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História Lifeline - Before the End - Admitindo coisas


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Hey! Oieeee suas divas maravilhosas do meu coração!!! Como foi a semana de você?

A minha foi mais que ótima! Lifeline recebeu mais uma recomendação lá no Nyah, vinda aqui do Spirit Vocês tem noção do quanto eu estou surtando com isso???? Sério eu nem acredito!!!

Obrigada Luh Renovata Salvatore por esse presente mais que perfeito e maravilhoso, esse capitulo é especialmente para você por isso me esforcei pra postar um pouco mais cedo do que de costume.

Agradecimentos mais que especiais as minhas comentaristas do capitulo passado. Cada uma de vocês tem um lugarzinho mais que especial no meu coração.

E como prometido um pov do nosso caçador fujão preferido. Ficou enooorme, o maior capitulo da fic até agora, mas eu não quis cortar, porque isso acumularia 3 povs do Daryl, já que o próximo é dele também.
Preparadas? uashaushush

Boa leitura.

PS: A música desse capitulo é "Surrender" da Natalie Taylor, é MUITO esse momento de DixChechas, eu não achei uma versão com tradução no youtube, mas se puderem procurem pela tradução porque é linda.
Vou deixar o link da música lá nas notas.

Capítulo 19 - Admitindo coisas


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Admitindo coisas

 

• DARYL DIXON •

Algum idiota disse que o tempo cura, que tem o poder de te fazer esquecer, que o tempo resolve tudo.... Pura besteira de algum engomadinho por aí.

O tempo e a distância não ajudam em porra nenhuma. Descobri isso logo de cara, assim que coloquei os pés pra fora de Dawsonville, mas demorei duas semanas pra admitir a mim mesmo esse fato.

Eu pensei que daria certo, que eu podia arrancar coisas de mim, enfiando outras no lugar. Não funcionou.

O serviço que Merle arrumou em Malcon era pura encrenca, tínhamos briga todo santo dia e nem isso conseguia tirar uma certa pessoa da minha cabeça. As bebedeiras não bastavam, as caçadas não eram prazerosas e outras mulheres só serviam pra me lembrar dela.

Eu era a porra de um maricas, Merle estava certo.

Passar um tempo com meu irmão não estava ajudando, só servia pra me deixar mais ciente de que eu odiava aquela vida. Que eu queria coisas simples, como jogar conversa fora como uma certa bochechuda.

Eu sonhava com ela. Pensava nela o tempo todo, até quando fazia força pra não pensar.

A partir da segunda maldita semana eu comecei a ligar pra oficina, Merle tinha conseguido um celular e eu discava pra lá de manhã, enquanto ele dormia. Eu só precisava ouvir a voz dela, era como um vício que eu não podia largar.

Mas sempre era o Peter que atendia. E quando mais eu ligava, mais eu queria ouví-la. Era como se eu tivesse uma doença terminal.

Minhas convicções estavam caindo por terra pouco a pouco e eu já não tinha mais certeza de porra nenhuma. Do que eu estava correndo?

Cada noite longe dela, fazendo coisas que eu não queria fazer, deixavam clara a importância que Natalie Cooper tinha pra mim.

A cada dia, ter partido quando ela estava ao alcance das minhas mãos parecia uma burrice ainda maior.

Eu tentava focar em todos os motivos que me impediam de ficar perto dela, mas a verdade é que, pra cada motivo negativo, eu só conseguia pensar em cada um dos sorrisos dela, nas bochechas adoravelmente grandes, nos olhos negros, nas pernas longas e em cada pequeno detalhe que faziam de Natalie cem garotas em uma só. Era como se até mesmo os toques por qualquer motivo, que antes eram irritantes, agora me fizessem falta.

Acho que foi no vigésimo sétimo dia, quando Peter atendeu o telefone pela décima vez, que eu passei do limite comigo mesmo. Eu não podia ficar assim por causa de uma garota, eu tinha que assumir o controle. Talvez ela até tivesse ido embora, voltado pra casa chique dela.

Saí com Merle aquela noite e passamos de todos os limites, cada vez que eu me forçava a deixar uma mulher estranha me tocar era como se eu levasse uma chicotada, percebi que a dor daquele maldito trauma conseguia afastar a lembrança de Natalie. Pelo menos foi o que eu pensei.

Três mulheres eu uma noite. Merle parecia orgulhoso, eu sentia náuseas. Bebi tanto que nem me lembro te ter voltado para o trailer.

Mas me lembro perfeitamente do sonho que eu tive com Natalie, era real demais pra não lembrar... Não era como os outros, não era sobre conversas e sorrisos, era físico, muito físico. Era como se eu pudesse sentir perfeitamente o corpo dela sob o meu, como se ela estivesse mesmo ali, chamando meu nome de um jeito que me fazia esquecer de tudo. E eu queria beijá-la, mais que qualquer outra coisa, eu queria sentir os lábios dela nos meus.

Acordei em um sobressalto, com meu corpo todo mostrando o quando o sonho fora real. Me joguei debaixo do chuveiro mixuruca no trailer e deixei a água gelada correr sobre mim. Mas ela não foi capaz de levar uma coisa: Eu desejava Natalie, mais do que eu já tinha desejado qualquer mulher.

Eu queria mesmo beijar aquele maldita bochechuda. Talvez mais que beijar...

Aquilo era novo e potente, afinal eu não entendia essa coisa desejo, não funcionava assim pra mim. Desejo sempre foi algo desconfortável, estranho, me trazia lembranças ruins. E então, de repente só havia ela, apenas Natalie e uma vontade estranha e inexplicável de tê-la em meus braços.

