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História Lifeline - Before the End - Queda


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Hello suas lindaaas!!

Como foram de feriado e dia dos namorados?
Fiz aquela prova e acho que fui bem, veremos aushaushush

Finalmente voltamos do Hiatus, nessa reta final de Lifeline (estão prontas para o fim? Ansiosas para a segunda temporada?)

Eu queria agradecer todo o apoio e o carinho que tem com essa fic e com Dixchechas, acho que se fosse isso eu não arriscaria uma segunda temporada, mas vocês são fantásticas e eu sei que posso sempre contar com vocês.

Obrigada mesmoooo gente, eu morro de amor, sério *--*

Deixemos pra falar do cap lá no fim.
Boa leitura.

Capítulo 29 - Queda


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Queda

 

• DARYL DIXON •

Quando eu era novo, Merle me levou em um daqueles parques itinerantes que vão de cidade em cidade esporadicamente. Foi então, que pela primeira vez na vida, andei de montanha-russa. Eu odiei o brinquedo, mais que qualquer outra coisa. A subida lenta e angustiante, a chegada ao topo, aquele segundo que você passa lá em cima, sabendo da queda, o momento em que você pode ver tudo lá em baixo e pensa que vai ficar tudo bem, que não pode ser tão ruim e então, desenfreadamente, você começa a cair, o pior sentimento de todos. Por sorte, uma montanha-russa não sai dos trilhos, o maquinista sempre vai parar o carrinho na hora certa...

Eu não entendia porquê as pessoas eram tão fissuradas por essas merdas de brinquedos, isso até eu ficar mais velho, só então eu percebi que tudo tinha a ver com a segurança; era sobre saber o que aconteceria, quando aconteceria e que nada daria errado no percurso. Era tudo conhecido, no final de algumas voltas estar de volta no chão em segurança era certeza, nada desconhecido aconteceria, e as pessoas apenas temem o desconhecido.

Quando sabem o que está por vir, quando sabem que estão seguras e que o perigo não é real, elas simplesmente apreciam o percurso, se divertem com isso. É como assistir um filme de terror, você sabe que é apenas uma ficção.

Mas a vida não é uma montanha-russa, não existem trilhos, nem maquinista, tampouco a segurança que ainda estaremos inteiros e seguros depois de uma queda. E, infelizmente, eu estava naquele segundo exato que antecede a descida...

A pior parte é que eu cheguei mesmo a acreditar que ficaria no topo. Natalie e eu. Por um segundo simplesmente esqueci que estávamos em um carro rumo a um inevitável acidente e, ao invés de diminuir a velocidade, eu acelerei.

Peter estava no hospital, prestes a passar por um cirurgia de vida ou morte, a mãe dela estava na cidade e eu sabia que acabaria em tragédia, não tinha como fugir disso.

E lá estava eu, esperando pela queda, incapaz de ir embora, quando é que eu tinha virado tão estúpido?

— Mais um pouco e você fura o chão, Bochechas — Comentei, vendo-a andar de lá pra cá, impaciente.

Estávamos na sala de espera do hospital, Peter e a mãe de Natalie estavam tendo uma conversa particular, o que, obviamente, estava deixando a garota tensa.

"A mãe" um arrepio gelado subiu pela minha espinha. Eu não devia estar surpreso, afinal quando a desgraça começa ela vem aos montes, mas as coisas estavam começando a ficar um pouco demais pra mim.

— Ela não devia estar aqui... — A resposta veio vaga, como se ela não estivesse falando comigo realmente.

Ver Natalie andar de um lado para o outro estava me deixando ainda mais nervoso, eu que costumava fazer aquilo, mas sabia que naquele instante não daria muito certo.

Me levantei e me coloquei na frente dela, segurando-lhe pelos ombros para impedir a caminhada.

— Hey. Vai ficar tudo bem, 'tá bom? — Tentei a frase padrão, embora não tivesse qualquer experiência com aquilo e, mesmo que não acreditasse nas minhas próprias palavras. As coisas nunca ficavam bem por muito tempo.

Apertei um pouco mais seus ombros, olhando Natalie fixamente, até que ela assentiu em movimentos que praticamente espelhavam os meus.

