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História Lifeline - Before the End - Aniversário


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Oizinho lindas do meu coração!

Sexta chegou e com a ajuda de forças superiores eu estou postando. Meu note quebrou, em um acidente pra lá de bobo, minha sorte é que depois da última vez (com Origns, minha outra fic) eu fiquei esperta e sincronizei todos os meus arquivos de fic com o Onedrive. Isso salvou esse capitulo que já estava praticamente pronto.

Eu estou sem note, então vim jantar na minha sogra, claro que isso foi só pretexto pra poder usar o PC dela uashaushaushus (mentira a comida dela tbm é delicia).

Agora que já contei meu drama atual, quero agradecer as lindas comentaristas do cap passado, resolvi postar primeiro, porque caso eu tenha que ir embora respondo os reviews que faltam pelo celular, assim que eu postar já vai estar tudo respondido com o devido carinho que cada uma de vocês merecem.
Lifeline está crescendo cada vez mais e isso me deixa muitoooo feliz.

Agora vamos ao cap, tá grande e eu ia dividir em dois, mas por estar sem note vou aproveitar e postar tudo, leiam no seu tempo porque tem bastante coisa.

Boa leitura.

PS: O pessoal aqui fala muito, então perdoem qualquer erro de revisão, quando eu estiver em um ambiente mais silencioso reviso novamente.

Capítulo 21 - Aniversário


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Aniversário

 

 

• NATALIE COOPER •

Era início de junho, a primavera estava acabando e o calor era mais forte a cada dia. Eu odiava calor. Mastiguei uma pedra de gelo, colocando todas as outras dentro da jarra.

Era uma segunda à tarde, o dia tinha sido particularmente movimentado na oficina, e eu tinha aproveitado aquela pequena calmaria pra fazer um suco.

Enchi novamente a forminha e a levei até o congelador, fechei a porta e algo me deteve ali por um momento, meu pai tinha colocado um calendário preso a um dos imãs e eu foquei nos dias riscados. Era dia dez de junho, a morte de Shannon fazia exatos dois meses, e faltavam três dias para o meu aniversário.

Respirei fundo e meneei a cabeça. Eu estava melhor, ou tentava estar, pelo menos. Na maior parte do tempo eu focava no presente, no trabalho na oficina e nas coisas do dia a dia, mas às vezes eu ainda me pegava pensando nela.

Com o passar dos dias percebi que eu nuca esqueceria a morte da Shannon, aquilo sempre faria parte de mim, não era algo que eu podia esquecer ou mudar, e algumas vezes ainda me acordaria a noite em forma de pesadelos.

Contudo, entendi também, que eu não podia parar minha vida e mergulhar na dor, eu tinha que continuar, aos poucos a ferida estava fechando, mas eu sempre teria a cicatriz, essa era a realidade.

Peguei o suco e os copos e parti para a oficina. Meu pai e Daryl conversavam sobre um carro que tinham acabado de terminar. Eu já havia ligado para o cliente vir buscar.

— O ritmo está ótimo, vamos adiantar as entregas, porque eu não vou abrir na quinta. — Peter comentou satisfeito, enquanto eu enchia os copos de suco.

— Por que não vai abrir na quinta? Se tiver que ir a Atlanta eu posso ficar na oficina. — Daryl se ofereceu, enquanto eu entregava um copo para o meu pai.

As idas semanais de Peter Cooper a Atlanta prosseguiam como sempre, mas eu sabia bem que o motivo dele não abrir quinta não tinha nada a ver com isso.

— Você encheu isso de açúcar, não é? — Comentou, encarando o copo e eu assenti divertida, logo depois se virou para responder Daryl. — Eu vou pra Atlanta na quarta, e então você fica responsável, quinta eu não vou abrir porque é aniversário da Natalie.

Daryl assentiu brevemente enquanto eu lhe entregava um copo de suco, ele não fez nada além de murmurar um "tudo bem".

Eu e meu pai já tínhamos conversado sobre o fato de eu não querer uma festa. Mesmo que estivesse levando a sério aquela coisa de seguir em frente, ainda não me sentia pronta para festejar, estar rodeada de gente e essas coisas.

Mas o fato de não querer uma festa, não significava que eu estava descontente pela data, na verdade eu estava muito ansiosa. Finalmente faria dezoito anos, e isso era o que eu queria fazia tempo. O problema é que, depois de tudo que aconteceu, fazer aniversário não parecia uma coisa tão empolgante como antes.

Era o primeiro aniversário que meu pai passaria comigo, desde o meu de um ano, então ele tinha me convencido a aceitar um bolo, e eu aceitei sem problemas. A gente merecia isso.

Peter Cooper olhou a hora e pediu licença, entrando e nos deixando sozinhos ali.

— Vai ter bolo, você devia vir. — Convidei, me sentando sobre o balcão e estendendo a jarra de suco para servir mais ao Daryl.

Ele assentiu brevemente e simplesmente me encarou por alguns segundos.

Daryl andava mais calado que o comum, mesmo que o clima entre nós estivesse normal, éramos amigos de novo. Contudo, não tínhamos falado sobre aquele quase beijo, o que me levava a pensar que eu realmente estava meio louca na ocasião.

Mas Daryl às vezes me encarava daquele jeito intenso que fazia minhas pernas tremerem e que me levava a questionar tudo. Eu continuava apaixonada, isso não era novidade.

— E aí, como foi a caçada ontem? — Perguntei, no mesmo momento em que meu pai voltava.

Continuamos a conversa de modo normal, enquanto seguíamos trabalhando. As coisas estavam boas e isso era um verdadeiro alivio, até o Merle ligou para dar notícias, o que era quase um milagre. Ele não tinha feito nenhuma burrada... ainda.

Terça amanheceu ainda mais quente. Já disse que sempre odiei o calor? Eu praticamente me arrastei pela oficina o dia todo, dois banhos gelados, muitas pedras de gelo mastigadas e eu desejando insanamente um pouco de chuva.

