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História Lifeline - Before the End - Cicatrizes


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Olá tudo mundo!!

Cheguei com capitulo novo, amém uahsuahsus. Mas antes de falar disso eu tenho MUITOOOOO o que agradecer!!
Batemos record de comentários no capitulo passado (MORTA DE FELICIDADE)
Eu sei que eu sempre digo isso, mas realmente os comentários de vocês são um incentivo e tanto. OBRIGADA DE VERDADE.
Vocês não fazem ideia do quão gratificante é ver minha humilde fic, sendo tão amada por todas vocês, obrigada mesmo, eu me sinto tipo uma mãe, Lifeline é meu bebê que está crescendo e ganhando o mundo uahsuahs


Voltando ao cap: Foi quase um parto escrever esse aushauhsu, eu mudei o narrador e testei várias cenas até achar o jeito certo de contar o que eu precisava.
Inicialmente esse cap teria bem mais coisas, porém, eu cheguei nas cinco mil palavras e achei que era melhor dividir em dois.
Então teremos 3 capítulos narrados pelo Daryl na sequencia (contando com o anterior)

Uma coisa MUITO IMPORTANTE sobre esse cap. Ele tem AVISO DE GATILHO (abuso/estupro) pensando nisso, eu separei a cena com esse sinal: ★ ★ ★
Se você é sensível a tal conteúdo é só pular o que estiver escrito no meio das estrelinhas e o cap ainda vai fazer todo o sentido, prometo.
SÉRIO, respeitem seus limites, a saúde emocional e mental é tão importante quando a física, okay?

Boa leitura.

Capítulo 23 - Cicatrizes


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Cicatrizes

 

 

• DARYL DIXON •

O vento frio soprava sem piedade, mas ele não era capaz de me manter focado. Estávamos voltando para casa, e era como se algo estivesse ficando para trás no mirante. Eu disse a Natalie que tínhamos que ir, porque trabalharíamos cedo, porém era uma mentira, eu a estava levando embora, apenas porque, se continuássemos lá, chegaríamos a um ponto que eu não sabia se queria chegar.

Quer dizer, meu corpo parecia desejar aquilo, mas ao mesmo tempo, algo na minha mente fazia parecer errado. Eu não estava acostumado com aquela coisa de desejo, era muito para lidar no mesmo dia.

Natalie desceu as mãos pelo meu abdômen, apertou mais seu corpo contra o meu, alcançando a borda da minha camiseta, senti ela levantar o tecido e tocar minha pele com a dela, um arrepio percorreu meu corpo. Segurei suas mãos, apertando-as levemente e a senti sorrir contra o meu ombro.

— Estou dirigindo, lembra? — Adverti por cima do vento.

— Isso tira sua concentração? — Falou em meu ouvido, e nossos olhos se encontraram pelo retrovisor.

Não respondi, apenas acelerei um pouco mais. Ela estava feliz, sabia disso pelo sorriso que vi refletido no espelho, e de alguma forma aquilo também me deixava feliz, mesmo que eu não soubesse se duraria ou não...

A cada quilometro mais perto da oficina, era como se eu me aproximasse um pouco mais da realidade.

Será que eu tinha feito a coisa certa mesmo? Será que foi certo deixar aquele beijo acontecer?

Eu sentia que estávamos fadados ao fim, antes mesmo que algo começasse. Talvez eu não devesse me importar com isso, afinal, mulheres iam e vinham, não era nada demais, Merle diria pra eu aproveitar aquele momento e pronto.

O problema é que eu não queria apenas um momento com Natalie Cooper. Ela não era apenas mais uma mulher que eu tinha conhecido no bar, com quem eu foderia de qualquer jeito, só pra poder ir embora logo.

Respirei fundo no momento em que virei a esquina da casa dela. Será que Natalie sentia, assim como eu, que estávamos em um carro em alta velocidade, acelerando ainda mais, mesmo sabendo que logo à frente existia uma curva da qual nunca poderíamos escapar? Engoli em seco, estacionando a moto no nosso destino.

Natalie desceu, se encolhendo um pouco mais na minha jaqueta, como eu tinha advertido, esfriou, e assim como ela disse, e eu realmente havia lhe dado a peça de roupa.

— Eu devia ter deixado você passar frio. — Brinquei, tentando focar em qualquer outra coisa que não fossem minhas preocupações, enquanto empurrava a moto para a garagem.

— Você não é esse tipo de cara. — Natalie retrucou.

A observei por um momento, desejando ser a pessoa que ela achava que eu era, mas sabendo não ser.

A oficina estava às escuras, iluminada apenas pela luz da lua, que entrava pelo portão que eu tinha acabado de abrir. De alguma forma aquela penumbra deixava tudo ainda mais triste, a noite havia acabado.

— A gente se vê amanhã então... — Tentei um meio sorriso, totalmente sem jeito.

— Não... — Natalie choramingou, jogando os braços no meu ombro. — Fica um pouco mais, podemos subir e ver uma filme, que acha?

Ela praticamente colou seu corpo ao meu.

— Peter não gostaria disso. — Tentei me esquivar.

— Ele está dormindo, Baby Dix, não vai acordar. É só a gente não fazer muito barulho. — Sussurrou a última parte no meu ouvido, e eu senti que aquilo tinha um outro significado.

Segurei as mãos de Natalie, tirando-as do meu pescoço e me afastando um passo.

— Eu tenho mesmo que ir, Bochechas.

Ela respirou fundo e assentiu, sorrindo em seguida e erguendo as mãos.