O que estava acontecendo comigo?

Vinte e oito dias e eu tinha surtado de vez, Merle não estava no trailer, tinha ido sabe-se lá onde e eu apenas conseguia andar de uma lado para o outro, sem pensar em nada coerente.

Peguei o celular e disquei antes mesmo de ponderar sobre isso. Alguém atendeu no terceiro toque. Eu estava preparado para ouvir a voz do Cooper, mas não estava para ouvir a voz dela. Natalie. Prendi a respiração.

Por algum motivo ela soube que era eu e ouvi-la dizer meu nome teve um efeito devastador em mim. Fiquei escutando calado, enquanto ela contava a rotina nova da oficina e falava sobre um idiota que fechou o motor com a chave dentro.

A risada dela foi o melhor som que eu ouvi em vinte e oito dias.

— Eu sinto sua falta... Todo dia. — Aquelas palavras dela me pegaram de surpresa, assim como todas as outras que vieram depois.

Ouvi-la chorar grudada ao telefone, fez o ódio que eu sentia de mim mesmo aumentar incontavelmente. Natalie precisava de mim, queria que eu voltasse, estava disposta a abrir mão do que sentia pra me ter ao lado dela como amigo. Ela era louca!

E naquela altura das coisas eu não sabia mais se queria ser amigo dela. Talvez a amizade não bastasse.

Foi por esse motivo que eu desliguei o telefone, antes que ela prometesse algo idiota, como aquela coisa do beijo.

Meu coração estava aos saltos, os pensamentos embaralhados e uma avalanche de sentimentos me soterravam como se eu fosse uma pedra insignificante embaixo de toneladas de neve. Entre todas as incertezas daquele instante, uma coisa ficou clara e límpida na minha mente. Eu tinha que voltar.

Horas depois, quando Merle apareceu, já estava tudo pronto.

— Até que demorou... — Ele apontou, vendo a caminhonete arrumada. — Pensei que você não aguentaria ficar longe da cunhadinha por uma semana. Mas você foi bem.

Encarei-o sem entender. Era como se meu irmão realmente já esperasse pela minha partida.

— A gente se divertiu à beça, pelo menos... — Deu de ombros, acendendo um cigarro.

— Não vai encher o saco e dizer que eu sou um maricas? — Perguntei desconfiado.

— Pra quê? Você sabe que é um maricas Darlyna, uma garotinha da cidade te deixou de quatro. E você está correndo de volta pra ela como um cachorrinho sem dono.

Continuei focado nele, sem entender o tom calmo e sem nenhuma vontade de retrucar aquelas afirmações. Afinal, será que era mentira? Vai ver eu estava mesmo de quatro, afinal eu estava voltando correndo depois de uma ligação, isso porque era menos doloroso enfrentar a vergonha de voltar, do que resistir a dor de continuar longe.

Com certeza eu era um maricas.

— Volte pra casa, aproveite que tem uma garota gostosa lá, aproveite que ela está de quatro por você também e divirta-se um pouco. Arrastar você bancando o emo depressivo por aí foi um saco, irmãozinho. As mulheres ficam rodeando você e só pego bucha de canhão. Vai embora logo, porra. — Ele bateu duas vezes na minhas costas em despedida e entrou no trailer.

Merle tinha um jeito estranho de agir naturalmente, mas aquela reação dele era novidade. Dei a partida e deixei Malcon pra trás, não era como se eu nunca mais fosse ver meu irmão, na verdade se eu bem o conhecia ele logo apareceria em casa.

➷•➷•➷•➷•➷

Avistei o letreiro: "Bem-vindos a Dawsonville" e algo dentro de mim se remexeu em expectativa. Casa. Percebi que essa palavra nunca teve um bom sentido ou significado pra mim, porém naquele instante tinha...

Percebi que eu podia negar o quanto fosse, que eu podia fugir e fingir, mas isso nunca mudaria a verdade: Natalie Cooper havia mudado o significado das coisas pra mim e eu estava voltando inevitavelmente por ela. 

Para ela.

Com certeza era estupidez e burrice, mesmo assim era a verdade. Claro que eu nunca admitiria isso pra ninguém, nem mesmo para o Merle, mas descobri que admitir pra mim mesmo era libertador.

Aquela garota bochechuda e faladora tinha algo que me atraía, me mantinha cativo. Eu não conseguia fugir dela, e honestamente, eu estava cansado demais de fugir. Então eu apenas estava voltando.

Preferi não pensar no que faria depois, no que eu diria ou em como as coisas seriam. Isso não importava no momento, o que eu importava é que eu estava de volta, eu tinha que ver Natalie Cooper e depois foda-se tudo.

Não importava o que aconteceria, eu estava cansado demais de ficar preocupado com tudo. Era um conflito, afinal eu ainda acreditava que não daria certo, eu ainda acreditava que algo ruim aconteceria, e que aquilo com Natalie, seja o que fosse, acabaria mal. Mesmo assim, eu ainda queria que acontecesse, eu ainda queria arriscar, mesmo sabendo que o fim podia ser devastador.

Sem pretensões. Eu só precisava viver o momento.

Sequer sabia como Natalie reagiria, por telefone ela tinha dito que sentia a minha falta e isso, confesso, foi algo que realmente mexeu comigo. Mas aquilo era por telefone, pessoalmente as coisas podiam ser diferentes, talvez ficássemos só na amizade, talvez ela tivesse seguido em frente com outra pessoa... Mesmo assim não importava. Eu precisava vê-la, precisava ouvir sua voz, sentir seu perfume, apreciar sua risada e tocar sua pele o mínimo que fosse. Era como um vício doentio, mas era inevitável.

