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História Lifeline - Before the End - Presentes


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Helloooo todo mundoooo!!!

Finalmente cheguei com o cap 22, não deu pra vir antes, infelizmente, quem estava me acompanhando pelo grupo sabe que eu estava escrevendo pelo celular, mas isso é quase a morte pra mim uahsuahsuhs, ainda não arrumei o note, infelizmente, paciencia...

O importante é que eu estou aqui, feliz da vida! Primeiro de tudo quero agradecer a todas as meninas que comentaram. Obrigada mesmo, é por vocês que eu sempre fico tão empolgada pra postar.

Agora sem mais delongas vamos ao cap, que está enormeee pra compensar a demora, recheado de DixChechas, espero que gostem dele, tanto quando eu gostei de escrever.

A música que toca no capitulo é "Hunger" do Ross Copperman, escutem, porque é lindíssima!!

Capítulo 22 - Presentes


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Presentes

 

• DARYL DIXON •

Acompanhei o ponteiro do relógio apontar oito e quinze da noite, me remexi impaciente e olhei pela milésima vez no espelho. Eu já tinha desistido daquilo incontáveis vezes, arrancado aquela camiseta e a jogado na cama, para então mudar de ideia e me arrumar outra vez.

Apoiei minhas mãos no guarda-roupa e abaixei a cabeça, respirei fundo. Merda. Se eu não fosse perderia o dinheiro que tinha gasto...

Por que eu tinha que ser tão maricas? Soquei a madeira e, a porta, já um tanto capenga, despencou no chão. Meneei a cabeça e voltei a me encarar no espelho.

Okay, Natalie é sua amiga, não tem nada errado em passar o aniversário dela com ela. Repeti pra mim mesmo e assenti para o meu reflexo.

Agarrei a jaqueta de couro preta e joguei por cima da camiseta branca, decidido a sair do quarto. Sua amiga... Nada errado...

Era como um disco riscado que não valia de nada, porque, por mais que eu repetisse, não conseguia me convencer daquilo. Eu simplesmente não conseguia lembrar que Natalie era só minha amiga quando ela estava perto de mim, quando ela sorria ou me tocava e, principalmente, quando um idiota qualquer fazia elogios naturalmente, sendo que eu não conseguia fazer nem um.

Eu queria ter socado aquele babaca na oficina, queria mesmo, mas Natalie estava certa e aquilo não tinha um pingo de cabimento. Talvez ela tivesse razão em estar brava comigo. Eu acabaria louco, já estava ficando, de todas as formas possíveis.

Mesmo assim, lá estava eu, pronto para ir até a casa dela, mesmo que com três horas de atraso. Eu passei aquela horas tentando entender o que eu estava fazendo, mas na verdade não tinha entendido nada. Eu estava louco, definitivamente.

Contudo, eu estava indo, tentando convencer a mim mesmo que não era grande coisa, mesmo que eu tivesse gastado o dia todo preparando aquilo...

— Vai sair, é? — Meu velho estava sentado na frente da casa e me confrontou assim que coloquei o pé pra fora.

A última coisa que eu precisava aquela noite era dele me azucrinando, eu já estava fazendo um ótimo trabalho sozinho.

Assenti, sendo praticamente encurralado na saída.

— Eu preciso de...

Não o deixei terminar de falar.

— Aqui. — Peguei a carteira e lhe estendi cem dólares, junto com a chave da caminhonete. — Pra você sair, dar uma volta e se divertir.

Will Dixon franziu as sobrancelhas, totalmente surpreso com minha atitude. Eu sabia que ele ia pedir dinheiro, então apenas me adiantei pra evitar confrontos.

Já tinha muita coisa na minha cabeça, e não era uma boa hora para lidar com meu pai e toda a merda que cercava nossa relação, não que eu achasse realmente que haveria uma boa hora para aquilo...

— Cuidado quando for voltar, não beba demais. — Pedi, porque o cara ainda era meu pai, eu não queria que ele se matasse em um acidente de carro.

Passei por ele rapidamente, aproveitando seu silêncio e ganhei a rua em passadas largas.

Eu estava três horas atrasado, não fazia ideia de que desculpa daria e mesmo assim estava indo. Não era como se eu quisesse comer bolo ou nada assim, eu nem gostava de bolo, não era o atraso para o tal bolo que me preocupava. Era...

Refreei os pensamos, respirando profundamente o ar noturno, eu tinha que deixar a mente vazia, ou ficaria mais três horas naquele impasse.

Aquela coisa de pensar nunca dava certo pra mim, então decidi que não pensaria, eu apenas seguiria em frente e foda-se.

Apenas seguir em frente e foda-se.

Tentei fazer o caminho seguindo esse lema, mas a cada passo mais próximo uma dúvida nova e mais forte surgia, perguntas que eu não queria responder.

Vai ver Natalie nem fosse querer me ver, eu tinha bancado o cretino com ela e então simplesmente estava mais de três horas atrasado, era muita coisa pra perdoar...

Avistei a oficina e meu coração disparou como se eu fosse algum tipo de maricas idiota. Parei na calçada oposta, observando a fachada escura e a luz que vinha de uma das janelas do andar de cima, mais especificamente do quarto de Natalie Cooper. Enfiei as mãos no bolso e respirei fundo.

Por que eu estava ali? Por que eu tinha passado o dia todo fazendo aquilo? Talvez eu devesse ir embora, foda-se o dia perdido, foda-se o dinheiro, foda-se tudo...

Me lembrei do que Natalie dissera dois dias atrás, quando eu havia perguntado por que motivo eu sentira ciúmes dela. "Sei lá, talvez você deva responder isso pra você mesmo..."

Alguma coisa tinha mudado depois da minha volta, desde então eu não conseguia mais me manter indiferente. Quando Natalie olhava pra mim, quando ela sorria e principalmente quando ela me tocava, era como se fogo me consumisse por dentro. Eu simplesmente não conseguia resistir e ficar longe.

