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História Lifeline - Destiny Don't Give Up - Testando Limites - parte I


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Boa noite!!

Cheguei com o nosso capítulo semanal de Lifeline, e será um big capítulo, como podem ver pelo título eu já dividi uma vez, mas mesmo assim ficou com quase 8 mil palavras (EITA!)

Mas antes de começar quero agradecer imensamente linda e maravilhosa AustenGirl por presentear Lifeline DDGU com a primeira recomendação da fic lá no nyah (de novo ela saiu daqui pra ir até lá) COMO ASSIM???? Isso me pegou muito de surpresa e eu mal posso descrever a minha felicidade!!!! Obrigada mesmo linda!!!!

Agradecimentos também a todos pelos comentários divosos que mantem essa fic com força total, tudo meu amor por vocês.

Se preparem para um capitulo muuuuiiitoooo tenso, tá muito feia a coisa pra Natalie...

Boa leitura!

Capítulo 3 - Testando Limites - parte I


Fanfic / Fanfiction Lifeline - Destiny Don't Give Up - Testando Limites - parte I

• NATALIE COOPER •

Durante toda minha vida adulta eu me esforcei para ser melhor, para fazer melhor. Um forte senso protetor, tudo por justiça. Lutando e vencendo, nunca desistindo. Eu era orgulhosa de mim mesma.

Eu era.

Às vezes a pessoa que você é e a pessoa que você tem que ser entram em conflito, era exatamente isso que eu vivia naquele instante.

Cumprir uma promessa, ou lutar por meus princípios? Tudo se tornou uma questão de prioridades e as minhas eram claras como água.

Então eu abri mão de mim mesma, em prol de um objetivo mais importante.

Porém decidir, e se focar naquilo que você quer alcançar, não torna o dia a dia mais fácil; abrir mão de quem realmente somos jamais poderia ser fácil.

Eu acordava todos os dias, isso quando eu conseguia dormir, e dava uma facada imaginária em mim mesma, para me impedir de revidar cada coisa que eu via e era obrigada a fingir não ver.

Essa era a minha vida no Santuário, um lugar que de santo só tinha o nome, mas era como um inferno particular para mim.

E Negan era a personificação perfeita do diabo.

Quando fechei a porta do harém eu ainda tremia, eu fingia não ver o que acontecia ali, pra ser honesta, muitas vezes naqueles últimos meses eu tinha desejado ser cega e surda para não ver ou ouvir cada crueldade que acontecia bem debaixo do meu nariz.

Coisas que eu tinha lutado para combater antes do fim de tudo e que, de repente, eu me sentia colaborando para que acontecessem.

Fechei os olhos antes de alcançar o primeiro degrau e respirei fundo, eu tinha uma promessa para cumprir. Aquilo era a única coisa que importava. Por isso, naqueles últimos meses, eu aprendera a abrir mão da minha dignidade, eu tinha um só objetivo e tinha que trabalhar por ele, me abstendo de tudo ao redor, fechando os olhos para toda a crueldade que acontecia dentro do Santuário.

Não importavam as mentiras que eu tinha que contar ou as coisas que eu tinha que fingir, eu tinha que cumprir minha promessa e isso era tudo.

Cada passo meu era planejado, cada conversa... Eu tinha que sair do Santuário, mas, depois da minha primeira tentativa frustrada de fuga, percebi que teria que ser mais esperta que eles para isso. Afinal eu não podia correr o risco de morrer antes de cumprir minha promessa.

O maldito Santuário era antes uma fábrica, o harém, com os aposentos de Negan e das esposas, estava localizado no último andar, o que um dia foi a parte administrativa do lugar. Desci as escadas controlando meu impulso de correr dali.

Controle. Controle. Era a isso que tudo se resumia, era como viver em um jogo de cartas, onde a aposta máxima era a vida e o blefe minha única saída. Não era raro que, em muitas das minhas noites em claro, eu me pegasse pensando até onde minhas mentiras ainda eram mentiras, e até quando eu conseguiria manter minhas verdades vivas o bastante para me lembrar delas quando aquilo finalmente acabasse.

Mesmo assim, desistir nunca esteve em pauta, ser forte e focada era minha única escolha.

— O papo com o chefe foi bom? — A voz clara e límpida de Kane se fez ouvir, mesmo antes que eu terminasse os degraus que descia.

Kane Bennet era praticamente meu cão de guarda, era uma regra no santuário que cada prisioneiro tivesse um Salvador para ser seu responsável, Kane era o meu, quanto mais "boazinha" eu fosse mais ele lucrava.

Tecnicamente eu não era mais uma prisioneira, porém Kane ainda estava na minha cola, ele era o responsável pelo meu treinamento e seria meu parceiro. Ou seja, eu não me livraria dele, o que me deixava pisando em ovos.

— Você não tinha ganhado uma noite de folga? — Perguntei retoricamente, não parando para falar com ele.

Eu não gostava de Kane Bennet, e Kane com certeza não gostava de mim, mas, dentre toda a falsidade do Santuário, nossa raiva mútua era, possivelmente, a coisa mais honesta que eu encontraria. Então, era um pouco menos cansativo estar com ele do que com todo o resto ali dentro.

— Ganhei, por isso estou te esperando pra irmos saber do novo prisioneiro e do massacre que foi essa apresentação. — Ele sorriu, como se saber que alguém tinha morrido esmagado por aquele maldito bastão o deixasse satisfeito e eu o odiei um pouco mais por isso.

— Não estou interessada. — Cortei sem qualquer polidez, tentando passar por ele para pegar o corredor a esquerda.

— Não perguntei se você está interessada. — Ele me deteve, estendendo a mão na minha frente como se fosse tocar meu ombro, contudo apenas ergueu o dedo em riste. — Mas eu posso subir e perguntar ao Negan se você devia estar...

Estreitei os olhos e cerrei o punho, ao passo que Kane ergueu as sobrancelhas e sorriu de canto em um gesto totalmente presunçoso. Ele adorava saber que mandava em mim, era como a vingancinha pessoal dele.

Da minha parte, eu simplesmente não conseguia olhar para aquele rosto, sem lembrar que eu tinha descarregado uma arma inteira no peito do irmão gêmeo dele.