— 'Tá bom vai. — Tirou a jaqueta e me entregou.

Vesti a peça e olhei para Natalie Cooper um segundo mais, memorizando cada traço dela, os olhos negros e o sorriso calmo, antes dar dois passos em direção ao portão.

— Daryl? — chamou, e eu me virei.

A vi se aproximar em passadas rápidas e parar, praticamente colada em mim, tocando meu rosto de leve, mordendo os lábios por um instante, antes de se aproximar e me beijar.

Era como um terremoto destruindo todos os meus muros, a segurei de encontro a mim, sentindo o gosto do beijo dela nos meus lábios, mergulhando naquela sensação o quanto pude, mas me afastei antes que acabássemos na mesma situação em que ficáramos no mirante.

— Tem certeza que não quer ficar? — Perguntou. O convite soando mais tentador do que eu conseguiria admitir. — Pelo menos um pouco?

— Melhor não... — Respondi baixo, fazendo uma lista mental de todos os motivos pelos quais eu não devia.

Natalie assentiu devagar, dando um passo pra trás.

— Nos vemos amanhã então, Baby Dix.

— Nos vemos amanhã, Bochechas.

Ganhei a rua em passadas longas, sentindo o perfume de Natalie emanar da jaqueta. Para ser honesto, eu não fazia ideia de como as coisas seriam no outro dia, nunca houve um outro dia com nenhuma outra garota.

E me lembrar que eu trabalhava com Natalie e o pai dela tornou tudo um pouco mais assustador.

Contudo, no outro dia nada parecia errado, Peter não me tratou diferente, trabalhamos normalmente durante a manhã. Natalie acordou um pouco mais tarde e admito que minha barriga gelou quando a vi, afinal eu não sabia como ela agiria, eu estava preocupado com os dois extremos, talvez ela me ignorasse, ou talvez resolvesse agir como se fossemos um casal. A segunda opção me apavorou um pouco mais, admito.

Não aconteceu nada disso, ela agiu perfeitamente normal, suspirei aliviado por um instante e finalmente foquei no trabalho, fazendo render pela próxima hora.

Um conversível vermelho virou a rua, não era o tipo de carro que víamos em Dawsonville. Parou em frente a oficina e isso me deixou ainda mais atento. Havia uma moça no volante, cabelos negros e óculos escuros gigantes.

Um rapaz desceu do banco do passageiro, era alto, bronzeado de sol, cara de engomadinho rico, que malha em academia, com aquele cabelo cheio de gel e um queixo muito torto. Ele sorriu amigável, como se nos conhecemos há décadas.

— E aí, beleza? Eu queria saber se é aqui que...

— Não acredito!! — Ouvi a voz de Natalie logo atrás de mim e sem segundos ela e o garoto estavam abraçados, com ele levantando-a do chão.

Idiota.

— O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou, assim que o babaca riquinho a colocou no chão.

— Achou que deixaríamos o seu aniversário passar batido? — O cara retrucou, todo alegre.

Percebi a garota descer do carro, tirando os óculos escuros e revelando seus olhos puxados, em um tom quase caramelo. A japonesa, ou seja lá o que ela fosse, era tão ou mais riquinha que o idiota do queixo torto, dava pra ver isso no jeito de andar, nas roupas de marca, no salto extremamente alto, no cabelo perfeitamente cortado na altura dos ombros e principalmente nos lábios extravagantemente cheios, pintados de pink. Aquilo não podia ser natural.

— Claro que teríamos chegado no dia certo se o senhor Austin, aqui, não tivesse se perdido. — Explicou com uma voz cantarolada.

A morena abriu os braços para Natalie, que a recebeu com tanto entusiasmo, quanto ao cara.

— Eu não me perdi. — O tal Austin se defendeu e tudo que eu queria era terminar aquela merda e sair dali.

— Claro que se perdeu, e se recusou a pedir informação.

Natalie e a garota se encararam e reviraram os olhos juntas, eu voltei minha atenção para a porcaria do motor.

— Achei que estivesse cansada da minha vida monótona, Aimee. — Natalie comentou em um tom levemente acusatório.

— Cansei mesmo, por isso vim aqui pra te tirar da monotonia e do tédio. — A garota respondeu descontraída. — E claro eu vim esfregar minha viagens na sua cara.

— Você é tão vaca.

— Não mais que você.

As duas riram e Natalie me deu uma leve batidinha no ombro, ao mesmo tempo em que chamava, ou melhor, gritava, o pai.

— Esse é o Daryl. — Apontou pra mim assim que eu ergui a cabeça. — Esses são meus amigos de Washington, Aimee e Austin.

— Que falta de educação a minha. — O cara sorriu, perfeitamente amigável. — Eu estava falando com você, quando a Lih chegou sugando toda a atenção do mundo pra ela.

Lih? Encarei Natalie e ela parecia perfeitamente confortável com o apelido. Austin me estendeu a mão. Fiz menção muda a toda a graxa com a qual eu estava coberto. O engomadinho talvez desistisse de mim depois disso, mas na verdade foi o contrário.

— Nada que água e sabão não resolva. — Ele manteve aquele sorriso idiota, enquanto agarrava minha mão e sacudia algumas vezes.

— Prazer em te conhecer, Daryl. — A garota chamada Aimee sorriu também, embora um tanto mais contida, e, como se os céus atendessem minhas preces, Peter apareceu nesse instante e todas as atenções se voltaram pra ele.

Dei uma desculpa qualquer e sumi no interior da oficina, ao mesmo tempo em que Natalie iniciava outra rodada de apresentações.