— Eu... Eu... Estou apavorada e preocupada e... — Ela começou a tremer incontrolavelmente. — Eu me sinto culpada, porque eu deveria saber, e eu não sei se vai dar tempo, estou confusa, meu estômago doí, e seu só... só, não sei o que fazer...

Natalie começou a jogar tudo de uma vez só, em frases sem nexo que no fundo, pelo menos pra mim, faziam muito sentido, eu era exatamente aquela confusão, talvez por motivos diferentes e um pouco mais egoístas, mas, ainda assim, uma grande confusão.

Ela praticamente se jogou nos meus braços, me apertando forte, soluçando contra o meu peito, procurando um conforto que eu até queria, mas não sabia como dar. A abracei também, tentando esquecer das minhas próprias dúvidas e dilemas, mergulhando meus dedos nos fios castanhos, enquanto sentia que o peso da incerteza, que tinha caído sobre nós, podia se tornar demais a qualquer instante.

O som de alguém limpando a garganta, não tão discretamente, me fez dar três passos para trás e soltar Natalie no mesmo instante.

A mãe dela passou os olhos de mim para a filha e negou, passando a mão pelo rosto como se estivesse muito cansada.

— Acabamos nossa conversa, você pode voltar lá agora. — Avisou, em um tom controlado.

A expressão de Natalie mudou totalmente.

— Espero que antes de dizer alguma besteira, você tenha parado pra pensar que o meu pai está em um cama de hospital agora. — Jogou, cruzando os braços, como se precisasse impedir a mãe de se aproximar, ao mesmo tempo em que seu tom tinha uma ponta palpável de revolta.

Percebi que a mãe dela respirou profundamente, ajeitando o cabelo antes de responder.

— Espero que um dia você pare de me tratar como vilã e volte a me tratar como a sua mãe. — Ela estava calma, mas tinha um ar superior. Não foi preciso mais nada pra entender o problema de Natalie com aquela mulher, era aquele ar, aquele de quem sabia de tudo, enquanto a filha não sabia de nada.

Natalie apenas meneou a cabeça e revirou os olhos, se preparando para dar meia volta.

— Você vem? — Perguntou, diretamente para mim, mudando totalmente o tom.

Obviamente eu daria qualquer coisa para sair dali, mas eu sabia que Peter tinha que contar a filha sobre a cirurgia, aquele tinha que ser um momento deles.

— Melhor você, o Peter e o médico dele conversarem sozinhos, eu vou estar bem aqui. — Respondi e ela assentiu, segurando minha mão por um momento antes de seguir para o quarto.

Quando a porta foi fechada, percebi que a mãe de Natalie estava se afastando, em direção a recepção ou ao estacionamento, tanto fazia.

Agradeci internamente por não ter que ficar naquela sala de espera com ela, eu definitivamente não era bom com aquelas coisas.

Deixei meu corpo cair sobre a cadeira que tinha ali, apoiando o cotovelo nos joelhos e esfregando o rosto, aquela situação era muito complicada.

Se Peter não sobrevivesse, eu tinha bastante certeza que a mãe de Natalie a arrastaria de Dawsonville sem pensar duas vezes, de certa forma eu sempre soube que algo assim aconteceria, cedo ou tarde. Eu devia estar preparado, mas a verdade é que, apenas me dei conta do quanto aquilo me perturbava, depois que vi aquela mulher loira e bem vestida entrar pela porta...

Era tudo sobre as coisas virando reais demais para suportar.

Por outro lado, tinha aquela promessa que Peter queria que eu fizesse... Eu não conseguia entender do que ele estava falando, ou talvez eu simplesmente achasse melhor não entender...

— Expresso, puro. Preferência nacional. — Vi o copo de café ser estendido à minha frente e só então me toquei que não estava mais sozinho. — Eu sou Deborah Spelman, mãe da Natalie. — Ela se apresentou formalmente e eu engoli em seco, pegando o café puramente para disfarçar.

— Daryl. Daryl Dixon. — Respondi e minha voz me traiu.

Porra, era só uma mulher riquinha, por que eu estava tão nervoso com aquela merda?