Claro que depois que o mundo deixou de ser mundo, alguns extremos eram necessários, mas matar pessoas, as vivas, sempre foi um limite para mim. Isso até Negan bater na minha porta e me transformar em uma assassina.

Apenas outra coisa na qual aquele sádico havia me transformado.

— Se estiver pensando que me odeia nesse momento, saiba que a reciproca é verdadeira. — Sorriu como se aquilo fosse um elogio, dando um passo para a frente e estendendo o braço em um gesto falsamente cordial para que eu fosse na frente.

Vários Salvadores estavam reunidos em uma saleta, no fim de um dos inúmeros corredores daquele inferno.

Encostei perto da porta, enquanto Kane se atualizava de tudo por ali, ouvindo a história mórbida que eu acabara de ouvir do Negan.

Dentro do Santuário não tinha isso de equipe, embora os Salvadores trabalhassem em grupo eles não eram amigos, jamais arriscariam suas peles uns pelos outros. O pessoal que trabalhava por pontos costumava ser bem mais unido, mas Pontistas e Salvadores não se misturavam, a verdade era que ali dentro todo mundo queria derrubar todo mundo. Não dava para confiar em ninguém

No entanto Kane era o tipo popular, de alguma forma ele conseguia conquistar as pessoas, ele sabia como flexionar as regras e estava constantemente fazendo acordos que não davam a ele nada imediato, apenas o bom e velho "então você fica me devendo". À primeira vista dava até pra pensar que ele era um cara legal. Mas eu prestava atenção o bastante nele pra saber que era um jogo.

Kane Bennet não era o tipo que dava ponto sem nó, toda vez que ele fazia algo para alguém tinha um motivo, era como se ele estivesse arrumando as peças no tabuleiro para uma jogada muito maior, eu só não conseguia saber exatamente qual era o objetivo.

Os olhos dele cruzaram o cômodo e cravaram em mim, tinha algo em Kane que era indecifrável, ele possuía aquela pose de capanga, agia como se fosse como todos os outros, mas tinha algo mais, algo que talvez as outras pessoas não vissem, a única coisa que eu sabia era que Bennet não era confiável. Ele era perigoso.

As pessoas continuavam rindo ao redor, em suas conversas, como se aquilo fosse a vida normal e estivessem sentados em um bar qualquer. Eu odiava cada segundo daquilo.

— Viu Cooper? Pelo menos você não é mais a novata. — Kane se referiu ao novo prisioneiro, caminhando até mim com uma maça verde voando de uma mão para outra.

Me limitei a revirar os olhos, toda aquela farra deles não me dava nenhuma informação relevante que me ajudasse no meu plano de fuga.

O Santuário não tinha uma rotina, Negan era esperto naquele quesito, mudando os horários de turnos e rondas sem aviso, trocando os postos. Ninguém construiria um império do tamanho daquele se não fosse, no mínimo, inteligente. E Negan com certeza era; era um psicopata misógino, mas era inteligente. Seu único defeito era ser confiante demais, além de altamente narcisista, duas coisas que eu podia usar contra ele, se estivesse perto o bastante, mas talvez eu ainda mantivesse um pouco do meu orgulho, ser uma Salvadora era o mais perto que eu conseguiria estar. Teria que bastar.

A única coisa constante no Santuário eram visitas às comunidades sobre o controle de Negan, e as equipes responsáveis por cada uma. No entanto eu ainda não havia encontrado um modo de usar isso a meu favor, talvez quando Negan me liberasse para um grupo desses...

Foi nesse instante que Dwight chegou na saleta com o Doutor Emmet Carson, o homem de rosto parcialmente queimado, tinha algumas roupas sujar na mão e aquela maldita crossbow nas costas.

Eu não gostava dele.

E não, definitivamente não tinha somente a ver com a crossbow e com a lembrança que ele me trazia sobre meu passado, não se tratava apenas do fato daquela arma me lembrar alguém que conseguia desestabilizar o meu emocional; um luxo ao qual eu não podia ceder ali dentro. O problema é que eu conhecia a história de Dwight, eu sabia que ele tinha conseguido escapar.

O cara tinha colocado os pés pra fora daquela merda toda e simplesmente voltou, cedeu a Negan, entregando a mulher dele pra dormir com um maníaco. Não tinha uma explicação plausível para aquilo, além de pura covardia.

Mantive minha mente longe da conversa sobre o prisioneiro, o homem estava ferido e, pelo pouco que eu tinha escutado, tinha sido deixado pelado naquele maldito quartinho escuro e mofado.

— Você devia agradecer seus privilégios, ninguém te deixou pelada na cela. — Kane comentou naquele tom irônico debochado, encostando ao meu lado, mordendo a maça despretensiosamente, me oferecendo a fruta logo depois.

Mas eu sequer tive tempo de pensar em uma resposta malcriada para dar a ele, pois minha mente entrou em curto.

Dwight tinha acabado de colocar a crossbow em um lugar qualquer, afim de liberar suas costas para a peça de roupa que ele vestiria a seguir. Um colete.

Senti meu coração parar de bombear sangue para o meu corpo, meu estômago deu uma volta em torno dele mesmo e pareceu afundar em uma piscina de gelo, minhas mãos tremeram descontroladamente e minhas pernas quase cederam ao peso do meu corpo.

Um maldito colete de asas. Familiar demais para que eu não entrasse em pânico. Não, não, não, por favor não.

Senti que não havia ar suficiente nos meus pulmões, minha mente começou a montar um cenário aterrorizante de possibilidades, era como um filme de terror próprio.

Faz dez anos, ele não guardaria o colete por tanto tempo, debati comigo mesma. Você guardou o colar, revidei internamente. Eu tenho um filho, tive um motivo pra guardar.

Não pode ser ele, estamos longe demais de Dawsonville. Não é ele, por favor, não pode ser ele.

Era como se todos os sons a minha volta tivessem silenciado e só houvesse eu e minha consciência, em uma discussão infinita sobre o filme de terror que minha vida viraria, se a pessoa para quem um dia eu dera um colete exatamente igual aquele estivesse ali.

Isso não podia acontecer. Seria uma coincidência macabra demais. Não. Não era ele. Aquele colete não queria dizer nada.

— Bom é isso. Amanhã você leva o Devon pra que eu examine novamente, Dwight — O doutor Carson se despediu, passando ao meu lado.

