?

— Eu não estou entendendo o objetivo...

— Pequenos passos, só isso. — Franzi os lábios e tombei a cabeça.

— Isso ainda é hipotético, não é? — Perguntou, como se precisasse tornar aquilo menos importante do que realmente era.

— Claro.

Ficamos frente a frente, senti a chuva engrossando, gelada, fazendo minha blusa grudar no meu corpo. Esticamos os braços e eu fiz um leve movimento de cabeça para começarmos.

Daryl focou os olhos em mim, as gotas de chuva escorrendo pelo seu rosto, ele respirou fundo e por algum motivo eu prendi a respiração.

Eu toquei a palma dele com meus dedos e senti ele fazer o mesmo, escorreguei a mão pelo seu pulso, devagar, Daryl copiou o movimento, nossas mãos subiram pelos nossos braços ao mesmo tempo, era um toque de verdade, uma carícia.

Meu coração batia descontrolado, nossos olhos estavam presos um no outro. Daryl tinha olhos de anjo, dava para se afogar nas íris azuis. Eu queria me afogar.

Ele desceu o olhar pelo meu rosto, focou na minha boca, apertou um pouco mais meu braço. Involuntariamente eu tremi, me dei conta de uma coisa muito importante. Eu gostava de Daryl Dixon, gostava mais do que devia.

A promessa soou na minha mente como uma maldição. Eu nunca quebrava promessas. Isso me assustou.

Sorri. Acho que sorri, não sei dizer se foi exatamente o que fiz.

— Viu? Não foi tão difícil. — Minha voz falhou, ele continuava com a mão em mim, eu não queria que acabasse, mas sabia que tinha que acabar.

— Não foi. — Daryl respondeu rouco, muito mais que o normal.

Me soltou lentamente, se afastou um passo, deslizou a mão no próprio cabelo, pareceu sem graça.

Eu senti frio. Um frio repentino e incontrolável. Abracei meu corpo.

— Melhor irmos, você vai acabar resfriada. — Ele se aproximou da moto e eu mordi o lábio, incerta.

— Vamos andar de moto na chuva?

Daryl pareceu ponderar um momento, olhou para o capacete em sua mão e então ergueu os olhos decidido.

— Vamos fazer o lance das pessoas do seu jeito, Bochechas, digo não de forma hipotética, vamos fazer pra valer, mas faremos o lance da moto do meu jeito, certo?

Eu demorei um segundo pra realmente acreditar no que ele tinha dito, era muito mais do que eu esperava dele. Concordei, mesmo que ainda não estivesse muito certa sobre andar de moto, ainda mais na chuva.

Me aproximei e peguei o capacete, Daryl subiu na moto e deu a partida, eu subi logo em seguida, tremendo dos pés a cabeça. Tanto pelo medo da moto, quanto por ter certeza absoluta que eu não faria isso por mais ninguém, que eu não faria com mais ninguém.

— Você pode segurar em mim. — Declarou, me olhando pelo retrovisor.

Obedeci, passando meus braços ao redor da cintura dele. Daryl levou a mão até a minha e apertou.

— Eu não vou deixar nada acontecer com você, Bochechas. Eu prometo.

— Eu sei, Baby Dix — respondi com convicção e aquilo me assustou, eu não devia confiar tanto, mas eu confiava.

Daryl deu a partida e eu apertei seu corpo pelo puro prazer de sentir seu calor, eu não sentia medo, não dele, na verdade eu sentia medo de onde aquela estrada iria me levar. Mas eu não em importava, se eu me afogasse naquele sentimento, eu morreria feliz.

Assim como a libélula morre feliz depois de tocar a luz...


Notas Finais


Altos niveis de glicose nessa última cena AMOOO
Faltou só beijo neh, mas alguém tinha que prometer "nada de beijos" uahsuashau
Claro que a Natalie mão demoraria muito pra se dar conta que está apaixonada.
Mais um trauma dela jogado na rodinha. Mais uma coisa pra unir os dois.
Vamos ver onde esses "exercícios" vão levar os dois. Já posso adiantar que eu amo DEMAIS as cenas que saem disso. Amo todas.
E o Daryl quando será que ele vai se dar conta?

O DC que eu falei da Natalie, vejam porque é meu novo orgulho (tem o sorrisinho dela que é responsável pelo apelido) http://i.imgur.com/i1YpCDF.gif

Bjs e até semana que vem.


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