Deborah se sentou na cadeira logo à minha frente, senti que ela me media, mas fingi que não tinha notado, bebendo um gole de café e me sentindo a porcaria dos animais que eu caçava, foi preciso muita força de vontade para permanecer ali sentado, era como se meus pés quisessem se mover de um lado para o outro sozinhos.

— Desde que horas vocês estão aqui? — Perguntou casualmente, levemente preocupada. Totalmente normal e em nada parecida com a mulher que Natalie tinha pintado na minha mente, em nossas poucas conversas sobre o assunto.

— Desde ontem à noite, por volta das nove eu acho. — Remexi o copo de café e tentei ser natural.

Deborah assentiu vagamente, olhando o grande relógio de parede à esquerda. Depois pegou um aparelho celular na bolsa e ficou em silêncio pelos próximos minutos. Ela teclava quase tão rápido quanto a filha.

— Então você e a Natalie... — Começou do nada e eu tratei de ser mais rápido.

— Somos amigos. — Completei na pressa, mesmo sabendo que eu e Natalie já tínhamos passado dessa coisa de "amigos" há tempos.

Era diferente dizer para as pessoas que éramos algo mais, sabendo que era mentira, e dizer, sabendo que era verdade. E era ainda mais diferente dizer isso para um monte de idiotas desconhecidos, falar algo daquele tipo, em voz alta, para a mãe dela, seria... Nem pensar.

— Eu não conheço muitos amigos que passariam mais de doze horas no hospital por causa da minha filha. Acho que você é um ótimo amigo então, senhor Dixon. — Retrucou, com um sorriso vitorioso, novamente aquele ar de quem sabia de tudo.

Me lembrei que Natalie dissera que a mãe era advogada e definitivamente aquela profissão combinava com a mulher na minha frente. Ela tinha todo um ar de advogada, tanto ao falar, quando ao deduzir as coisas.

— Como ela está? — A nova pergunta veio depois de mais um período de silêncio, mas foi a primeira vez que ela de fato me olhou nos olhos, e pareceu genuinamente preocupada, como uma mãe estaria.

Eu podia ter citado a lista de coisas que Natalie disse momentos antes, contudo eu não era esse tipo de pessoa, me limitei em ser monossilábico:

— Mal.

Ela franziu as sobrancelhas e meneou a cabeça, soltando um riso pelo nariz, muito Natalie para que eu não prestasse atenção.

— Imagino que isso tenha sido quase um eufemismo, Natalie não lida bem com a morte. — Comentou, bebendo um gole do próprio café. — Eu costumava pensar que, pelo menos, ela nunca precisaria sofrer a morte do pai, já que, graças ao Peter, ela não chegou a ter um. Mas claro que o destino tinha que dar um jeito de ferrar a única coisa boa que eu encontrei em toda essa história...

Tinha tanta coisa errada naquela frase, que foi quase um choque, fora o rancor palpável e a leve ironia, mesmo que o tom controlado se mantivesse o mesmo.

— O Peter não vai morrer. — Deixei claro.

Ele não podia morrer.

Montar aquele cenário mental me fez ser atingido por todas as situações que a morte de Peter desencadeariam, e todas elas me apavoravam.

— Acabei de perceber o que você e a Natalie tem em comum: Ela também costuma achar que tudo vai dar certo, ela acha que a vida é uma realidade colorida, como um livro infanto-juvenil onde o final é sempre feliz. — Havia um tanto de deboche e incredulidade na voz dela, me parecia alguém que já tinha quebrado a cara muitas vezes. — Vocês são jovens... Eu entendo a ilusão.

Percebi que não tinha mais estômago para aquela conversa, se é que minhas respostas curtas tinham mesmo categorizado aquilo como conversa...

Me levantei e decidi sair dali, antes que a coisa ficasse ainda mais bizarra.

— Obrigado pelo café. — Ergui meu copo, ainda bastante cheio, e me afastei em direção a saída. Talvez um pouco de ar fresco me fizesse bem.

Passei as portas de correr na recepção e senti que podia simplesmente sair correndo dali, era como se junto com o ar frio da manhã viessem todas as minhas preocupações e dúvidas.

Tomei mais um gole de café, mas acabei jogando o copo inteiro no lixo, era como se tivesse uma pedra do meu estômago. Eu queria mesmo ir embora, me enfiar na mata com a minha crossbow e fingir que aquilo tudo não estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não era justo, nem com o Peter e principalmente com a Natalie.

