História Ligados pelo Destino - Capítulo Único

 

Pov's J-Hope

 

Appa abriu o porta-malas e começou a descarregá-lo, colocando minhas malas e caixas no concreto quente. O suor brotava na minha testa e pingava no lábio superior enquanto eu fazia um esforço enorme para levantar uma caixa que tinha se enfiado debaixo das malas. Depois de quatro longas e suarentas viagens de escada até o quarto andar, deixei todas as minhas coisas no dormitório. Meu colega de quarto, um garoto chamado Kim Taehyung– pelo menos de acordo com o e-mail que eu tinha recebido – não se encontrava ali, mas vimos as tralhas dele assim que abrimos a porta.Seu lado do quarto estava uma bagunça. Como se tivesse acontecido um terremoto. Sobre o piso de linóleo, havia móveis comuns: duas mesas de madeira falsa uma do lado da outra, duas cômodas brancas aos pés de duas camas de solteiro de metal, em lados opostos. Mas havia uma caixa de cereais aberta, com flocos espalhados pelo chão. Um travesseiro, sem fronha, tinha cruzado o cômodo e aterrissado embaixo da minha cama, junto com uma camiseta preta, um livro de ciências e o que parecia ser uma máscara com um par de óculos preso a um nariz e um bigode falsos.

Ele devia ter chegado um dia antes de mim, já que os dormitórios haviam sido abertos na véspera. Ainda assim, pelo menos cinco latas de refrigerante amassadas jaziam embaixo e em volta da cama desarrumada. No centro do quarto havia duas malas abertas, ainda cheias, com as roupas saindo pelas laterais. Na escrivaninha dele, vi dois walkie-talkies e um rádio com um monte de botões. Na parede sobre a cama, ele colara um intimidante pôster de um carro explodindo. Na parte inferior, em grandes letras vermelhas, lia-se: PLANETA SOBREVIVÊNCIA. 

Olhei para meu pai e arregalei os olhos. Ele abriu aquele meio sorriso irônico de quem saboreia algo que pode lhe ser útil depois. Eu sou do tipo que guarda panos de limpeza no armário, e ele me conhecia bem o bastante para saber que eu estava horrorizado com aquela calamidade. Desabei na cama que meu colega deixara intocada. Appa parou na entrada e pegou o iPhone, e eu suspirei pesado.

 Se meus pais tivessem pagado meu colega para fazer meu novo quarto parecer a pior moradia possível para mim, seria exatamente assim. Então me rendi. Apoiei a cabeça nas mãos e a balancei de um jeito exagerado, como se estivesse realmente chateado.

 

 – Isso não é um bom sinal – falei. Meu pai riu, aproximou-se e sentou ao meu lado, passando o braço pelo meu ombro.

 

 – Olha. Isso é o que é – disse ele, sempre o grande filósofo. 

 

– Eu sei, eu sei.

 

– Quer que eu o ajude a desfazer as malas? – perguntou, com a voz de um homem que ia encarar uma viagem de volta de 3.500 quilômetros e não estava nem um pouco a fim de guardar camisas em gavetas naquele momento. 

 

– Eu cuido disso – respondi.

 

 – Tem certeza?

 

 – Tenho. Appa foi até a janela, e me juntei a ele. Meu dormitório ficava nos fundos do alojamento, com vista para um enorme gramado. Lá fora, garotos haviam se dividido em grupos e jogavam frisbee. Garotos, todos garotos. Muito conservadores. Não pareciam muito diferentes das fotos na internet. Mas bem distantes do que aquilo que eu via do meu colega de quarto. 

 

– Tem certeza de que este é o lugar certo para você?

 

 – Eu vou ficar bem, pai. Não se preocupe.

 

 Meu pai olhou pela janela, como se todo aquele lugar o deixasse triste. Ele atravessou o quarto, me deixando sozinho na janela.

 

– Tchau, filho – despediu-se, enquanto um sorriso doce e único surgia em seu rosto.

 

 – Tchau, pai. 