Um alivio instantâneo percorreu meu corpo, mas não tive tempo de apreciá-lo, pois a resposta seguinte de Dwight me jogou diretamente no fogo do inferno outra vez.

— Não é Devon, é Daryl.

Daryl... O nome ecoou na minha mente como um mau agouro fantasmagórico e tudo ficou preto por um instante. Parei de sentir minhas pernas.

— Cooper! — Kane me segurou antes que eu despencasse, e logo eu estava sentada em uma cadeira com o doutor me examinando.

Mal ouvi suas perguntas e dei respostas mecânicas, eu não conseguia me concentrar. Minha mente era um emaranhado de lembranças e medo. Por muitos anos tudo que eu quis foi ver Daryl Dixon outra vez, mas naquele instante aquilo era o pior que poderia acontecer.

Se fosse mesmo o Daryl o que eu faria? Todos os meus planos corriam o risco de cair por terra. Negan ainda não tinha me quebrado totalmente só porque não tinha mais ninguém pra ele usar contra mim. Mas com Daryl ali...

Pode não ser ele, existem muitos Daryl no mundo, tentei me acalmar, mesmo que a coincidência do colete e do nome deixasse muito difícil negar as coisas.

Eu não podia confiar na sorte e no acaso, estava na cara que essas duas coisas não estavam do meu lado, eu precisava de um plano para a pior hipótese...

Levei alguns segundos para recobrar o controle completo. Fechei os olhos e respirei fundo, vi perfeitamente o rostinho do meu filho. Eu não podia colocar tudo a perder. Eu tinha uma promessa a cumprir. Isso era o mais importante

— Eu estou bem, foi só um mal-estar passageiro. — Declarei, cortando uma pergunta qualquer do médico.

Kane tinha um olhar desconfiado.

— Você está branca feito um papel, parece que viu um fantasma. — Retrucou, cruzando os braços e me olhando de cima.

— Vou te levar pra enfermaria e... — O doutor começou, mas eu o cortei.

— Já disse que estou bem. — Fui agressiva, me colocando de pé e me esquivando deles, enquanto todos os olhares da sala estavam sobre mim.

A última coisa que eu precisava era chamar atenção, eles já me odiavam o bastante.

— Cooper! — A voz retumbante na porta me deu um leve susto.

Simon, o braço direito de Negan, estava parado na ali, com aquele bigode horrendo e a expressão digna de um maníaco.

— Estou de guarda na torre leste de vigia está noite, peça que algum daqueles idiotas da cozinha leve o meu jantar. — Ordenou em seu tom habitual, algo que lembrava o de Negan, mas pra mim era uma imitação bastante ruim.

— Sim, senhor. — Assenti, aliviada de poder sair daquele meio.

— Ela está passando mal, eu vou. — Kane deu um passo na minha frente e eu revirei os olhos pra chatice dele.

— Seu eu quisesse que você fosse, eu teria mandado você ir. Entendeu ou quer que eu desenhe, Bennet? — Simon bateu a mão no peito do moreno, colocando-o para trás novamente. — Anda logo Cooper, não tenho tempo pra frescura de mulherzinha.

Passei por eles e ganhei o corredor em algumas passadas, olhando pra trás por um momento, vendo que Simon seguia a distância, e me lançava um olhar mais incisivo do que o que ele usava no meio de todo mundo. Assenti sutilmente e segui para a cozinha. Eu sabia exatamente o que ele queria.

Dentro do Santuário, Negan governava com mão de ferro, prestando atenção a cada aliança, amizade e, principalmente, romance que acontecia ali, era como se o lugar fosse um tabuleiro de xadrez e, como um jogador experiente, Negan sabia perfeitamente que certos movimentos colocavam em xeque seu precioso reinado, conexões eram perigosas.

E a pessoa idiota que descobrisse alguma dessas conexões ocultas ficava em uma situação complicada. Infelizmente minha curiosidade e empenho em conseguir qualquer informação relevante, tinha me feito descobrir uma delas, uma conexão secreta que me colocara bem na mira de Simon.

O braço direito de Negan nunca permitiria que eu arriscasse expor seu segredinho e pra não acabar em uma encrenca, que custaria minha vida, eu concordei em ajudá-lo a proteger esse segredo.

Gostaria que fosse algo que me desse alguma vantagem, caso eu o expusesse, mas no fundo aquilo só precisava ser mantido em segredo porque Negan era um escroto, contar não me ajudaria em nada, só pioraria minha situação.

Embora Simon não fosse exatamente uma boa pessoa, principalmente com aquela mania de copiar Negan em tudo, eu dizia a mim mesma que ajudá-lo era uma forma de manter um pouco de mim viva.

Não era o ideal, mas eu tinha que me adaptar com qualquer merda que a vida me dava.

— Cooper, alguma coisa em que eu possa ajudar? — Anthony Mazzara me recepcionou no refeitório com um largo sorriso.

Tony era novo, minha idade no máximo, de estatura mediana e rosto quadrado largo, com cabelo castanho levemente cacheado, todo jogado pra trás. Não havia nada nele diferente de qualquer outro Salvador, ele já até tinha jurado lealdade à "causa", mesmo assim, trabalhava por pontos, simplesmente por ter descendência italiana, detalhe suficiente para que Negan o colocasse na cozinha, porque, como diz o clichê "italianos cozinham bem", apenas mais uma amostra da escortice daquele cretino.

— Simon tem um turno hoje, ele quer que alguém leve o jantar. — Avisei, como se não houvesse nada por trás daquela mensagem.

Ele sorriu, tinha um sorriso bonito, parecia um bom rapaz e, às vezes, eu me perguntava como ele aguentava?

Simon tinha um caso com Tony, esse era o segredo que eu escondia, sendo a mensageira dos dois, Negan nunca admitiria que seu braço direito gostasse de garotos e Simon priorizava Negan e sua posição no Santuário mais que tudo, ao mesmo tempo em que Tony parecia apaixonado o bastante pra fazer tudo pelo mais velho.

Estar apaixonado ali dentro podia ser a ruína de alguém, a primeira vista eu pensei que era um relacionamento por interesse, Tony queria sair do trabalho por pontos e ser um Salvador, que meio mais fácil do que tendo um caso com o braço direito do chefe? Mas Simon não tinha aquele tipo de autoridade, na verdade, Simon não tinha autoridade alguma.

