• DARYL DIXON •
Merle tinha feito de novo. Deu o fora sem avisar, e o pior é que levou todas as minhas ferramentas, provavelmente para vender e levantar uma grana, afim de ir onde quer que ele sempre vai... Merda.
E claro, como se já não bastasse a maldita vida, o maldito pai bêbado que eu tinha, a maldita cidade em que eu morava, as malditas pessoas que viviam nela e o maldito irmão que ia e vinha quando queria, a única coisa que eu tinha, que não era maldita, começou a dar problemas. Maldita caminhonete.
Sem as minhas ferramentas, por mais que eu soubesse fazer o trabalho, eu não podia consertar a lata velha.
Muito a contragosto resolvi ir até o Cooper, ele era o melhor mecânico da cidade, na verdade o pouco que eu sabia tinha aprendido com ele, na época em que ele e Merle "trabalhavam" juntos.
Peter Cooper não era tão idiota quanto o resto da cidade, porém eu não gostava de pedir nada para ninguém. Mas daquela vez não havia outro jeito. Merle tinha dado o fora com o dinheiro e as ferramentas, eu não sabia porquê ainda confiava naquele idiota... Talvez o idiota fosse eu.
Parei na frente da oficina recém aberta do Cooper, Merle havia comentado que o cara tinha voltado a trabalhar por conta da filha que estava na cidade. Eu nem entendia por que ele parou, na verdade.
Eu não sabia muito da garota, nem estava interessado. Porém uma granfininha de merda naquele buraco, com certeza não duraria muito tempo.
A filha do Cooper se chamava Natalie, sabia disso, porque na época em que Merle e Peter trabalhavam juntos, Merle levou uma surra por causa da vadia e eu quase morri, o idiota do Peter apontou uma arma pra minha cara... Tudo por causa da culpa de um pai que não via a filha e a merda de um desenho de cachorro falante.
Mas aquilo fazia muito tempo, Peter era um noiado e mudou muito, se regenerou e pelo que parecia tudo mundo tinha esquecido dos tempos obscuros dele, ou pelo menos fingiam que tinham... Na época eu era só um moleque que seguia o irmão pra todo lado e bebia demais, coisa eu estava tentando parar de fazer, e o Merle... bom, na verdade o Merle era exatamente o mesmo. Certas coisas não mudam nunca.
Saí da caminhonete, meio segundo depois uma garota surgiu de dentro da oficina e ficou me encarando por tempo longo demais, com um sorriso idiota na cara.
Não tive dúvidas que era a tal Natalie. Tinha os olhos negros do pai, e os cabelos castanho-escuros descendo em ondas discretas pelo ombro.
Depois de quase uma eternidade me encarando resolveu me cumprimentar.
— E aí? Você é o Daryl, não é? Prazer. — Estendeu a mão que eu observei por um instante, antes de encará-la por completo.
Era uma garota da cidade, isso ficou claro assim que vi as roupas dela: Aqueles tênis falsamente desgastado e os shorts, do mesmo estilo, com a bandeira do pais estampada, não deixavam a menor dúvida. Fora aquela blusa preta que deixava um dos ombros e a barriga de fora, exibindo aquele piercing ridículo no umbigo. As garotas da região não eram nem remotamente parecidas com aquela patricinha metida a rebelde.
A menina continuou lá com a mão erguida e o sorriso ridículo que a deixava com as bochechas ainda mais redondas.
Chata. Decidi quase imediatamente.
— Como sabe quem eu sou? — Perguntei, nada amigável, enquanto simplesmente ignorava a mão estendida.
— Eu conheço seu irmão, vi a caminhonete e fiz a ligação — Respondeu, parecendo divertida e não ofendida com a minha recusa em apertar sua mão.
— Hum... — Me limitei a resmungar, passando por ela sem dar atenção. — Cooper, você está aí? — Chamei como se não houvesse ninguém ao seu lado.
— Eu sou Natalie a propósito, Natalie Cooper.
— Tanto faz. — Dei de ombros, vendo Cooper surgir limpando o braço em um pedaço de estopa.
— Daryl, quanto tempo, garoto. — Sorriu, me estendendo a mão como se fossemos velhos amigos.
Até éramos na verdade, mas o cara tinha me apontado uma arma, não era uma coisa que dava pra esquecer.
A garota ao nosso lado tossiu, claramente pra chamar atenção, e eu tive que me conter pra não revirar os olhos.
