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História Lifeline - Before the End - Problemas familiares


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Hello it's me...

O 7x6 acabou agorinha pouco e eu vim deixar esse cap antes de dormir, pq não faço ideia de que horas vou poder pegar no Note amanhã.

Vamos começar com os agradecimentos, eu sei que sempre falo isso, mas obrigada a todos que colocam a fic nos acompanhamentos e um obrigada maior ainda a quem favorita. Os números estão subindo aos pouquinhos e isso me deixa pra lá de animada *---*
Os agradecimentos especias vão para todas as divas que comentaram no cap passado, obrigada mesmo um beijo em todas ❤ ❤ ❤
Vcs não tem ideia da felicidade que eu fico quando recebo um comentário, sério mesmo!

Daryl narrando por aqui, e a gente vai ficar bem ciente do que levou ele a ser do jeito que é. Eu sempre imaginei o Daryl como um garoto que cresceu rápido demais, por ter uma infância muito abusiva e conturbada, vamos ver um pouco disso, eu queria falar mais, porém antes do cap não tem graça, não é? (é triste, então leiam cientes disso)

Boa leitura.

Capítulo 7 - Problemas familiares


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Before the End - Problemas familiares

 

 

• DARYL DIXON •

Infelizmente a maldita sexta-feira tinha chegado, eu ainda estava me condenando por ter participado daquela porra de aposta. Quando é que eu tinha me tornado tão burro a ponto de deixar uma garota me enganar? Merda!

Tive que decidir onde levar a patricinha bochechuda e só isso já me irritou o bastante, afinal eu realmente não conhecia merda de "lugar legal" nenhum, ou seja, tive que perguntar à Shannon.

Shannon era uma garçonete do Joe's, Merle comia ela às vezes, e eu tive que aguentar as risadinhas de "nossa, você tem um encontro" antes de finalmente a horrorosa sugerir algo útil: um lugar novo em uma das cidades vizinhas que, segundo Shannon, "estava bombando".

Era bom ela estar certa, porque se eu passasse vergonha por isso...

Na verdade não devia importar, nem sei porquê eu estava tão preocupado, eu devia levar Natalie Cooper em qualquer espelunca pra ela aprender.

Acho que eu só queria esfregar na cara dela que não precisava descer tão baixo a ponto de trapacear numa aposta.

Sim, eu ainda tinha plena certeza que foi trapaça...

Contudo eu concordei em levá-la em um "lugar legal", então era exatamente onde eu a levaria. Mesmo desejando ser atropelado por um ônibus só pra fugir daquilo.

Ou talvez ela desistisse, isso é, eu mal a tinha visto nos últimos dois dias, o que foi um alívio.

Na quinta ela ficou o dia todo grudada naquele celular de granfina, trocando mensagens com alguém, ou naquela agenda com a pena azul berrante. A sexta estava prestes a acabar e ela sequer tinha aparecido na oficina. Nem pra confirmar a merda do, seja lá o que, a gente faria a noite. Melhor assim.

Ela parecia ter enjoado de mim e isso era ótimo.

Mas a merda é que aquela bochechuda parecia ter se infiltrado na minha mente, por que eu ainda me pegava pensando nela mesmo quando não queria... Era aquela maldita conversa que tivemos por causa do suco de laranja. Eu não esperava que tivéssemos nada em comum, principalmente aquilo.

Ah, qual é, Daryl, muita gente toma suco de laranja com açúcar, não é grande coisa.

Continuei desmontando o motor no qual eu trabalhava, repetindo aquilo mentalmente e me sentindo cada vez mais estúpido.

Na verdade eu sabia que não era exatamente por causa do suco...

Me lembrei dela mencionando a mãe. A mulher parecia uma megera. Fora toda aquela pressão psicologia que colocava na filha, eu vi uma Natalie Cooper diferente aquele dia. Talvez esse fosse o motivo de eu ter ficado com ela na cabeça. Não era grande coisa, ia passar. Tinha que passar.

— Daryl, você não vai pra casa? — Cooper perguntou.

— Vou terminar aqui, tirar a peça, assim passo na retifica e a gente tira essa merda daqui na segunda.