Sorriso, olhos, boca, cabelo e pernas... principalmente as pernas, era como se cada parte dela fosse atrativa demais, como imãs.

Era tudo muito confuso, e o pior e mais vergonhoso: era assustador. Era ridículo que fosse, eu era um homem, não um saco de batatas. Eu era um maricas isso sim.

Chutei uma lata qualquer, que saiu rolando, ecoando seu barulho pela rua. Eu devia apenas ir embora. Enfiei as mãos nos bolsos da jaqueta e estava pronto pra dar meia volta, quando algo atraiu minha atenção, como o pressentimento de estar sendo observado ou algo assim.

Ergui os olhos e Natalie Cooper me encarava da janela. Meu corpo todo gelou, senti que meu coração sairia pela boca e que havia um bando de borboletas raivosas no meu estômago.

Ela estava debruçada no parapeito, o rosto apoiado na mão, os ombros de fora, enquanto uma alça muito fina estava caída por um deles, o cabelo preso pra cima, com alguns fios soltos, exatamente como no dia em que eu quase não resisti a ela na oficina. Mantive os olhos nela sem saber o que dizer e ficamos nesse silêncio por algum tempo. Senti que eu podia ficar a noite inteira ali, apenas olhando para ela e valeria a pena.

— Você perdeu o bolo. — Comentou finalmente, neutra, mas havia algo em sua voz que parecia triste. Cruzou os braços sobre o parapeito e desviou os olhos de mim. — Uma pena, estava realmente gostoso...

— Eu... eu só não... — Fui incapaz de formular a explicação, não havia nada que eu pudesse dizer que não me fizesse parecer um maricas covarde.

— É, eu sei... — Ela deu de ombros, mas eu desconfiei que não sabia. Não tinha como saber.

Era uma noite amena, o calor da tarde tinha se esvaído, e a brisa gelada que soprava indicava chuva de verão por vir. Natalie arrumou os fios, que o vento havia bagunçado, e voltou a me fitar.

— Você vai descer aqui? — Perguntei, temendo e ansiando a resposta.

— Você já estava indo embora, por que eu devia descer?

Não soube o que responder, ou melhor, eu sabia o que responder, eu só não consegui dizer.

— Foi o que eu pensei... — Sorriu um tanto decepcionada. — Boa noite, Daryl.

Entrou em seguida e eu quis socar minha própria fuça. Bufei pra mim mesmo.

Apenas seguir em frente e foda-se. Repeti, antes de finalmente usar minha chave e entrar na oficina. Parei na porta dos Cooper e bati, ao invés de tocar a campainha. Peter abriu momentos depois e não fez a melhor das caras quando em viu.

— Seu relógio está com problemas, é? — Perguntou irônico, barrando minha passagem.

Respirei fundo e meneei a cabeça.

— Eu não pude vir antes.

— Por que? — Cruzou os braços, como se esperasse por uma desculpa esfarrapada.

— Porque eu sou um Dixon. — Admiti, dando de ombros, não havia outra forma de explicar aquilo.

Cooper riu, negando algumas vezes.

— Que resposta de merda Daryl, ela é tão ruim que chega a ser genial. Mas já cortamos o bolo, você perdeu sua chance.

— Eu não vim pelo bolo. — Nos encaramos por meio segundo e eu percebi que teria que falar aquilo uma hora ou outra, então... — Quero levar a Natalie em um lugar.

Ele franziu as sobrancelhas e tombou um pouco a cabeça de lado, os braços ainda cruzados, muito o Peter Cooper de antes que botava medo em todos os traficantezinhos. Não me mexi.

— Então você se atrasa para o aniversário da minha filha, sabendo que isso vai chateá-la, sem ter uma justificativa plausível e quer, não só, que te deixe entrar na minha casa e vê-la, você quer sair com ela daqui, sendo que eu disse especificamente que vocês não sairiam das minhas vistas? Ou você é muito estupido, ou é muito corajoso, Daryl Dixon. — Riu um tanto incrédulo. — Por acha que eu concordaria com isso?

— Não sei... Honestamente eu acho que não concordaria se estivesse no seu lugar. — Dei de ombros, sendo sincero.

Peter ficou calado, me fitando por um tempo, e então revirou os olhos, abrindo mais a porta e me dando passagem. Admito que fiquei um tanto surpreso com aquela atitude, eu não conseguia entender bem a linha de raciocínio que o Cooper seguia.

Assim que passei do batente ele me deteve, colocando a mão no meu peito, como se tivesse esquecido de me dizer alguma coisa.

— Já sei, se eu fizer algo estúpido você vai cortar meu pau, acertei? — Perguntei, citando algo que ele sempre me dizia, mas Peter negou algumas vezes, me olhando como se eu fosse tapado.

— Eu ia dizer pra você fazê-la se divertir. A mãe dela ligou hoje, eu ouvi Natalie discutindo, ela disse que está tudo bem, mas eu sei que a conversa a abalou. Então dê a ela algo mais interessante pra pensar, é um dia especial.

Concordei com um aceno e ele se afastou. Dei dois passos em direção a escada, mas acabei parando, eu precisava perguntar:

— Por que me deixou entrar?

Vi Peter rir de canto, caminhando até o sofá e se sentando, a final do campeonato estadual de baseball passava na TV.

— Você é um Dixon, o que significa que estar aqui agora é dez vezes mais difícil pra você do que pra qualquer outra pessoa, mesmo assim, foram só três horas... Você está tentando. Simpatizo com a sua causa. — Riu meio de canto, voltando os olhos para o jogo. — Além do mais, não é minha decisão, é da Natalie. Então melhor você subir e torcer pra ela não te ameaçar com outra faca.