— Ah, essa é a minha filha Natalie. Esse é o Daryl, Natalie. — Cooper apresentou rapidamente.
— É, eu já sabia — Respondi seco, enquanto ela me encarava vitoriosa. Que garotinha insuportável. — Merle disse que sua filha tinha vindo da capital. Bom é só olhar pra ela que dá pra ver de onde veio mesmo, é como se estivesse escrito "garota na cidade" bem na testa.
— Você fala como se isso fosse uma coisa ruim... — Ela retrucou, cruzando os braços e erguendo o nariz.
Foi quando percebi que era uma garota alta, eu tinha praticamente um metro e oitenta e Natalie Cooper me encarava quase de igual pra igual, era uns dez centímetros mais baixa apenas.
Não tive tempo de responder, não que eu quisesse realmente começar qualquer tipo de conversa com a patricinha, Cooper me perguntou o que me trazia ali e eu expliquei rapidamente meu problema com a caminhonete.
Seguimos para dar uma olhada no capô e a garota veio atrás como uma sombra.
— Por que você mesmo não arrumou? Sei que sabe mexer. — Cooper perguntou, enquanto olhava o motor.
— Eu teria mexido, mas Merle se mandou com as minhas ferramentas. — Respondi um tanto a contragosto. — E também sumiu com todo o dinheiro... — Trinquei os dentes, meu irmão estava sempre me metendo em enrascadas.
— Coisas de Merle... — Cooper deu de ombros nada surpreso.
Não respondi, nem ele continuou com o assunto, olhou o motor por mais algum tempo e fez as perguntas básicas. Eu sabia o que era. Mas ele com certeza olharia de toda forma.
Senti minha nuca queimar e instintivamente soube que tinha alguém me encarando. Nem sei porque me dei ao trabalho de conferir, obviamente era a filha do Cooper.
Ela estava sentada no porta-malas de um dos carros, tinha um tipo de caderno e uma pena extravagantemente azul nas mãos. Me encarava como se estivesse me analisando e eu odiava ser analisado.
Teria mostrado o dedo do meio se não precisasse da ajuda do pai dela. Mas preferi devolver na mesma moeda, afinal aquele era um jogo que dois podiam jogar.
A medi novamente, e acabei com o olhar preso em suas pernas, talvez porque fossem longas, e estivessem indecentemente expostas pelo shorts tão curto... Eram pernas bonitas, com um bronzeado que deixava claro que a garota tomava vários banhos de sol.
Ela se mexeu e eu percebi que estava olhando por tempo demais, o que obviamente não passou batido. A patricinha irritante ergueu uma sobrancelha e deu um sorriso vitorioso, enquanto jogava o cabelo pra trás e me fazia querer socar minha própria fuça por ser tão idiota.
Fiz minha pior cara como resposta e o sorriso dela se alargou. Era como se meu mau-humor não a afetasse nenhum pouco. Maldita.
Cooper chamou minha atenção e eu agradeci internamente por ter um motivo pra sair daquele joguinho infantil no qual tinha me metido.
Como eu imaginava, a junta do cabeçote havia quebrado e queimado minha bomba d'água, por isso o carro estava fervendo tanto.
Ele me orçou em quase quatrocentos dólares, eu praticamente senti a facada, embora soubesse que esse era realmente o preço. O grande problema é que eu não tinha esse dinheiro e pra conseguir eu teria que vender uns seis ou sete cervos, coisa que não era difícil se eu fosse pra as cidades vizinhas. Mas eu não podia ir com o carro fervendo daquele jeito. O Merle ia me pagar.
Cooper me observou no meu dilema mental por um tempo. Eu não pediria esse favor para ele, não mesmo. Eu tinha orgulho. De um jeito ou de outro eu acabaria arrumando aquela lata velha. Me viraria sem ela enquanto isso.
— Valeu, Cooper. Eu trago aqui qualquer coisa. — Desconversei, decidido a ir embora.
Ele me mediu de cima a baixo e pareceu pensar por um momento.
— Eu estou precisando de uma mão aqui. Por que não fica umas semanas, me ajuda com os carros, trabalha na mão de obra da caminhonete e eu desconto o material do seu pagamento? Uma mão lava a outra... — Apontou como se não fosse nada.
— Eu não estou procurando trabalho. Tiro muito bem com a caça. — Retruquei rude. Não tirava tão bem assim, não, mas foda-se.
— Eu sei, mas eu estou procurando alguém pra me dar uma mão e acho que você é minha melhor opção. Eu te pago por carro, quando não quiser mais é só dar o fora. — Deu de ombros.