— Eu estou derretendo... — Resmunguei, me abanando com o livro de notas no qual eu devia estar trabalhando.

— Você está exagerando — Daryl respondeu, sem parar de trabalhar.

— Não estaria sem ventilador, se não tivesse queimado os dois últimos essa semana, deixando-os ligados por mais de quarenta e oito horas seguidas. — Meu pai jogou na minha cara sem nenhuma dó, enquanto apertava uma peça qualquer.

— Aquelas porcarias que não prestavam... — Me defendi, mesmo sabendo que era mentira.

— Talvez eles tivessem durado mais, se você não precisasse mantê-los ligados só pra dormir de coberta. — Apontou divertido e revirei os olhos.

Daryl soltou um risinho de deboche.

— Não dá pra dormir sem edredom, não fica confortável! — Retruquei, como se soubesse de tudo e os dois acabaram rindo de mim ao mesmo tempo. — Vocês homens não sabem de nada, mostrei a língua e me levantei jogando o caderno de contas por ali.

— Onde vai? — Ouvi meu pai perguntar, quando eu já estava na porta.

— Banho!

— Vai acabar com a água de Dawsonville desse jeito. — Debochou, me olhando por cima dos carros.

Fiz outra careta antes de entrar e ele riu abertamente. Como eu disse: As coisas estavam boas. A dor do luto havia se tornado umas das coisas que eu levava na bagagem. Eu ainda sentava na janela e a deixava doer algumas vezes, mas no geral eu me esforçava para seguir com a vida.

Entrei na água gelada, que na verdade, não estava tão gelada assim, e saí minutos depois levemente revigorada. Vesti meu shorts jeans estampado com a bandeira norte-americana e uma blusa de alcinha branca, bem soltinha e que deixava parte da minha barriga de fora.

Prendi o cabelo ainda molhado, todo pra cima e fiquei parada no meio do quarto, com os braços abertos, esperando algum vento divino vir me refrescar. Para o meu desespero, não aconteceu, não tinha uma simples brisa aquele dia.

Suspirei, um tanto frustrada e decidi voltar para a oficina, antes passando pela cozinha e pegando alguns cubos de gelo em um copo.

Meu pai não estava mais por lá e Daryl havia mudado de carro, estava debaixo de um utilitário preto que tampava praticamente toda a entrada. O capô estava aberto e algumas ferramentas espalhadas por ali.

— Você não sabe a aflição que eu tenho de ver você aí de baixo, principalmente nesse calor — comentei, encostando no utilitário.

— Nunca vi alguém reclamar tanto de uma calorzinho de nada igual você, Bochechas. — Respondeu, sem parar o serviço. Fiz um muxoxo de desdém e coloquei uma pedra de gelo na boca. — E não faz essas caretas.

— Você não tem como saber se eu estou fazendo careta ou não, você não consegue me ver aí de baixo, Baby Dix.

— Eu não preciso estar olhando pra você, para saber sua reação padrão para as coisas.

— Uh... Parece que temos um senhor "Daryl eu sou muito perceptivo Dixon" aqui. — Debochei rindo, e me debruçando sobre o capô, pra tentar vê-lo por entre as brechas que as peças do motor deixavam.

— Minha nossa! Quantos anos você tem, Bochechas? — perguntou levemente divertido, e nossos olhos finalmente se encontraram, em um pequeno espaço entre o carburador e a bateria.

— Isso depende, você quer saber física, mental, emocional ou sexualmente? — Sorri sapeca e Daryl desviou os olhos.

— Quer saber? Não responda. — Devolveu, soltando um riso seco.

Continuei debruçada ali, aproveitando para pegar um dos cubos de gelo, que já estava derretendo no meu copo. O barulho dele se quebrando contra os meus dentes era uma das minhas partes preferidas.

— Um dia você vai ficar sem dentes. — Daryl comentou, encontrando meus olhos na fresta novamente.

Fiz uma careta de desdém.

— Minha mãe me diz isso. — Ergui apenas a lateral do lábio superior, como se estivesse com nojo. — E ela também dizia, quando eu tinha uns sete anos, que eu ia morrer se comesse o gelo que fica nas paredes no congelador, ou então a neve da rua. Bom... eu estou viva e com todos os dentes. Acho que ela estava errada.

— Ou talvez ela esteja certa, só não aconteceu ainda. — Devolveu neutro, mas levemente divertido.

— Ah não! Você tem foi contaminado pelo vírus Deborah Spelman! Rápido, temos que te dar o antidoto antes que você vire um zumbi viciado em compras ou trabalho e que não acredita no amor! — Brinquei, em um tom falsamente sério, enquanto tentava não ter um ataque de riso.

— De novo: quantos anos você tem mesmo? — Daryl acabou rindo.

Ele escorregou de debaixo do carro e eu me mexi de forma a poder olhar pra ele. Os olhos azuis subiram pelos meus pés e pernas até chegarem no meu rosto e então desviarem rapidamente.

Levantou, um tanto estabanado, e deu passos pra lá e pra cá, enquanto eu encostava no capô novamente, daquela vez de frente.

— Aqui. — Estendi o copo. — Mastigue um gelo e ficará curado. Vamos! Vamos! — Sacudi o copo freneticamente, como se estivesse em desespero. — Não podemos correr o risco de você concordar com a minha mãe outra vez, destruiria a admiração que eu tenho de você.

Eu ri, mas Daryl não. Era como se algo tivesse mudado de uma hora pra outra.

— Tenho que trabalhar. — Apontou o capô onde eu estava encostada, sem mal olhar para mim.

Levantei, depois uni as sobrancelhas, tentando entender que porra estava acontecendo. Talvez Daryl fosse bipolar... É, essa seria uma explicação plausível.

Franzi os lábios e meneei a cabeça positivamente para minhas próprias conjecturas. Ou vai ver minha mãe esteve certa todo o tempo: eu precisava mesmo de terapia.