 

Então ele me deixou sozinho no meu novo mundo, olhando para a página quase em branco que era o meu lado do quarto, suspirei desanimado. O calor estava castigando, então resolvi tomar um banho. Pelo cheiro que eu estava sentindo, minha data de validade parecia ter passado havia semanas.

 

 

Quando terminei meu banho saio com uma tolha envolta da cintura e secando meus cabelos com uma outra toalha quando um garoto zuniu pela porta, até que ouvi os passos diminuírem e pararem. Ele voltou. Parado na entrada do meu quarto, com uma camiseta azul royal, estava um garoto alto, com um corpo legal, cabelos castanhos escuro e um sorriso quadrado muito esquisito.

 

– E aí, cara? – cumprimentou ele.

 

 – Está rolando um jogo lá embaixo, você quer... Meu Deus! 

 

– O quê? – perguntei, olhando para trás. 

 

– Você é igualzinho ao Billy. 

 

– Das Terríveis Aventuras de Billy e Mandy? 

 

– O quê? Não. O Billy dos Jogos Mortais mesmo. 

 

– Aigoo, nem te conheço direito e você já está me zoando? – fui até minha cama pegando um travesseiro e jogando no mesmo.

 

– Enfim, vamos descer. Estamos jogando futebol e seria bom ter mais um ou dois participantes. – Ele estendeu a mão. – Meu nome é Kim Taehyung, muito prazer em conhecê-lo.

 

– Jung Hoseok. – apertei sua mão.

 

– Você vem?

 

 – Hum, claro – respondi.

 

Coloquei uma roupa e desci com Taehyung.

 

 

::::::::::Quebra de tempo::::::::::

 

 

Um mês se passou e me tornei o melhor amigo de Tae. Vazemos tudo juntos, juntos até de mais...

Por incrível que pareça, comecei a sentir uma coisa estranha quando me aproximo de Taehyung. Deve ser por que andamos muito juntos, acho que preciso sair com algumas garotas para não ser taxado de "bixa" por não ter saído com nenhuma menina desde que cheguei nessa faculdade, sem contar que só ando com homens né.

 

Estou deitado na minha cama olhando para o teto e pensando em como me aproximei tanto assim de Tae Tae, não é normal essa relação que temos, é um tanto estranho, pois até tomamos banho juntos as vezes para economizar água. Sou tirado dos meus devaneios com V empurrando com força a porta e batendo para fechá-la em seguida. Ele se jogou na cama e enfiou seu rosto no travesseiro para abafar seu grito. Ele realmente estava com muita raiva.

 

 

– O que aconteceu Tae Tae? – pergunto me sentando na cama e ficando de frente para o mesmo.

 

 

– É que estou cansado desses otários jogando mulher para cima de mim todo dia. – ele se senta, agora de frente para mim em sua cama dá um profundo suspiro e continua – Às vezes fico pensando o porque deles insistirem nisso. – ele leva suas mãos para os cabelos e os bagunça, com uma expressão de indignação  em seu rosto.

 

 

– Tenha calma V, sei que é complicado, mas não adianta ficar nervoso.

 

 

– Você sempre aqui para me acalmar né Hobi... Fico feliz em te-lo como amigo.

 

 

– Também sou feliz em ser seu amigo Tae Tae, e sei que não conseguiria viver sem mim HaHaHa – me levanto, jogo um travesseiro nele e em seguida pulo em cima do mesmo o fazendo gritar de dor e rindo logo em seguida.

 

 

Taehyung me empurrou e caí sentado no chão rindo. Ele veio para cima de mim me fazendo cócegas, o que me fez chorar de rir me contorcendo.

 

 

– PARAAA.... HaHaHaHa...... PARA KIM TAEHYUNG...... – ele para, ainda em cima de mim com uma perna de cada lado do meu corpo rindo muito da minha cara vermelha de tanto que eu ri.

 

 

– Hobi, acabo de notar que você é bonito igual a mim – faz uma cara de orgulhoso – também, para ser meu amigo tem que ser bonito.