— Quanto é que você está oferecendo? — Perguntei, só pra não parecer que eu aceitaria de todo jeito, mas eu aceitaria, precisava da caminhonete, só que ninguém tinha que saber disso.
— Vinte por cento de cada carro que você fizer é seu. — Ofereceu.
— Trinta por cento de cada carro. — Contrapropus.
— Qual é garoto? Assim você me quebra. Eu tenho uma filha pra sustentar agora. — Abriu os braços e por um segundo me lembrou o mesmo Cooper de antes.
— Isso é um problema seu, não meu, felizmente. — Dei de ombros.
Ele riu e eu quase ri junto, mas não era um cara de rir.
— Vinte e cinco? — Tentou e eu sabia que ele não desistiria, Peter Cooper era um ótimo negociador.
— Vinte e cinco por cento, uso seu carro até a caminhonete ficar pronta e não trabalho no fim de semana. — Dei minha cartada final.
— Fechado. Mas você começa agora. — Retrucou, me estendendo a mão.
— Fechado.
➷•➷•➷•➷•➷
Antes do fim da semana eu já havia aprendido tudo sobre o lugar, onde ficava cada coisa e o que cada carro tinha pra ser feito. A grande dificuldade era me manter calmo sob os olhares nada discretos de Natalie Cooper.
Decidi que não gostava dela, absolutamente tudo sobre a garota me irritava, o sotaque de cidade grande, a risada nada discreta, os olhos negros que não pareciam pertencer a uma menina tão nova, as bochechas redondas, que ela contraia de modos deferentes quando sorria, as pernas bronzeadas e o piercing que me obrigava a olhar pra barriga quase perfeita dela.
Era uma patricinha irritante, fazendo de tudo para chamar a atenção. Passava o dia todo tentando puxar conversa e eu tinha que me controlar muito pra não xingá-la.
E o pior é que Peter Cooper se derretia pela menina, nunca o tinha visto ser tão carinhoso com ninguém e olha que eu o conhecia a minha vida toda. Nunca imaginei que ele fosse ser um pai tão bom. Algumas pessoas tinham sorte, já outras...
A melhor parte de trabalhar na oficina era poder passar o dia todo longe de casa, e mesmo quando o lugar fechava eu podia ficar mais umas horas sob o pretexto de arrumar a caminhonete.
Eu odiava a minha casa, odiava viver sob o mesmo teto que o meu pai, mas mesmo assim não conseguia simplesmente abandoná-lo. Às vezes eu queria ser como Merle e partir sem olhar pra trás...
Apertei mais um dos parafusos e me dei conta que estava quase no fim, depois disso eu teria minha caminhonete de volta, era sexta à noite, eu tinha recebido e qualquer um acharia aquilo perfeito. Mas eu não achava.
Depois que saísse da oficina, eu tinha dois destinos possíveis, ir pra casa e aguentar o velho resmungar ou eu podia ir pra algum bar e encher a cara, coisa que eu estava tentando parar de fazer. Não era porque todos os Dixons eram bêbados, escrotos, que eu tinha que ser também. Infelizmente não era tão fácil fugir do estigma da família quanto eu desejava.
Pelo menos pela manhã eu podia me enfiar na floresta e caçar alguma coisa... Aquilo era de longe o que eu mais gostava de fazer, não só porque eu era realmente bom caçando, mas porque estar na floresta, longe de tudo e de todos, era o mais próximo de paz e felicidade que eu já tinha vivenciado.
Larguei a chave de fenda e acendi um cigarro, totalmente sem pressa. Sim, eu estava enrolando, afinal se eu chegasse tarde o suficiente meu velho já estaria apagado e eu não teria que aturar merda nenhuma dele.
Ouvi a porta dos fundos, que dava direto para a casa dos Cooper, ser aberta e instintivamente me virei, pensando ser Peter.
Mas era a filha dele, a patricinha irritante estava com os cabelos molhados, usando mais um daqueles shorts escandalosamente curtos. Agradeci mentalmente por pelo menos, daquela vez, a barriga dela não estar de fora. E por que diabos eu tinha reparado tanto?
Voltei minha atenção para o motor do carro, tentando decidir quem era mais difícil de aturar: Natalie Cooper ou Will Dixon?
— Então acha que ela vai ficar pronta hoje? — Perguntou, se debruçando do meu lado no capô.