"Sinto sua falta", as palavras ainda ecoavam no meu pensamento, era devastador e ao mesmo tempo tinha um efeito estranho em mim, enchia meu peito de algo novo. Ser importante ao ponto de alguém — ela especificamente — sentir minha falta era novo e poderoso, mexia comigo de uma forma que eu não sabia descrever.

Sinto sua falta também. Eu devia ter dito, devia ter dito que estava voltando, mas eu não pude. Honestamente talvez eu nunca pudesse dizer como me sentia, mesmo assim eu ainda tinha que estar perto dela, mesmo que fosse calado, mesmo que eu fosse terminar sofrendo.

Era uma necessidade quase doentia.

Talvez Natalie não fosse a única apaixonada.

Ri da ironia daquilo, e do quão idiota eu parecia ao admitir tal coisa, mas foda-se, admitindo ou não, era real, eu não podia mudar aquilo. E estava cansado de tentar.

Passei na frente do Joe's e reparei no movimento, as pessoas estavam todas meio aglomeradas, como se algo digno de fofoca tivesse acontecido. Era estranho o bar estar aberto tão tarde, mas desconsiderei aquilo. Reparei na multidão e não vi Natalie ou o carro do Cooper.

A cada metro mais perto da oficina, mais meu coração idiota disparava, retorcia. Apertei o volante com mais força e comecei a batucá-lo com os dedos em expectativa.

Virei a esquina e avistei a oficina às escuras, eram quase duas da manhã e claro que todos estariam dormindo. A janela do quarto de Natalie estava fechada e admito que foi decepcionante me dar conta que eu teria que esperar até o amanhecer.

De repente a realidade me atingiu e fiquei ainda mais nervoso. Eu não fazia ideia de como falaria com ela, não podia simplesmente aparecer como se nada tivesse acontecido. Eu também não podia voltar e pedir de volta o emprego que eu tinha largado do nada.

Essa coisa de assumir pra si mesmo o que queria e sentia era muito complicada. Já estava quase em casa quando quis dar meia volta e ir ao Joe's amortecer tudo com álcool, mas reparei em algo estranho na casa da Shannon: Uma fita, daquelas amarelas cercavam o terreno, como se algum crime tivesse acontecido ali. Um carro do departamento de polícia local e uma dupla de oficias pareciam estar investigando o terreno.

Tomara que aquela louca da Shannon não tenha feito nada estúpido.

Acabei desistindo do Joe's e parando em casa, quando entrei, dei de cara com meu velho sentado na sala, ele havia puxado a poltrona e estava na janela olhando através da cortina.

Me lembrei do único motivo pelo qual tinha sido ótimo ficar longe daquele lugar e passei por ele sem dizer uma só palavra.

— Eu devia ter trocado a merda da fechadura. — Resmungou. — Nem sei pra que me servem esses filhos, nem se importam em saber se estamos vivos ou mortos, mas quando a namoradinha se machuca voltam correndo.

Parei onde estava e olhei na direção dele, franzindo as sobrancelhas por causa da última parte.

— O que quer dizer? — Perguntei intrigado.

— Quero dizer que você é um lixo de filho e que se eu tivesse morrido ainda estaria aqui jogado no chão, apodrecendo e sendo comido pelos bichos!

— O que você quer dizer com "mas quando a namoradinha se machuca voltam correndo?" — Corrigi, sem me importar com o drama dele.

Will Dixon finalmente me encarou e estreitou os olhos confuso.

— Não foi por isso que voltou? — Indagou e eu fiquei ainda mais desconfiado. — Você não sabe... — Contatou, depois de um segundo.

— Não sei o que? — Dei um passo pra frente, sentindo meu corpo ficar tenso.

Ele me encarou com desdém e então riu.

— Sua namoradinha ridícula tem andado com a Shannon ultimamente, as duas estavam no trailer hoje, um cara foi lá... As coisas não acabaram bem, pelo que eu sei.

No mesmo instante, mesmo sem pensar, eu já tinha jogado meu pai contra parede e o segurava pelo colarinho.

— Mas que porra isso significa?! Aonde ela está? — Rosnei entredentes.

O velho pareceu assustado por um mínimo instante, então me empurrou pra trás e se aprumou.

— Eu não sei. Tudo que eu sei é que as ambulâncias do Dawson tiraram duas mulheres de lá, uma delas ferida e a outra... morta. Se quer saber acho que foi bem feito e...

Não o esperei terminar de falar, saí praticamente voando de casa e pulei na caminhonete, acelerando ao máximo rumo ao hospital. Minha mente parecia projetar todo tipo de pesadelos, mesmo que eu estivesse perfeitamente acordado.

Tentei manter a mente vazia e não pensar o pior, mas foi inútil. Se algo tivesse acontecido com a Natalie eu...

Apertei mais o volante e em menos de vinte minutos eu estava estacionando na frente do Hospital Regional de Dawson. Os vinte minutos mais longos de toda a minha vida.

A primeira coisa que vi do lado de fora, além das viaturas de polícia, foi o carro do Cooper. Eu mal consegui controlar minhas pernas para entrar.

A recepção não estava tão lotada, parei no balcão e a moça me encarou um tanto assustada.

— Eu preciso de informações sobre o acidente na Dr. Flat Creek. — Pedi com urgência, informando o nome da rua.

— Não podemos dar nenhuma informação, a menos que você seja da família. — A garota sequer olhou pra mim.

Merda. Dei uma volta em torno de mim mesmo sem saber o que fazer realmente, eu simplesmente tinha que saber, ou enlouqueceria.