— Achei que você tinha um compromisso hoje. — Debochou e eu revirei os olhos sem ele ver.

— É só às oito da noite, e talvez sua amada filhinha tenha desistido.

— Duvido... — Falou como se soubesse de algo que eu não sabia.

Olhei o relógio e era realmente hora de ir embora. Talvez aquele ônibus ainda me atropelasse a tempo. Guardei as ferramentas e fui lavar as mãos.

— Daryl? — Ouvi Cooper me chamar.

— Que?

Colocou meu pagamento na mesa e me entregou o recibo.

— Você sabe que eu tenho uma arma, não é? E que se você fizer algo estúpido você está ferrado, certo?

O encarei por um momento e foi meio que constrangedor. Eu nunca tinha conhecido o pai de ninguém, ou saído com a filha de alguém que eu conhecia. Não que eu fosse do tipo que saía com muitas garotas, e não que eu fosse sair com a Natalie Cooper. Era só uma maldita aposta.

E de repente, eu vi uma chance.

— Se você acha uma ideia ruim, eu e a sua filha sairmos, eu posso cancelar... — Me fiz de de bobo.

— Nem vem Daryl. — Ele riu, claramente não caindo na minha atuação. — Eu digo pra vocês não irem e então quem vai estar ferrado sou eu. Esquece, garoto. Vá e se divirta, você precisa. Mas não seja um cretino com a minha filha e a traga inteira e a salvo, ou eu vou cortar seu pau fora. — Fez o movimento de uma tesoura com os dedos e sorriu amigavelmente como se não fosse nada. — Era só isso pode ir agora.

Tive o impulso de xingar. Eu teria xingado se ele não fosse meu patrão e se o pagamento não fosse tão bom. Acabei deixando pra lá. Peter Cooper era só um pai preocupado com a filha saindo com um Dixon, era compreensível. Eu não era o tipo de cara com quem a filha de ninguém devia sair.

➷•➷•➷•➷•➷

Cheguei em casa ainda lamentando que nenhum ônibus ou caminhão tivesse me atropelado. Parei a caminhonete na calçada e fiquei lá dentro. Eu podia dar o bolo. Dizer que eu passei mal. Dizer que meu pai passou mal... Sim, eu podia dar uma desculpa qualquer e foda-se a aposta. Eu não devia nada àquela mimadinha.

Desci batendo a porta, decidido a não ir em lugar nenhum. Entrei em casa e dei graças que estava vazia.

Liguei o chuveiro, afim de tirar a graxa do corpo, tranquei a porta do banheiro. Mesmo que não houvesse ninguém em casa, eu nunca deixava a porta destrancada. Não desde que... Detive o pensamento antes que acontecesse e deixei a água quente cair sobre mim, me lavando rapidamente. Eu odiava banheiros, odiava aquela casa, eu odiava minha vida.

Vesti um jeans qualquer, o único que estava limpo e saí atrás de uma camisa. Passando pela porta aberta do guarda-roupa — no quarto que eu dividia com Merle, mas que acabava sendo mais meu, já que ele raramente estava — vi meu reflexo no espelho. Eu estava meio de lado, de modo que foi impossível não notar as malditas cicatrizes na merda das minhas costas.

Suspirei frustrado e soquei a porta de qualquer jeito. Eu não era mesmo um cara com quem a filha de ninguém devia sair...

Tentei lembrar a última vez e me dei conta que não teve uma última vez, já que eu simplesmente nunca tinha levado uma mulher pra sair.

Na verdade dava pra contar nos dedos de uma mão as mulheres com quem eu tinha transado na vida, todas porque Merle obrigou de alguma forma. Em todas as vezes eu estava bêbado demais, assim eu podia desligar a mente... Eu sequer conseguia dizer quando tinha sido a última vez.

Pra mim sexo era só uma necessidade idiota, que eu não conseguia compreender. O desejo não era suficiente, porque odiava o contato. Eu não queria odiar, queria gostar tanto quanto Merle parecia gostar, queria ser como qualquer pessoa normal, mas cada vez que qualquer pessoa me tocava eu estava de volta naquele maldito banheiro... Eu me lembrava de tudo. E eu não queria lembrar. Eu odiava.