Eu tinha que voltar. Talvez tudo ficasse bem. Tentei repetir aquilo mentalmente e respirei fundo, dando meia volta, pronto a passar novamente pelas portar de correr, porém, quando elas se abriram, eu dei de cara com alguém inesperado.

— Pai? — Perguntei surpreso, enquanto o velho me olhava de forma parecida.

— O que você está fazendo aqui, moleque? — Jogou de volta, escondendo os olhos com o braço, pra evitar a claridade. Ele estava sóbrio, mas com uma baita ressaca.

— O que você está fazendo aqui? — Devolvi acusatório.

A última coisa com a qual eu precisava lidar no momento, era com outro pai doente. Comecei a me preparar para a bomba, enquanto ele enfiava as mãos no casaco.

— Eu bebi um pouco demais e passei mal, o de sempre, saberia se não tivesse enfurnado na casa da sua namoradinha. — Respondeu prático, embora soasse bastante rancoroso.

Suspirei de alivio, não era exatamente uma novidade meu pai ir parar no hospital bêbado demais, assim como, não era novidade eu ter que ir buscá-lo no Joe's, antes que ele ficasse jogado na sarjeta.

Aquelas últimas semanas tinham sido inesperadamente mais calmas, no que se tratava de incidentes de Will Dixon, porém, percebi que isso se devia ao fato de eu ter me afastado, não ao fato do meu velho ter se endireitado.

Me senti o filho negligente, que ele sempre me acusou de ser, e a culpa amargou minha garganta.

— Sua vez agora... — Will apontou, estreitando os olhos, curioso pelo motivo de eu estar ali.

Respirei fundo e senti mesmo vontade de despejar tudo que estava acontecendo, junto com tudo que eu pensava, mas dei de ombros e narrei a versão curta, focando apenas nos fatos.

— Aquela menina devia ter me ouvido ontem, quando eu disse que o pai dela estava com o pé na cova. — Comentou quando eu acabei, dando alguns passos pra frente, saindo da marquise do hospital e tirando um cigarro de um pacote todo amassado.

— Como? — Perguntei confuso.

— Eu e a sua namorada agressiva, na frente daquela merda de oficina, ontem... — Falou pausadamente, como se fossem coisas que eu já sabia e tinha esquecido. Ao ver minha expressão, deu uma tragada longa no cigarro e acabou rindo. — Espera. Ela não te contou? Minha nossa, que relacionamento cheio de comunicação esse de vocês dois, parabéns!

Tentei processar a informação e achar uma explicação lógica para aquilo, lembrei da campainha, enquanto eu estava no banho, mas Natalie dissera que era apenas um cliente e não fazia sentido ela mentir para mim sobre isso.

Foi como se minha mente entrasse em choque.

— Tem uma grana pra eu tomar café? — Ouvi a pergunta bem distante, mecanicamente enfiei a mão no bolso e cacei algumas notas na carteira, estendendo-as para o meu velho, que as guardou no bolso dele em seguida. — Depois que o Cooper bater as botas e você herdar aquela merda de oficina e casar com a patricinha, vê se não vai fazer tudo que ela manda e esquecer do seu velho.

A imagem mental que se formou na minha cabeça foi real de mais e um arrepio subiu minha espinha.

— Nada disso vai acontecer. — Retruquei no susto, dando alguns passos pra lá e pra cá.

— Nada disso o que? — Riu de canto, me olhando como todo pai devia olhar um filho de cinco anos, quando diz tolices. — O Cooper morrer? Pelo que você falou ele acabou de colocar o segundo pé na cova. Ou você está falando de casar e esquecer suas origens? Por que foi basicamente isso que sua namorada me disse ontem.

— Ela não te disse nada disso. — Devolvi agressivamente, afinal Natalie não podia ter dito aquilo, estávamos apenas passando um tempo juntos, isso não queria dizer nada mais sério. — Nós não... Nós somos só amigos.

Aquilo soou estranho, mesmo para mim, claro que eu gostava de Natalie, claro que o que tínhamos era mais forte do que o que eu tivera com qualquer outra pessoa, mas pensar naquilo como algo sério, que evoluiria para algo ainda mais sério, era um choque de realidade muito grande.