— 'Tá bom, vai. Vou deixar você trabalhar. — Ri de mim mesma, me desencostando do utilitário e dando um passo pra frente.

De repente, uma ideia bastante infantil e idiota passou pela minha cabeça. Coloquei a mão no copo e peguei uma das pedras de gelo, deixando meus dedos lá por alguns instantes, para que ficassem ainda mais gelados.

— Se bem que... — Deixei a frase no ar e dei uma passo para a esquerda, passando o braço pelo ombro de Daryl. — Eu acho que você precisa esfriar um pouco.

Escorreguei a mão com o gelo pelo pescoço dele, em um movimento lento, enquanto eu praticamente tinha um treco pra não rir.

Honestamente, para mim, era só uma brincadeira bem bobinha, mas para Daryl não teve nada de engraçado... Eu percebi isso pela rapidez com a qual ele agiu para segurar meu pulso.

— Não faz... isso. — Pediu em um quase rosnado.

Eu me desequilibrei por um momento, dando dois passos pra frente e me chocando conta o corpo dele.

O sorriso morreu nos meus lábios e o gelo voou da minha mão, por causa do movimento brusco que Daryl tinha feito pra segurá-la, eu acompanhei a pedra deslizar pelo piso, antes de perceber o modo como ele me encarava: Intenso. Quente. Os olhos azuis haviam ficado um tom mais escuros. Tinha um tanto de raiva ali, mas com certeza não foi só o que eu vi.

Eu não era idiota, louca ou estava entendo sinais errado, compreendi perfeitamente o que aquele olhar significava: Desejo.

Puro, simples e selvagem. Eu sabia que era isso, porque era exatamente essa sensação que irradiava por todo meu corpo naquele exato momento. Como as águas de uma represa destruindo uma barragem.

Prendi minha respiração, no mesmo momento em que capturava meu lábio inferior com os dentes, como se isso pudesse me impedir de dizer ou fazer uma besteira.

Eu podia até ter ignorado aqueles sentimentos por um tempo, simplesmente decidido focar em outras coisas, mas com Daryl me encarando daquele modo, e com os dedos dele segurando meu pulso tão firme, era bem difícil não sentir tudo fervilhando dentro de mim novamente.

Porra, eu queria muito aquele caipira malditamente gostoso! Queria a boca dele na minha, o toque dele na minha pele, ele inteiro dentro de mim... Mas eu tinha feito uma maldita promessa.

Meu coração saiu totalmente do ritmo e minha pele inteira estava arrepiada.

Okay, eu tinha prometido não beijar o Daryl, mas se ele me beijasse, isso não seria uma quebra de promessa, seria?

A resposta para o meu paradoxo ficava cada vez mais distante conforme eu me afogava nos olhos azuis, era como estar em alto mar, no meio de uma tempestade feroz.

Daryl segurou meu queixo com o polegar, fazendo uma leve pressão para que meu lábio se soltasse dos meus dentes. Fechei os olhos devagar, soltando o ar dos meus pulmões através da boca entreaberta e parando de ouvir minha própria sanidade, já que meu coração batia alto demais.

Puta merda! Puta merda! Puta merda!

Senti o corpo dele se aproximar do meu e tive que usar minha mão livre pra me apoiar no carro ao meu lado, antes que minhas pernas me traíssem.

E então uma buzina irritante me assustou mais que qualquer outra coisa na vida, Daryl e eu praticamente demos um pulo para trás ao mesmo tempo.

Senti todo o clima se despedaçar, como um pedaço de vidro frágil que espatifa no chão.

Daryl deu as costas sem sequer me lançar um simples olhar e foi se ocupar do cliente que tinha estacionado do lado de fora. Fiquei ouvindo o homem falar sobre o carro fervendo, coisa que eu já tinha percebido que acontecia muito naquele calor.

Eu já odiava o idiota por acabar com uma oportunidade que talvez não voltasse, mas decidi que não podia ser uma cretina, afinal ele era um cliente.

Saí de trás do utilitário e resolvi ser educada, eu teria que fazer a ficha de entrada do carro dele de qualquer jeito mesmo. Assim que me viu, o homem sorriu amigavelmente.

— Boa tarde, senhorita. — Cumprimentou, acenando com a cabeça.

Era um senhor, devia ser um pouco mais novo que o meu pai; jeans e camiseta, nada demais, mas o estilo mostrava que ele se mantinha jovem, talvez fosse aquele penteado, ou os óculos escuros modernos.

Acabei sorrindo também, afinal o homem não tinha culpa de chegar em uma hora ruim, como ele iria adivinhar?

— Minha nossa esse calor está demais, não acha? — Ele comentou para puxar assunto.

— Nem fale... Eu nunca imaginaria que mesmo sendo cercada de tantas árvores a Geórgia fosse tão quente. — Respondi educada, exatamente como eu agia com todos os clientes.

— É quente sim, mas temos muitos rios, lagos e cachoeiras para compensar. Vocês jovens tem que aproveitar esses lugares, acredite em mim, depois que se fica velho não dá mais. — Riu divertido e eu acabei sorrindo também. — Minha nossa me desculpe a falta de educação, eu sou Maxwell, muito prazer. E você como se chama? — Estendeu a mão que eu peguei sem problemas.

— Natalie.

— Um nome bonito, para uma moça bonita, com todo respeito, é claro. — Soltou minha mão, fazendo uma pequena reverência.

— Obrigada. — Sorri amigável.

O barulho metálico de Daryl batendo a tampa do capô, nós assustou por um instante.

— Infelizmente não temos vagas para o seu carro. Estamos lotados e não é uma coisa que eu possa resolver agora. — Daryl praticamente entrou na minha frente. — Melhor levar pra outra oficina.

Eu fiquei ali parada, sem saber exatamente o que dizer enquanto o homem se despedia um tanto frustrado e entrava em seu carro. Observei o veículo virar a esquina e cruzei os braços.

— Como não temos vagas se entregamos um carro ainda hoje? — Perguntei, estreitando as sobrancelhas.