Eu era só a porra de um fodido do caralho. Não tinha salvação pra isso. Eu não conseguia ter nem a força pra superar aquela merda toda. Aposto que se Merle soubesse de tudo aquilo, ele diria que eu nunca passei de um maricas, que eu era fraco...

Talvez por isso eu nunca tenha contado para ninguém. Já era ruim o bastante ter que conviver com aquilo, eu não tinha que meter mais ninguém no meio. Era um problema apenas meu.

Ninguém tinha que saber da merda de minha vida.

Estava tão mergulhado naquelas lembranças que nem percebi que alguém tinha entrado em casa. Só me dei conta quando ouvi o velho resmungar.

Terminei de vestir as meias e enfiei um sapato qualquer, exatamente no instante em que ele empurrou a porta do quarto e entrou sem pedir licença.

Cruzei os braços na frente do peito por puro instinto. Não gostava que as pessoas me vissem sem camisa.

— Preciso de dinheiro. O Joe não quer mais me deixar beber fiado. — Falou embolado, estava totalmente bêbado, como sempre.

— Eu não tenho. — Menti de mau-humor.

— Como não têm? Passa o dia todo enfurnado naquela merda de oficina e ninguém te paga? Sabia que aquele emprego era uma farsa. Você é inútil demais pra arrumar qualquer coisa descente! — Sequer me encarou, tropeçando nos próprios pés e se escorando no batente da porta.

Não respondi. Eu raramente respondia. Não valia a pena, de toda a forma ele não lembraria. Esse era um dos muitos defeitos de Will Dixon, ele bebia demais e tinha lapsos de memória por causa disso. Então nas raras vezes em que se encontrava são ele agia como se não tivesse feito nada.

Foi assim no dia em que ele me deixou com as malditas cicatrizes e depois fez comigo o que nenhum pai deveria fazer com o filho... Ele não se lembrava, ou vai ver, fingia muito bem.

Pelo menos tinha parado com a coisa das drogas, depois que minha mãe morreu ele vivia chafurdado em heroína, isso piorava ainda mais a convivência. Piorava os surtos de raiva, as surras e todo o resto.

Ele quase morreu por causa daquela merda, então foi obrigado a largar ou mentia que tinha.

Eu não me importava, na verdade eu agia como se não me importasse. Vai ver fingir bem fosse de família...

— O mínimo que você devia fazer, por morar de graça na minha casa, era me dar algum dinheiro. Eu sou seu pai, lembra disso, ingrato? Mas você é igualzinho o Merle. Só criei filhos que não prestam! — Gritou se aproximando mais.

— Essa é minha casa também, e se não percebeu temos comida na geladeira porque foi eu quem comprei! — Retruquei, sem poder me conter.

— Não ouse gritar comigo, moleque! O mínimo que você me deve é respeito! Você não vale metade do que eu já gastei com você nessa vida, vai ver até a sua mãe estaria viva se você não fosse um desgosto tão grande pra todo mundo!

Eu vi a mão que se levantou em minha direção e por instinto a segurei no ar. Mantive o aperto firme, já fazia um tempo que eu não deixava o velho encostar em mim e já fazia um tempo que ele não tentava.

O ar ficou denso. Ele me encarou com raiva e eu não desviei os olhos. Eu não tinha mais medo. Tudo de ruim que Will Dixon podia fazer comigo ele já tinha feito. Não havia mais nada. Não existia mais nada em mim que ele pudesse quebrar...

— Nem sei porquê você continha morando aqui. — Desdenhou, como se eu sequer fosse seu filho.

— Nem eu...

Dei dois passos pra trás e alcancei a carteira na outra calça. Joguei uma nota de cem na cômoda e saí, depois de enfiar a mão no armário e pegar uma camisa qualquer.

Fui chutando tudo pelo caminho. Foda-se aquela porra toda! Bati a porta e liguei a caminhonete sem pensar direito. Por que diabos eu continuava naquele inferno mesmo? Por que eu simplesmente não dava o fora?