Os quatro ficaram lá fora por um tempo, volta e meia eu podia ouvir as risadas, como se a conversa estivesse ótima.

Tentei focar no meu trabalho e esquecer todo o resto, talvez fosse até melhor que Natalie ficasse com amigos riquinhos e esquecesse de mim. Eu sempre soube que, seja lá o que houvesse entre nós, não duraria muito.

Com aqueles idiotas na cidade ela teria outras coisas pra fazer e eu pararia de ser sua distração...

Contudo, aqueles pensamentos mais me revoltaram do que reconfortaram e eu tive que usar todo meu autocontrole pra me manter calmo, principalmente quando Natalie pegou o carro do Peter para acompanhar os amigos até um hotel. Pelo que parecia eles ficariam na cidade por um tempo.

Fingi que não ouvi quando se despediram de mim, agradecendo internamente estar embaixo de um carro naquele momento.

— Eles são gente fina, não é? — Peter perguntou, voltando ao trabalho e eu me limitei a resmungar uma afirmação qualquer.

Não demorou muito e Natalie estava de volta, sorridente e alegre, eu tentei evitá-la o resto do dia. Seria melhor assim.

Peter terminou o expediente um tanto mais cedo, eu só queria dar o fora e me preparar pra me enfiar na mata o resto da semana.

— Já vou indo. — Avisei, depois de guardarmos tudo.

— Esqueceu que tem que receber hoje? — Ele perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Posso passar pra pegar depois. — Dei de ombros. Eu só queria ir embora.

Passaria o fim de semana todo caçando, acabaria nem usando o dinheiro mesmo.

— Pode parar. Combinamos sexta, então vai ser na sexta. — Advertiu, apontando um dedo na minha direção. — Natalie, faz o pagamento do Daryl pra mim?

Saco. Era um péssimo dia para o Cooper passar aquela responsabilidade para a filha.

— Eu tenho que tirar essas botas urgentemente, derrubei quase um litro de óleo de motor nelas — Explicou, enquanto fechava tudo. — Agora eu sei como se sentem aqueles pinguins do noticiário. Até mais Daryl.

Peter mal terminou de falar e sumiu para dentro da própria casa. Eu ainda fiquei parado ali no mesmo lugar, pensando se caminhava até Natalie ou não.

Acabei me dando por vencido. Tinha uma grande diferença entre evitá-la e bancar o ridículo. Pelo menos eu achava que tinha.

— Olá, estranho. — A maldita deu o melhor sorriso de todos. — Mal nos falamos hoje, nem parece que trabalhamos juntos.

Minhas mãos começaram a suar, e era como se eu não simplesmente não conseguisse parar quieto, mexendo em tudo que tinha na mesa, ou apenas dando um passo para trás e outro para frente.

— Eu tinha muito trabalho e você estava ocupada com seus amigos. — Respondi, tentando ser o mais frio possível.

Natalie tinha uma coleção de canetas e post-it coloridos colados por toda a parte, com anotações e coisas aleatórias, eu não conseguia entender como ela compreendia todo aquele caos.

— Eles são loucos por virem até aqui, não é? — Comentou animada, enquanto preenchia os recibos e contava o meu dinheiro. — Eu estava com saudades deles.

Não respondi, não queria entrar naquela merda de assunto com ela. Aquele casalzinho de merda que fosse se foder.

Assinei as duas vias do recibo o mais rápido que pude e peguei o dinheiro, tentando o menos de contato possível.

— Não vai contar? — Ela perguntou, vendo que eu estava prestes a enfiar tudo na carteira de qualquer jeito.

— Você já contou. 'Tá certo.

— Daryl. — Natalie deteve meu movimento, colocando a mão sobre a minha. Foi como se todo meu corpo se rebelasse contra mim naquele momento. — Conta o dinheiro, eu não sou a prova de erros. — Riu meio de canto, e eu senti raiva de mim mesmo por não conseguir me manter indiferente a ela.

Seja lá o que eu e Natalie tínhamos, ela não precisaria mais de mim, já que os amigos ricos estavam na cidade

Contei a merda do dinheiro, ou melhor, apenas passei as notas, sem realmente prestar atenção.

— 'Tá certo. — Avisei, guardado tudo, enquanto Natalie se levantava e dava a volta na mesa, parando bem ao meu lado e se encostando no móvel.

— Que bom, porque pensei que tinha errado, sabe, eu estava muito distraída olhando pra você...

Tentei processar aquela frase e entender o significado dela, mas acabei me perdendo do pensamento, quando Natalie me puxou pela camisa e me beijou suavemente, mantendo seus lábios nos meus por um instante, antes de se afastar e sorrir como na noite passada.

— Eu queria fazer isso o dia todo, mas sabia que você ia surtar se eu te beijasse na frente do meu pai. — Comentou casualmente, como se não tivesse nada demais naquele gesto.

Não respondi, ou melhor, não consegui responder, minha cabeça tinha virado uma bagunça completa, tentando encaixar as coisas em alguma linha coerente, enquanto meu coração saia totalmente do ritmo e meus olhos não conseguiam deixar os de Natalie.

Que merda aquela menina tinha pra conseguir causar aqueles efeitos em mim?

Ela encostou na mesa de novo, esperando a minha reação. O problema é que eu não sabia o que fazer. Eu não sabia o que ela queria de mim, inferno, eu nem sabia o que eu mesmo queria dela!