Qualquer impressão de controle próprio que alguém tivesse ali dentro era apenas ilusão. Negan controlava tudo.

Negan controlava todos.

E mesmo assim, Tony permanecia no romance mais perigoso de sua vida, com um homem como Simon, a quem eu já havia atribuído uma lista interminável de defeitos.

Eu já tinha passado muito tempo tentando entender aquele romance estranho e todas as implicações dele, mas naquele instante minha mente ainda estava dispersa por causa do colete e do nome.

Não pode ser o Daryl. Por favor.

Me despedi sem mais conversa, minha parte eu tinha feito.

Enquanto finalmente voltava para o meu "quarto" eu repetia aquela frase como uma oração.

Meus aposentos eram uma pequena saleta que se transformara em um quarto, com uma janela alta, alguns moveis e uma cama, todos trazidos de comunidades que Negan extorquia. Cada Salvador tinha um daqueles, diferente dos Pontistas que faziam tendas no saguão principal e diferente das Esposas, que tinham quartos extravagantemente decorados dentro do harém.

Era apenas ali, sozinha, que eu tinha tempo de pensar, e acertar meu plano, afinal eu não pretendia ficar no Santuário por muito tempo, eu só precisava achar uma brecha pra sair dali viva.

Viva. Só assim poderia cumprir minha promessa, aquele era o único motivo que me impedia de enfiar qualquer coisa pontiaguda no peito de Negan, quando ele estava distraído se gabando de alguma atrocidade.

Mesmo sendo um tirano assassino, mais da metade das pessoas ali estavam dispostas a aceitar as regras dele por um pouco de segurança e não hesitariam em acabar comigo, caso eu o matasse.

Mas naquela noite em particular eu não consegui colocar as ideias na mesa de forma clara, tudo era turvo, tudo que eu sentia era medo. Se Daryl Dixon estivesse mesmo no Santuário, eu sabia que não estava preparada para vê-lo outro vez. Minha reação me trairia e isso daria munição o bastante para que Negan acabasse comigo.

Não consegui fechar os olhos sem ser assombrada pelas probabilidades e repercussões daquele reencontro, então passei a noite em claro, rezando para não ser ele, mas me preparando para o impacto, caso fosse.

Quando amanheceu eu já estava de pé, exausta emocional e fisicamente, estar no Santuário testava todos os meus limites, exigia meu total estado de alerta o tempo todo.

Eu havia tomado uma decisão, fosse quem fosse naquela cela o problema não era meu. O nome Daryl Dixon sempre foi sinônimo de complicação pra mim, e eu não podia me envolver com aquilo. Eu tinha alguém mais importante na minha vida. Eu tinha uma promessa pra cumprir.

Talvez ele sequer lembre de mim, fazem dez anos afinal, tentei convencer a mim mesma, ignorando a dor que aquele pensamento me trouxe.

Que merda, quando é que eu tinha me tornado o tipo de pessoa que usa negação como escudo?

Deixei o quarto e me encaminhei para o refeitório, onde Tony me serviu com um sorriso enorme no rosto, ilustrando que a noite dele tinha sido boa e deixando-me sozinha, logo depois que eu anotei seus pontos no caderninho.

Eu odiava tudo aquilo. Às vezes eu simplesmente queria sentar e chorar, desistir. Mas eu precisava ser forte, mesmo que não fosse por mim...

— Está melhor? — Kane escorregou no banco a minha frente, com uma caneca fumegante de café nas mãos.

— Estou. Obrigada pela sua falsa preocupação. — Nem me dei ao trabalho de erguer a cabeça.

— Mas eu estou realmente preocupado. — Reiterou, como se estivesse ofendido. — Preocupado em fazer um relatório sobre a sua saúde para o Negan.

Finalmente ergui os olhos, apenas para deixar claro o meu descontentamento, todavia tive o desprazer de ver aquele sorrisinho superior que Bennet ostentava, como se fosse um adolescente que acabou de tapear os amigos.

Mas nós não éramos amigos, e nunca seríamos.

— Pelo amor de Deus, vê se cresce, Kane! — Retruquei, enquanto me levantava.

Nossas tarefas diárias ainda não haviam sido distribuídas e eu aproveitaria para passar o máximo de tempo possível longe daquela praga de homem.

No entanto, ainda não tinha me afastado três metros quando Negan surgiu no refeitório com aquele taco odioso nas costas, e o sorriso sádico de quem amava a subordinação de cada pessoa que se ajoelhava.

Segurei o suspiro de pura frustação que queria escapar da minha garganta e me curvei, abaixando a cabeça para que meu olhar de asco não me traísse. Ficar perto de Negan era cada dia mais difícil.

Kane, que já estava do meu lado, levou alguns segundos a mais para prostrar apenas um dos joelhos no chão, mantendo a cabeça erguida, sem medo algum de olhar o líder do nos olhos.

Eu só desejei que Negan achasse outra pessoa pra infernizar naquele dia, mas é claro que o universo sempre conspirava contra mim.

— Exatamente quem eu queria ver! — O déspota assassino exclamou, com uma empolgação que me dava náuseas.

Fez um gesto para indicar que podíamos nós levantar e outro liberando o pessoal para retornar a comer.

Os olhos dele focaram em mim, como sempre, por mais tempo que o necessário, enquanto Kane se preparava para a cordialidade excessiva que sempre usava com Negan.

— Você pode ir, Fat Joe vai passar as atividades do dia, vocês precisam revisar os veículos que vão recolher os suprimentos no Reino. — Ordenou ao Bennet, sem tirar a atenção do meu rosto.

Negan me fazia mal, nunca fisicamente, mas ele me perturbava até o limite mental e emocional e isso, claramente, refletia no meu corpo, era como tortura, se eu não tivesse um objetivo claro em mente talvez já tivesse cedido a loucura, talvez tivesse cortado meus próprios pulsos apenas para não sentir o hálito dele perto do meu rosto.

Era um asco profundo que me fazia não só odiar a ele, mas também a mim mesma por um dia ter caído na lábia daquele psicopata.