Eu era fraco e covarde, essa era a única explicação. Eu não conseguia esquecer a merda do velho, mesmo depois de toda a porra que ele tinha feito comigo, ainda existia uma parte minha que dizia que o idiota era meu pai. Minha única família além do Merle. Eu não podia abandonar a família.

Merle dava no pé o tempo todo, mas eu não achava certo, no fundo eu achava que se ele nunca tivesse partido as coisas teriam sido diferentes.

Saí cantando pneu pelo asfalto. Os pensamentos a milhão. Quando vi estava parado na frente da oficina. Que diabos eu estava fazendo ali?

Tentei controlar a respiração e empurrar aquela merda toda pra algum lugar escuro na mente. Eu tinha decidido não ir mais naquele maldito encontro, ou seja o que fosse, mas naquele instante, ficar irritado com Natalie Cooper, me parecia melhor do que afundar na bosta que cercava minha vida.

Toquei a buzina, e só então me dei conta de que tinha saído sem nem reparar o que vestia. Olhei minha camisa, era uma peça que eu nunca tinha usado, nem sabia onde tinha conseguido aquela coisa. Era xadrezada em tons de azul e branco, de um tecido qualquer que, com certeza, era barato. Peguei a jaqueta preta no banco de trás e joguei por cima.

Foda-se, nem era um encontro de verdade, eu não tinha que vestir nada especial. Eu nem devia estar ali mesmo.

Peter apareceu primeiro, me cumprimentou com um movimento de cabeça que eu retribui do mesmo modo.

Tentei forçar minha a mente a permanecer ali e não dispersar para a briga que eu tivera com meu pai. Não valia a pena. Foi quando Natalie Cooper finalmente saiu.

Eu perdi o foco por um segundo, sei lá porquê. Ela usava um shorts preto que tinha um tipo de brilho, era curto e colado, exibindo suas pernas bronzeadas, ainda mais longas, já que ela usava um salto enorme, também preto. Em qualquer outra garota aquilo ficaria totalmente vulgar, mas não estava. Talvez porque ela usasse com uma regata preta, simples e soltinha e nada mais que um colar pateado e comprido pra complementar.

Era claramente um visual de garota da cidade, mas ainda assim era simples de um modo que eu não conseguia entender... Até que ela estava bonita. Não que eu fosse dizer isso em voz alta. Jamais.

Vi pai e filha se despedindo e talvez tenha sentido um tanto de inveja, algumas pessoas tinham a sorte de ter bons pais. Já eu...

Cooper vez o sinal de tesoura pra mim e eu assenti, entendendo a ameaça velada.

Abri a porta por dentro, já que a garota insuportável não foi capaz de conseguir abrir por fora.

Vendo-a mais de perto, reparei que seus cílios, que já eram grandes, estavam ainda mais destacados, por seja lá qual a maquiagem que ela tinha passado nos olhos. A boca estava pintada com um tom de rosa, evidenciando ainda mais o quanto era perfeitamente desenhada. E de uma forma irritante, tudo aquilo combinava perfeitamente com os cabelos que caiam ao redor do seu rosto, como se os fios estivem bagunçados de propósito, em uma desordem perfeitamente ordenada. E, espera: o cabelo dela estava mais claro? Quer dizer não todo ele, só as pontas, se é que isso era possível...

— Oi. — Sorriu, fazendo as bochechas redondas se destacarem.

Grunhi um comprimento qualquer e ela fechou a porta acenando para o pai quando eu acelerei pela rua.

— Sabe que eu cheguei mesmo a pensar que você não viria, Baby Dix. — Comentou, menos de um segundo depois.

— Eu sou homem, honro meus compromissos, mesmo que essa merda de aposta tenha sido trapaça. — Retruquei, sem tirar os olhos da rua.

Percebi ela erguer as mãos em sinal de rendição e apenas se arrumar no banco, me encarando com mais afinco.

— Você está bonito. — Atestou, com tanta naturalidade, que acabei encarando-a atônito por meio segundo.

— Uma ova! — Bufei totalmente sem jeito. — Coloquei uma merda qualquer, não pense que me arrumei pra ir em qualquer porra de lugar com você.

Isso era verdade, afinal quando saí chutando tudo em casa, nem lembrei que Natalie Cooper existia.