Assenti ainda surpreso, eu não entendia bem como Peter Cooper tinha passado do noiado que tentou me matar uma vez, para aquele homem que continuava me dando todas as chances com a filha dele, não fazia sentido... Mas não era hora de questionar aquilo.

Subi as escadas, sentindo que meu coração era a bateria de um dos rocks que Merle ouvia, e parei na frente da porta de Natalie, que estava aberta.

Ela estava sentada na cama, encostada na cabeceira, usava fones de ouvido e segurava o diário, as pernas expostas estavam esticadas uma sobre a outra no colchão, tirei a atenção dali o mais rápido que podia e nossos olhos se encontraram.

— Você não desceu... — Expliquei, enquanto encostava no batente da porta e roía a lateral de um dos polegares.

Natalie fechou o diário e pousou as duas mãos sobre ele, me encarando por um momento.

— Você está três horas e meia atrasado, acho que foi bem justo eu não ter descido. — Deu de ombros um tanto presunçosa.

— Você vai ter que descer de qualquer jeito, porque nós vamos dar uma volta. — Avisei com o coração aos saltos de expectativa.

Ela podia dizer não...

— Não podemos dar uma volta lembra? Estou de castigo quando se trata de você. — Ergueu o corpo um pouco mais, como se aquele assunto a tivesse interessado.

— Bom, você não está mais, pelo menos não hoje...

— Sério? — Perguntou um tanto incrédula e eu assenti.

Natalie praticamente deu um pulo da cama, dando um sorriso enorme, daqueles que fazia as bochechas dela ficarem salientes, daqueles que eu gostava.

— Onde vamos? — Questionou empolgada, enquanto soltava o cabelo e ajeitava a roupa.

Só então eu percebi que era um vestido, eu nunca a tinha visto de vestido, perdi meus olhos ali por um tempo, e só acordei pra realidade quando Natalie saiu do meu campo de visão e entrou no banheiro em busca de alguma coisa.

— Não posso dizer onde é. — Respondi finalmente.

— É uma surpresa? — Ela surgiu na porta do banheiro e percebi que penteava o cabelo.

— Se quiser chamar assim... — Dei de ombros.

Chamar de surpresa colocaria muita expectativa naquela porcaria, mas sim, era uma surpresa, não que eu fosse admitir isso em voz alta.

— Tudo bem, então vamos! — Voltou para o quarto com um sorriso ainda maior.

— Você vai assim? — Apontei o vestido.

Natalie se encarou no espelho por um momento e franziu as sobrancelhas.

— Algo errado com a minha roupa? Não me diga que vai querer controlar o que eu visto? — Ela foi rude, alcançando um batom na penteadeira.

— Não. — Me apressei em responder, antes que ela ficasse ainda mais brava. — Só estou perguntando, porque nós vamos de moto, garotas não costumam sair de moto e vestido.

— Como sabe? Já levou muitas garotas na sua garupa? — Perguntou, me olhando pelo espelho enquanto passava batom.

Me detive naquele movimento por um tempo e acabei negando com um grunhido qualquer.

— Bom está calor, e eu ganhei esse vestido de aniversário, novinho e muito bonito, obrigada por elogiar. — Ironizou com um sorrisinho. — Então eu vou com ele e pronto. — Parou na minha frente e fazendo um movimento com os lábios para espalhar o batom.

Fitei sua boca como se tudo se passasse em câmera lenta, antes da sanidade gritar comigo e eu acordar pra vida.

— Tanto faz... — Dei de ombros e Natalie saiu andando na frente. Era mesmo um vestido bonito.

Peter ainda estava na sala, vendo o mesmo jogo de baseball.

— Nada de voltarem muito tarde, ainda quero os dois na oficina amanhã. — Advertiu, dando uma boa olhada em nós dois.

Natalie deu-lhe um beijo e ele pediu que a filha levasse o celular e tivesse juízo. Talvez porque ainda se lembrasse bem do que tinha acontecido dá última vez que saíramos juntos.

Ela me deu o aparelho, para que eu guardasse no bolso, e saiu na frente, antes de jogar outro beijo para o pai.

Cooper esperou que a filha se virasse, para fazer um gesto com os dedos indicador e médio apontando dos olhos dele pra mim, ilustrando perfeitamente que estava de olho.

Assenti com um gesto de cabeça e saí, fechando a porta.

Tirei a moto de Natalie da garagem, ainda estava no mesmo lugar onde eu deixara da última vez que tínhamos andado, antes de eu partir com Merle.

— Então, não vai mesmo dizer onde vamos? — Indagou, me dando espaço para passar.

— Não. — Respondi, subindo na moto. — E você devia pegar uma jaqueta, vai esfriar.

— Passei calor por dias, nem morta que vou pegar uma blusa. — Negou, subindo na moto e demorando um tempo extra para prender o vestido entre as pernas. Era uma teimosa mesmo. — E se fizer mesmo frio, você me dá a sua jaqueta, ué. — Sugeriu, quase no meu ouvido, passando os braços pela minha cintura.

Desconfiava que Natalie fazia aquelas coisas sem ter o mínimo de noção do efeito que elas tinham em mim. Dei a partida e senti suas mãos escorregarem por dentro dos bolsos da minha jaqueta, unindo ainda mais nossos corpos.

Eu nunca diria a ninguém, mas andar com Natalie Cooper na minha garupa era um dos meus momentos preferidos na vida.

Segui na estrada, vendo as luzes passem por nós e desejando que o caminho fosse mais longe só pra poder tê-la mais um tempo tão perto de mim.

— Não acredito! — Ela exclamou animada, assim que percebeu a rota que eu tomava.

Peguei uma estrada adjacente, e logo estávamos em frente a antiga caixa d'agua de Dawsonville. Parei no lugar e Natalie desceu em seguida.

— Bem que você disse que era bem protegido. — Comentou, vendo a cerca elétrica que se estendia por toda a propriedade. — Mas pensei que você não podia vir aqui, por causa da sua história com os donos.