— Reino... Esse pessoal tem uma criatividade pra criar nome de comunidades, tão fantasioso. — Riu, invadindo meu espaço pessoal como se fossemos íntimos, tocou a parte traseira do meu quadril, me impelindo a caminhar com ele para fora do refeitório e eu tive que conter ao máximo meus instintos naturais de endurecer meu corpo ou me afastar. Contrariar um psicopata nunca era uma boa escolha. — Sherwood não era de uma historinha infantil?

— Nem todo mundo tem uma ideia tão fantástica e pertinente igual "Santuário". — Sorri falsamente, dizendo cada palavra como se fosse um elogio e torcendo para que meu escarnio não escorresse pelas sílabas.

Negan riu, exagerada e escandalosamente, curvando o corpo para trás me obrigando a deter meus passos.

— Soube que passou mal ontem de noite. — Pareceu preocupado, e eu até teria acreditado se não o conhecesse bem.

— Foi só um mal-estar. — Dei de ombros, apreensiva que aquela merda de tontura tomasse proporções perigosas, sentindo a barriga gelar ao lembrar do verdadeiro motivo de ter passado mal.

Daryl... Daryl Dixon.

Eu precisava urgentemente de um plano B caso fosse ele mesmo.

— Espero que não tenha sido nossa conversa de ontem. Lembranças ruins podem ser foda. — As pontas dos dedos dele, tocando a lateral do meu rosto me pegaram de surpresa e tremi quando percebi os olhos dele se estreitaram.

Eu não podia me distrair daquele jeito, tinha que permanecer focada.

Negan era esperto demais, ele acabaria conectando minha vulnerabilidade emocional com a chegada do prisioneiro.

Eu tinha que trocar de tática e tinha que fazer aquilo antes que minhas suspeitas sobre a identidade do prisioneiro se tornassem verdadeiras.

— Lembranças ruins são foda mesmo... — Admiti uma meia verdade, deixando um suspiro escapar pelos meus lábios e fazendo a postura cair um pouco.

Deixar que ele ligasse minhas emoções a perda do meu filho era o mais seguro naquele instante. Mesmo que me machucasse mais do que qualquer outra coisa.

— Sabe o que eu acho? Você estaria muito melhor instalada lá em cima. — Apontou a direção em que o harém estava. Eu devia saber que ele continuaria batendo naquela maldita tecla. — Mas você continua me negando, mesmo depois de tudo que eu fiz, será que não foi o bastante? Não me diga que ainda guarda rancor de mim...?

Merda! Minhas negativas estavam virando repetitivas e claro que, se eu não colocasse um ótimo motivo entre nós dois, ele nunca confiaria em mim o bastante, pra afrouxar as correntes imaginarias que colocara nos meus pés.

— Sabe que não é isso, senhor. — Tentei ganhar tempo, mas minha evasiva fez os olhos dele faiscarem.

— Então qual é a porra do problema!? — Em alguns raros momentos ele deixava a máscara cair e era apenas um homem descontrolado e de ego ferido, eram os momentos mais perigosos dele. — Lucille está até ficando desconfiada!

Pensa rápido, pensa rápido. Você conhece ele, você tem a vantagem. Tentei incentivar a mim mesma, mas a única ideia que eu tive, era de cara, uma péssima ideia.

— Você me conhece, Negan. Melhor que qualquer um aqui... — O chamei pelo nome, dando um passo na direção dele e tocando seu braço por cima da jaqueta, três coisas que eu nunca fazia e isso o surpreendeu. — Eu gosto de exclusividade.

Torci pra desculpa colar, afinal era verdade, aquele era um traço meu de antes que Negan conhecia, mas que eu nunca dissera com aquele tom.

Eu tinha ido de mulher furiosa por descobrir que tinha sido enganada por um patife, para o papel de amante que deseja que o marido largue a esposa. No caso de Negan, as esposas.

Talvez o narcisismo dele o fizesse comprar aquilo. Eu sabia que não duraria muito, mas rezei que durasse o bastante, pra que eu saísse dali com, pelo menos, aquela parte do meu orgulho intacta.

— Isso seria algo muito egoísta de se pedir... — Negan sorriu de canto, três passos mais perto, as mãos dele em mim e o nariz dele tocando minha pele. Senti que eu estava prestes a vomitar, os pelos do meu braço se arrepiaram de nojo.

No entanto eu vesti um sorriso e continuei jogando aquele jogo estúpido como se eu realmente estivesse interessante.

— Por isso eu não disse nada. — Dei dois tapinhas no peito dele torcendo pra poder me afastar em seguida. — Não queria te colocar em uma posição delicada.

Negan não me deixou ir, sua mão continuava firme na minha cintura, era como se uma barata enorme estivesse pousada na minha pele. A bile estava na minha garganta.

Honestamente eu preferiria a barata.

— Tem algumas posições delicadas que eu gosto bastante. — Ele sussurrou com lasciva e eu me senti imunda, como se precisasse entrar em uma banheira de cândida imediatamente e ficar lá por dias.

Era desesperador, talvez fosse melhor que ele me desse uma facada.

— Senhor? — Fat Joe salvou meu dia e, por um instante, se tornou a minha pessoa preferida naquele maldito inferno.

Havia algo que Negan precisava resolver, ele obviamente não ficou feliz, mas a regra dele de não delegar certas coisas me deixou muito aliviada.

— Terminamos essa conversa depois, quero que fique a serviço das minhas meninas hoje. — Ordenou, dando alguns passos pra longe de mim. Claro que ele arranjaria um jeito de continuar me torturando, mesmo de longe. — Seu primeiro dia trabalhando sozinha. Boa sorte, Coração. Não se preocupe que terminaremos essa conversa depois.

Ele se foi e eu estava tão tensa que sequer consegui respirar aliviada, era como se aquilo nunca fosse acabar, eu queria sentar e chorar, e vomitar por dias, mas nem isso eu podia fazer.

Nunca uma promessa foi tão difícil de cumprir e isso era irônico, já que o cara que tinha me obrigado a fazer a promessa mais dolorida de todas, podia estar preso em um quartinho bem perto de mim.

Ignorando todos os meu limites emocionais eu fui para o maldito harém, e não demorou muito para que eu percebesse que havia algo de estranho por lá naquela manhã.