— Pode ser. — Ela deu de ombros. — Então suponho que eu tenha que corrigir e dizer que você não está bonito. Você é bonito. Mas isso não é nenhuma novidade.

Alternei meu olhar dela para a rua umas três vezes. Era impossível alguém dizer algo como aquilo com tanta convicção. Eu não era bonito por nenhum ângulo.

— Você é louca! — Exclamei, sentindo meu rosto esquentar. Ela riu.

— Bom isso não é bem um elogio, mas paciência... Já é um começo.

Puxou o quebra-sol e se encarou no pequeno espelho por um segundo.

— Gostou do meu cabelo? Nem acredito que eu consegui pintar sozinha e ficou tão bom. — Comentou, totalmente animada.

— Nem reparei. — Menti. — Pra mim está exatamente igual, nem sei pra que se deu ao trabalho...

Ela me encarou afetada e revirou os olhos, erguendo minimamente a lateral do lábios e sacudindo a cabeça em um gesto de desdém. Quase ri da careta dela. Quase.

— Então para onde vamos?

Pensei em dizer que não interessava, mas ela acabaria sabendo mesmo, então não tinha por que continuar protelando.

— É um lugar novo que abriu na cidade vizinha. Se chama Infierno.

— Infierno? — Ela repetiu, usando um sotaque chicano. — Nada mal, já vi que vai ser quente.

— Tanto faz. — Respondi entediado.

Voltei meus olhos para a estrada e Natalie Cooper tirou o celular da pequena bolsa que trouxera. Leu alguma coisa na tela e riu, digitando em uma velocidade quase anormal.

Ótimo! A mimada bochechuda me obrigava a sair com ela, pra ficar de risadinhas naquela merda de telefone granfino.

Tentei não prestar mais atenção nela e liguei o rádio. O locutor falava do campeonato regional de pesca e isso atraiu minha atenção, me fazendo lembrar do ano em que eu e Merle competimos e vencemos, eu devia ter uns onze, foi alguns anos depois que minha mãe morreu. Meu irmão tinha voltado para a cidade, depois de ter passado uns meses em um reformatório qualquer, ou vai ver foi na cadeia, honestamente, não me lembro. Me deu duzentos dólares, dos mil que ganhou e eu pensei em juntar mais um pouco pra comprar alguma coisa legal...

Mas eu nunca comprei nada. Duas semanas depois Merle deu no pé de novo e eu fiquei em casa com o meu pai. Foi quando tudo aconteceu...

— Hey! Terra chamando Daryl Dixon! Terra chamando. — A voz de Natalie me puxou de volta das lembranças.

Ela tinha desligado o rádio e eu nem ao menos percebera.

— Tudo bem? — Perguntou parecendo preocupada.

— Por que não estaria?

— Porque com a força que você está segurando esse volante, ou ele vai quebrar no meio, ou suas juntas é que vão. — Apontou e eu movi minhas mãos de lugar antes que ela pudesse tocá-las.

— Eu estou bem, considerando é claro que estou nessa merda de aposta com você. — Retruquei rude.

Senti os olhos dela ainda em mim, como se estivesse me analisando.

— Pois acho que eu não sou o seu problema. Quer falar sobre isso?

Parei o carro no acostamento, fazendo os pneus cantarem pelo tanto de força que coloquei no freio. Natalie quase bateu a cara no para-brisas.

— Eu disse que estou bem! Então para de achar que me conhece, merda! — Praticamente rosnei. Ela me encarou totalmente assustada. — E coloca a merda do cinto!

Voltei a dirigir, depois de respirar fundo. Saco de vida.

— Merle não me mandou colocar o cinto quando andei com ele. — Comentou mais pra ela mesmo do que pra mim.

— Então por que não fez a merda de aposta com o Merle, se ele é tão maravilhoso assim?! — Praticamente cuspi de volta.

— Porque se eu quisesse sair com o seu irmão, teria feito isso quando ele deu em cima de mim da primeira vez. Mas claramente eu escolhi o Dixon mais difícil. — Ergueu minimamente o tom de voz.

Ficamos em silêncio depois disso. Natalie olhando para a estrada que passava depressa e eu tentando entender o real significado das últimas palavras dela.