— Agora podemos. — Mostrei a chave que Walt Jenkins me dera mais cedo.

— Como conseguiu isso?

Dei de ombros, eu não precisava contar.

— Quer entrar e conhecer o lugar ou não? — Apontei, querendo mudar de assunto.

— Mas é claro! Que pergunta boba.

O Mirante de Dawsonville não tinha nada demais, apenas uma antiga caixa d'água em forma de torre, reformada por dentro para virar uma "instalação de observação de óvnis", segundo o senhor Gavin Jenkins. Um desperdício de dinheiro, principalmente se levássemos em conta que nem pra isso o lugar servia realmente. Talvez por isso cobrassem tão caro no aluguel daquela porcaria, e talvez por isso também ninguém mais quisesse alugar.

Abri a porta e a primeira e única coisa que vimos foi a grande escada em espiral que levava ao topo.

— Então, pronta pra exercitar as pernas, garota da cidade? — Perguntei, mostrando os vários degraus que nos esperavam.

— Não me subestime, tenho pernas fortes. — Se gabou tomando a frente.

— É isso que vamos ver... — Retruquei, me lembrando dá canseira de ter subido e descido aquilo pelo menos umas três vezes durante a tarde.

Walt não ficou muito feliz com a minha visita, e menos ainda em alugar o lugar pra mim, mas, pelo visto, a notícia que Natalie era minha namorada se espalhara por toda a parte e Peter tinha contado pra cidade toda sobre o aniversário da filha.

Talvez ele tenha falado isso na loja de roupas dá senhora Jenkins e ela cuidou de convencer o filho, sorte minha ela ter passado em casa pra almoçar, eu suponho. E ainda mais sorte ela ter achado o gesto romântico.

Não, eu não achava romântico levar uma garota para uma torre velha no meio do mato, era só a porcaria de um lugar que Natalie queria conhecer, então...

Claro que o cretino do Walt Jenkins ainda me cobrou os olhos da cara pelo aluguel de uma noite. Ele não perderia a oportunidade de me fazer pagar pela invasão de antes, mesmo que por tabela, principalmente levando em consideração que ninguém alugava aquela merda há meses.

Com certeza eram as escadas. Pensei enquanto continuava subindo.

Natalie ainda seguia na frente, fazendo comentários empolgados sobre tudo.

Finalmente chegamos no topo da escada e eu abri o alçapão que nos separava do piso principal. Subi primeiro e estendi minha mão para ajudar Natalie.

— Uau! — Exclamou, olhando em volta, assim que colocou os pés no lugar. — Isso é incrível!

Dei de ombros e enfiei as mãos nos bolsos, enquanto ela olhava tudo. Sinceramente eu não achava o lugar grande coisa, não passava de um salão redondo enorme, rodeado por vidros, que davam uma visão privilegiada da cidade toda. Em um das laterais um balcão de bar fazia a vez de uma cozinha, com uma pia e algumas tomadas, da época que faziam festas ali.

Por mais que a vista fosse ótima a logística não ajudava, acredito que por esse motivo tenham desistido de usar o lugar pra esse fim. E já que a população de Dawsonville não se interessava pelo estudo dos astros, ou dos óvnis, como o senhor Gavin Jenkins, o mirante ficou abandonado com o tempo, sendo apenas um gasto extra para a família, não que aqueles burgueses metidos de merda se preocupassem com gastos extras. Os malditos eram donos de metade da cidade.

Natalie se aproximou do vidro e ficou olhando lá fora por um tempo.

— Eu estou aqui há meses e nunca me dei conta do quão bonita essa cidade é. Obrigada, Baby Dix. — Sorriu, voltando os olhos pra mim.

Deus como eu gostava daquele sorriso. De repente o dia simplesmente valeu a pena, ter que encarar o escroto do Walt Jenkins, o dinheiro, as horas gastas pra tirar as toneladas de pó daquele lugar, tudo...

— Tem mais uma coisa. — Avisei, caminhando até a parede e pressionando um dos botões.

O teto começou a se abrir lentamente, revelando um céu totalmente estrelado. Aquilo sim era uma bela vista.

O Sorriso de Natalie se intensificou ainda mais, enquanto ela voltava a cabeça para cima e simplesmente encarava as estrelas. Caminhei até perto dela, observando sua silhueta banhada pela luz da lua cheia, era quase irreal que estivéssemos mesmo ali.

— Feliz aniversário, Bochechas. — Desejei, e ela tirou os olhos do céu pra me fitar.

— Obrigada. — Agradeceu, e eu observei suas íris brilharem, como se suas orbes possuíssem uma galáxia própria.

Então ela simplesmente me abraçou, feliz, praticamente pulando nos meus braços.

Eu nunca conseguia entender o quão simples e natural aquilo era para Natalie Cooper, ela colava seu corpo no meu como se fosse o gesto mais banal de todos, enquanto pra mim, além das limitações comuns e da dificuldade que eu possuía em retribuir, era sempre uma granada de sensações. Ter aquela garota em meus braços tinha um efeito em cada célula minha. Não dava pra mensurar o quão importante era.

— Esse é o melhor presente de aniversário que já me deram, mas não conta pro meu pai, ele me deu dezoito coisas hoje, temos que dar um crédito pra ele. — Riu, se afastando levemente pra me fitar, embora meus braços entorno de sua cintura não a deixasse ir muito longe.

— Não é um presente, é só uma coisa que eu lembrei que você queria fazer, nada demais. — Dei de ombros, soltando-a e dando um passo pra trás.

— Você nunca vai parar de diminuir a importância das coisas que faz, não é? — Ela cruzou os braços e revirou os olhos.

Não respondi. Natalie tinha aquela mania de achar as coisas que eu fazia muito mais importantes do que eram de verdade, era só isso.