Quer dizer, mais estranho do que o fato de existir um harém. Talvez tenha sido o modo como as garotas me olharam, ou quem sabe fosse apenas eu mesma, meu desconforto em estar ali.

Era quase um pressentimento, que eu descartei no primeiro momento, porque, na verdade, eu fazia o máximo para não me envolver com nenhuma delas. Não é que eu não me importasse, o problema era que se eu olhasse melhor eu me importaria demais e isso acabaria tirando o foco dos meus objetivos ali.

Eu não podia salvar todo mundo, e doía pensar isso, eu só devia me focar em salvar a mim mesma.

No final da minha primeira hora de guarda, aquele sentimento de estranheza ainda não tinha me abandonado, olhei ao redor e elas estavam sentadas, lendo, conversando ou jogando cartas, como sempre, cercadas pelo ambiente ostentosamente decorado. Se algo daquele tipo já era bizarro antes, naquele momento era quase uma piada.

Foi quando eu finalmente notei o que tinha de errado, uma das meninas não estava ali. Josie, ou apenas Jô, era uma garota baixinha, de cabelos castanhos curtos, que tinha íris escuras e redondas como jabuticabas. O único motivo para que eu me lembrasse dela eram os ditos olhos, ela costumava me encarar excessivamente.

— Onde está a Josie? — Perguntei, mas nenhuma delas me deu atenção. Não esperei resposta.

Segui para os quartos procurando em cada um deles pela maldita garota. Perder uma delas no meu turno, seria apenas mais um motivo para Negan ferrar comigo, como se ele precisasse mesmo de um motivo.

Ao procurar em todos os quartos percebi que um deles estava com a tampa do duto de ventilação aberta, os quatro parafusos que a prendiam jogados no chão. Sem pensar muito me enfiei no buraco, subindo em um dos moveis para ter apoio.

Fui me arrastando por dentro do tubo, tateando no escuro, preocupada demais com coisas mais importantes do que as teias de aranha grudando nos meus dedos.

Passei por várias outras grades de saída, até que uma delas estava aberta e foi por onde eu desci. Aquela parecia ser uma área isolada do Santuário, já que eu não conhecia. A única direção possível era por uma escada que me levou ao subsolo da fábrica. Um longo corredor, com canos e equipamentos hidráulicos e de aquecimento, que se repartia em mais vários corredores.

Estava totalmente escuro, e eu conseguia ouvir os ratos caminhando. Comecei a achar aquilo uma péssima ideia, mesmo assim segui em frente, procurando ouvir qualquer outra coisa que me ajudasse a me orientar por ali.

De repente o som de passos ecoou no lugar e foi isso que começou a me guiar. Era um som mais metálico, como se a pessoa estivesse pisando sobre uma placa de metal.

Não demorou muito pra que eu descobrisse o que era: Um cano metálico, com aproximadamente minha altura que devia servir pra escoamento ou despejo de algum material. A claridade que vinha dali deixava claro que ele culminava no exterior das instalações.

Segui tentando não fazer tanto barulho quanto a garota que eu estava seguindo, ela era descuidada.

Quando os sons pararam eu já podia caminhar guiada pela claridade e logo a vi no final do túnel, estava virada de costas, frente a uma grade que parecia ter sido colocada ali posteriormente.

Percebi que ela tinha uma chave de fenda na mãos e tentava abrir o portão improvisado.

Negan devia ter mandado reforçar aquela saída, e na hora nem me passou pela cabeça o motivo de não haver guardas ali.

— Josie! — Chamei e ela se virou assustada, uma mão ainda na grade e com a outra ergueu uma arma na minha direção.

Claro, eu estava a meses tentando conseguir uma arma e a garota aparecia com uma do nada... Que sorte a minha, só que não.

— Para trás! — Alertou, de arma erguida, mas sem parar de tentar abrir as grades.

Ela estava fugindo, estava fazendo o que eu queria a meses. Meu coração estava aos saltos, eu só tinha que esperar ela abrir a grade e correr com ela.

— Eu não posso voltar lá. Você não entende. Ele... Ele... — Ela soava um tanto débil e meu coração se partiu em pedaços, eu entendia.

Minha primeira e última tentativa de fuga voltou a mente, o sentimento de achar que tudo daria certo apenas pra ser encurralada alguns quilômetros à frente.

Mantive minhas mãos erguidas, esperando, esquecida da garota que queria fugir e calculando minhas próprias chances.

Tinham Salvadores demais no Santuário naquele momento, não chegaríamos longe. Se fossemos pegas eu perderia o pouco de confiança e liberdade que eu tinha conquistado, tudo seria em vão.

A imagem do colete de assas veio a minha mente e de repente, a possibilidade de Daryl Dixon ser um prisioneiro entrou na balança também. Não devia, mas entrou.

E, além disso tudo, tinha algo estranho no ar, um pressentimento, descartado novamente, por eu ter achado que era loucura demais, mesmo para o Negan

— Eu não posso te deixar ir, sinto muito. — E eu sentia, realmente sentia. Aquela era eu dando outra facada em mim mesma.

— Por favor! Eu não posso mais. — Josie implorou, uma lágrima escorreu do rosto dela e eu tive que me conter muito pra não chorar também

— Se não quer ficar no harém, saia, você não é obrigada, trabalhe por pontos, o que seja, mas lá fora é perigoso. — Menti, lá fora era fácil, dentro era um inferno e eu me odiei um pouco mais por estar fazendo aquele jogo.

A mão dela tremeu, eu dei um passo para frente e Josie soltou a ferramenta para segurar a automática com ambas as mãos.

— Eu sei quem você é. — Ela tentou com a voz trêmula. — Eu lia a sua coluna, sei que você é contra isso tudo. Por favor...

Fechei os olhos, eu não queria lembrar de antes, eu não podia. Nada mais era daquele jeito.

— Já sei, já sei. Vem comigo, eu planejei tudo, quando derem pela nossa falta já estaremos longe, eu vejo você, está na cara que não gosta disso. Podemos dar o fora. Juntas.

Se ela tivesse atirado contra mim não doeria tanto. Pesei novamente os prós e contras, sair, correr, torcer para não ter posto de vigia algum no nosso caminho, não deixar rastros, rezar pra que não nos alcançassem... Era arriscado.

