História Ligações Perigosas - 8. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Quando abro meus olhos uma dor de cabeça muito forte toma conta de mim, nunca tinha ficado com uma ressaca tão forte assim. Não sei onde estou, é um quarto que nunca tinha visto, paredes de cor azul e tudo bem simples, com poucos móveis. Não me lembro de quase nada da festa, alguns flashes de memória, mas não muita coisa. O que será que aconteceu? Onde está Harry?

A porta se abre e uma senhora de cabelos grisalhos entra no quarto com uma bandeja cheia de comida, ela se aproxima devagar e com um sorriso no rosto.

- Bom dia. – Ela fala ainda sorridente e sua voz é tão calma.

- Bom dia, onde estou? – Eu sei, deveria sentir medo, pois não sei quem ela é e nem onde estou, mas ela é tão adorável que é quase impossível não sorrir de volta para ela.

- Prazer, me chamo Helena. Você está no apartamento do Harry, não se lembra de ter vindo para cá?

-Não...- Pelo menos me sentia mais segura ao saber disso.

- Tome esses remédios, vai melhorar sua dor de cabeça e tente comer alguma coisa. Como se sente?

- Bem.

- Harry ainda está dormindo na sala, mas assim que ele acordar vou avisar que a senhorita está melhor. – Ela acariciou meus cabelos e se despediu de mim com um sorriso. Eu gostei dela, ela me fez lembrar da minha mãe, seu jeito doce de ser. Assim que ela saiu fiz o que ela me pediu e tomei um banho, estava precisando.

Tentava me lembrar de algumas coisas da festa, mas era tudo muito vago. Sei que conheci o Niall e a Scarlett, a tal "amiga" do Harry, também me lembro cara nojento que tentou me agarrar, lembro de ter brigado com Harry e depois ter bebido muito. Será que aconteceu alguma coisa a mais? Eu sinto que sim, mas não sei o que foi.

- Acho que você bebeu muito ontem né? – Estava saindo do banheiro quando me deparei com Harry parado perto da cama. Ainda bem que estava usando um roupão que encontrei no banheiro.

- Pelo jeito sim. O que aconteceu comigo?

- Você não se lembra mesmo né? – Ele falou com uma pontada de decepção na voz.

- Me lembrar de quê exatamente?

- Nada demais. Você só caiu de bêbada. – Ele falou sério. – Você não devia ter ido para aquela festa. Eu avisei.

- Vai começar? Será que você não consegue ficar um minuto sem me perturbar? –

- Eu acho que você não quer que eu te deixe, quem fica no meu pé é você. – Ele falou com um sorriso malicioso no rosto.

- Do que você está falando?

- Nada Jenna. – Ele parou de me olhar e saiu do quarto. Alguma coisa aconteceu noite passada e eu tenho que saber o que foi. Assim que me troquei fui atrás dele. O apartamento era pequeno e encontrei Helena na cozinha.

- Helena, você sabe onde Harry está?

- Ele acabou de sair, disse que ia dá uma volta e que era para a senhorita ficar aqui, disse para esperar ele voltar.

- Harry e suas ordens bobas. – Falei e fui atrás dele, talvez eu ainda consiga alcançar ele. Helena tentou me impedir, mas não adiantou de nada, precisava saber o que Harry estava escondendo.

Eu o vi virar a esquina a minha direita e fui atrás dele.

- Harry! – Gritei seu nome, ele me olhou assustado.

- Jenna! Cuidado! – No mesmo segundo vi um carro preto vindo em minha direção em alta velocidade, o motorista me olhava sorrindo. Tentei correr, mas não adiantou, sentir o impacto do carro em mim e meu corpo desabou no chão.

Meu corpo inteiro doía e minhas vistas estavam embaçadas. Senti os braços de alguém me segurar, era Harry.

- Jenna, por favor, não feche os olhos. Fique aqui comigo. Por favor. – O desespero era evidente na sua voz. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Olhei para aqueles olhos e vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto, Harry estava chorando, por mim. Mergulhei em seus olhos a procura de força, mas não consegui aguentar por muito tempo, tudo ficou escuro e mudo a minha volta.