— Eu não estava afim de arrumar o carro dele, mas se não estiver satisfeita reclama com o Cooper, ou você pode correr atrás do idiota e arrumar o carro você mesma. — Daryl respondeu rude, entrando na oficina com brusquidão. — Agora me deixa trabalhar.

Respirei fundo, tentando não responder à altura, mas eu simplesmente não consegui, não era o tipo de garota que aturava homem sendo grosso comigo.

— Olha aqui, Daryl, eu não tenho culpa do seu mau-humor latente, então controla o seu ciúmes ridículo e fala comigo direito. — Retruquei, entrando atrás dele.

— Ciúmes? — Ele deu uma risada forçada. — Se enxerga garota, por que eu teria ciúmes de você?

Revirei os olhos e me encostei em um dos carros, cruzando os braços, vendo Daryl andar de uma lado para o outro, pegando ferramentas que ele com certeza não iria usar.

— Sei lá, talvez você deva responder isso pra você mesmo... — Sugeri calmamente. — Agora, se você realmente não está com ciúmes, então é melhor procurar um psicólogo pra tratar a sua bipolaridade.

Ele me encarou por meio segundo, ainda com raiva, antes de enfiar a cabeça no capô do utilitário.

— Não enche o saco!

Perdi o pouco de paciência que eu ainda tinha, desencostei do carro e resolvi entrar, eu não tinha que aguentar aquilo.

— Quer saber? Vai se foder, Dixon! — Joguei, enquanto passava por ele, dando as costas logo em seguida.

Daryl me puxou de volta em um movimento rápido, como se não tivesse sido planejado, só instintivo. Tão logo os olhos dele focam nos meus, sua mão, que segurava meu braço, se abriu e ele se afastou, voltando ao trabalho.

Suspirei entre brava e decepcionada e entrei em casa. Algumas poucas horas depois meu pai retornou, havia comprado três ventiladores, um deles de teto, para colocar no meu quarto. Não falei mais com Daryl aquele dia, ele merecia um gelo.

Na quarta, Peter Cooper fez outra de suas idas misteriosas a Atlanta, e eu continuei evitando Daryl de propósito. Algumas garotas achavam fofo ver um homem com ciúmes, eu achava bem ridículo, principalmente em uma situação como aquela, então se Daryl quisesse falar comigo de novo, teria que fazer melhor do que me lançar aquele olhares enviesados de cachorro que caiu da mudança.

De tarde decidi aproveitar o calor pra lavar a casa, o que era só mais uma desculpa pra ficar longe do caipira. Ficar perto dele, sem poder conversar, era um baita sacrifício, diga-se de passagem.

Eu já havia terminado quase tudo, quando Daryl apareceu na porta por volta das cinco da tarde, eu estava guardando a louça, entretida com a música que tocava ao fundo.

— Eu... eu já estou indo, terminei todos os carros, sexta você só precisa ligar para os clientes. — Ele encostou no batente com as mãos nos bolsos.

— 'Tá. — respondi simplesmente, cantarolando um verso qualquer, só para conter minha vontade de falar com ele.

Daryl continuou ali, me observando em silêncio, enquanto eu ia e vinha, ocupada com guardar os talheres.

— Mais alguma coisa? — Perguntei, deixando a faca de carne sobre a mesa e o encarando.

Ele negou algumas vezes, abaixou a cabeça e desencostou do batente, se virando pra ir, mas voltando. Coçou a nuca algumas vezes e tornou a me fitar.

— Vai dizer alguma coisa logo ou não vai? — Tombei a cabeça um tanto impaciente.

Daryl ergueu os olhos azuis pra mim e era como se um mundo de coisas estivem se acontecendo ali.

— Desculpa.

A palavra levou dois segundos para realmente fazer sentido. Fiquei sem reação por um instante, franzindo a sobrancelhas e sentindo meu cérebro entrar em pane.

Daryl Dixon estava me pedindo desculpas? Ele não pedia desculpas. Nunca. Aquilo era... uau!

Okay, ainda era só um pedido de desculpas, podia não parecer nada, afinal as pessoas pediam desculpas o tempo todo, às vezes nem era sincero. Mas Daryl não era o tipo que pedia desculpas por nada, então aquela palavrinha tão simples era sim uma grande coisa.

— Só isso? — Mantive a pose.

— Só... — Deu de ombros. — Não tem mais nada que eu poderia dizer. Mas eu vou entender se você não...

Daryl não terminou a frase, meu pai chegou naquele instante.

— Tudo bem? — Perguntei preocupada assim que o vi.

A aparência de Peter Cooper não era nada boa, na verdade me toquei que sempre que voltava de Atlanta meu pai parecia abatido, como se estivesse doente.

— Tudo sim... É só esse calor — Desconversou, me dando um beijo na testa. — E com vocês tudo bem? — Olhou de mim para o Daryl.

Daryl não respondeu aquela pergunta específica, apenas contou do dia na oficina e dos carros prontos.

Eu continuei ali parada, olhando a lâmina da faca de carne, como se ela pudesse me revelar alguma verdade universal, ou como se ela pudesse me ensinar a como lidar com aquele Dixon problemático e com o que eu sentia por ele.

— Eu já vou indo então, nos vemos sexta de manhã. — Daryl se despediu e eu ergui a cabeça.

— Você não vai vir para o aniversário da Natalie amanhã? — Peter perguntou surpreso.

Daryl ficou calado, passou os olhos por mim rapidamente e abaixou a cabeça. Meu pai franziu as sobrancelhas na minha direção, como se tivesse perdido a parte importante de um filme e não entendesse mais nada.

Era meu aniversário, se eu bancasse a impassível com Daryl eu tinha certeza que me arrependeria.

— Vamos cortar o bolo as cinco. Se quiser vir... — Dei de ombros fingindo que não era de grande importância. — Mas se você agir como cretino outra vez, eu juro por Deus que vou... — Perdi um pouco do controle e meu pai segurou minha mão, me interrompendo antes que eu terminasse.