Minha promessa ecoou na minha mente e eu soube que não podia ser daquele jeito, eles saberiam exatamente qual seria a minha primeira parada. Era óbvio demais.

— 'Tá bom. — Assenti e Josie deu uma sorrisinho que me pareceu estranho para a situação.

Mas não me importei com isso, minha frase teve o efeito desejado e ela baixou a guarda o bastante para que eu avançasse, em um movimento rápido, e tomasse sua arma.

— Seja lá quem você pensa que eu sou, você está errada. — Declarei, deixando clara minha decisão, mesmo que ela doesse mais em mim do que na própria Josie. — Vai andando.

Ela suspirou, olhou a chave de fenda e eu apenas meneei a cabeça.

— Não me faça apontar a arma pra você, é sério.

Josie me entregou a ferramenta e saiu na frente, pensei que ela relutaria mais. Eu teria relutado.

— Será que pode, pelo menos, não contar pra ninguém? Por favor. Eu vou ser punida, nem sei o que vai acontecer, talvez ele me marque como o D., por favor, eu imploro. — Escondeu o rosto nas mãos, eu não podia ver, já que ela seguia na frente, mas era como se chorasse.

Cogitei aquilo, senti pena, meu impulso foi protegê-la, voltar e abrir a grade, deixa-la ir, mas eu não podia ceder aos meus impulsos. Eu não era mais NL Cooper, eu não era mais a Natalie, eu era Negan e eu tinha que jogar o maldito jogo dele, se quisesse ter alguma chance de cumprir minha promessa.

Era tudo por um motivo, mas será que os fins justificavam mesmo os meios.

Eu não fiz o que Josie me pediu, eu não a deixei no harém, eu praticamente a arrastei pelo Santuário, e a levei direto ao Negan, que estava supervisionando a montagem de um novo quarto cercado por Dwight e Kane.

Puxei Josie para dentro e os três pareceram bastante surpresos ao me ver.

— O que aconteceu? — Negan perguntou, mas não pra mim, para Josie.

Mesmo assim me preparei para contar tudo.

— Ela passou. — Josie foi mais rápida. — Não me deixou ir, arrancou a arma de mim e ainda por cima não cedeu aos meus apelos para manter segredo. — Ela soou prática, um tanto entediada e fria, totalmente diferente da garota que eu acabara de confrontar.

Dwight não esboçou reação alguma, Kane reprimiu um sorriso e Negan riu abertamente. Eu simplesmente não conseguia acreditar.

— Caramba! Isso sim que é passar em um teste! Eu sempre soube que você era foda, Coração, mas agora você se superou. — Negan passou o braço pelo meu ombro, me trazendo pra perto.

Meu estômago deu um nó. O pressentimento, que eu julgara totalmente insano, se tornou verdadeiro. Me senti enojada, de todos eles e principalmente de mim.

Era como se eu habitasse o corpo de outra pessoa.

— Minha doce Jô era atriz, acha que ela interpretou um bom papel? — O desposta continuou, como se aquilo fosse uma coisa normal, puxando a esposa para um beijo, mesmo que seu braço ainda estivesse no meu ombro.

Eu não conseguia me mover, eu estava em choque. Quando eu pensava que não havia nada mais cruel que Negan pudesse fazer, ele sempre se superava.

— Tenho que saber se posso confiar nos meus subordinados. — Comentou, como se aquilo justificasse tudo, fazendo um gesto para que Josie se fosse.

— Eu disse que ela estava pronta. — Kane se gabou, e eu me senti menos que um cachorro treinado para ganhar um concurso.

Simplesmente não conseguia falar ou me mover, as mãos de Negan ainda estavam em mim, descendo do meu ombro para a minha cintura e eu me sentia violada, meu espirito tinha sido violado.

Ele desceu um pouco mais a mão, olhando nos meus olhos para medir minha reação, mas honestamente qualquer lugar que ele me tocasse não doeria tanto, não naquele momento.

Mas ele não ousou, apenas alcançou a chave de fenda no meu bolso traseiro e, em seguida, a arma presa ao meu cinto. Eu tinha passado no teste, mas ele ainda não confiava plenamente em mim.

Essa era a pegadinha, o jogo não era sobre confiança, era sobre submissão, Negan não confiava em ninguém realmente.

— Viu, Dwight, meu garoto? É assim que se faz. — Riu, realmente apreciando tudo aquilo. — Agora vai lá fazer sua parte, você tem um pupilo pra educar.

Dwight não me lançou olhar algum, saindo assim que foi ordenado.

Negan olhou de mim para Kane, dando os parabéns a ele e finalmente me soltando, dando ordens para que terminássemos o quarto, porque ele teria outro teste a aplicar.

Tremi. Quis me esconder, como faria uma criança, e chorar por dias, quis gritar, arrancar a arma das mãos dele e atirar, atirar em mim mesma.

Fechei os olhos e respirei fundo. Vi o rostinho de Petter em meus pensamentos, a última vez que eu o tinha visto, junto de Luka, pensei apenas neles, na promessa que eu tinha feito aos dois.

"Corram. Eu encontro vocês. Eu prometo."

Eu precisava ser forte. Mesmo que a incerteza sobre o paradeiro deles me fizesse duvidar. Eu tinha feito uma promessa. Um Cooper sempre cumpria suas promessas.

— Espero que estejam prontos pra ganhar as ruas, vão fazer parte da minha equipe de recolhimento em Alexandria na visitinha de estreia. Mas isso vai ser outro dia, hoje ainda temos trabalho a fazer. — Negan declarou antes de dar uma passo para a saída, voltando em seguida. — A menos que eu te ensine a não ser tão egoísta e dividir com as outras garotas antes. — Insinuou segurando meu queixo.

Ele me soltou e eu não me movi até que tivesse deixado o quarto.

Era como se tudo dentro de mim estivesse quebrado, tentei me agarrar ao fato de que, pelo menos, ele nunca tocaria nos meus filhos. Negan não conhecia Luka e pensava que Petter estava morto.

Por esse motivo eu tinha que ser tão meticulosa, jamais poderia colocá-los em risco, deixando que qualquer Salvador descobrisse a verdade. Petter e Luka tinham que permanecer escondidos.

Não importa onde estivessem.

— Nada mal, hein? — Kane comentou depois de alguns momentos.