Caminhei pra longe dela, indo até o balcão, mesmo que meus olhos ainda estivessem fixados em sua figura parada ali no meio.

— Trouxe cerveja. — Avisei, tirando duas garrafas de um isopor cheio de gelo que eu trouxera mais cedo.

Olhei lá dentro e vi uma caixinha de veludo preto. Idiotice. Fechei a tampa, esquecendo do objeto, garotas como Natalie Cooper não iam gostar de uma porcaria como aquela, eu nem sabia por que tinha comprado...

Abri as duas cervejas e entreguei uma para Natalie, que me encarava com aquele brilho nos olhos outra vez.

— Como eu disse: o melhor presente de todos. Um brinde a isso. — Repetiu, erguendo um pouco a garrafa.

— Para de encher, Bochechas. — Tomei da minha própria cerveja, sem fazer o maldito brinde e ela riu abertamente.

Se afastou alguns passos de mim e rodopiou ali no meio, como se estivesse aproveitando o espaço, seu vestido flutuando no ar e seu cabelo brilhando sob a luz da lua, como se ela fosse uma personagem de conto de fadas... Não que eu acreditasse em contos de fadas.

Bebi mais um gole da minha cerveja, enquanto a risada sem motivo de Natalie preenchia o ambiente, foi impossível não deixar um sorriso escapar, a alegria dela era contagiosa.

Eu realmente gostava daquela garota da cidade grande... Que merda.

Natalie simplesmente se deitou no chão, olhando para o céu por um momento, bateu a mão direita ao seu lado, para que eu me juntasse a ela e eu o fiz.

Acendi um cigarro e traguei, vendo a fumaça se dissipar acima de nós e o entregando para Natalie depois disso. Ficamos mais de meia hora calados, apenas olhando o céu e desfrutando do cigarro e da cerveja.

Volta e meia eu admirava o perfil de Natalie, como se precisasse memorizar cada traço dela, ou então, apenas me pegava pensando se aquilo era real mesmo ou se eu ainda estava em Malcon sonhando com ela.

— Quer saber de uma coisa engraçada? — Perguntou, virando levemente a cabeça para o meu lado. Eu assenti minimamente. — Espero por esse aniversário faz um tempo. Sempre disse pra mim mesma que quando eu fizesse dezoito tudo mudaria, seria diferente, mas eu acabei de fazer dezoito e nada mudou, eu ainda sou a mesma, nenhuma verdade universal foi implantada no meu cérebro, nenhum amadurecimento instantâneo. Tudo ainda é exatamente igual.

— Você fala como se isso fosse uma coisa ruim. — Comentei, sem entender o ponto dela.

— Eu pensei que seria uma pessoa diferente a partir de hoje, mas eu ainda sou eu, exatamente a mesma de ontem. — Ela voltou a olhar as estrelas.

— Por que você quer mudar? Não tem nada errado com você, Bochechas.

Natalie não respondeu, se virou pra mim, apoiando no cotovelo para me fitar e assim ficou, em silêncio, como se estivesse esperando que eu dissesse mais alguma coisa.

— O que? — Perguntei, sem compreender a expressão dela.

— Estou esperando você completar com alguma piada ou crítica, por que se você não completar, esse vai ser o primeiro elogio que você me faz. — Sorriu de canto.

— Não tem nada errado com você. — Repeti, antes que meu cérebro me sabotasse de alguma forma.

Ela sorriu, o melhor sorriso de todos, ele chegava até os olhos, fazia-os brilharem, e eu mergulhei ali, como se fosse um viciado. Hipnotizado, rendido.

Natalie voltou a se deitar, mas continuou olhando pra mim. Me coloquei de lado, na mesma posição que ela estava e assim ficamos por um longo tempo, apenas olhando um nos olhos do outro, como se pudéssemos ler nossos pensamentos.

A brisa entrava pelo teto aberto e fazia os fios castanhos balançarem, estendi minha mão e tirei alguns que haviam parado na bochecha dela. Assim que sentiu meu toque sobre sua pele, Natalie fechou os olhos, o que de alguma forma me impulsionou a acariciar seu rosto com as costas dos meus dedos.

Aquela garota tinha um tipo de efeito anestésico em mim, era como se ela fosse capaz de me fazer esquecer tudo a minha volta, desejei que realmente não existisse mais nada, que fossemos apenas nós dois no mundo, e então não haveria coisa alguma que pudesse tornar aquilo errado.

— O que você está pensando, Bochechas? — Perguntei baixinho.

Ela abriu os olhos para me fitar e foi como se a alegria sumisse deles, voltou o corpo pra frente, olhando o céu, calada por alguns segundos.

— Eu não quero dizer... — Respondeu como um lamento.

— Por que? — Devolvi, enquanto meu peito se contorcia em um misto de angústia e preocupação, era como se aquele momento que beirou a perfeição estivesse escorrendo pelos meus dedos como areia.

Natalie suspirou, olhou pra mim por um momento e depois novamente para as estrelas.

— Não quero dizer, porque às vezes eu digo coisas que estragam tudo, eu não quero estragar isso.

Entendi o que aquela resposta queria dizer, era sobre o que ela tinha me dito no carro antes que eu partisse com Merle, era sobre ela revelar estar apaixonada por mim e eu ter ido embora como um cretino.

Não era o que Natalie dizia que estragava as coisas, era o que eu fazia depois. E eu já estava farto de estragar tudo. Me virei pra encarar o céu também. Talvez eu simplesmente devesse parar de estragar, então.

— Era eu. — Revelei, sem encará-la. — No telefone aquele dia, era eu...

Não sei bem porque, depois de semanas, decidi contar que tinha ligado. Eu simplesmente queria que ela soubesse, queria dizer alguma coisa que mantivesse aquele momento.

Percebi Natalie virar o rosto pra mim, mas ainda mantive meus olhos no céu. Ela sorriu de canto.