Bufei, tamborilando os dedos no volante, enquanto ela balançava o celular pra frente e pra trás, ainda olhando a paisagem externa.

Não era culpa da menina que a minha vida fosse uma merda. Já que eu estava ali, o mínimo era não estragar a noite dela também. Não que Natalie Cooper merecesse, mas eu não tinha que ser um cretino estúpido todo o tempo.

— Não é com você, 'tá certo? Eu tive um perrengue com meu velho. Só me deixa no meu canto, que vai ficar tudo legal...

Natalie voltou os olhos pra mim, franziu um pouco as sobrancelhas e me deu um sorriso compassivo, como se me compreendesse totalmente. Eu mantive a atenção na estrada, mas percebi que ainda era encarado. Por fim ela suspirou, deixando a cabeça bater no encosto e negando algumas vezes.

— Quando eu tinha uns dez anos... — Começou, encarando os próprios dedos que ela estralava compulsivamente. — Eu estava voltando da escola e achei um filhotinho de cachorro na rua. Ele estava coberto de pulgas carrapatos e sarna, ele estava tão magro e fraco... Eu só não podia deixar ele lá, sabe? Enrolei-o no casaco do uniforme, passei no petshop, que ficava no caminho, e comprei literalmente tudo que o veterinário de plantão me indicou. Pouco importou que fosse apenas segunda e eu estivesse gastando toda a minha mesada, mesmo sabendo que minha mãe não me daria mais dinheiro para o lanche de jeito nenhum. O veterinário disse que o cachorro ficaria bem, e isso era tudo que importava...

Ela começou a enrolar o cabelo no dedo sem me encarar nenhuma vez, como e fosse doloroso contar aquilo, ou vergonhoso de alguma forma.

— Eu levei o filhote pra casa e coloquei o nome dele de Stich, por causa de um filme. — Riu sem humor algum, apoiando o queixo no punho e o cotovelo na janela. — Eu cuidei dele por toda a tarde, dei mamadeira, fiz uma cama... Quando minha mãe chegou a noite e eu contei, super empolgada, que tinha encontrado um cachorrinho na rua... — Fez uma pausa respirando muito fundo. — Eu ainda me lembro do olhar dela, como se o pobrezinho fosse só um pedaço de carne podre, capaz de apodrecer a casa toda com a sua simples presença. Ela gritou por quase uma hora, enquanto eu tentava argumentar e prometia qualquer coisa que uma garota de dez anos podia prometer para a mãe. Não adiantou. Argumentar nunca adiantou com Deborah Spelman. Ela arrancou o cachorro de mim, com tanto asco e o jogou dentro de um saco. Consegue imaginar isso? Um filhotinho doente jogado fora como lixo dentro de um saco preto.

Tinha tanto ódio na voz de Natalie, que era como se ele passasse através dos meus poros.

— Eu tentei arrancar o saco dela, desesperada, e ela tentava passar o saco para o meu padrasto. Foi quando tudo aconteceu... O saco rasgou e o cachorro despencou pelo beiral da escada, uma queda de três metros até o chão da minha maldita sala de estar...

Ela teve que parar, apoiou o rosto na mão direita por um momento e eu vi uma lágrima escorrer dos seus olhos. Eu conseguia imaginar perfeitamente como a cena teria ficado gravada na cabeça de uma menina de dez anos, acostumada com beleza e bondade.

— Desculpa. Eu nunca contei isso pra ninguém, e esse nem era o ponto... — Desconversou meio sem graça. — Eu só queria dizer que, eu conheço problemas familiares muito bem, eu conheço a raiva que emana deles. E isso foi o que eu vi em você, mesmo antes que tenha dito. Desculpe se eu fui invasiva.

Não respondi. Não era bem a mesma coisa, mas de certa forma era sim parecido. Mas isso não me fazia querer falar do assunto.

Mesmo assim uma dúvida ficou martelando na minha cabeça:

— Disse que nunca contou isso pra ninguém? Por que? Não tinha amigos o bastante?

