História Ligações Perigosas - 4. Revelações

A água morna do chuveiro cai sobre meu corpo, é tão relaxante e bom. São poucos os momentos assim, de tranquilidade. Após sair do banho me dou conta de que não tenho roupa limpa para vestir. Como sou burra! Deveria ter lavado minha roupa antes, se eu for lavar agora não vai secar tão cedo. Era só o que me faltava. Talvez o Harry tenha alguma coisa para eu me vestir, mas cadê minha coragem de bater na porta do quarto dele de toalha? Fico pensando em alguma solução, quem sabe ficar o resto do dia de toalha na cama. O meu short dá para usar de novo, mas a blusa está suja.

Resolvo ir atrás do Harry, fazer o que? É o jeito. Bato três vezes na porta e nada dele abrir, bato mais algumas vezes até a maçaneta da porta se mexer. Meu coração acelera um pouco, devo estar vermelha de vergonha. Enfim ele abre um pouco a porta com a maior cara de sono.

- O que você quer? – Ele fala com um tom de raiva na voz. Ele parece não ligar por eu estar de toalha, isso me acalmou um pouco.

- Eu preciso de uma roupa para vestir. As minhas estão sujas. – Tento ver o que tem dentro do quarto dele, mas ele é grande o suficiente para tampar a fresta da porta.

- Espera um pouco. – Ele bate a porta na minha cara. Que garoto chato. Em menos de um minuto ele aparece de novo com uma blusa preta na mão e me entrega.

- Essa blusa é sua? – Pergunto examinando a blusa completamente preta e muito grande. – Vai ficar parecendo um vestido em mim.

- Se você não quiser é só me devolver e ficar andando pelada por aí.  – Ele fala me olhando de cima a baixo com um tom malicioso na voz.

- Para de ser idiota, não sou louca de ficar pelada na sua frente não!

- Vai saber né? Você prever futuro? – Ele fala com um sorriso de lado. Um arrepio percorre meu corpo só de me imaginar nessa situação com ele.

- Isso.... Nunca.... Nunca vai acontecer Harry! Nunca ouviu?!  - Eu gaguejo ao falar, não sei porquê. Aff, esse idiota me tira do sério! Acabo dando motivos para ele rir da minha cara.

- É claro que isso nunca vai acontecer Jenna, até parece que um dia eu ia querer... – Ele me olha por um instante e entra no quarto batendo a porta na minha cara. Respiro fundo e dou meia volta para o quarto. Visto a blusa e como eu já tinha imaginado, ficou batendo na metade das minhas coxas. O cheiro que estava na blusa inundou meu nariz, era forte e muito bom, mas muito bom mesmo. Pelo menos ele tem bom gosto para perfumes.

Mais tarde resolvo fazer um macarrão para comer, estava tarde e não consegui segurar a fome. Essa receita é maravilhosa, foi minha mãe que me ensinou, confesso que não saiu exatamente igual a comida dela, mas eu me senti em casa por um momento. Claro que só foi por um momento até o Harry aparecer para atrapalhar.

- Hmm... O que temos aqui.  – Ele disse abrindo a panela com o macarrão. – Como você sabia que uma das minhas comidas preferidas era macarronada?

- Eu não sabia, fiz para mim porque eu gosto.  – Respondi curta e grossa.

- Tanto faz. – Ele se sentou na minha frente e começou a comer. Sem perceber estava encarando ele comendo, logo me recompus antes dele perceber e continuei comendo.  – Se você quiser depois que terminarmos de comer podemos ir na cidade comprar algumas roupas para você.

- Eu não tenho muito dinheiro, só um pouco que eu achei na mochila.  – Falei sem tirar os olhos do meu prato, mas eu sentia que ele estava me olhando.

- Eu tenho dinheiro, vamos considerar um presente pela comida que você fez.

- Eu só vou aceitar porque realmente estou precisando, mas assim que eu consegui um dinheiro eu te pago. – Falei me levantando e colocando prato na pia.

- Você não gosta de presentes?

- Vindos de você não. – Guardo o resto do macarrão na geladeira e vou para o quarto pegar minha jaqueta que estava dentro da mochila, deixando ele me esperando na sala. Escovo meus dentes e faço um coque no cabelo. Nós dois entramos no carro e vamos em rumo à cidade, o trajeto foi um completo silêncio.