...

- Jenna, você vai melhorar logo. – Era voz de Harry. – Eu achei que ia te perder. Depois daquele beijo você me deixou muito confuso. Por que você faz isso comigo...

- Harry? – Abro meus olhos devagar e vejo ele olhando para mim, com alívio e um sorriso de leve no rosto.

- Oi Jenna, vou avisar ao médico que você acordou. – Ele passa suas mãos pelos meus cabelos devagar, o seu toque é tão bom que fecho meus olhos para sentir cada segundo, como se fosse um remédio para mim.

Meu corpo doía, mas não tanto quanto na hora do acidente, se é que aquilo foi um acidente. Ainda me lembro do rosto do cara que guiava aquele carro e seu sorriso ao vim em minha direção, tenho certeza que ele fez isso intencionalmente, ele queria me matar. Não sei quanto tempo se passou desde o acidente, algumas horas talvez, porque ainda está claro lá fora. Alguns minutos depois um médico um pouco gordo e baixinho entrou no quarto com uma prancheta sendo seguido por Harry.

- Como se sente? – O médico me perguntou mexendo nos aparelhos que estavam do meu lado.

- Um pouco dolorida, mas bem. – Fico olhando para Harry, mas ele não me olha de volta. Aquelas palavras que ele disse, não sabia decifrar se era sonho ou realidade. Um beijo.... Eu o beijei? Forço minha mente a se lembrar, mas minha cabeça dói. Nem percebi que o médico está falando alguma coisa para mim.

- Você vai receber alta logo, mas precisa continuar em repouso mesmo assim. Já deixei o nome de alguns remédios que vão te ajudar com a dor, mas ainda bem que não foi nada grave. O carro não te pegou em cheio por sorte.

- Ainda bem... – Falei devagar.

- Então descanse. – O médico saiu e Harry continuou parado, mas dessa vez me olhando como se tentasse me decifrar. Queria tanto saber o que se passava na cabeça dele, queria sentir seus braços em volta de mim novamente. Queria sentir seu beijo de novo. A lembrança veio como um tiro na minha cabeça, de uma vez e todos aqueles sentimentos daquele momento voltaram, eu beijei Harry e ele me beijou de volta, sei que sim. Mas precisava ter certeza absoluta se realmente tinha acontecido.

- Eu te beijei, não foi?

- Então você lembrou? – Confirmei com a cabeça. Ele parecia surpreso e foi se aproximando de mim. – Era melhor você não ter lembrado, aquilo não significou nada. Você estava bêbada, você só sabe fazer besteira.

Aquelas palavras cortam mais que uma faca, me machucam por dentro, como ele pode dizer isso? Ele me beijou de volta, não beijou? Me pergunto e sei que não tenho a resposta. Mas não podia deixar ele me tratar assim, não vou ficar por baixo nessa história.

- Com certeza não significou nada. Até parece que te beijaria em sã consciência. – Ele levantou as sobrancelhas como se estivesse surpreso com as minhas palavras.

- Não diga o que você não sabe Jenna.... Quem sabe você se apaixona por mim. – Ele simplesmente vira as costas e sai do quarto me deixando com maior cara de desentendida. Eu não vou me apaixonar por ele, não vou! Fico repetindo isso na minha cabeça por alguns minutos até ouvir a porta se abrindo de novo, mas dessa vez é a Helena.

- Oi Helena. – Ela vem na minha direção com seu sorriso contagioso.

- Oi Jenna, ainda bem que você melhorou. Você se lembra como foi?

- Sim, foi alguns minutos depois que saí do apartamento do Harry hoje...

- Hoje? – Ela me interrompe – Você está dormindo tem quatro dias Jenna.

- Quatro dias? – Falo surpresa com a notícia.

- Sim, nos três primeiros dias você estava muito mal. Os médicos faziam de tudo para você melhorar, foram dias difíceis, principalmente para Harry.

-Como assim?

-Harry ficou muito preocupado, me ligou desesperado para dizer o que tinha acontecido. Ele não dormia e nem comia direito, ficava o tempo todo aqui no quarto com você. Hoje de manhã o médico avisou que você estava melhor e que podia acordar a qualquer momento, aí sim o Harry ficou mais tranquilo.