Tombou a cabeça de lado, o cabelo escorregando pelo ombro, enquanto ela sorria de canto. Qual era o maldito jogo dela?

— Seus amigos já foram? — Perguntei, tentando justificar o motivo de Natalie continuar interessada em mim.

— Claro que não, Aimee e Austin nunca iriam embora sem uma boa noitada. — Revirou os olhos, como se conhecesse perfeitamente o jeito do casal. — Eles disseram que tem uma ótima balada há umas três cidades daqui, não é longe, menos de quarenta minutos de estrada. Combinamos umas nove e vinte no hotel deles.

Mas é claro que eles sairiam juntos. Dei três passos pra trás, cerrando os punhos em uma ação um tanto involuntária.

— Legal, espero que vocês se divirtam. — Tentei não soar irônico, talvez não tenha funcionado muito.

— "Vocês"? — Natalie franziu as sobrancelhas e eu senti raiva do tom divertido dela por um curto momento. — Nós, você quer dizer.

— Como assim "nós"? — Talvez eu tenha sido um pouco rude.

— Aimme, Austin, Eu e você, claro. — Respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do universo.

Parei onde eu estava. Por que diabos Natalie queria que eu fosse com ela e os amigos?

— Não posso ir, vou sair pra caçar. — Devolvi, como se eu não me importasse.

— Já está muito tarde hoje, eu sei que você só saí pra caçar de manhã. — Retrucou um tanto superior, cruzando os braços.

— Pois é, mas hoje eu vou descansar, eu trabalhei o dia todo lembra? — Saiu como uma acusação.

Talvez eu estivesse um pouco bravo com Natalie Cooper pela insistência. Por acaso ela estava querendo me levar só pra poder ficar rindo de mim com os amigos depois?

— Vai pra casa e dorme algumas horas, dá tempo. Por favor... — Fez uma careta engraçada, que me deixou bastante confuso, jogando os braços nos meus ombros.

— Você não precisa que eu vá com você, seus amigos estão aí, vá com eles, aposto que vocês vão se divertir bastante juntos. — Tirei os braços dela de mim, dando minha cartada final.

Era meio difícil negar algo quando Natalie fazia aquela caretinha, mas eu ainda não entendia por que ela queria tanto que eu fosse.

— É, você está certo, eu não preciso que você vá comigo. Posso me divertir com meus amigos. — Ergueu as mãos, como se estivesse se dando por vencida e voltou a encostar na mesma. — Mas não se trata de precisar, Baby Dix. Se trata de querer. Eu não preciso, eu quero que você vá comigo.

Acabei dando um passo de volta. Ela estava falando sério mesmo?

— Por quê? — Não consegui conter a pergunta.

— Sério? "Por quê?" — Natalie riu, como se eu tivesse acabado de fazer uma pergunta idiota, me puxou pela mão, passando os braços pelos meus ombros outra vez. — Quer que eu desenhe?

Abaixei a cabeça. Claro que Natalie já dissera que gostava de mim, mas eu pensei que fosse só uma coisa de momento. Eu era apenas a opção mais fácil e mais próxima, só uma alternativa para fugir do tédio. Com os amigos na cidade ela não precisaria mais de mim.

Porém ela ainda queria estar comigo. Era estranho me dar conta de algo assim.

— Espera. Você achou que só porque meus amigos estão na cidade eu descartaria você? — Deduziu certeiramente.

— Não. — Respondi, como se aquela ideia fosse um absurdo, fazendo meu melhor pra dar alguma veracidade para aquela mentira.

Pela expressão no rosto de Natalie era não acreditou nadinha.

— Pelo amor de Deus, Baby Dix, eu não sou uma criança do maternal que faz um amigo e destrata os outros. — Declarou, entre divertida e indignada.

Percebi que ter caído naquela paranoia o dia todo tinha sido mesmo uma coisa infantil.

— Fora que... — Ela se aproximou ainda mais de mim, escorregando as mãos pela gola da minha camisa. — Não importa quem vai aparecer aqui: meus amigos, o papa, Jensen Ackles... Você sempre vai ser meu favorito, Daryl Dixon.

Natalie me beijou de um jeito intenso, como se precisasse ilustrar o que tinha acabado de dizer. Me deixei levar. Porque, pra ser honesto, eu não queria mesmo que ela preferisse outra pessoa, eu dizia pra mim mesmo que não me importava, mas importava sim.

Apertei o corpo dela junto ao meu, puxando-a pela nuca e segurando suas costas, como se isso pudesse impedi-la de fugir. Não que Natalie demonstrasse, em qualquer momento, que tinha intenção de ir a qualquer lugar.

Senti a mão direita dela subir para o meu rosto, fazendo a volta e afagando meu cabelo, enquanto suas unhas da mãos esquerda, escorregavam pelo meu pescoço, me causando arrepios, que se originavam ali e espalhavam pelo meu corpo. Era como sentir frio em meio ao fogo.

Desci minha mão pela cintura de Natalie, percebendo o tecido gelado da blusa que ela usava acabar, no momento em que meus dedos tocaram sua pele quente. Foi como riscar um fósforo, porque tudo ficou mais intenso e físico no mesmo instante.

Nossos corpos não podiam estar mais colados, nossas pernas no meio uma da outra. Apertei levemente o quadril de Natalie, o que a fez me puxar mais, nossos passos, juntos, indo pra trás.

Esbarramos na mesa e o barulho de várias coisas caindo no chão fez com que nos separássemos. Encarei as canetas coloridas espalhadas pra todo canto e a risada de Natalie preencheu o ambiente.