— Eu sou o namorado de uma delas. — Falei decidido e tremendo com minhas próprias palavras. Eu nunca tinha tido aquilo em voz alta, e mesmo que fosse mentira, era uma coisa muito potente.

A mulher me encarou desconfiada, mas uma enfermeira que saíra a pouco de uma porta atrás do balcão, entrou no assunto:

— Como é o nome da sua namorada?

— Natalie... Natalie Cooper. — Engoli em seco.

— Se eu perguntar isso para o pai dela, ele vai confirmar? — A mesma enfermeira perguntou, ainda desconfiada.

— Claro. — Menti o mais firme que pude, levando em consideração que eu tremia de preocupação.

— Venha.

— Ele não pode entrar. — A mulher no balcão resmungou.

— Peter Cooper é o sogro dele, ele teve algumas complicações por causa do nervoso. — A enfermeira explicou e eu não entendi nada, mas a outra moça pareceu ter entendido perfeitamente, como se Peter fosse um antigo conhecido.

Recebi um crachá de visitante, depois de ter informado o básico dos meus dados, e acompanhei a enfermeira pelos corredores.

— Ela está bem? — Perguntei, com medo da resposta.

— Eu ainda vou perguntar ao senhor Cooper se você é mesmo namorado, antes de te dar informações. — Respondeu, sem parar de caminhar.

Entramos por outro corredor e eu já pude ouvir o Peter brigando com algumas enfermeiras, ele tinha algum tipo de medicação no braço e queria passar por elas a todo custo.

— Por favor, senhor Cooper, o senhor tem que se acalmar e ficar em repouso, antes que sua situação se complique mais. — Uma das enfermeiras, que tentava segurá-lo, pediu.

— A única coisa que eu tenho que fazer é ir ver minha filha! — Ele gritou, se esquivando, foi nesse momento que me viu e parou onde estava.

Se ela tinha que ver a Natalie, então ela estava bem. Ela tinha que estar bem. Ela tinha que estar viva.

— Daryl? — Franziu as sobrancelhas, surpreso.

— Você o conhece, senhor Cooper? Pode me dizer que tipo de ligação ele tem com o senhor e a sua filha? — A enfermeira que tinha me levado até ali perguntou, logo ajudando a outra a forçar Peter a se sentar, puxando o suporte com soro que era arrastado por toda parte.

Peter Cooper olhou para enfermeira e então pra mim, estreitou os olhos, em um olhar bastante claro de reprovação e então suspirou.

— Daryl é o namorado da Natalie. — Resmungou, desviando os olhos e cruzando os braços.

Eu realmente não esperava que ele confirmasse aquela mentira, não mesmo.

— Ótimo! — A mulher pareceu satisfeita. — Então agora o senhor vai terminar sua medicação e eu vou levar o namorado da sua filha até ela. Ela não vai ficar sozinha e o senhor não vai correr o risco de ter outras complicações.

Peter não pareceu contente com aquilo, mas ele também não parecia ter muita escolha pelo visto.

— Não deixe aqueles abutres incomodarem ela! — Ordenou diretamente pra mim, claramente bravo.

Assenti e segui a enfermeira pelo corredor. Entre todas as muitas coisas que eu não estava entendendo naquele momento, uma se fez muito clara: Natalie estava viva e isso era tudo que importava.

— Ela está muito abalada e frágil agora, cuidamos dos ferimentos, mas a perda de sangue a deixou bem fraca. Acho que vai ser bom ela te ver.

Ela está bem. Ela está bem... Era a única coisa que eu conseguia processar enquanto um alivio indescritível e uma urgência esmagadora me preenchiam.

Chegamos em um dos quartos do hospital, onde o leito estava cercado por policias.

— Já disse que não foi um acidente. Foi assassinato. — Ouvi a voz de Natalie e algo dentro de mim rugiu.

Não era a voz alegre, não era a voz decidida, nem a voz brava. Era uma voz quebrada, triste.

— Acho que a senhorita vai ter que repetir o relato, estava bêbada e tinha ligação com a vítima, pode ter entendido as coisas de forma errada, não? — Um merdinha uniformizado retrucou, como se Natalie fosse uma criança idiota.

Se tinha uma coisa que eu odiava em Dawsonville mais que meu pai, era a porcaria da polícia.

— Deixem ela em paz. — Falei entredentes, sentindo o impulso de pular em todos eles. Maldita polícia.

O bostinha que tinha falado antes, virou o corpo levemente pra me encarar de baixo a cima como se eu fosse um pedaço de merda.

— Quem você pensa que é pra falar assim com a gente?

— Ninguém, mas eu sei que não podiam estar aqui falando com uma menor sem a presença de um responsável. — Dei um passo ameaçador em direção ao policial idiota.

— De repente um Dixon virou conhecedor das leis! — Um deles debochou e todos riram. — Vamos embora, já temos o bastante.

Passaram por mim, esbarrando propositalmente nos meus ombros, mas eu nem senti por que finalmente vi Natalie Cooper.

Senti que meu coração podia sair do peito a qualquer momento. Ela estava machucada, percebi no mesmo instante, um dos braços enfaixados, os olhos negros focados em mim, surpresos e inchados, como se tivesse chorado por horas, tão frágil... Mas ainda assim ela era, minha Bochechas.

"Minha"? Me espantei com meus próprios pensamentos e mal vi a enfermeira que deu uma olhada em Natalie e logo passou por mim.

— Vou deixar vocês sozinhos. — Sorriu para nós dois e saiu, fechando a porta atrás de si.

Eu ainda não tinha conseguido tirar meus olhos de Natalie, que também mantinha os dela em mim. Era como uma eternidade toda dentro de um momento.