 

 

– Aigoo, como você se acha Taehyung. – sinto meu coração acelerar ao perceber a proximidade de Tae – Acho melhor você sair de cima de mim agora. – ele já estava quase com seu rosto colado no meu.

 

 

– Porquê? Isso te incomoda?

 

 

– Muito....

 

 

– Porque meu corpo tão próximo ao seu te incomoda tanto? Se já tomamos até banho juntos. – ele diz na mesma posição.

 

 

– P..Porque... não sei... – acabo de perceber que gosto realmente de Taehyung, mas eu não sou gay eu gosto de mulheres, então por que me sinto assim com ele tão próximo? Aigoo, o que eu faço?

 

 

– Será que você gosta de mim Hobi? – disse sorrindo de canto, sem sair de cima de mim.

 

 

– Aigoo, Tae Tae não diga asneiras... – viro meu rosto para o lado sem encará-lo.

 

 

– Diga a verdade!! – ele segura meu rosto e vira para sí.

 

 

– Ok, eu gosto de você satisfeito? – o empurro e me levanto deixando ele chão de boca aberta – Mas não sou gay Taehyung, eu gosto de mulheres e vou provar que isso é somente um sentimento confuso por sermos tão próximos.

 

 

– M..Mas eu e..estava só brincando.... Fiz isso para te deixar com raiva, e..eu não sabia – nem dei ouvidos e saí batendo a porta.

 

 

Vou pegar qualquer garota que me der mole. 

Vejo uma menina de cabelos até os ombros com franjinha, escorada na janela próximo as escadas e vou até ela. 

 

 

– Oi, você tem namorado? – sou direto, nem pergunto seu nome.

 

 

– O..Oi, e..er não. – ela responde meio corada. Tão fofa, pena que eu só quero tirar uma dúvida e mais nada...

 

 

– Sério? Então venha comigo até aquela árvore lá em baixo, pois preciso te contar um segredo.

 

 

– Ok. 

 

 

 

Pov's Taehyung

 

 

Não acredito no que acabei de ouvir. Eu estava apenas tirando uma com a cara de J Hope, não sabia que tinha tocado num assunto tão delicado quanto esse. Será que Hobi realmente gostava de mim?

Essa dúvida estava me matando, meu coração estava acelerado desde a hora que ouvi Hobi dizer que gostava de mim. 

Comecei a lembrar dos bons momentos que tivemos, das brincadeiras, das dancinhas ridículas de Hoseok, elas eram as melhores. 

ESPERA... Porque estou pensando nele e sorrindo? Porque sinto um frio na barriga quando lembro de Hoseok? Será que...? Não é possível! Eu sou Hétero também, nunca pensei em um homem desse jeito. Agora que parei para pensar ele tem estado muito em meus pensamentos ultimamente e desde que ele chegou nessa faculdade eu não sinto vontade nenhuma de sair com garotas. Aigooo, não acredito!!!

Eu realmente amo Jun Hoseok?

Não posso deixar ele sair assim de cabeça quente, preciso ir atrás dele.

 

 

Saio correndo pela porta, desço as escadas tão rápido que quase caio. Ao chegar na frente da faculdade pergunto a Yoongi se ele viu J Hope. Ele responde que viu ele indo para atrás daquela árvore com uma garota e aponta para a árvore que fica perto da entrada. 

Vou até lá e quando chego arregalo os olhos e minha boca faz o formato perfeito de um "O". Não consigo acreditar que ele estava aos beijos com aquela garota depois de ter dito que gostava de mim. Sinto meu rosto molhado e ao perceber que estava chorando, corro para o quarto novamente, ao chegar lá deito na minha cama enfio a cabeça no avesseiro  e começo a chorar como um bebê.

 

 

 

Pov's J-Hope

 

 

Escuto um barulho e olho para o lado, vejo Tae correndo em direção ao prédio. Será que ele viu? Não... Não deve ser isso. Mas não custa nada ir conferir. 