Ela abaixou para pegar as coisas e foi minha vez de encostar na mesa, colocando as mãos no colo, totalmente sem jeito, porque, digamos que tinha algo ali que estava um pouco difícil de esconder.

— Quem é Jensen Ackles? — Perguntei, querendo qualquer assunto que me fizesse parar de sentir o gosto do beijo de Natalie na minha boca, e fosse capaz de acalmar os meus ânimos.

— É um ator bonitão de um seriado de TV. — Achou graça da minha pergunta, colocando o porta-canetas de volta na mesa e me observando por um momento.

Fiquei ainda mais sem graça sob o olhar dela, porque era como se Natalie soubesse exatamente o que eu estava tentando esconder.

Ela sorriu meio de lado, voltando pra perto de mim, se colocando no meio minhas pernas.

— Então? Vai vir me buscar as nove? — Perguntou entre os meus lábios e eu murmurei uma afirmativa, sem nem me dar conta disso.

Natalie puxou minhas mãos pra cintura dela, ou melhor, um pouco pra baixo da cintura dela, me beijando novamente, ainda mais intenso que da outra vez, seu corpo roçando no meu sinuosamente.

— Ou você pode subir e descansar lá no meu quarto. — Sugeriu, mordendo de leve o meu lábio inferior, enquanto tentava tocar minha pele por baixo da camisa. — Eu te faço uma massagem pra você relaxar.

Segurei as mãos dela, não só porque estávamos no meio da oficina, mas porque as marcas que a camiseta escondia era algo que eu não queria que Natalie visse.

— Melhor eu ir. — Consegui dizer, me levantando, mesmo que ela já estivesse praticamente em cima de mim.

Natalie sorriu de canto, me dando um beijo casto, como se já esperasse uma negativa da minha parte e só estivesse provocando. Eu tinha descoberto que ela era muito boa naquela coisa de provocação.

— Nos vemos mais tarde então.

➷•➷•➷•➷•➷

Eu realmente tentei dormir, nem que fosse uma hora apenas, mas na verdade eu não estava cansado, não fisicamente, pelo menos. Contudo, mentalmente, eu era a definição de estafa, então pensei que dormir pudesse me poupar daquilo.

Que engano... O sono me trouxe um pesadelo confuso e muito real, que misturava minhas experiências sexuais frustrantes, com Natalie e tudo que meu corpo parecia desejar dela e culminando em uma cena horrível, em que ela via minhas cicatrizes e me encarava como se eu fosse um tipo de monstro. Seus gritos e sua expressão de asco ainda me assombravam quando eu abri os olhos.

Passei a mão pelos olhos e tentei me acalmar, tinha sido apenas a merda de um pesadelo. Claro que ele estava ilustrando perfeitamente um dos meus receios, desde que toda aquela coisa com Natalie tinha começado.

Ela não sabia das cicatrizes, e eu não sabia como ela reagiria a elas, ou melhor, na verdade eu não queria que ela visse aquilo.

Isso me levava a outro impasse: como impedir Natalie de ver as cicatrizes?

Nunca tinha sido um problema antes, as outras mulheres eram apenas transas casuais, que eu sabia que não durariam uma noite, às vezes eu sequer tirava as roupas, outras vezes eu as colocava em posições em que não pudessem ver ou tocar minhas costas. Era sexo, sim, mas era impessoal e passava bem longe de intimidade de verdade.

Porém Natalie Cooper não era como as outras, eu não queria que fosse. E esse era o problema, eu só conseguia pensar nela, em tudo que tinha acontecido entre nós e, principalmente, no que ainda não tinha acontecido.

Era como se isso me fizesse questionar tudo, e eu nunca encontrava uma saída ou uma resposta.

Olhei o relógio, ainda faltava mais de uma hora para pegar Natalie. Decidi sair de casa mais cedo, entrar na mata só um pouco e atirar em pelo menos um esquilo, talvez isso me acalmasse.

Mas claro que pra sair de casa eu teria que passar pelo meu pai, que estava na sala, largado no sofá, assistindo ao jogo de futebol americano.

Pensei duas vezes antes de fazer aquilo, mas o velho me notou primeiro.

— Não sabia que você já estava em casa. — Comentou naturalmente.

— Você não estava aqui quando eu cheguei. — Respondi, meio a contragosto.

Viver com Will Dixon era como pisar em ovos constantemente.

— Eu fui comprar umas cervejas antes do jogo. — Apontou a TV, lançando umas das latas pra mim logo em seguida.

Peguei a bebida no ar. Talvez aquela fosse um dos dias bons do meu pai, esses dias existiam, por incrível que pareça.

— Apostei parte daquele dinheiro no Atlanta Falcons, e estou ganhando. — Ergueu a própria lata como se fosse um brinde. — Senta aí pra você ver comigo.

Ergui minha lata também e me ajeitei na poltrona ao lado do sofá. Quando aqueles dias bons aconteciam, não dava pra evitar pensar que tudo ficaria bem. Talvez fosse por causa daqueles momentos que eu nunca tivesse ido embora.

Will Dixon ainda era o meu pai, apesar de tudo, sentar com ele pra ver um jogo e tomar uma cerveja era só o que eu queria da nossa relação.

O Atlanta Falcons marcou um touchdown e meu velho comemorou, ele parecia de bom-humor, continuou falando como o time estava bom naquela temporada, enquanto eu bebia a cerveja e concordava vez ou outra.

— Seu irmão deu notícias? — Perguntou, entre um lance e outro e eu assenti.