Resmunguei uma afirmativa qualquer, tentando lembrar quando eu tinha dado liberdade pra ela se aproximar tanto.
— Ótimo! E pra onde nós vamos? — Voltou a perguntar totalmente animada.
Tive que erguer a cabeça pra encará-la tamanha foi a minha surpresa.
— "Nós"? — Fui obrigado a rir, aquela garota era realmente muito louca. — "Nós" não vamos a lugar nenhum, porque "nós" simplesmente não existe.
— Uau essa foi a maior frase que você já me disse. — Ela sorriu vitoriosa e eu fechei a cara me afastando em direção a porta da caminhonete.
Natalie Cooper simplesmente se enfiou entre mim e a porta, me impedindo de passar.
— Qual é Daryl? É sexta a noite... — Resmungou como a garota mimada que era. — Vamos lá, me leva pra conhecer um lugar legal, cadê a famosa hospitalidade do sul?
— Eu não sou sua babá. — Retruquei grosso, tentando passar por ela.
— Claro que você não é. Primeiro porque eu não sou uma criança que precisa de babá, segundo porque você tem praticamente a minha idade, nunca poderia ser a minha babá. — Devolveu como se soubesse de tudo.
Dei a volta e finalmente entrei na caminhonete.
— Eu sou bem mais velho que você e sim, você é uma criança. — Afirmei, dando a partida.
O motor não funcionou e eu tive que voltar para o capô, passando pela minha companhia indesejada como se ela não estivessem ali.
— Nem perca seu tempo tentando me enganar, eu já sei que você tem só vinte e dois. — Praticamente pude sentí-la revirar os olhos enquanto falava, mesmo que não a olhasse.
Eu devia ficar surpreso ao descobrir que ela já sabia minha idade, mesmo que eu nunca tivesse trocado mais que três palavras com ela. Mas percebi que em uma semana ali eu já a achava louca o suficiente pra não me surpreender com aquilo.
Estava fazendo o caminho de volta quando ela parou na minha frente outra vez.
— E quanto a eu ser criança: eu já tenho dezoito, então se continuar dizendo isso eu vou ter que te provar o contrário... — Insinuou e estava pronta pra me tocar quando segurei seu braço no ar.
Minha reação a pegou de surpresa, percebi pelo modo como me olhou.
— Você tem dezessete. — Lembrei de algo que Cooper me contou no segundo ou terceiro dia. — Mas não faz diferença, mesmo que tivesse qualquer outra idade. Eu não estou interessado, Bochechas.
Soltei seu braço sem nenhuma delicadeza, voltando para dentro da caminhonete e tentando dar a partida de novo.
— Bochechas? — Cruzou os braços, parecendo totalmente indignada. — De onde tirou esse apelido ridículo?
Achei engraçado que de todas as más educações que eu disse durante a semana, aquela era a primeira vez que ela parecia realmente afetada.
— É só se olhar aqui que você vai entender. — Bati os dedos no retrovisor externo. — Você tem sorte de não ser dentuça, Bochechas, ou seria igualzinha um esquilo.
Fingi que não tinha visto o olhar mortal que ela me lançou e mantive minha atenção no meu trabalho. Olhando alguns circuitos abaixo do volante, já que a caminhonete ainda não pegava.
Pensei que finalmente a maluca tinha desistido. Respirei aliviado e acendi outro cigarro. Ela ainda continuava ali e eu sabia que seus olhos estavam em mim. Mas desde que ela ficasse longe não importava.
Dei uma longa tragada e o mantive preso nos lábios, as mãos ocupadas com os pequenos fusíveis localizados dentro de um compartimento do painel interno. Eu estava meio sentado no banco, com a porta aberta e a perna pra fora pra conseguir alcançar o local.
Senti Natalie Cooper se aproximar de novo, resolvi ignorar e realmente não estava esperando quando ela simplesmente arrancou o cigarro dos meus lábios.
Ergui a cabeça e tive tempo de vê-la tragar, como se aquela porcaria fosse dela e não minha. Ela brincou com a fumaça que soltava e eu sem querer percebi o quanto seus lábios eram desenhados.
— Okay. Saquei. Você não ficou afim de mim. Tudo bem. Eu sou linda, maravilhosa e muito sexy, mas entendo que nem todo mundo nesse planeta vai cair nos meus encantos. — Encostou a cabeça na porta da caminhonete e continuou com o meu cigarro entre os dedos. — Eu posso viver com isso. Sério mesmo... Mas ainda podemos ser amigos, não é como se essa cidade tivesse muitas opções de gente da nossa idade. A gente saí, se diverte, você me apresenta umas pessoas e uns lugares legais. Vai ser divertido. Eu não vou estragar os seus esquemas. Se esse era o seu medo, pode relaxar.