— Não faça promessas como uma faca na mão. — Falou, como se fosse um conselho sem importância e pegou o objeto, que eu nem percebera que estava apontando para o Daryl.

Encarei aquele caipira malditamente gostoso e revirei os olhos. Quando é que eu tinha ficado tão mole?

— Nos vemos amanhã. — Deixei claro e ele assentiu antes de partir sem dizer nada.

➷•➷•➷•➷•➷

Finalmente o dia do meu aniversário chegou e amanheceu como todos os outros dias da semana: abafado pra caramba.

— Bom dia, aniversariante! — Papai cumprimentou animado, me dando um abraço apertado e mostrando uma enorme mesa de café da manhã.

— Que horas você acordou pra fazer tudo isso? — Apontei a montanha de comida.

Ele deu de ombros, puxando uma das cadeiras para que eu sentasse e me servindo.

— Então, o que quer fazer hoje? — Perguntou, se sentando também.

— Achei que íamos cortar um bolo e cantar parabéns, nada demais. — Estranhei a pergunta.

— Ah, mas isso é só mais tarde, temos um dia todo ainda, o que acha de darmos uma volta e te comprarmos um presente? — Sugeriu empolgado, como se o aniversário fosse dele.

— Não precisa, pai. Você gastou bastante nos últimos meses. — Me referi ao enterro da Shannon, mesmo que eu não quisesse tocar no assunto.

— Eu estou dezoito anos atrasado nos presentes de aniversário, mesmo se eu te comprar um carro não vai equilibras a balança. — Devolveu um tanto decepcionado.

— Vai me comprar um carro? — Indaguei surpresa.

— Claro que não, eu conheço minhas limitações. — Ele riu e eu acabei envolvida naquilo.

O café foi ótimo, e depois realmente saímos, passeamos pela região e meu pai acabou me convencendo a comprar dezoito coisas pra "equilibrar" a balança, nada muito caro, roupas, sapatos e algumas makes.

Foi divertido e diferente de tudo que eu já tinha feito. Não que minha mãe não se importasse com o meu aniversário. Na verdade ela se importava bastante, todo ano tinha festa, um presente caro, muitas pessoas e essas coisas.

Mas a diferença é que não parecia tão pessoal, ela pagava alguém para cuidar de tudo, acredito que até meu presente alguma assistente do escritório devia comprar. E durante as festas ela estava mais preocupada com os convidados do que comigo em si. Claro que eu me divertia, mas era totalmente diferente do que o que eu estava sentindo naquele momento com o meu pai.

Almoçamos fora e Peter fez questão de dizer para todo mundo que era meu aniversário, o pessoal do restaurante cantou parabéns pra mim, foi realmente engraçado.

— Descobri que você é tímida e cora. — Ele riu, dividindo a atenção entre mim e o volante, enquanto voltávamos pra casa

— Eu não sou tímida, é só que nunca dá pra saber o que fazer enquanto as pessoas cantam parabéns — Me defendi, fazendo uma falsa cara de indignada. — Achei que estávamos indo pra casa... — apontei, quando passamos da placa de Dawsonville

— Quero te levar em um lugar antes. — Explicou, com um sorriso misterioso.

Levou quase uma hora, então finalmente entramos em uma cidade chamada Roswell, mais alguns minutos rodando por ali e paramos de frente a uma casa pequena, com um bonito jardim e uma grande árvore que me pareceu familiar.

— Moramos aqui. Eu, sua mãe e você. — O encarei, um tanto surpresa com a informação e ele sorriu meio triste. — Eu nasci nessa cidade, sua mãe veio pra estudar aqui, foi como nos conhecemos, eu frequentava o campus, embora não estudasse na universidade. Ela era o tipo de garota inalcançável e eu levei meses pra convencê-la a sair comigo...

Peter parou, abaixando a cabeça e depois respirando fundo, era como se um mundo de lembranças dolorosas o tivesse atingido.

Observei a casa enquanto ele estava calado, aquela árvore era a mesma da foto em que eu era pequena no colo do meu pai. Por um momento pensei em como seria minha vida se tivesse crescido ali.

— Sua mãe sabia exatamente o que queria da vida, ela tinha um plano bem traçado, era quase compulsivo. — Recomeçou, rindo meio de canto. — E eu baguncei tudo isso, porque eu não fazia ideia do que queria da vida, mas eu sabia exatamente quem eu queria... Ela.

Desviou a cabeça por um segundo, olhando o lado oposto da janela e eu senti um peso enorme no peito.

— Nos casamos assim que ela descobriu que estava grávida, cerimônia simples. Prometi que a faria a mulher mais feliz do mundo... Eu não cumpri, como deve imaginar. — Continuou, em um tom amargo, meneando a cabeça.

— Aposto que não foi sua culpa da pra ver que você a amava. — Comentei, sabendo o quanto minha mãe era difícil de conviver.

— Só que foi. — Afirmou descontente. — Mas sim, eu a amava mais do que qualquer coisa e Debby me amava também, eu sei disso, ela fez muitas concessões por minha causa. Você nem faz ideia.

— Se vocês se amavam, então... por que deu errado? — Perguntei confusa, não conseguindo juntar todas as partes da história.

— Amor nem sempre é suficiente... — Respondeu e aquela frase grudou em mim de modo assustador. — Costumamos, e queremos, pensar que é, mas a verdade é que no dia a dia é diferente, é difícil. O amor não conserta seus defeitos, amar e ser amado não garante que sejamos as pessoas certas, nos lugares certos, fazendo tudo certo.

— Eu não entendo. — Foi honesta. Minha mente simplesmente não conseguia formar uma realidade em que duas pessoas que se amavam não conseguiam superar os obstáculos.

— Pensa comigo: Você e Daryl estavam brigados, não é? — Assenti, franzindo as sobrancelhas, sem entender o que uma coisa tinha a ver com as outras. — E vocês brigaram porque o Daryl tem um defeito que incomoda você.