Aquela coisa de "casar" fez um pavor instantâneo se apossar de mim, percebi que era isso que aquela conversa com Peter tinha me causado.

O irônico é que, em algum momento daquela última semana, talvez enquanto eu observava Natalie dormir nos meus braços, eu tinha mesmo chegado a desejar que aquilo durasse pra sempre, mas o meu pra sempre nunca soou como "casamento". Esse último me parecia mais uma maldição do que algo bom.

— Não seja ingênuo menino, se você só queria comer melhor dar o fora agora, porque depois que a merda bater no ventilador não tem mais volta, ela vai grudar em você feito carrapato. Não tem melhor casamenteiro do que uma bela tragédia, por que acha que eu e sua mãe nos enrolamos? — Outra risada e meu pai se engasgou com a fumaça.

Meu velho tinha acabado de dizer que minha mãe ter ficado grávida do Merle fora uma tragédia. Mas tal fato acabou ofuscado, porque, mais uma vez, minha imagem mental foi assustadora demais.

Eu e Natalie em uma casa destruída, como a minha, vivendo a merda de casamento que meus pais tinham compartilhado... Alguns filhos sofrendo e eu sendo exatamente como o meu pai. Não.

— Pensa assim, se vocês juntarem os trapos, isso vai acabar com vocês uma hora ou outra, se você der o fora agora, pelo menos saí dessa com alguma dignidade. Ela não vale aquela oficina velha, vai por mim. — Apontou, como se fosse um bom conselho paterno, jogando a bituca no chão e pisando sobre ela, antes de dar as costas.

Fiquei vendo enquanto ele se afastava, sabendo que Will Dixon tinha adicionado outra merda a todas as merdas que habitavam minha mente.

Natalie ir embora com a mãe não parecia tão terrível, quanto a ideia de vê-la  ficar e me prender em um relacionamento de merda como o dos meus pais. Descobrir que ela tinha a capacidade de mentir pra mim se tornou a cereja de um bolo macabro...

Demorei alguns segundos pra me acalmar e quando vi estava caminhando de volta para a sala de espera, enquanto passava pelas enfermeiras no corredor, percebi o quão ferrado eu estava. Mesmo depois de toda aquela conversa, mesmo depois de ver todos os meus maiores medos tomando forma na minha mente, eu ainda estava voltando para Natalie Cooper, porque eu sabia que ela precisava de mim... Eu precisava dela. Ela era como meu oásis particular no meio do deserto da minha vida.

Eu gostava daquela garota bochechuda demais e isso não podia ser bom, não tinha como ser bom... Mesmo assim, algo dentro de mim continuava lutando pra me dizer que tudo podia dar certo. Peter ficaria bem e todas aquelas neuras seriam só lembranças esquecidas... Pelo menos era isso que eu queria.

Quando voltei para a sala de espera, Natalie já estava ciente da decisão do pai sobre a cirurgia, o que não serviu pra amenizar coisa alguma, apenas a deixou ainda mais ansiosa.

Assim que nossos olhos se encontraram, e ela praticamente correu até mim, eu soube que nunca seria capaz de abandoná-la naquele momento. Preferi deixar todo o resto de lado, Peter ficaria bem e então eu teria tempo de perguntar sobre aquela mentira, devia ter um bom motivo. Tinha que ter...

Menos de uma hora depois, Peter estava pronto para a cirurgia, a maca indo pelo corredor, enquanto Natalie se desmanchava de tanto chorar.

Ele e Deborah trocaram um olhar, um segundo apenas, um simples olhar e, de alguma forma, aquilo parecia significar mais do que qualquer outra coisa. Percebi que havia muita coisa ali que os dois nunca resolveriam.

— Pai, promete que vai voltar? — Natalie suplicou, era a terceira vez que ela pedia aquilo.

Peter não podia prometer uma coisa daquelas, ele simplesmente não podia se comprometer com algo que ele não tinha controle. Mas era de partir o coração ver Natalie daquele jeito.

Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser estar ali, isso era devastador.