Soltei um riso totalmente sem humor pelo nariz. A garota era realmente inacreditável. Passei a mão pelo rosto e neguei algumas vezes.
— Sim você está certa, eu não estou "afim de você", que bom que finalmente se tocou disso. E não. Nós não podemos ser amigos, porque eu não tenho amigos, não conheço lugares legais. Caso não tenha percebido, eu não me dou bem com pessoas e as pessoas não se dão bem comigo. Eu não vou te levar pra seja lá qual inferno de lugar você queira ir, não é porque você vai "estragar meus esquemas". Eu apenas não quero a sua companhia, isso porque eu não quero a companhia de ninguém, porra! Será que agora você pode parar? — Despejei tudo tentando ser o mais calmo que eu conseguia. Talvez ela entendesse. Ela não podia ser tão burra.
Dei a partida novamente e finalmente a caminhonete pegou.
— Fica com o cigarro. Agora, será você pode deixar eu fechar a porta do meu carro? Estou cansado e quero ir embora. — Terminei totalmente exausto, eu provavelmente nunca havia falado tanto de uma vez só. Mas aquela louca tinha realmente conseguido me tirar do sério.
Os olhos negros ficaram em mim por um longo segundo e eu não soube decifrar nada do que se passava por eles. Por fim, Natalie assentiu muito lentamente.
— Okay, vai descansar. Mas depois de tudo isso que você acabou de me dizer, a única coisa que eu consigo pensar é que você precisa desesperadamente de alguém como eu na sua vida triste e solitária. Eu não vou desistir de você, Daryl Dixon, eu prometo. — Simplesmente sorriu, me estendendo o cigarro que eu acabei pegando por puro reflexo.
Saiu de frente da porta da caminhonete e simplesmente seguiu pra dentro, me deixando totalmente atônito. Ela era louca. Totalmente. E eu provavelmente enlouqueceria também antes do próximo fim de semana.
Encarei o cigarro entre meus dedos e percebi a marca de batom rosado, apaguei a porcaria no cinzeiro do carro sem nenhuma paciência.
Ainda com a irritação à flor da pele, guardei as ferramentas e parti.
Minha mente fervilhava com cada coisa que Natalie Cooper tinha dito, por mais que eu quisesse esquecer aquela porra toda, eu não conseguia. Eu ficava repassando cada cena.
Parei em frente a minha maldita casa, se é que dava mesmo pra chamar aquele lugar de "casa".... Olhei as luzes na janela e me dei conta que o velho devia estar lá dentro assistindo TV. Se eu desse muita sorte talvez ele já estivesse dormindo, mas eu não era um cara de sorte, então duvidava muito.
Deixei a cabeça bater no encosto e suspirei. A bochechuda vagou pelo meu pensamento outra vez:
"Eu não vou desistir de você, Daryl Dixon, eu prometo."
Qual era a porra do problema dela? Será mesmo que a patricinha estava tão entediada que tinha que infernizar a minha vida, que já era um grande inferno.
Talvez o melhor fosse eu não ir pra oficina nunca mais, a caminhonete já estava pronta mesmo...
Soquei o volante, totalmente frustrado e acendi a merda de um cigarro. Aquele emprego idiota era o melhor que eu já havia arrumado. Toda a vida eu sempre me virei com bicos, trambiques do meu irmão e o dinheiro da caça, era a primeira vez que eu tinha algo daquele tipo... Ninguém empregava um Dixon na cidade.
Merle tinha razão, eu era mesmo um maricas...
Me irritei, eu não largaria meu emprego por causa da merda de uma garotinha. Logo ela cansaria. Eu só tinha que ignorar, afinal tinha ficou bem claro que não importava o que eu dissesse para afastá-la, ela entenderia do jeito que queria entender. Totalmente louca.
Encarei o cigarro com a marca de batom no cinzeiro e a imagem de Natalie Cooper soltando a fumaça, com aquela boca de boneca, me voltou a mente. Rosnei, irritado por não ser capaz de controlar nem a merda dos meus próprios pensamentos.
Dei a partida e dirigi para um bar qualquer. Sim, eu queria parar com a porcaria da bebida, mas eu realmente precisava encher a cara aquela noite.
Maldita Bochechas.
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