Natalie me contou da ligação na noite passada. Merle não era o tipo que ligava pra dar notícias, então eu acabei estranhando um pouco.

— Eles está em Atlanta resolvendo umas coisas. — Respondi, sem tirar os olhos da TV.

— Merle é um estúpido, procurando sarna pra se coçar por aí. Aqui é a casa dele, é aqui que ele tem que ficar. Você e ele, mas pelo menos você sabe disso.

Meneei a cabeça percebendo a ironia daquilo, meu pai adorava falar que aquela era a casa dele e que eu e o Merle morávamos de favor ali, então mudava totalmente dizendo que lá era nossa casa. Vai entender. Talvez o velho estivesse passando do ponto, no fundo eu tinha dó, ele era uma pessoa solitária.

O time adversário marcou e o bom-humor deu lugar a uma lista de palavrões. Em certa altura do jogo eu mais prestava atenção no meu pai do que na TV, era como se fossemos uma família normal, apenas um pai e um filho passando um tempo juntos.

Mas eu tinha várias marcas, pra provar que os dias ruins existiam sim e não eram só um pesadelo como o que eu tivera há pouco.

Senti uma vontade incontrolável de perguntar por que ele era daquele jeito, como ele podia agir como se as coisas que ele fez comigo nunca tivessem acontecido? Não era apenas o fato de Will Dixon ter esquecido totalmente o que fizera comigo naquele banheiro, era o fato dele fazer parecer que as surras de cinto, que não aconteceram uma vez só, e das quais ele se lembrava bem, eram uma coisa perfeitamente normal para um pai fazer com um filho.

Será que era normal mesmo? Talvez eu fosse só um maricas que ficava dramatizando as coisas. Talvez eu merecesse. Vai ver, se eu fosse um bom garoto, aquilo nunca tivesse acontecido comigo...

Bebi mais um gole da cerveja e relaxei o corpo no sofá, um tanto resignado, voltando a atenção para o jogo.

— Esse merdinha do Michael Vick tem que aprender a ser homem! Alguém devia ensinar pra esse quaterback de bosta o que acontece com mariquinhas! — Apontou para a TV, nervoso.

A frase foi como um gatilho, trazendo de volta todas as lembranças das quais eu queria me afastar. Will Dixon já tinha dito algo muito parecido pra mim...

Senti meu estômago revirar completamente, enquanto as imagens se formavam na minha cabeça, doloridamente reais:

★ ★ ★

Me vi encolhido debaixo do chuveiro, as costas ardendo, por causa do ferimento fundo da cintada, que eu levei por ter escondido dinheiro do meu pai. Meu dinheiro.

A água, que escorria para o ralo, estava avermelhada pelo meu sangue, mas também levava minhas lágrimas junto. Eu não era um garoto que costumava chorar, mas aquele dia, era como se o mundo estivesse desabando todo na minha cabeça.

Talvez tenha começado na escola, os meninos tinham rido de mim por causa das minhas roupas velhas e um tanto encardidas. Meu pai não se preocupava em cuidar delas e eu ainda não tinha aprendido a fazer isso. Me lembro de bater neles, porque Merle sempre dizia que não podíamos deixar ninguém rir da gente, mesmo assim a risada continuou ecoando na minha cabeça.

Eles sempre faziam essas coisas, riam de mim e cochichavam pelos corredores, os professores não me ajudavam em nada, porque eu não era um bom aluno. Talvez meu pai estivesse certo e eu fosse uma criança burra.

Eu soquei a cara de um dos garotos e levei suspensão por isso, acho que foi o motivo das coisas terem ficado ainda piores em casa, meu velho não gostava de ir à escola falar com o diretor. Depois, eu ainda inventei de esconder o dinheiro do premio do campeonato de pesca...

No fim era tudo minha culpa mesmo.

Me encolhi ainda mais, segurando minhas pernas magras. Os joelhos ralados começavam a soltar as casquinhas e eu fungava, tentando entender por que o meu pai era sempre tão mau comigo e por que meu irmão tinha me abandonado. Eu sentia raiva da minha mãe por ter morrido, do Merle por ter partido, dos meninos por terem rido de mim, e de mim mesmo, por ser tão idiota. Meu pai era o único do meu lado e eu tinha conseguido deixá-lo bravo. Talvez eu devesse ter dado o dinheiro logo...

A porta se abriu violentamente e eu, por instinto, me encolhi um pouco mais.

— Eu mandei você calar essa maldita boca! — Will Dixon ameaçou, a cinta em uma mão, uma garrafa de whisky barato na outra, os olhos injetados de raiva.

Tremi, involuntariamente, incapaz de conter o choro que veio em seguida.

— Desculpe... — Funguei, tentando, sem sucesso, fazer meus ombros pararem de tremer.

— Pare de pedir desculpas feito um mariquinha! — Praticamente cuspiu em mim, tropeçando nos próprios pés.

Assenti freneticamente, tentando me colocar de pé, tremendo dos pés à cabeça, fazendo o possível para engolir o choro.

— E para de chorar, porra! Já te disse que homens não choram!

Claro que eu queria parar de chorar, claro que eu não queria apanhar ainda mais, mas eu não consegui, quanto mais meu pai gritava, mais eu me esforçava pra não fungar, apertando os olhos pra conter as lágrimas, tudo inutilmente, eu continuava chorando, o corpo todo tremendo de dor, medo e frio.

— Quer saber a merda que acontece com os garotos que ficam dando uma de mariquinhas como você? — Puxou meu braço com violência, me arrancando do chuveiro e me debruçando no vaso.