Eu procurei algo pra fazer imediatamente, porque se parasse eu desabaria e eu não podia. Foquei na conquista de finalmente conseguir uma ronda, mas isso também me soava aterrorizante naquele momento.

Kane continuou falando, se gabando do meu progresso como se fosse mesmo algo para se orgulhar.

— Rá, essa vai ser boa, aí vem o prisioneiro, quer ver? — Me puxou de repente, e só então eu me dei conta que tinha entrado no automático e o deixei falando por vários minutos. — Anda, vem.

— Me deixa em paz, que merda! Somos parceiros agora, não gêmeos siameses. Se quer ver a porra do prisioneiro pode ir! — Gritei, perdendo a paciência que eu não tinha, explodindo e colocando parte do meu ódio pra fora.

Kane Bennet apenas me olhou, ostentando aquele sorrisinho irritante que ela característica dele.

— Talvez devesse aceitar a proposta do chefe, porque você realmente está precisando transar.

— Vê se cresce, Kane!

O maldito apenas riu e saiu para o corredor, eu terminei de colocar as coisas no lugar ainda perdida em toda a merda que eu tinha acabado de fazer.

No meio dos meus pensamentos acabei ouvindo a voz do demônio, ele dava ordens para Fat Joe, ao mesmo tempo em que uma cadeira foi colocada exatamente em frente ao quarto que eu estava.

E como se uma luz se acendesse na minha mente eu percebi o que eles estavam prestes a fazer. O quarto, o posicionamento, a cadeira. Era mais um joguinho.

O prisioneiro seria obrigado a sentar naquela cadeira e ficaria encarando o quarto em que eu estava. Uma pequena amostra do que o Santuário tinha a oferecer, apenas um dos modos de Negan mexer com a mente do coitado.

E eu estava bem na linha de visão.

Eu não podia fazer aquilo! Se fosse mesmo o Daryl, ficaríamos frente a frente no pior momento possível, bem quando todas as reações dele estariam sendo observadas. Não podia acontecer.

Já tinha me decidido a sair, correndo se preciso fosse, quando a movimentação no corredor me alertou que era tarde demais. Minha única alternativa foi sair do campo de visão e me colocar atrás da porta parcialmente aberta.

Meu coração batia de forma desenfreada, enquanto minha mente calculava todas as chances de dar terrivelmente errado e meu espirito rezava pra não ser ele.

Encostei meu corpo contra a parede. De onde estava eu podia ver Fat Joey sacando uma arma prateada de cano comprido. Eu tremia dos pés à cabeça, incapaz de entender exatamente qual sentimento me causava aquilo, se era medo ou ansiedade...

— Senta. — Dwight ordenou e eu ouvi o barulho da cadeira arranhando o chão, como se alguém tivesse sido jogada nela.

Fechei os olhos com força e pressionei ainda mais minhas costas contra a parede, eu não queria saber, talvez fosse melhor que eu não soubesse.

Não seja estúpida. Isso tem que acabar. Tem que acabar agora.

Abri os olhos e respirei fundo, pelo vão entre o batente e as dobradiças eu podia ver Fat Joe apontando a arma para o homem na cadeira.

Tive que me mexer para ter melhor visão, então desencostei da parede e me movi silenciosamente.

A primeira coisa que eu vi foram os pés descalços, e depois um cabelo castanho sujo e desgrenhado que me deixou aliviada por um simples segundo, apenas um segundo, porque então o homem, como se soubesse que alguém o estava observando, ergueu a cabeça.

Uma exclamação ficou presa no fundo da minha garganta, e eu dei um passo para trás em choque absoluto.

Era ele. Daryl Dixon.

Visivelmente mais velho, muito sujo e ferido, com os cabelos mais cumpridos e cada traço provando que tinha sofrido muito, mas com os mesmos olhos azuis, olhos de mar revolto. Os olhos pelos quais eu me apaixonei uma vez.

Tive tempo para apenas essa constatação antes que Dwight o arrastasse pra um lugar qualquer, sem que Daryl me visse.

Eu continuei parada no mesmo lugar, uma lágrima pesada escorreu pelo meu rosto e me dei conta de que eu não estava pronta para o impacto de vê-lo outra vez.

Por um segundo não havia mais Santuário ou Negan, não havia mais mortos-vivos ou fim do mundo, só havia Daryl Dixon, bem ali, ao alcance das minhas mãos e eu não sabia como lidar com aquilo.

Dentre a avalanche de sentimentos que inundaram meu peito, um deles eu distingui com clareza: saudade. Uma saudade devastadora e angustiante.

Era como se minha vida tivesse virado de ponta cabeça, era assustador que ele ainda tivesse tanto poder sobre mim, mesmo depois de anos.

Contudo, eu não podia deixar aquilo acontecer. Daryl Dixon não era mais o centro do meu mundo e era importante que eu mantivesse isso em mente, se alguém dentro do Santuário soubesse da nossa ligação eu estaria assinando uma sentença pior que a morte, para mim e o pior: para ele também.

 


Notas Finais


Pra quem quiser um visual do Cast:
DC do Kane: https://i.imgur.com/9iXTVP1.gif
Cast simples Tony: https://i.imgur.com/RjfJRAr.jpg
Cast simples Josie: https://i.imgur.com/MuTKN4i.jpg


É bomba atrás de bomba, tadinha da minha bebê. Natalie está muitoooo abalada, também pudera, não é? O Negan está investindo pesado pra acabar com ela.
E no meio de tudo isso tem muita coisa acontecendo no Santuário, algumas histórias serão aprofundadas e outras apenas se passarão nos bastidores.
Cada um ali tem seu próprio jeito de jogar o jogo infernal do Negan, alguns são ótimos jogadores e outros são péssimos...

Como muitos de vocês teorizaram Petter e Luka estão vivíssimos, só não sabemos aonde.

Natalie e Daryl estão bem pertinho, mas ao mesmo tempo muito distantes, o que será do nosso OTP?

O próximo é a segunda parte desse, ainda pelo ponto de vista da Natalie e ainda no 7x03, se vocês tiverem conseguido se situar na cronologia dos eps acho que sabem os eventos que vem a seguir.

Vou tentar não pesar tanto a mão no numero de palavras da próxima vez.
Até semana que vem.
Bjss


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