Cruzei os braços e fiquei um tanto defensiva.

— Como sabe disso? Ele te contou?

Meu pai riu, me encarando como se eu fosse boba.

— Eu moro lá, Natalie e vocês trabalham comigo, além do fato de não serem as pessoas mais discretas que eu conheço. — Fiz cara de paisagem, como se não soubesse de nada, o que só o fez rir mais. — Continuando... Vocês brigaram, porque você não consegue conviver com os defeitos dele, e não estou te julgando por isso, já deixo claro. Contudo, você o perdoou, você deu outra chance, porque você gosta dele. Mas, vamos supor que Daryl não consiga se livrar desse defeito, ele vai cometer outro erro, vocês vão brigar, você vai perdoar outra vez, porque você ainda vai gostar dele, e assim sucessivamente, até o dia em que você perceber que aquilo não te faz bem ou simplesmente vai cansar.

— Mas eu não amo o Daryl, é só um lance da juventude, uma paixão. — Deixei claro, afinal, por mais que eu gostasse do Daryl, eu não tinha certeza se aquilo era amor.

— Era só um exemplo... — Explicou e eu sorri amarelo. Claro que era só um exemplo, que tipo de pessoa tapada eu era?

Eu entendi o conceito, embora ainda não tivesse certeza se acreditava. Crescemos aprendendo que o amor é a coisa mais poderosa do mundo, aceitar que a rotina podia destruir isso era um choque de realidade e tanto.

Claro que eu já tinha visto vários casais dando errado, mas eu sempre tive pra mim que era porque eles não se amavam de verdade.

Sabe quando algo acontece e você sente que sua vida foi uma mentira? Era exatamente assim que eu estava me sentindo. Que iludida de merda.

— Foi isso que aconteceu comigo e a sua mãe. Nós nos amávamos, mas eu tinha meus defeitos e já tínhamos brigado por causa deles várias vezes. Ela me pediu pra mudar, eu disse que mudaria. Funcionou por um tempo. Mas um dia eu acordei e percebi que não era o tipo de cara que podia viver atrás de uma mesa, vestindo terno e gravata, e acontece que a sua mãe não era o tipo de mulher que podia viver com um homem que ganhava a vida como eu. Eu não a culpo, Debby estava certa no fim das contas, aquilo não era vida. Claro que nós dois erramos quando não pensamos em uma terceira alternativa, mas isso não vem ao caso. — Deu de ombros e olhou a rua por um tempo.

Mesmo que eu conseguisse mensurar a dor de toda a situação, eu ainda não conseguia entender plenamente as decisões dos dois. Será que havia mesmo um limite para as coisas que podíamos fazer e abrir mão por amor?

— Então um dia... — Peter recomeçou e a voz dele falhou dois tons. — Eu cheguei em casa e não tinha mais nada, sua mãe pegou você e partiu. Deborah sempre foi o tipo de mulher que nunca voltou atrás em uma decisão. Um mês depois os papeis do divórcio chegaram pelo correio, eu mal me lembro dos meses seguintes, eu estava bêbado e drogado demais, é só um borrão, e eu não me orgulho disso, ao invés de encher a cara eu devia ter me preocupado com você. E eu nunca... nunca te pedi perdão por isso.

Segurei a mão dele com força, tentando conter as lágrimas que nublavam a minha visão.

— Você não tem que pedir perdão, eu não te culpo. — Sorri compassiva.

Talvez outra pessoa culpasse, mas eu não conseguia, no fundo eu via meu pai como um homem que teve tudo arrancado de si. Minha mãe, como sempre, foi bastante drástica em suas decisões...

Quando chegamos em casa aquela história ainda estava rondando minha cabeça, era tão triste. Se os dois realmente se amavam deviam ter ficado juntos, deviam ter lutado mais, tentando mais. Não deviam?

"Amor nem sempre é suficiente..." aquilo ainda ecoava na minha mente. E se meu pai estivesse certo, e se existisse mesmo um limite para o amor? Pensei na minha mãe e por um minuto senti saudades dela. Era estranho que meu pai não a culpasse por desistir. Acho que eu teria culpado. 

Na verdade, eu de fato a culpava...

Joguei as compras na cama e deu uma olhada na hora, eram quase quatro e eu tinha combinado com Daryl às cinco.

Decidi que deixaria o fracasso amoro dos meus pais de lado, antes que isso fritasse meu cérebro, e resolvi tomar um banho. Quem sabe usar uma das minhas roupas novas.

Escolhi um vestido azul-marinho, curto, levemente rodado, com estampa de flores claras, um tecido bem levinho e um decote discreto, perfeito para aquela tarde abafada.

Eu não era o tipo que usava vestidos, mas eu tinha gostado daquele em especial, talvez por cauda do tecido ou do caimento.

Desci alguns minutos depois, já pronta, os cabelos ainda úmidos do banho recém tomado.

Meu pai estava na cozinha, o bolo já arrumado sobre a mesa, tudo perfeito. Foi inevitável sorrir.

— Não sabia que já tinha feito o bolo. — Comentei, ao reparar que não havia nenhuma panela de cobertura na pia.

— Fiz antes de você acordar. — Respondeu orgulhoso.

— Você sequer dormiu, não é? — Acusei, cruzando os braços.

— Eu tive dezoito aniversários pra dormir, não custava nada ficar acordado nesse...

— Se eu ouvir "dezoito aniversários" outra vez vou dar um chilique. — Ri, tentando pegar um pouco da cobertura que escorria na bandeja. Levei um tapa leve na mão e fiz cara de coitada.

— Você está muito bonita nesse vestido. — Meu pai me elogiou e eu segurei a barra como uma princesa para agradecer. — Que horas você combinou com o Daryl?

— Cinco. — Olhamos o relógio ao mesmo tempo e vimos que faltavam dez minutos...