— Toma conta dela. — Peter pediu diretamente para mim, o olhar me lembrando nossa conversa de mais cedo, aquelas três pequenas palavras pesando toneladas nos meus ombros.

A maca continuou pelo corredor, lentamente, Natalie estava desmoronando bem na minha frente, embora eu pudesse ver o esforço dela para permanecer forte.

Então o enfermeiro parou. Cooper fez um sinal com a mão e Natalie se aproximou, os passos cambaleantes e tremidos.

Eu pensei que ele diria adeus, seria o certo, não é?

— Prometo que vou sair vivo dessa cirurgia, 'tá bom? — Tocou o rosto da filha e vi ombros dela relaxarem.

Natalie sorriu, assentindo freneticamente enquanto a maca se afastava no corredor.

Eu sabia que aquela era uma promessa arriscada, mas se Peter tinha tanta convicção em cumprir promessas quanto a filha, então ele realmente sairia vivo daquilo tudo.

As horas começaram a se arrastar depois disso, Natalie era a imagem do caos, ela não conseguia parar, andando de um lado para o outro, estralando os dedos freneticamente, ou mesmo quando estava sentada, por dois segundos, as pernas não paravam quietas, como em um tique nervoso.

— Aqui, toma isso. — Deborah, que até então permanecera calada, se aproximou e estendeu uma cartela de comprimidos para a filha. — Não vai ajudar em nada se você tiver um ataque dos nervos agora.

Ambas se encaram por alguns segundos, antes que Natalie anuísse e pegasse a cartela, se afastando rumo ao filtro de água, que ficava em um suporte à nossa esquerda.

Eu sabia que ela precisava se acalmar, mas dar remédios fortes para uma garota no estado dela não me parecia uma boa coisa.

— É fitoterápico, eu nunca daria remédios controlados sem prescrição médica pra minha própria filha. — Deborah explicou, mesmo que eu não tivesse aberto a boca.

— Eu não disse nada. — Dei de ombros.

— Certas coisas não precisam ser ditas, senhor Dixon. — E lá estava aquele tom superior, com o sorrisinho de quem sabe de tudo.

Natalie retornou e se sentou, respirando profundamente, as pernas sacudindo na cadeira, enquanto ela parecia contar cada segundo, a mãe se sentou ao lado dela e eu fiquei observando as duas um pouco afastado.

Deborah tirou um objeto da bolsa e eu levei alguns segundos para ver o que era. Uma gaita de boca. Um modelo muito bonito, cromado e levemente curvado. Com algo, que eu não conseguia ler, gravado na superfície

— O que é isso? — Natalie perguntou intrigada, examinando o instrumento na mão.

— Era do seu pai... — Deborah pareceu um tanto hesitante sobre continuar. — Ele costumava tocar pra mim, quando você ainda estava na minha barriga e, quando você nasceu, ele tocava pra você dormir, era a única coisa que te acalmava, sempre funcionava. O engraçado é que ele sempre tocou muito mal.

Ela riu pra si mesma, como se tivesse alguma piada interna naquilo, como se fosse uma lembrança boa há muito esquecida.

— Você guardou isso todo esse tempo e anda com ela na bolsa? — Natalie parecia genuinamente surpresa.

— Claro que não. — Deborah fez um gesto banal com a mão, como se não fosse nada. — Eu achei durante uma faxina que fiz esses tempos, e pensei que você ou ele podiam querer. Nada demais.

Por algum motivo eu não acreditei naquele tom, ou naquele dar de ombros, Deborah Spelman queria fazer aquilo parecer sem importância, mas não era.

— Obrigada. — Natalie agradeceu, e foi como uma trégua entre as duas pelo restante do dia longo que passamos naquela sala.

Honestamente, fora o ar de superior e sabe-tudo, a mãe de Natalie não me pareceu tão horrível, ela só parecia muito preocupada com a filha, durante aquelas infinitas horas, foi apenas isso que eu vi.

Não que as duas conseguissem chegar em um consenso sobre qualquer coisa, mesmo as simples, como alimentação. Deborah queria que a filha fosse comer alguma coisa e Natalie não queria arredar o pé dali.

Eu não sabia se elas tinham noção do quanto eram parecidas no quesito teimosia.