Acho que eu pedi pra ele parar, não me lembro ao certo, apenas lembro do medo que desceu pela minha espinha, quando ouvi meu pai desafivelar o cinto. Ele me bateria outra vez.

Mas eu estava errado, ele não me bateu, ele fez muito pior...

Aquela foi a primeira, mas não a última vez, que meu pai me bateu de cinto durante a infância, mas aquela, com certeza, foi a última vez que eu chorei. Aprendi a aguentar o que fosse calado, eu preferia mil cintadas do que viver novamente o que aconteceu naquele banheiro.

Homens não choram. Eu aprendi aquela lição do pior e mais doloroso jeito.

★ ★ ★

Só me dei conta que tinha mergulhado de cabeça em tudo aquilo, quando batidas persistentes na porta me alertaram. Eu havia apertado a latinha de cerveja tão forte que ela se encontrava toda amassada na minha mão.

Fazia muito tempo que eu não me recordava de tudo com aquela riqueza de detalhes, era como se eu pudesse vivenciar as mesmas dores daquela noite, como se meu corpo inteiro tivesse espasmos, eu mal conseguia andar sem tremer.

Meu pai sequer deu sinal que levantaria para atender a porta, então eu o fiz, sem vontade alguma na verdade. Tudo que eu conseguia era sentir raiva, uma poderosa e incontrolável raiva. Seja lá quem fosse, não era uma boa hora para bater na porta.

Abri, totalmente sem paciência, apenas para dar de cara com Natalie Cooper, usando seu melhor sorriso.

— Oi. — Cumprimentou casualmente.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei, e a raiva saiu impregnada em cada silaba.

Não era uma boa hora pra falar com ela. Não era uma boa hora para vê-la. Talvez nunca fosse uma boa hora.

— Eu ligaria, mas você não tem celular... — Começou, mas eu a interrompi bruscamente.

— Nem todo mundo é riquinho, como você e seus amigos, pra comprar essas merdas!

Ela franziu as sobrancelhas, provavelmente tentando entender minha reação.

— Então, eu resolvi vir até aqui, pensei de sairmos um pouco mais cedo, e, sei lá, passarmos pra comer uma pizza, só eu e você, o que acha? — Terminou, como se preferisse ignorar minha última frase.

— Não. — Respondi seco.

— Por que? Nós podemos... — Tentou argumentar, mas eu a cortei novamente.

— Eu disse não!

Silêncio. Natalie me encarou surpresa, deu um passo pra trás e comprimiu os lábios.

— Então 'tá. Hum... — Tombou a cabeça para o lado, um tanto sem jeito. — Eu provavelmente não devia ter vindo sem avisar. Eu vou indo. — Apontou a rua, cruzando os braços em seguida. — Nos vemos mais tarde?

— Eu não vou. — Decidi no impulso. — Vai pra casa, Natalie.

Não sabia bem o porquê daquela decisão, eu ainda estava muito atordoado pra pensar direito e não podia lidar com Natalie Cooper e tudo aquilo, não naquele momento.

Ela suspirou, negando algumas vezes e abaixando a cabeça, não consegui decifrar se aquilo era derrota ou decepção.

— Eu vou... Afinal mesmo que eu pergunte qual é o problema, você não vai dizer. Então... — Jogou as mãos no ar e deu de ombros. — Você sabe onde eu moro, se quiser conversar eu vou estar lá. Tchau, Daryl.

A vi caminhar pra longe e senti meu coração afundar um pouco. Eu não sabia exatamente por tinha reagido daquela forma, mas eu não podia falar com Natalie sobre aquilo. Eu não podia falar com ninguém

Entrei rapidamente e agarrei minha crossbow, mesmo sabendo que já tinha escurecido e que eu provavelmente não pegaria nada, eu só precisava ficar longe de todo mundo.

— Problemas no paraíso? — Ouvi meu velho perguntar, e, de todas as pessoas que eu não podia ver naquele momento, ele estava no topo da lista. — Eu achei que estava tudo numa boa entre vocês, principalmente depois da noite romântica.

— Nunca vai estar tudo nunca boa. Nem entre mim e Natalie Cooper, nem entre mim e ninguém. Você sabe exatamente porquê! — Acusei, meio fora de mim, saindo e batendo a porta com tanta força, que por pouco não quebrei o batente.

Dirigi sem rumo por um tempo, até estar longe o suficiente das casas. Me embrenhei entre as árvores com a crossbow e uma lanterna. Talvez eu fizesse uma fogueira e dormisse por ali mesmo.

Eu tinha que manter a mente vazia, das lembranças, da dor, da expectativa e de tudo mais que dizia respeito a passado e futuro. Caçar tinha esse poder, talvez, por isso eu gostasse tanto.

Como eu pensei  de início, não encontrei um mísero animal, na verdade, eu mal estava prestando atenção nos meus próprios passos.

Desisti daquilo, e apenas estacionei a caminhonete entre as árvores e me deitei no capô, ligando o rádio na única estação que funcionava naquela parte da cidade, consegui manter minha cabeça limpa por um tempo.

No entanto, não durou muito, quando as nuvens se dissiparam acima de mim e as estrelas brilharam junto com a Lua, minha mente me levou automaticamente para a noite passada.

Era como se lá em cima daquele mirante nada pudesse dar errado... Como se eu pudesse ser outra pessoa.