— Oi... — Tentei ser natural como a tinha ouvido ser no telefone, mas honestamente não sei se deu certo. Ela entreabriu os lábios, mas palavra alguma saiu deles.

Dei três passos para frente, como se algo de magnético me puxasse até ela. Ao mesmo tempo em que Natalie jogava as pernas pra fora da maca e no segundo seguinte ela estava em meus braços.

A apertei contra mim, enquanto ela afundava a cabeça no meu pescoço e começava a chorar. Foi naquele instante que eu soube que nunca devia ter ido a lugar nenhum, porque, de todas as coisas que estavam e podiam dar erradas, uma era certa, não havia nada do mundo que me fizesse sentir mais inteiro do que ter Natalie Cooper segura em meus braços. Não havia explicação para aquilo e nem precisava ter.

— Ela está morta, eu não pude fazer nada.... — O corpo dela tremeu contra o meu em um choro sofrido e eu a apertei um pouco mais, sentindo a textura de seus cabelos contra a ponta dos meus dedos. — E eu não sei onde o meu pai está, eu cheguei de ambulância e ele chegou logo atrás, mas tinha tanto sangue em mim... Eu não sei o que aconteceu, as enfermeiras o levaram. Eu... Eu... Não.

— Hey... Hey... — Chamei para acalmá-la e ela finalmente ergueu a cabeça para focar nos meus olhos. — Cooper está bem, eu o vi antes de vir aqui, acho que ele só passou mal, está sendo medicado, logo vai estar aqui também. Okay?

— Jason matou a Shannon, não foi um simples acidente. Ele a assassinou...

— Quem é Jason? — Perguntei, tocando o rosto dela e afastando algumas lágrimas.

— O cara idiota com quem ela estava saindo... Nós não pensamos que ele... Eu não... — Ela voltou a chorar descontroladamente. — Ele a matou, não foi acidente. Você acredita em mim, não é?

— Claro. — Respondi com convicção, apertando Natalie de encontro a mim e sentindo um ódio mortal desse tal Jason, ao mesmo tempo em que agradecia por nada de pior ter acontecido com ela. E aquele pensamento me pareceu um grande egoísmo com Shannon.

Natalie assentiu algumas vezes, meio debilmente e se aconchegou contra mim, como se aquele abraço fosse tudo que ela precisava. Me permiti admitir a mim mesmo, que talvez... Só talvez. Aquele abraço fosse tudo que eu precisava também.

Eu não seria capaz de dizer quanto tempo ficamos daquele jeito, até que alguém nos interrompeu com um pigarro.

Soltei Natalie rapidamente e vi Peter Cooper me encarando nada amigável.

Antes mesmo que Natalie pudesse dizer algo ele já a abraçava, murmurando palavras reconfortantes e se ocupando de olhar atentamente cada ferimento dela.

— Você não devia estar de pé, venha se deitar e me contar tudo que aconteceu. Eu estou aqui e nada vai acontecer com você. Está segura agora. — A conduziu delicadamente a cama e me lançou um olhar muito categórico.

Por mais que quisesse estar ali, aquele momento era deles, então eu saí, pousando meus olhos em Natalie uma última vez e a vendo envolvida nos braços do pai.

Me sentei em um dos pequenos sofás, que ficavam em uma sala de espera próxima ao quarto, talvez eu devesse ir embora, mas isso simplesmente nem me passou pela cabeça.

Alguns minutos depois, a mesma enfermeira de antes apareceu e se sentou ao meu lado, me entregando um copo descartável de café.

— Ela está muito abalada, não é? — Comentou amigável e eu não fiz nada além de assentir. — Meu namorado é paramédico, foi ele quem atendeu ao chamado. Ele disse que quando chegou lá a senhorita Cooper tinha o corpo da amiga nos braços, estava cheia de sangue e sem voz de tanto gritar. Ela estava em choque. Foi uma cena muito forte. A outra garota era sua amiga?

— Era. — Respondi, mesmo sem vontade.

— Sinto muito — Lamentou, com um sorriso compassivo e eu assenti enquanto ela se levantava.

— Ela vai ficar bem não vai? — Indaguei, antes que a enfermeira se fosse de fato.

— Os ferimentos dela não foram graves, mesmo com toda a perda de sangue, foram três pontos na cabeça e sete no braço. Mas vai deixar uma cicatriz, assim como o impacto do acontecido — Respondeu, antes de partir realmente.

E eu tinha minhas próprias cicatrizes pra saber que Natalie talvez nunca mais fosse a mesma...

O tempo foi passando e eu fui ficando cada vez mais impaciente, de onde eu estava podia ver a porta do quarto, porém não dava pra ver Natalie dali.

Talvez eu devesse ir embora. Eu não podia culpar Peter por não me querer lá, mas eu simplesmente não conseguia partir. Comecei a andar de um lado para o outro.

— Daryl? — Ouvi Cooper me chamar, depois do que me pareceu uma eternidade.

— Como ela está? — Perguntei afoito.

— Dormindo. Ela ficou muito agitada depois de me contar o que aconteceu e a enfermeira aplicou um calmante, vai dormir por algumas horas. Ela está bem, mas vão mantê-la em observação essa noite, só por precaução.

Concordei com um movimento de cabeça, sem saber o que dizer em seguida. Eu nem sabia o que estava fazendo ali ainda.

— Por que você voltou, Daryl? — Indagou diretamente.

— Eu moro nessa merda de cidade, lembra? — Respondi um tanto rude, mesmo sem querer ser.