— Eu sei. — Falou naturalmente, e tive que me virar pra fitá-la, por não ter entendido aquela resposta. — Eu sempre soube que era você, Baby Dix.

— Mas eu...

— Você mente muito mal. — Riu, logo depois de me interromper.

Não respondi, não tinha mesmo o que dizer naquele momento. Eu pensei que contar aquilo para Natalie mudaria tudo, mas ela sabia desde sempre e as coisas continuavam iguais. Ainda erámos amigos. Ela não comentou ou fez nada que mudasse isso, mesmo sabendo que eu havia voltado por ela.

Afinal eu precisava ser honesto, pelo menos sobre isso, eu voltei sim por causa de Natalie Cooper. E saber disso foi capaz de mexer com a minha cabeça como nenhuma outra coisa.

Eu não conseguia pensar em mais nada, era como se o meu mundo girasse em torno daquela garota bochechuda, mas ainda era eu. Eu e todos os meus traumas, todas as merdas que vinham comigo. Não era como se desse pra fugir da bagagem que eu trazia, contudo percebi que também não tinha como fugir do que eu sentia por Natalie...

Era como estar entre a cruz e a espada, e o pior de tudo era começar a perceber que talvez as coisas não fossem mais as mesmas pra ela, eu quase a beijara duas vezes e Natalie sequer tocou no assunto, agindo como se não tivesse acontecido.

Vai ver o que ela dissera aquela noite dentro da caminhonete não fosse mais verdade, ela não estava mais apaixonada por mim... Eu devia me sentir aliviado, mas alívio era a última coisa que eu conseguia sentir naquele momento.

— Mas agora que você me contou, posso perguntar uma coisa? — Natalie indagou, depois de vários segundos em silêncio.

— Claro. — Respondi, um tanto curioso com o que ela queria saber, não pensando no quão ariscado aquilo podia ser.

— O que você fez todo esse tempo que esteve fora? — Acendeu outro cigarro, enquanto esperava pela resposta.

— Coisas do Merle. — Me sentei, dando de ombros, como se isso explicasse tudo.

— E isso significa trabalho de origem duvidosa, brigas, drogas e... mulheres. Certo? — Ela se sentou também, me estendendo o cigarro.

— Basicamente. — Devolvi, sem dar muita importância aquilo, Merle realmente não tinha jeito, todo mundo sabia.

— Então você se divertiu? — Natalie questionou, enquanto eu tragava. — Conheceu pessoas legais, tipo a Agnes?

Soltei a fumaça, fazendo o meu melhor para não engasgar com ela. Entendi o que ela estava perguntando. Natalie queria saber se eu estivera com outras garotas.

Não fazia sentido mentir sobre aquilo, mesmo assim eu ainda achava estranho contar. Engoli em seco e praticamente grunhi uma afirmativa qualquer.

Natalie tirou os olhos de mim e encarou o chão enquanto assentia.

— Que bom... — Soltou, parecendo pouco sincera. — Todo mundo precisa se divertir ás vezes.

— Mas e você, conheceu alguém? — Indaguei, querendo desesperadamente mudar de assunto, mas tão logo fiz a merda da pergunta, percebi que não queria saber a resposta.

— Conheci... — Ela bateu a cinza do cigarro dentro da garrafa vazia de cerveja.

É. Eu realmente não queria saber daquela merda.

— Bom pra você. — Joguei um tanto impaciente, me levantando.

Era como se todo o meu sangue estivesse fervendo nas minhas veias, exatamente do mesmo jeito que eu fiquei quando aquele velhote maldito elogiou a Natalie.

Ela voltou a se deitar, encarando as estrelas por um tempo e dando uma tragada profunda no cigarro.

— Na verdade não foi... — Comentou como se não fosse nada.

Voltei minha atenção pra ela, confuso com aquela frase, mas incapaz de perguntar o que significava. Me sentei novamente e Natalie me estendeu o cigarro. Fiquei encarando-o por um tempo, como se aquilo fosse me ajudar a ler sua mente e entender o que aquilo significava.

— Foi o pior mês da minha vida, pra ser honesta. — Soltou, virando um pouco a cabeça pra mim.

Foi só então que eu me toquei da besteira daquela conversa. Claro que foi o pior mês da vida dela, uma amiga tinha sido assassinada, como não seria?

Me deitei novamente, me sentindo um estúpido por ter mesmo continuado com aquele assunto. Seja lá o que tivesse acontecido naquelas malditos vinte o oito dias, não importava mais.

— Sinto muito — Suspirei, um tanto culpado.

Eu joguei a bituca de cigarro na garrafa e Natalie negou, fazendo um movimento mínimo de ombros, demonstrando que a culpa não era minha. Virou a cabeça na minha direção por um momento e então segurou minha mão.

— Eu não queria ficar triste agora. Desculpe. — Voltou os olhos para as estrelas.

— Não é sua culpa. — Respondi, apertando mais a mão dela na minha.

Nossos dedos se entrelaçaram, se encaixando como se fossem feitos pra isso. Ficamos ali mais um tempo, calados, era o momento de maior paz que eu tinha desfrutado na vida, como se nenhum problema existisse ou pudesse me alcançar, era como se Natalie Cooper fosse o meu paraíso particular só por estar ao meu lado. Percebi que a simples companhia dela me fazia bem.

Natalie se levantou de repente, apoiando o peso nas mãos pra me encarar.

— Eu me recuso a ficar triste hoje. — Decidiu, se colocando de pé. — Vem dançar comigo, Daryl Dixon. — Estendeu a mão pra que eu me levantasse também.

Me sentei, encarando-a como se fosse louca.

— Eu não danço, você sabe, além do mais, não está tocando nenhuma música. — Retruquei, e ela revirou os olhos.

Caminhou até minha jaqueta e pegou o celular, mexendo nele por uns segundos, até que uma música iniciou, com toques suaves de piano.