O tempo se arrastava e Daryl não chegava nunca. Cinco horas em ponto e nada. Cinco e meia e eu balançava o pé impaciente sentada no sofá. Meu pai não parecia satisfeito.

Seis horas. Peter havia subido pra tomar um banho, o telefone tocou e eu dei um pulo. Devia ser o Daryl avisando de algum imprevisto e que já estava chegando.

— Alô. — Atendi um tanto desesperada.

— Oi, Natalie— A voz do outro lado da linha respondeu e eu gelei dos pés a cabeça.

— Mãe?

— Por que parece tão surpresa, achou que eu não ligaria no seu aniversário? — Tinha um tanto de deboche no tom dela.

— Eu nem sabia que você tinha esse telefone. — Admiti, realmente ouvir a voz da minha mãe era a última coisa que eu esperava naquele momento.

— Claro que eu sei, você me subestima se pensa que eu não saberia todas as informações do lugar onde minha filha está passando suas férias não autorizadas. Não me confunda com o seu pai, eu me preocupo com tudo que você faz, mesmo quando está longe.

— Não são férias, eu moro aqui, essa é a minha vida agora. — Retruquei rudemente.

— Claro... — Ela não me deu muito crédito. — Conversaremos sobre isso outra hora, ainda tenho um acordo com o seu pai.

— Que acordo? — Perguntei desconfiada.

— Se ele não contou pra você, eu é que não vou. Talvez isso sirva pra você ver melhor quem são as pessoas...

Não caí na dela, Deborah Spelman tinha aquela mania de se colocar como superior em qualquer situação.

— Você não vai jogar meu pai contra mim. — Avisei, já totalmente sem paciência.

— Eu não jogo ninguém contra você, Natalie, apenas tento abrir seus olhos para a verdade crua, sem floreios. Mas você cisma em ver o mundo por um prisma utópico; todo mundo é bom, menos eu. Pra você eu sou uma vilã, que sequer merece o benefício da dúvida. Que mereceu ser abandonada sem nenhuma notícia, ligação ou mensagem, depois de dedicar dezoito anos à você. — Acusou, bastante alterada, e eu tremi de raiva.

— Não seja tão dramática. Eu estou bem e não avisei porque você nunca me deixaria vir se soubesse.

— Claro que eu não deixaria! Eu sou sua mãe, é meu dever fazer o melhor pra você! — Tínhamos, claramente, começado uma discussão. Como sempre.

— E ele é meu pai, merece a chance de me conhecer, eu mereço essa chance! — Gritei de volta, sentindo minha garganta fechar e uma vontade imensa de chorar de raiva.

— E é por isso que eu ainda permito que você esteja aí com ele, depois de tudo que ele fez. Mas eu espero que não se arrependa disso.

— Ele não fez nada pra mim, talvez tenha feito pra você, mas eu não tenho que pagar por isso.

— Você não vê? — Ela riu um tanto descontrolada. — Eu sou a ex-esposa, Natalie. Você é a filha. Foi a você que ele abandonou. Foi pra você que ele não ligou. Foi pra você que ele fez mal, não pra mim. Espero que no final de tudo isso você veja que não pode me culpar pelos erros dele, porque eu continuei sendo sua mãe depois que ele se foi, eu continuo sendo sua mãe depois que você se foi... Eu não sou a vilã aqui, e se você não consegue ver isso, Natalie Cooper, então talvez seja você que tenha um problema e não seja tão boa como pensa.

— Você disse que ligou pra me dar feliz aniversário, devia fazer isso então, eu estou ocupada e tenho que desligar. — Falei tentando controlar a tremedeira e as lágrimas que nublavam minha visão.

— Feliz aniversário, Natalie. Espero que esse ano de vida te traga clareza e amadurecimento, por que você não está pronta para o mundo ainda. — Desejou resignada. — Eu te amo, mesmo que você seja minha maior decepção.

— Tchau, mãe. — Respondi apenas, desligando o telefone em seguida.

Me apoiei no balcão onde o aparelho ficava e respirei fundo. Minha mãe tinha o dom de me tirar do sério. Eu e ela tínhamos visões diferentes sobre tudo na vida. Inclusive, e principalmente, sobre o meu pai.

Ela não conseguia entender que Peter estava tentando, eu entendia que ele tinha cometido erros e ele entendia também e estava realmente tentando se redimir. Minha mãe, por outro lado, achava que estava certa em tudo, que nunca tinha errado na vida, que não tinha nada pra consertar, nenhuma aresta pra aparar. Deborah Spelman era incapaz de ver o quanto ela projetava sua raiva em mim.

O telefone tocou outra vez e eu atendi sem nenhuma paciência:

— Será que não dá pra você me dar me dar um tempo só no meu aniversário?

— Nossa, cunhadinha, isso é jeito de me atender? — Ouvi a voz bastante conhecida do outro lado da linha.

— Merle! — Exclamei, surpresa e animada. — Desculpe, pensei que fosse outra pessoa. Como você está?

— Melhorou. Estou bem, espero que essa outra pessoa, com quem vocês está tão brava não seja o meu irmãozinho...

— Não é, pelo menos não muito. — Ri meio de canto e Merle me acompanhou. — Ligou pra dizer que está voltando pra casa?

— Liguei pra te dar os parabéns. Não posso voltar ainda, tenho uns assuntos, queria ter resolvido já, mas um certo cretino anda por aí escoltado o tempo todo, aquele bostinha burguês, queria ver se não tivesse grana pra bancar aqueles brutamontes dele... — Respondeu, com a voz carregada de raiva. — Enquanto isso eu continuo ganhando minha graninha, chove trabalho por aqui.

Senti toda aquela raiva que eu tinha de Jason voltar, mas por outro lado fiquei aliviada, o melhor era que Merle se mantivesse longe do idiota, assim não se metia em encrenca, claro que aquele tipo de "trabalho" que Merle falava, também podia ser definido como encrenca, mas era o tipo que o Dixon mais velho já estava mais que acostumado. Talvez se mais algum tempo passasse ele esquecesse aquele assunto e resolvesse voltar pra casa.