 

Ao chegar no quarto vejo Tae Tae deitado com o rosto enfiado no travesseiro. Ele estava chorando! Mas porque ele estava chorando?

Me sento na beirada de sua cama e passando a mão em seus cabelos pergunto o que aconteceu.

 

 

– Tae o que houve? Porque está chorando? Vamos me diga!!

 

– Tira a mão de mim Jun Hoseok – ele tira bruscamente minha mão de seus cabelos – você não tem direito de por a mão em mim!

 

 

– Porque você está me tratando assim? – pergunto indignado

 

 

– Porque?? HaHa não se faça de burro e de desentendido! Você disse que gostava de mim e quando vou atrás de você para conversarmos você está aos beijos com sabe lá quem, atrás daquela árvore. Some da minha frente AGORA!! - ele praticamente grita comigo me empurrando para fora do quarto e batendo a porta na minha cara.

 

 

 

::::::::::Quebra de tempo::::::::::

 

 

 

Já fazia uma semana que Taehyung não falava comigo e me ignorava todos os dias, era como se eu não existisse mais pra ele, isso estava acabando comigo. Eu já não comia direito, não dormia direito, não falava com ninguém, era como se eu nem estivesse aqui.

De vez enquanto desmaiava no banheiro por fraqueza, como eu não me alimentava mais vivia andando por aqueles corredores igual a um zumbi. Tinha percebido que era a falta que Tae Tae me fazia, e a essa altura já sabia que não gostava mais dele e sim o amava, mas não queria dar o braço a torcer, o fato de eu ser gay não entrava na minha cabeça, eu era Hétero e ponto final.

 

 

Pov's Taehyung

 

 

O que eu faço? Hobi parece um zumbi andando por aí. Não come, não dorme e tudo isso porque? Eu realmente não sabia, pois não conversávamos mais desde aquele dia. 

Não estava aguentando mais vê-lo daquele jeito, eu tinha que intervir.

 

 

 – Jun Hoseok o que você pensa que está fazendo? – gritei com ele que estava deitado, como sempre – Você acha correto fazer isso a si mesmo? – fiquei de pé ao lado de sua cama enquanto ele se virava para me olhar nos olhos – Não aguento mais ver você assim!

 

 

– Por que resolveu se meter? Se você parou de falar comigo tem uma semana! – perguntou olhando firme em meus olhos.

 

 

– Por que eu me importo com você!

 

 

– Ahh! Agora você se importa?

 

 

– Claro que me importo! Nunca deixei de me importar!!

 

 

– Não foi o que me pareceu durante essa semana que passou!

 

 

– Eu... er... eu estava te evitando por causa do que eu vi naquele dia... Sei que não tinha o direito de reclamar nem nada, mas naquele dia fiquei realmente com ciume. Mas foi eu quem te provocou no início, não deveria ter feito aquilo que eu fiz quando estávamos brincando aqui no quarto.

 

 

– Foi até bom você ter feito aquilo, pois serviu para mostrar meus verdadeiros sentimentos. Mas ainda não consigo aceitar – escondeu seu rosto no travesseiro

 

 

– Eu também não sei porque isso aconteceu conosco, pois eu nunca tinha sentido isso antes por alguém do mesmo sexo que eu! Mas resolvi aceitar isso!

 

 

– QUÊ? COMO ASSIM? – Disse ficando de pé de frente para mim.

 

 

– Isso mesmo que você ouviu! Quero que todos saibam que eu amo Jun Hoseok independente do seu gênero sexual!

 

 

– V..Você m..me ama???

 

 

– Sim... muito mais do que eu gostaria!

 

 

– E..Er e..eu também t..te ........ amo!

 

 

– Jura?? Esse é o dia mais feliz da minha vida! – disse puxando Hobi e selando nossos lábios.

 

 

Ele ficou com os olhos arregalados, mas logo cedeu.

Interrompi o beijo para recuperar o ar.

 

 

– Não importa mais o que digam, vou mostrar para todos que é, foi e  realmente tinha que ser você!

 

 

E assim, começamos nossa jornada a procura da aceitação.