Todavia eu nunca seria outra pessoa, não importa o quanto eu tentasse. Em um dia as coisas podiam estar bem, mas meu passado sempre me puxaria de volta. Como lidar e se livrar de algo assim?

Às vezes, eu apenas queria sentar e chorar como um garotinho, mas homens não podiam chorar. Nada de chorar, nada de ser um maricas, nada de contar aquilo pra ninguém. Então como infernos eu devia lidar com toda aquela merda, se eu também não podia esquecer?

O locutor idiota fez questão de avisar que eram nove e vinte da noite. Bufei, frustrado por me dar conta que o universo parecia conspirar contra mim.

Ou, talvez, conspirasse ao meu favor. Se eu não podia esquecer uma dor, então talvez eu devesse substituí-la por outra.

Pulei de volta para a cabine e liguei o motor, quem sabe álcool em doses cavalares e uma briga no Joe's fosse tudo que eu precisava naquela noite.

Por algum motivo estúpido, eu não peguei a rua que me permitiria desviar do caminho da oficina, talvez eu quisesse passar lá na frente e ver que Natalie tinha ido sem mim, porque esse era o tipo de dor que ajudaria aquela noite.

Mas eu estava totalmente errado, quando virei a esquina eram dez para às dez e para a minha surpresa Natalie estava do lado de fora, sentada no capô do carro de Peter, digitando algo no celular.

Uma parte de mim sentiu raiva, porque eu não queria ver aquela bochechuda, mas outra parte sentiu um alivio profundo, afinal eu buscava a dor, mas será mesmo que eu queria mais dor na minha vida?

Eu sei, confuso e quanto mais eu procurava uma explicação, mais confuso ficava.

Nossos olhares se encontraram quando ela ergueu a cabeça, aquele vácuo na boca do estômago voltou com a força de cinquenta cães raivosos. Eu podia apenas passar direto, mas convenci a mim mesmo que parar, e deixar Natalie gritar comigo por ser um escroto era uma boa alternativa também.

Parei a caminhonete e abri a porta do passageiro por dentro. Natalie me encarou por um momento, ainda do lado de fora, e então sorriu, como se nada de ruim tivesse acontecido e como se ela estivesse ali me aguardando o tempo todo.

Não era o que eu estava esperando.

Ela sentou do meu lado e fechou a porta. Continuei, calado, a caminhonete ainda desligada ali no meio fio. Eu não sabia se queria dizer algo que estragasse mais ainda as coisas, ou algo que consertasse tudo, então apenas fiquei calado.

Natalie tombou um pouco a cabeça de lado, como se, de alguma forma, ela pudesse compreender, em seguida segurou minha mão, que repousava perto do câmbio, apertando levemente os meus dedos em sinal de apoio.

Percebi que havia uma grade diferença entre mim e Natalie, ela não sufocava dor com mais dor, foi assim com a morte da Shannon, ela deixou doer e depois superou.

Eu queria perguntar como ela fazia aquilo, mas eu nunca poderia contar qual era o meu problema realmente. Aquela era uma história que eu tinha que guardar pra mim mesmo.

Respirei fundo e fiz meu melhor pra empurrar toda aquela merda para um lugar escuro e escondido na minha mente. Talvez eu fosse muito fraco pra encarar a dor. Senti meus olhos arderem e soube que era hora de focar em qualquer outra coisa.

Homens não choram.

— Em que hotel seus amigos estão? — Perguntei finalmente.

— Não precisamos ir, Daryl. — Natalie respondeu muito calma.

— Precisamos sim.

Eu não podia enfrentar a dor, mas também não podia fugir de tudo.

— Pode ser divertido. — Dei de ombros, sem muita convicção. — Vai ver eu preciso de um pouco de diversão hoje.

Ou, vai ver, o mundo estivesse desabando sob os meus pés e eu apenas fugindo disso, sem rumo certo, esperando que a catástrofe não me alcançasse tão cedo, mas sabendo que inevitavelmente isso acabaria acontecendo.

 


Notas Finais


Certamente é muita coisa para o Daryl lidar, é normal se sentir confuso em um momento assim. Claro que ele gosta da Natalie, mas ele tem limitações.

Eu estou com o meu coração um caco pelo Daryl, ele, além de se ver como um lixo de pessoa, se culpa por TUDO que aconteceu com ele. Esse cap mostrou muito sobre o relacionamento abusivo que ele tem com o pai (aqui é familiar, mas os romanticos tentem a seguir nessa linha também) as pessoas geralmente não conseguem ver as coisas com clareza, porque tem momentos em que está tudo bem e isso confunde, acreditamos que estamos com alguém que nos ama, e apenas comete erros, constantemente as vitimas desse tipo de relacionamento acham que a culpa é delas. É um pesadelo.

A Natalie ficou esperando pelo Daryl, ela entende o tempo dele, e já percebeu que as coisas nunca são fáceis...
Esses dois merecem tanto ser felizes que chega a doer.

Austin e Aimee, pra quem ficou curiosa são Tyler Posey (http://i.imgur.com/NjeOXqU.jpg) e Janel Parrish.(http://i.imgur.com/T18JfJw.jpg) Se me perguntarem de qual eu gosto mais, eu diria do Austin, e eu acho que vocês vão concordar comigo no proximo.

Agora uma boa noticia, até segunda (eu espero que hoje quando eu chegar em casa... mas até segunda é certeza) eu vou estar com meu note outra vez, então adeus atrasos, amém.

Se tudo der certo com o note, sexta que vem estou de volta com a segunda parte desse cap.
Bjss e até, nos vemos nos comentários.


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