— Lembro sim. Você vive nessa cidade mas não nesse hospital. Então, o que você está fazendo aqui precisamente? — Ele me puxou pra um canto e eu arranquei meu braço das mãos dele o mais bruscamente que eu podia.

— Fiquei sabendo do acidente. Vim vir como ela está. — Fui incapaz de mentir sobre isso.

Peter me encarou como se pudesse socar minha cara a qualquer momento, e se ele o fizesse eu não o impediria. Eu merecia.

— Por que você não se interessou em saber como ela estava, um dia depois de deixá-la em casa bêbada e drogada? Por que não se interessou em saber como ela estava nesses quase trinta dias que você passou fora? — Acusou e eu desviei os olhos, me sentindo o bosta que eu era. Não havia uma resposta satisfatória para aquela pergunta. — Foi o eu pensei...

Deu dois passos para trás, meneando a cabeça, como se entendesse o meu silêncio.

— Agora escuta bem! — Apontou o dedo pra mim. — Eu tenho que sair pra cuidar de um problema e pra garantir que a minha filha fique segura. E você vai ficar aqui, não porque eu goste disso, mas porque a Natalie perguntou por você três vezes enquanto eu estava com ela naquele quarto. Ela precisa de você agora, por isso você vai ficar. Eu vou voltar antes que ela acorde e se você pensar em colocar o pé pra fora desse hospital, você vai ser o próximo problema que eu vou garantir de resolver pra que ela fique em segurança. Entendeu bem?

— O que você vai fazer, Peter? — Perguntei desconfiado, porque eu conhecia bem aquele olhar dele. Algo que eu já não via faz tempo. — Você tem que pensar na Natalie agora.

— Eu estou pensando na Natalie. Não é da sua conta o que eu vou fazer ou não. É da sua conta ficar com a minha filha e garantir que ela fique bem. Entendeu?

— Cooper, eu...

— Não! — Ele me interrompeu, erguendo o dedo em riste. — Fique aqui e faça sua parte, eu vou fazer a minha. Quando eu voltar vamos terminar essa conversa, porque eu ainda quero socar a sua maldita fuça.

Peter não esperou resposta, saindo decidido. E eu voltei para o quarto de Natalie preocupado. Algo na postura dele me lembrou perfeitamente o cara que ele era antes, e isso não era bom, o Peter Cooper de antes era foda e não abaixava a cabeça pra ninguém, contudo era um homem inconsequente e descontrolado. Esperava que ele não fizesse nada imprudente.

Eu entendia o ódio, eu mesmo queria encontrar esse tal de Jason e dar uma lição nele. Não dava pra dizer que não concordava com o Peter...

Observei Natalie ressonando levemente, ela parecia tão frágil, me odiei um pouco mais por ter partido, talvez as coisas tivesse sido diferentes.

As horas foram passando e eu tive todo o tempo para revisar minhas ações e atitudes, não que eu tenha chegado a um consenso sobre o que fazer da minha própria vida. Tudo parecia ainda mais confuso.

Shannon estava morta e a ficha ainda não tinha caído. Era como se eu ainda pudesse chegar no Joe's e encontrá-la por lá, com suas piadas ruins e fofocas inoportunas. Shannon era meio chata, mas era uma pessoa boa, não merecia aquilo.

Observei Natalie e percebi que podia ser ela, por pouco não tinha sido. Aquele pensamento deixava ainda mais fácil entender o Peter.

Percebi que já havia amanhecido e nem sinal dele. Isso começou a me preocupar. Porém mais que isso percebi que era a hora de ligar para o Merle.

Não tinha ideia de como ele reagiria. Ele gostava da Shannon, mesmo que nunca fosse admitir, eu o conhecia o bastante pra saber que sim.

De certa forma ele estava fugindo dela quando deu no pé comigo, e entender aquele fato só deixava meu coração mais apertado.

Entre todos os finais trágicos que eu tive tempo de pensar, quando se tratava de mim e da Natalie, aquele era um que me assustava mais que qualquer coisa.

Eu não podia perdê-la daquele jeito. Podia ser qualquer jeito, menos aquele.

E foi esse pensamento que tinha me feito protelar por horas minha decisão de ligar para o meu irmão. Eu não sabia o que dizer pra ele, tampouco como ele reagiria a notícia.

Levantei da cama e observei Natalie dormir, estendi minha mão e toquei o rosto dela bem de leve. A pele dela sob meus dedos fazia a minha pele formigar. Percebi que não fazia ideia de como lidar com aquilo que eu sentia por ela.

Me sentia ridículo por pensar nessas coisas, mas era inevitável. Eu estava apaixonado por ela, e saber daquilo com tanta convicção era assustador. Admitir algo daquele tipo, mesmo que pra mim mesmo, era uma coisa apavorante. Talvez eu não passasse de um caipira covarde...

Deixei o quarto e perguntei a uma das enfermeiras pelo telefone. Foram três tentativas antes que o Merle finalmente atendesse.

— Porra será que um homem não pode dormir! — Ele xingou do outro lado da linha, como a voz embolada.

— Merle, sou eu.

— Só podia ser você mesmo pra me ligar de madrugada. Que porra você quer irmãozinho?

— São sete e meia, Merle. Não é mais de madrugada. — Avisei, depois de olhar o relógio perto de mim na parede. — Tenho que te falar uma coisa importante.

— O que foi? Sua namorada se mandou? — Ele riu meio grogue.

— É sério, Merle.

— O velho bateu as botas?

— É a Shannon... — Comecei, sem saber como terminar.

— Aquela vadia loira já está sentindo minha falta? Fala pra ela voltar pro namoradinho dela, o engomadinho sei lá das quantas, esse pau aqui ela perdeu. Eu sou Merle Dixon, chove mulher na minha horta, sacou?