Já tinha anoitecido, quando o médico responsável pela cirurgia finalmente apareceu, Natalie deu um pulo da cadeira, eu podia sentir a apreensão no ambiente. O ar sério do doutor começou a me assustar. Me preparei para o pior.

Ele passou os olhos por nós todos e então sua postura relaxou, um sorriso mínimo surgiu em seus lábios.

— Ele está estável, vão poder vê-lo em alguns instantes. — A frase foi como a luz do sol em um dia nublado, como se alguém tivesse tirado cinco sacos de cimento das minhas costas.

— Então correu tudo bem, a cirurgia funcionou? — A mudança na voz de Natalie fez um sorriso brotar no meu rosto, era um sopro de vida no meu coração.

— Ao que tudo indica, sim. — Ele continuou sorrindo, com um tanto de orgulho. — Ainda temos que fazer exames e monitoramentos, as próximas vinte e quatro horas são decisivas, mas estamos otimistas.

O doutor quase não terminou de falar, Natalie o abraçou tão espontaneamente que o pegou de surpresa. Pela visão periférica, vi que Deborah Spelman deu um suspiro de puro alivio.

O médico se retirou e Natalie veio saltitante para o meu lado.

— Você tinha razão, deu tudo certo. — Ela me beijou repetidas vezes, jogando os braços ao redor do meu pescoço. Ri, meio sem graça, abaixando a cabeça.

Ainda não era natural pra mim aquela demonstração pública de afeto, mesmo que eu sentisse as coisas ficando mais leves, uma ponta de esperança nascendo dentro de mim, aquela euforia inexplicável de quando o carrinho da montanha-russa para em segurança depois da queda.

Percebi Deborah sorrir, mesmo que tinha feito isso muito discretamente, e então se levantar, arrumando a bolsa no ombro.

— Agora que tudo acabou bem, eu vou indo. Vou ficar em um hotel que vi na entrada da cidade, foi uma viagem longa, eu preciso de um banho, além de ainda ter que resolver uns assuntos do escritório com o Daniel por telefone. — Explicou para Natalie. — Vai me ligar qualquer novidade ou eu preciso pedir pra enfermeira fazer isso?

— Eu ligo. — Natalie assentiu neutra. — Mande um abraço para o Daniel.

— Mais tarde eu volto pra saber como vocês estão, deviam pensar em ir descansar também. — Apontou para nós dois. — E principalmente irem comer alguma coisa de verdade.

Tinha um tom maternal imperativo nela, algo que parecia natural, como se tivesse sempre um critica implícita nas palavras, eu conseguia entender um pouco a birra de Natalie com a mãe. Só um pouco.

Uma mãe, era sempre uma mãe, e já que eu não tinha a minha, era difícil entender Natalie plenamente, eu daria qualquer coisa pra ter crescido rodeado de cuidados maternos, mesmo que se fossem excessivos como os de Deborah Spelman.

— Obrigada por vir, mãe. — Aquele foi o jeito de Natalie dar a conversa por encerrada.

Percebi que aquela era, provavelmente, a dinâmica usual das duas. Deborah meneou a cabeça, contrariada, mas deu meia volta. Algo me fez pensar que ela não queria estar ali quando Peter acordasse.

Natalie observou a mãe ir embora e então voltou os olhos para mim, sorrindo, era um daqueles sorrisos dela, o melhor deles, o sorriso que me dizia que tudo ficaria bem. Por um instante eu acreditei nisso, a mãe dela não a levaria embora, Cooper se recuperaria e poderíamos continuar levando as coisas devagar, bem devagar.

Tivemos que esperar mais uma hora até podermos ver o Peter, Natalie não ficou andando mais de um lado para o outro, embora revirasse a gaita nas mãos vez ou outra.

Ele ainda estava desacordado, quando chegamos no quarto, ainda estava preso aos aparelhos que monitoravam seus batimentos cardíacos e, honestamente, me parecia pior do que quando tinha entrado para cirurgia, mas provavelmente não tinha como ser diferente, afinal tinham aberto o peito dele.

Natalie estava bem ao lado do pai, quando ele abriu os olhos.

— Oi. — Ele cumprimentou com um sorriso fraco.

— Bem-vindo de volta. — Ela mal conseguia conter as lágrimas.