— Eu tinha. Mas é diferente. Foi ali que tudo começou, sabe? Toda a raiva, rebeldia, desobediência, birra e malcriação. Eu vi todos os defeitos dela depois daquilo e simplesmente não consegui mais fechar os olhos. Mas eu nunca contei, porque no fundo eu me sentia culpada. Eu não fiz nada para salvar o cachorro...

Eu a entendi perfeitamente ali. Ela lidou com a dor e a culpa de um modo, da mesma forma que eu lidava com a dor e a culpa do meu modo.

O pior foi me dar conta de que realmente tinha existido um ponto de partida, e que o meu também culminava em culpa, eu me sentia culpado, mesmo que conscientemente soubesse que a culpa não era minha.

— Não foi sua culpa. Você não poderia ter feito nada pelo cachorro — Declarei, encarando-a por meio segundo.

— Eu sei. Sei disso agora. Mas ainda me culpo do mesmo jeito.

— Bom é uma pena, de verdade. Mas não tem nada a ver comigo. Eu não tenho nenhuma história assim, Bochechas, foi só uma briga idiota, nada mais. — Menti, dando de ombros.

Natalie me encarou por um instante e sorriu compassiva.

— Okay. Mas mesmo assim, se quiser conversar... — Deu de ombros, como se não fosse nada. — Obrigada por me ouvir. Foi libertador de alguma forma, foi dolorido reviver, mas agora que eu coloquei em palavras, sei que está no passado. Obrigada, Daryl.

Foi estranho ouvir meu nome sair da boca dela com tanta naturalidade. Foi estranho sentir a conexão com minha própria vida...

Claro que eram coisas diferentes, não dava pra comparar um acidente com um cachorro, com o que tinha acontecido comigo. Mas aquilo machucava Natalie da mesma forma que a minha história me machucava.

Era diferente, mas de alguma forma era parecido.

— Mas você se livrou disso, quer dizer dos problemas com a sua mãe, deixou tudo pra trás. Escolheu esquecer, foi corajosa — Comentei, porque aquilo era algo que eu simplesmente não conseguia fazer.

— Eu escolhi fugir, não esquecer. Eu não superei. Eu só pausei a vida pra viver uma aventura, nem imaginava que encontraria um pai amoroso e maravilhoso, dei sorte. Mas não tem nada de coragem nisso. Eram riscos calculados. Eu escolhi a saída mais fácil. Não tem mérito. Eu agi como a patricinha mimada e rebelde que você diz que eu sou.

Não esperava que ela dissesse uma coisa daquelas, era difícil prever aquela menina, uma hora era louca de pedra, em outra totalmente infantil e depois inteiramente madura e sincera. Natalie Cooper era cem garotas em uma só...

— Pelo menos em uma coisa concordamos. — Debochei, tentando deixar as coisas mais leves. Ela riu meio de canto. — Chegamos.

Avistei nosso destino. Um lugar com letreiro piscando e muita luz vermelha. Tinha uma porção de gente esperando pra entrar.

Natalie sorriu animada, virando outras das cem garotas.

— Então vamos lá. Hoje, mais que nunca, eu preciso ficar tri-bêbada!


Notas Finais


Eu comentei nas notas gerais que falaríamos de abuso. É um assunto muito delicado e espero abordar da melhor forma possível. Por enquanto é apenas subentendido, porque o próprio Daryl sequer pensa nisso abertamente.

Acho que ficou bem claro que a Bochechas vai ter muito trabalho, afinal nosso Baby Dix precisa de muito carinho e compreensão. Ela vai precisar de um tato absurdo com ele, vamos ver se mesmo sendo tão opostos ela consegue.
O cap era sobre o Daryl, mas acabamos descobrindo porque a Natalie não tolera que matem animais perto dela. Ela tem os próprios traumas também, não são como os do Daryl, mas com certeza causaram dano.

Sobre a votação dos shipps, a maioria me disse DARYLIE (que eu adorei) mas a Menta (do Nyah) me sugeriu DIXCHECHAS e eu amei demais, deem suas opiniões finais entre esses dois, okay?

O próximo saí na sexta e é narrado pelo Daryl (também) e depois de tudo isso que teve nesse, o que vcs acham que vai rolar no "Infierno"?

Vejo vocês nos comentários ❤
Bjss


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