— Ela está morta. — Revelei de uma vez. O telefone ficou totalmente mudo no mesmo instante. — Merle? Está aí? Eu estou no hospital agora, Natalie estava com ela, as duas foram atacadas por esse engomadinho e a Shannon...

— Isso não é da minha conta! — Retrucou, antes que eu terminasse. — Eu não me importo, me deixa dormir e vai se foder. — Ele bateu o telefone na minha cara.

Coloquei o aparelho no gancho e fiquei parado ali no corredor. Merle tinha reagido melhor do que eu esperava... Quando nossa mãe morreu, ele não falou nada por dias, não chorou, agia como se não se importasse, ficou realmente bravo. Merle tinha um jeito estranho de lidar com a morte. Eu por outro lado, nem gostava de pensar nisso.

Um tumulto na entrada atraiu minha atenção e todo meu corpo entrou em choque quando eu vi quem era trazido em uma maca: Peter Cooper.

As enfermeiras envolta dele não me deixavam ver exatamente o que estava acontecendo. Eu só conseguia imaginar o pior. Engoli em seco.

— O que aconteceu com ele? — Perguntei, tentando não entrar em pânico.

Uma das enfermeiras ia me dizer, mas a mesma de mais cedo a impediu.

— Ele vai ficar bem. — Ela falou, enquanto acenava pra que outras me afastassem e entrava com Peter e outras pessoas da junta médica no quarto.

Fiquei sem informações por quase uma hora inteira, alternando minhas atenções entre Natalie e o quarto em que Cooper estava, torcendo pra que ele realmente estivesse bem e eu não tivesse que dar nenhuma notícia horrível para a filha dele.

— Ele acordou. — A enfermeira avisou finalmente e eu a segui até o quarto.

— Mas que merda você fez? — Perguntei, assim que avistei Peter deitado na cama.

A enfermeira me encarou assustada.

— Tudo bem, ele é um pouco explosivo, só isso. — Peter ergueu a mão apaziguador. — Pode nos deixar a sós?

Ela olhou de mim para ele e assentiu.

— Não esqueça de tomar seus remédios, Peter, e não faça outra coisa dessas de novo. — Advertiu como se o conhecesse há tempos.

— Pode deixar Beatrice. Eu vou ficar bem.

A tal de Beatrice saiu e eu o encarei muito irritado.

— Acha que morrer vai ajudar sua filha? — Acusei, perdendo a calma.

— Eu estou bem, e não grita comigo, moleque. — Advertiu calmamente.

O olhei de cima a baixo e realmente não parecia ter nada errado, nenhuma marca de facada nem nada assim, apenas os nós dos dedos com um curativo.

— Você o matou? — Perguntei, cruzando os braços.

— Não seja estúpido. Claro que não. Eu tenho filha, não posso matar um homem, o que não significa que eu não queria. Como ela está?

— Dormindo ainda. — Respondi, respirando mais calmamente. — Onde você foi? O que fez?

— Caras como Jason não são pegos pela polícia, depois que passa o tempo do flagrante pior ainda. Fui descobrir onde ele estava e denunciei. Eu ainda tenho uns contatos. — Deu de ombros como se não fosse nada. Realmente lembrava o Peter Cooper de antes. — Infelizmente o cretino ia fugir antes da merda da polícia chegar. Então eu tive que atrasá-lo um pouquinho. — Mostrou as mãos. — Pense pelo lado bom: não vou poder mais socar a sua fuça. — Ele está na cadeia agora.

— Não posso dizer que esse cara não merecia... — Afirmei, me sentindo um tanto vingado também. — Mas isso não explica porque você está com esses fios ligados em você.

— Sou um cara velho. — Falou, como se não fosse nada.

— Merle é só uns anos mais novo que você, isso não justifica...

— Não enche, Daryl.

Nos encaramos por um momento e eu soube com toda a certeza que tinha algo errado.

— Você está doente. — Concluí. — Natalie sabe?

— Estou perfeitamente bem. Não tem nada pra saber. Eu sou só um cara velho que passou muito nervoso em um dia só. Nada demais. — Explicou, em um tom que não admitia contestações.

Não gostei nada daquilo, mas tudo que eu tinha eram suposições, não preocuparia a Natalie com isso.

— Se ela perguntar por mim diga que fui em casa buscar umas roupas, logo apareço por lá — Avisou e eu assenti, mas não me movi.

Entre todas aquelas coisas que estavam acontecendo, uma ainda me intrigava muito e sem pensar eu resolvi colocar pra fora.

— Por que mentiu pra enfermeira quando eu cheguei? Você está furioso comigo, então por que disse que eu sou...? — Não consegui terminar a frase, eu nem sabia por que estava fazendo aquela maldita pergunta.

— Namorado da Natalie? — Peter completou naturalmente e eu simplesmente travei.

Merda de pergunta. Por que eu fui abri minha boca?

— Eu estava preso com as enfermeiras, Natalie estava sozinha com policias e só membros da família podem entrar... Não era muito difícil pensar na mentira certa. — Deu de ombros como se não fosse nada. — Além do que, não é exatamente uma mentira mesmo.

Meu corpo inteiro entrou em curto e eu mal consegui formular minhas próprias palavras.

— Somos só... amigos. — Rebati, com alguma dificuldade.

Peter me encarou por um momento e sua expressão suavizou, às vezes eu o via encarando Natalie da mesma forma: Como um pai. Desviei os olhos, porque aquilo teve um efeito estranho em mim.