— Tem bolo. Se você sair daí agora eu te espero pra gente cortar. — Sugeri, tentando fazê-lo voltar.

— Tentador, mas não posso mesmo, cunhadinha. Um homem de verdade não foge de uma boa briga, mesmo que tenha que esperar um tempo pra socar a cara de um maldito infeliz.

— Entendo... — Mudei meu peso de pé e suspirei, eu não conseguiria convencê-lo. — Mas espera. Como sabe que é meu aniversário?

— Fácil. Cooper contou da última vez que eu liguei, ele queria que eu voltasse a tempo. Não vai dar, foi mal, deixamos a reunião de família pra próxima, quem sabe no aniversário do meu irmãozinho mês que vem. — Explicou bem humorado.

— Daryl faz aniversário mês que vem? — Perguntei um tanto surpresa. — Ele não me contou.

— Dia treze, o mesmo que você. Vocês precisam parar de trepar feito coelhos e melhorar essa coisa de comunicação. — Debochou e eu acabei rindo. — Ele está aí?

— Não... Ele não chegou ainda. — Respondi, sem ser capaz de disfarçar o leve desapontamento na minha voz.

— Por que será que eu não estou surpreso? — Merle riu do outro lado da linha e eu acabei fazendo o mesmo. No fundo, eu também não estava surpresa. — Bom, feliz aniversário, cunhadinha, beba por mim e por você. Tenho que ir...

— Obrigada... Sentimos sua falta, então não faça nenhuma estupidez

— Impossível. — Ele respondeu de imediato. — Sou um Dixon, estupidez está no meu sangue. Até mais.

Desliguei um pouco mais animada, embora preocupada com Merle, no mesmo instante que meu pai descia as escada. Ele olhou pra mim por um segundo e eu tentei sorrir.

— Tudo bem? Quem era no telefone? — Indagou, como se soubesse de algo.

— Merle... e a minha mãe. — Resolvi não omitir aquilo.

— Hum... e tudo bem mesmo?

— Claro. Eles desejaram feliz aniversário, óbvio que minha mãe usou aquele jeitinho único dela. — Ironizei, revirando os olhos. — Mas no geral não foi nada demais. — Dei de ombros e ele assentiu.

Não importava o que minha mãe tinha dito, não importava o que tinha acontecido no passado, mesmo que meu pai fosse culpado. O que importava era o presente e no presente, Peter Cooper era uma das melhores coisas na minha vida.

— Então? Nada do Daryl ainda? — Olhou do relógio pra mim um tanto compassivo.

— Acho que ele não vem. — Dei de ombros. — Pra ser sincera eu já esperava por algo assim. — Ri, mesmo que não tivesse graça realmente. — Azar o dele, comeremos aquele bolo maravilhoso sozinhos. Pronto pra cantar parabéns pra mim?

— Pronta pra assoprar as velinhas com o seu velho? — Meu pai devolveu com um sorriso enorme.

— Você não é velho, pelo menos não tanto, mas sim, estou prontíssima!

O bolo estava mesmo incrível, foi um momento único que eu nunca esqueceria.

Comemos juntos e meu pai me contou histórias dos seus aniversários, dos meus avós, da sua infância e eu contei algumas coisas sobre mim também. Um momento só meu e dele.

Ficamos por ali mais um tempo, já passava das oito quando meu pai colocou em um jogo de baseball.

Tinha sido um ótimo aniversário, apesar de tudo.

Dei um beijo no rosto dele e resolvi subir, era cedo pra dormir, mas eu precisava de um tempo sozinha digerindo tudo que tinha acontecido.

— Obrigado, filha. — Agradeceu do nada, quando eu já estava prestes a subir a escada.

Me virei um tanto confusa.

— Obrigada pelo que? — Eu ri. — Foi você quem fez, literalmente, tudo por mim hoje.

Peter Cooper sorriu e me encarou com lágrimas nos olhos.

— Obrigado por me dar a oportunidade de fazer isso. A oportunidade de ser seu pai, de conhecer você e de estar ao seu lado em um aniversário. Obrigado por ouvir minha versão dos fatos, talvez, um dia, você possa ouvir os dois lados e perceber que não existem vilões nessa história, apenas duas pessoas que se amaram e que cometeram muitos erros, mas dentre eles um acerto inegável: Eu e a sua mãe fizemos uma filha extraordinária.

Sorri emocionada, e voltei pra abraçá-lo. Era por coisas como aquelas que eu não podia simplesmente me deixar levar pela minha mãe...

Meu pai era um bom homem, independente de seus erros.


Notas Finais


Como eu disse, tinha muita coisa...
Natalie lidando com a vida pós Shannon, a rotina na oficina, a volta da amizade DixChechas, quase beijo (sim outro, eu tento, mas não resisto) ciúmes, brigas, conversas inspiradoras com o Papa mais maravilhoso das fics, o passado de Peborah (vou chamar eles assim auhsuashus) Deborah dando o ar da graça (que acharam dela?) e até o Merle, fora todos esses momentos fofinhos pai e filha.
Depois de tanta informação só resta uma pergunta, onde está o nosso querido e amado Daryl Dixon?
O próximo é narrado por ele.

E agora vem a noticia ruim, como estou nem note eu não sei quando vou conseguir escrever (ou onde, já que escrever esse tanto de coisa pelo celular não daria) por isso não posso prometer cap na sexta que vem (infelizmente), mas assim que der eu apareço, palavra de honra.
Se quiserem saber do andamento das coisas podem me procurar pelas redes socias da vida (tem uma listinha no meu perfil, inclusive grupo das minhas fics onde o pessoal interage as vezes e eu solto uns spoilers auhsuahsu) ou por MP, vou acompanhar tudo e responder pelo celular.
Agora vou lá para os reviews.

Bjss e até breve, vamos torcer uashaushush


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