— Agora está tocando uma música. — Sorriu vitoriosa, voltando a estender a mão.

— Mas eu ainda não danço.

— Você se atrasou três horas para o meu aniversário, lembra? — Acusou em um tom divertido, sacudindo a mão que eu acabei pegando.

Me levantei e dei um passo mais perto dela, a voz masculina do cantor ecoou pelo mirante e eu engoli em seco por algum motivo.

— Isso não vai dar certo, eu vou pisar no seu pé. Você é louca. — Tentei argumentar, mas Natalie se aproximou outro passo e puxou minhas mãos, colocando-as em sua cintura.

— Cala a boca, Baby Dix. — Riu, envolvendo o meu pescoço e colando ainda mais nossos corpos. Tremi involuntariamente.

Nossos pés começaram a se mover juntos, de forma sutil e ritmada. A música não exigia mais que um balançar pra lá e pra cá.

"Quando você não está perto de mim, eu sou incompleto"

Aquela simples frase da música, de um jeito estranho e sem explicação, fez todo o sentido...

— Viu? Não é dão difícil? — Natalie sussurrou no meu ouvido e senti os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Não é. — Concordei, mas, pra ser honesto, eu concordaria com qualquer coisa que ela dissesse naquele momento.

Até me esqueci do quanto aquela cena pareceria ridícula, ter Natalie tão perto tinha esse efeito em mim. Ela afastou um pouco a cabeça e me fitou por um tempo. Era como se aqueles olhos negros tivessem o poder de mudar meu mundo.

— Obrigada por me trazer aqui, eu adorei. — Agradeceu, e eu podia sentir o hálito dela nos meus lábios, perto demais pra que eu mantivesse minha sanidade.

— Eu já disse que não é grande coisa. — Retruquei, como se aquilo pudesse me livrar do magnetismo dela.

— E eu já disse que é sim. — Sorriu e os nossos narizes se tocaram por um breve instante.

Merda! Como é que fazia pra resistir à vontade insana de beijar aquela bochechuda adorável?

Me obriguei a dar um passo pra trás e soltá-la.

— A música não acabou. Onde o senhor pensa que vai, Baby Dix? — Ela colocou as mãos na cintura e se fez de brava.

— Eu já disse que não danço. — Dei de ombros me afastando totalmente.

Natalie acabou rindo, como se não fosse nada. Revirou os olhos e ergueu as duas mãos se afastando em direção ao balcão.

— Okay, já que não podemos dançar, vamos beber. — Sugeriu e eu gelei dos pés à cabeça, me lembrando do que tinha dentro da caixa de isopor, junto com as cervejas.

— Deixa que eu pego! — Exclamei, tentando chegar até o balcão, mas Natalie já tinha aberto o isopor.

— Pode deixar, já estou aqui. — Devolveu normalmente, tirando duas garrafas de lá. — O que é isso? — Ergueu a caixinha de veludo na mão e meu coração gelou.

— Não é nada. — Me apressei em dizer, querendo pegar aquilo da mão de Natalie, mas ela já tinha aberto.

Deu um daqueles sorrisos genuínos quando viu o que havia no interior.

— Que graça. De quem é? — Perguntou, tocando a peça com o dedo indicador.

— Eu comprei... — Dei de ombros como se não fosse nada, ainda dividido em dizer se tinha comprado pra ela ou não.

— Pra mim? — Os olhos dela brilharam em expectativa e eu assenti, murmurando uma afirmativa. — Não precisava comprar um presente, Daryl. — Natalie sorriu ainda mais, claramente surpresa, o sorriso enorme e a emoção palpável na voz.

— Não é um presente. — Respondi de pronto.

O que seria menos ridículo? Eu dizer que tinha me preocupado em dar um presente, ou falar a verdade e admitir que comprei aquilo meses atrás em Malcon, porque me lembrei de Natalie assim que eu vi?

— Tudo bem, já entendi, você tem alguma coisa contra presentes. — Ela riu, tirando o objeto da caixinha.

Era um colar. Cordão de couro e um pingente prateado de asas de anjo, uma coisa boba e sem grande valor, eu nem devia ter pensado em dar ou em trazer comigo. Mas eu era um grande estúpido.

— Eu adorei! — Me deu outro daqueles abraços do nada, se afastando em seguida e voltando a olhar o pingente. — Por que asas?

— Sei lá... — Comecei a roer a lateral dos dedos. Como eu explicaria pra Natalie que asas de anjo me lembravam ela? Engoli em seco. — Asas são coisas de espíritos livres, eu acho.

— Acha que eu sou um espirito livre? — Ela sorriu, surpresa, e eu assenti, preferindo omitir o fato de que as asas eram de anjo, porque, pra mim, ela também era um tipo de milagre. — Você coloca pra mim? — Pediu, me entregando o colar e se virando de costas.

Percebi a mesma música começar a tocar outra vez, como se estivesse no repete.

Fiquei observando enquanto Natalie levantava o cabelo, segurando-o com uma mão, expondo o pescoço para que eu colocasse o pingente.

Passei minha mão na frente dela, puxando o cordão para então fechá-lo, sentindo meus dedos roçarem na pele macia, enquanto eu o fazia. A alça fina do vestido azul escorregou pelo ombro alvo e eu percebi quanto Natalie estava arrepiada.

O desejo de tocá-la, ou de simplesmente beijá-la, entre o pescoço e a clavícula era quase dolorido, se espalhava por todo meu corpo tão rápido como o efeito de uma droga.

Percebi que se eu não me afastasse naquele instante seria bastante difícil esconder os efeitos que aquele desejo causava em mim.

— Pronto. — Minha voz saiu tão rouca que eu mal reconheci.

Pigarrei algumas vezes e me afastei em direção as enormes janelas de vidro. Natalie segurou o pingente por alguns segundos e sorriu, se aproximando de mim e tentando ver o próprio reflexo nos vidros.