Eu senti que era meio que um intruso ali, mas, pra ser sincero, não havia outro lugar onde eu gostaria de estar.

— É bom estar de volta... — Moveu de leve o rosto até me ver. — Eu disse que ia lutar.

— Eu nunca duvidei disso. — Acenei com a cabeça.

— Você fez uma promessa, e os Coopers sempre cumprem suas promessas. — Natalie completou orgulhosa.

Fizemos um minuto de total silêncio, apenas o bip ritmado do monitor cardíaco e o sorriso radiante de Natalie iluminando o quarto.

— Minha mãe me deu isso. — Ela comentou, depois de um tempo, mostrando a gaita que estava em seu bolso.

— É a minha gaitinha. — Peter sorriu um tanto nostálgico e foi como se eu pudesse ver mil lembranças passando pelos olhos dele.

Ele fez menção de falar, mas Natalie foi mais rápida, provavelmente para poupá-lo.

— Ela disse que você tocava pra mim desde que eu estava na barriga.

Os dois sorriram, Peter assentiu. Era um momento feliz, mas, por algum motivo, eu senti que tinha uma certa melancolia no ar.

— Quando você ficar bom, vamos pescar, então você pode tocar pra mim e espantar todos os peixes. E eu posso cantar, mesmo que eu cante muito mal, acho que peixes não tem ouvidos, então não fara diferença! — Natalie começou a fazer planos, empolgada, a Natalie de sempre com mil vezes mais felicidade.

Peter a olhou com tanto carinho que quase doeu, eu suspeitei que algo tão bom como aquilo, não conseguiria sobreviver a vida real...

— O que? — Ela perguntou meio sem graça, vendo o jeito como o pai a encarava.

— Nada... — Ele sorriu, fazendo menção de erguer a mão para que ela se aproximasse, beijou-lhe a testa. — Eu te amo.

— Eu te amo também, pai. — Natalie se afastou e Peter deu um suspiro profundo e ao mesmo tempo fraco, como se estivesse cansado.

— Acho que preciso dormir um pouco, só um pouco... — Passou os olhos por nós dois e sorriu fraco, bem fraco. — Mas eu estou muito feliz, muito mesmo...

Vi os dedos dos dois se entrelaçarem enquanto Natalie sorria, Peter segurava a flautinha na mão oposta. Outro suspiro, ele fechou os olhos lentamente e o baque metálico da flauta contra o piso frio, veio acompanhando do bip longo e agoniante do monitor cardíaco.

Levei um segundo para entender o que aquele som ininterrupto significava: Não haviam mais batimentos, não havia mais vida...

Os enfermeiros foram rápidos em chegar, muito mais rápidos do que Natalie foi em processar tudo aquilo. Um deles me mandou tirá-la de lá.

Eu pude ver a mão dos dois se separarem quando a puxei, ela veio sem resistência, inerte, como se fosse apenas uma folha caindo de uma árvore e soubesse que não podia fazer nada pra evitar a queda.

E naquele momento eu soube que estávamos morrendo um pouco também e que nada mais seria como antes... Tínhamos acabado de sair dos trilhos.


Notas Finais


Pois é... Eu sei que a maioria queria que eu salvasse o Peter, e pra ser honesta eu amaria ver mais Peborah e o nosso Papa Cooper no apz, mas desde o começo a morte dele era certa, parte do enredo, era o que desencadearia certos acontecimentos e por isso não tinha como mudar. Eu nunca escrevi uma morte com tanta dor no coração como essa...

Eu quis que fosse o mais doce e pacifico possível, ele morreu feliz, porque felicidade era tudo que esse personagem merecia.

Enquanto isso o Daryl está praticamente surtando, tenho dó dele, ele não está preparado pra encarar a realidade de frente e muitos dos medos dele foram revelados aqui. Foi muito amor ele ter colocado tudo de lado pra estar com a Chechas dele.

O próximo saí na sexta, são 5 para o fim agora, aconselho estocarem lencinhos porque daqui até lá, serão MUITOS feels (nem tudo vai ser tragédia, calma aushaush)

A Natalie narra o próximo.
Bjss e até
#RipPapaCooper o melhor pai das fics s2


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