Estava tentando processar tudo que ela tinha me falado, Harry realmente estava preocupado comigo. Ele só estava se fazendo de durão, mas eu consegui ver o alívio no seu rosto quando eu acordei.

Algumas horas depois recebi alta, o médico disse que se eu me cuidar vou melhorar rápido. Helena não foi para casa comigo e com Harry, mas disse que ia tentar me visitar em breve. Eu gostei muito dela, ela é carinhosa e me faz ter a sensação de ter uma mãe de novo.

-Obrigada. - Falei assim que Harry me ajudou a deitar na cama. Eu não sei como agir com ele, não sei o que se passa na cabeça dele, na verdade nem eu sei o que está acontecendo comigo, uma hora eu odeio ele outra hora eu quero ter ele por perto e sentir seu beijo de novo. Mas ainda não esqueci como ele foi rude comigo quando falei sobre o beijo.

-Você precisa descansar, quer alguma coisa? - Ele falava comigo sem olhar nos meus olhos, ele estava assim desde que saímos do hospital.

-Não, só quero ficar um pouco sozinha. - Depois que ele saiu, acabei cochilando um pouco, mas até nos meus sonhos o rosto dele me perturbava. Precisava pensar em outra coisa, me distrair. Resolvi voltar a pensar em como ia encontrar a Kate, dei mais uma olhada nos documentos do envelope, mas ainda não entendia o que queriam dizer aqueles códigos.

Alguns minutos depois Harry trouxe minha janta, eu estava mesmo com muita fome.

-Foi você que fez? - Pergunto assim que ele me entrega o prato.

-Sim, pelo menos tentei. - Ele esboça um sorriso de lado e fica me observando comer.

-Está uma delícia Harry, tem certeza que foi você mesmo quem fez? - Ele ri junto comigo.

- Que papéis são esses? - Ele fala se sentando na cama e mexendo nos papéis.

- São uns papéis que minha mãe biológica deixou com meus pais adotivos, eles me entregaram e disseram que são documentos muito importantes. Que só estariam em segurança nas mãos da Kate. – Enquanto eu falava Harry analisava cada detalhe das folhas com muita atenção – Não entendi o que esses códigos significam.

- Esses códigos não me são estranhos, isso aqui parece uma lista de alguma coisa.

- Você bem que podia me ajudar né?

- Eu já te disse que é melhor eu não me meter nessa história, tenho outros problemas para resolver.

- Que outros problemas Harry?

- Você e sua curiosidade de sempre. - Finalmente ele olhou para mim, senti falta disso. - São problemas meus não quero me meter nos seus problemas e nem quero você metida nos meus.

- Olha essa foto da minha mãe, talvez você já a tenha visto. Não sei... – Peguei aquela foto que estava minhas duas mães.

- Jenna, eu já disse que não vou.... - Harry se calou assim que viu a foto. Seus olhos se arregalaram como se tivesse visto um fantasma, ou alguma coisa parecida, mas rapidamente se fechou e ficou sério novamente. - Onde você achou essa foto?

- Era da minha mãe adotiva, estava dentro da mochila. - Assim que terminei de falar, Harry se levantou às pressas e saiu do quarto, eu bem que queria ir atrás dele, mas estava fraca demais para sair correndo assim.

Eu não entendi essa reação dele, ele ficou muito surpreso ao ver a foto, será que ele conhecia a Kate? Rapidamente ele voltou ao meu quarto com outra foto na mão, na verdade era a mesma foto. Exatamente a mesma.

- São as mesmas fotos Harry. Como é possível você ter essa foto? - Olhei para as fotos sem acreditar e sem entender o que estava acontecendo. Harry se sentou ao meu lado e suspirou, ele também não entendia o que estava acontecendo.

- Essa daqui é a minha mãe Jenna. - Ele disse apontando para a garota de cabelos longos e olhos claros. Dessa vez foram meus olhos que se arregalaram com a notícia. A mãe dele, a mãe do Harry estava na mesma foto que as minhas duas mães.