— Como ficou?

— Bom... — Dei de ombros, como se o fato dela ter algo meu no pescoço não mexesse com a minha sanidade.

— Eu amei, é lindo. Obrigada. — Se aproximou e se inclinou na minha direção, eu previ que ela me daria um beijo no rosto em agradecimento, mas não aconteceu.

Como se tivesse se lembrado de alguma coisa Natalie deu um passo pra trás. Claro, a maldita promessa.

— Então o que acha daquela cerveja agora? — Perguntou animada, se virando na direção que eu deixara a caixa.

Sem pensar muito segurei a mão dela, detendo-a de prosseguir. Natalie olhou dos nossos braços, esticados entre nossos corpos, pra mim, sem entender muito bem minha reação.

— Preciso te dizer uma coisa.. — Falei, sentindo a voz se perder na minha garganta.

— Estou ouvindo. — Ela se aproximou quatro passos, mas não soltou minha mão.

Mas que porra eu estava fazendo? Respirei fundo e mergulhei naquelas íris negras. Natalie franziu as sobrancelhas, esperando que eu continuasse. Desci os olhos por seu rosto, parando em seus lábios. Eu era mesmo muito estúpido, mas foda-se.

— Você se lembra daquela promessa? — Perguntei, olhando para os meus próprios pés.

— Eu te fiz duas...

Sim ela tinha feito duas, uma delas era sobre não desistir de mim, a primeira promessa que ela me fez, pelo menos essa não era estúpida como a do beijo. Na verdade era, mas não naquele momento.

— A segunda. — Respondi, me sentindo ridículo por estar tocando naquele assunto.

Natalie assentiu brevemente, me esperando terminar, mas eu não sabia bem como continuar e nem se queria continuar.

Dei um passo pra frente, a mão direita de Natalie ainda estava na minha, vi quando ela engoliu em seco, tremendo levemente. Eu realmente queria aquilo.

Foda-se!

— Eu odeio aquela maldita promessa. — Sussurrei, quando nossos narizes se tocaram.

— Eu também...

Nossos olhos se procuraram, era como se nossas respirações estivessem equiparadas, e de repente, tudo que importava naquele momento estava bem ali na minha frente.

Toquei o rosto de Natalie e ela fechou os olhos, passei o polegar em seus lábios e um suspiro escapou por eles, como um convite que não pode ser recusado. Escorreguei minha mão para a nuca dela e terminei com a distância que ainda havia entre nós.

Nossas bocas se tocaram e foi como se mil fogos de artificio explodissem dentro de mim. Era doce e macio, diferente de qualquer outro beijo, talvez porque, pra mim, beijos não eram grande coisa e pareciam sempre iguais.

Mas aquele beijo não era como nada que eu já havia experimentado. Começou doce e calmo, totalmente o inverso das batidas do meu coração naquele instante, ou aquele seria o coração de Natalie batendo contra o meu peito?

Ela não tinha apenas perfume de baunilha e framboesa, tinha gosto disso, mesmo que o álcool e a nicotina se misturassem em nosso paladar, seus lábios eram macios e quentes, exatamente como seus dedos, que soltaram minha mão e sumiram pelo meus braço, ao mesmo tempo em que sua outra mão afundava no meu cabelo.

Senti Natalie apertar meus bíceps, ao mesmo tempo eu que eu cingia sua cintura, deixando minha outra mão escorregar de sua nuca, e descer por seu pescoço, clavícula e ombros. Pude apreciar a pele dela se arrepiando sob o meu toque, fazendo com que algo explodisse e rugisse dentro de mim.

O beijo foi se tornando mais voraz, os toques mais intensos, prensei Natalie no vidro atrás de nós, sentindo nossos corpos se encaixarem, quando ela ergueu levemente a perna esquerda e apoiou-a no meu quadril. Apertei sua coxa, um tanto descontrolado e a ouvi gemer contra meus lábios.

Apoiei meu braço no vidro e cessei o beijo, temendo tê-la machucado. Recuei um pouco a cabeça e abri os olhos, Natalie ofegava, corada, a boca inchada e vermelha, com o batom levemente borrado. Nossos olhos se encontraram e eu percebi as íris negras ainda mais escuras, brilhando.

Natalie me beijou três vezes, leve e macio, como se estivesse testando alguma coisa.

— Então, mandar aquela maldita promessa pelos ares foi o meu verdadeiro presente de aniversário? — Perguntou, com os lábios roçando levemente nos meus.

— Você nunca vai esquecer essa coisa de presente? — Acabei rindo, na verdade senti que podia rir por dias.

— Eu posso esquecer até o meu nome, basta você me beijar desse jeito de novo. — Insinuou, exibindo um novo tipo de sorriso: Sexy. As mãos escorregando pelo meu pescoço, me causando todo tipo de arrepio.

— Acho que eu posso fazer isso... — Sussurrei, entre os lábios macios, enquanto os tomava novamente.

Apenas um pensamento na minha mente: eu devia ter feito aquilo antes.


Notas Finais


Aviso: Se você não está com um sorriso enorme no rosto agora, sinto dizer, mas você leu esse capitulo errado, vá ler de novo. uahsaushuaushaushau

Até que enfim!!!!!!! Eu devia ter colocado um fogos de artificio na cena uahsuashauhs

Eu disse que seria um beijo memorável!

Tenho umas mil coisas pra dizer desse cap, porque ele me causa sérios ataques de fofura, mas deixarei pra gente surtar junto nos comentários.

Ainda não sei quem narra o próximo, mas provavelmente é a Natalie.
Não vou dar previsão, pelos motivos que vocês já sabem.
Mas nos vemos logo.

Bjss e até!

Pra quem ficou curiosa com o colar, é esse aqui: http://i.imgur.com/xNvnBJs.jpg
E a música é essa: https://www.youtube.com/watch?v=L7QIYXGL8m8


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