— Eu deixei você estar aqui agora porque você cometeu um simples erro, e eu posso até estar ferrado da vida com você, mas a Natalie não está. Contudo, que fique avisado: quando tudo isso acabar...

Me preparei para ouvir que devia me afastar de Natalie para sempre. Era o que eu diria se fosse o Peter. Afinal, antes eu já não era alguém que um pai gostaria perto de sua filha, depois de um mês fora e de todas aquelas merdas, eu realmente era alguém que qualquer um gostaria de ver bem longe. Já era muito nobre da parte do Peter me deixar estar ali no hospital.

— ... e eu reabrir a oficina, você vai voltar e trabalhar pra caramba pra compensar esse um mês de prejuízo, e eu vou diminuir seu salário em cinco por cento. — Terminou e eu franzi as sobrancelhas realmente surpreso. Não pela diminuição de salário, mas sim pela chance.

— Como é?

— Isso mesmo. E nem vem com essa de "vinte e cinco por cento"...

Pisquei algumas vezes e encarei Peter com mais atenção esperando que ele estivesse louco ou algo assim. Ele estava mesmo dizendo pra eu voltar pra oficina?

— Pare de me olhar com essa cara de idiota. — Advertiu, como se não tivesse dito nada demais. — Dá logo o fora daqui.

Assenti, ainda meio atordoado e incapaz de responder qualquer coisa, me virei rumo a porta, mas a voz de Peter me deteve.

— Ah, e mais uma coisa! — Avisou, como se estivesse fazendo uma lista mental. — Vocês dois estão de castigo pelo resto da vida, nada de saidinhas e sei lá o que. Vão ficar bem debaixo da minha vista. Tipo namoro a moda antiga.

— Não somos...

— É eu sei, não são namorados e eu fui um pai exemplar desde sempre. — Ironizou, revirando os olhos. — Nada de sair das minhas vistas!

Era estranho perceber que todo mundo tinha aceitado a ideia de Natalie e eu sermos namorados, menos eu. Não éramos namorados, Peter sabia disso. Eu não era um cara que devia namorar ninguém.

Ainda assim toda aquela ideia e a bronca peculiar me fizeram sentir estranhamente bem.

— Entendi. — Foi tudo que encontrei pra dizer, antes de me voltar para a porta novamente.

— Daryl? — Parei onde estava. — Se você sair dessa cidade assim outra vez, eu vou te caçar e não só arrancar o seu pau, eu vou te enterrar vivo. Avisei pra você não ser um cretino com a minha filha, não vou avisar de novo. Fui claro?

— Com certeza. — Parei na porta uma última vez e o fitei por um momento, eu devia agradecer, aquilo certamente era mais que eu merecia, porém eu não consegui.

Mas Peter assentiu levemente, como se soubesse o que eu queria dizer.

Voltei ao quarto de Natalie e ela ainda dormia tranquilamente. Fiquei ali encostado no batente até que ela abrisse os olhos.

A primeira coisa que fez foi olhar ao redor um tanto assustada e então me percebeu ali.

— Oi... — Cumprimentou com um sorriso triste.

— Oi. — Respondi, me aproximando. — Como se sente?

Natalie respirou fundo e encarou o nada.

— Não sei... Minha amiga está morta e eu... eu ainda não acredito nisso.

Me sentei ao lado da cama e segurei sua mão, ela observou o gesto e pareceu surpresa.

— Cadê o meu pai?

— Ele foi pegar umas coisas na sua casa, ou algo assim. — Menti, percebendo que eu não podia preocupá-la com mais nada.

Ficamos calados por um tempo, enquanto Natalie olhava para a janela um tanto perdida, era horrível vê-la daquele jeito.

— Já amanheceu. Você ficou aqui a madrugada toda? — Perguntou, voltando os olhos pra mim. Dei de ombros como se não fosse grande coisa. — Quando você voltou?

— Alguns minutos antes de vir pra cá. — Não menti, não tinha porquê.

Ela focou os olhos em mim por alguns instantes e eu gostaria de saber o que ela estava pensando, mas não perguntei. Eu ainda não sabia como estávamos. Não sabia se as coisas ainda seriam iguais, eu sequer sabia se queria que as coisas continuassem iguais.

Reparei que mesmo sem pensar nisso eu acariciava a mão dela com o meu polegar.

— Você voltou por causa da ligação? — Meu corpo todo travou ao ouvir a pergunta.

Não era o momento de falarmos daquilo. 

— Que ligação? — Desconversei, tirando as mão da dela e coçando a nuca.

— Não era você no telefone?

— Provavelmente não... Tenho aversão a telefones. — Menti, mesmo que isso fosse crueldade.

Não era hora. Eu não sabia bem se um dia seria, mas com certeza não era naquele momento.

O que importava realmente é que eu estava ali com Natalie, que ela estava bem, e depois...? Bom, depois só tempo diria.

 Afinal, esse maldito tempo teria que servir pra alguma coisa.  

 


Notas Finais


Ai ai. nosso DixChechas está vivíssimo!!!
Eu amei escrever esse capitulo, não vou mentir não.
O Daryl estava amor demais, e o Pappa Cooper mesmo tando broncas é o melhor personagem do mundoooo. Daryl tinha que ter sorte com o sogro, afinal com o pai não teve nenhuma neh?

Agora nosso caipira admitiu pra si mesmo que é caidinho pela bochechuda mais linda do mundo das fics *---* será que vai?

O próximo é do Daryl outra vez, ainda nesse climinha meio triste, porque teremos o enterro da Shannon.

Bjss e até semana que vem, bom feriado.

Link para a música no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=RJHsB0MVCXM


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