Era uma cidade até grande, se chamava Langerville, era bonita. Tinha alguns prédios bem altos, casas lindas, mais no centro da cidade se encontrava diversas lojas e o movimento de pessoas era bem grande. Avistamos o único shopping da cidade e Harry estacionou o carro bem longe da entrada, como se estivesse tentando esconder o carro.

- Jenna, não quero que saia de perto de mim okay? Pode ser que alguém te reconheça, mas eu acho bem difícil. Eles não te viram e nem sabem onde estamos.  – Ele falou sério e olhando para mim.

-Tudo bem, mas eu quero uma explicação para tudo isso e logo! – Falo saindo do carro e batendo bem forte a porta.

As poucas horas que passamos no shopping me relaxaram um pouco, não sou do tipo que ama ficar perambulando por lojas então comprei o suficiente que eu precisava e bem rápido. Ficar andando com Harry atrás de mim parecendo um guarda costas é bem chato, mas confesso que me sinto mais segura e prefiro ele aqui do que estar sozinha. Harry passa num supermercado compra algumas coisas para a semana e vamos embora assim que anoitece.

Quando chegamos em casa, guardo todas as sacolas no quarto. No canto do quarto vejo a minha mochila e percebo que até agora o Harry não me explicou nada do que aconteceu, preciso tirar essa história a limpo.  Encontro Harry sentado no sofá da sala, juro que vou tentar não me estressar com ele e ter uma conversa civilizada.

- Harry, precisamos conversar.  – Digo me sentando em uma poltrona quase de frente para ele. Ele olha para mim, mas continua calado esperando que eu continue. – Eu preciso saber o que está acontecendo.

- O que está acontecendo é que invadiram sua casa e eu te salvei.

- Você fala como se tudo fosse tão simples. Qual o seu problema? Você não percebe que meus pais morreram na minha frente e eu quase fui morta também. Aí do nada você aparece para me salvar. Quer dizer do nada não! Era você que vivia me seguindo né?!  - Falo tentando manter a calma.

- Sim, era eu que te seguia.  – Ele falou encarando o chão. – Só precisava saber se você estava segura. Só isso.

- Você não é muito bom nisso né? Porque eu te vi uma vez.

- Uma vez, eu te seguia já tinha vários dias. – Ele falou e me olhou rapidamente.

- Enfim... Porquê? Porque você me seguia? Quem é você? – Eu olhei para ele suplicando por uma resposta. Mas ele ficou em silêncio. – Me responde Harry!

- Eu não posso falar muito sobre isso, Jenna! – Ele me olhou e se levantou indo em direção ao corredor, mas eu corri e o impedi que desse se quer mais um passo. – Saia da minha frente.

- Não vou sair! Eu preciso saber Harry, eu preciso de respostas! – Gritei. Minha paciência já se esgotou, não vou deixar ele sair sem me falar o que está acontecendo. Ele me olhava com uma mistura de preocupação e raiva, não conseguia decifra-lo.

- Tudo bem! Eu vou falar! – Ele disse virando-se de costas para mim. – Eu trabalho para ASSB, que é a agência secreta do governo britânico.

-Você é um agente secreto?! Mas.... Não estou entendo.... Me explica melhor. – Disse puxando seu braço o fazendo olhar para mim. Parece que a confusão na minha cabeça só aumentava.

- Sim Jenna. Eu trabalho para o governo, mas tenho a liberdade de trabalhar para outras pessoas. São questões muito complicadas e você não ia entender.

- Tá. Mas o que eu tenho a ver com tudo isso? Porque você me salvou?

- Uma mulher, ela me ligou a algumas semanas atrás. Um pouco antes do seu aniversário...

- Uma mulher? Quem era? – O interrompi e apertei mais forte o seu braço, estava nervosa demais e parece que segurar nele me mantinha em pé.

- Será que dá para você parar de me interromper? – Sua expressão era séria e eu concordei com a cabeça. – Então, uma mulher me ligou sem se identificar me pedindo para ir atrás de você. Ela me deu o seu endereço, seu nome e o nome dos seus pais. Também me disse que abriria uma conta no banco e que depositaria uma quantia generosa para o que eu precisasse. Deixou bem claro que você estava em perigo e que era urgente.