História Ligados pelo Destino - Laços Eternos

Não há como temer a solidão

Se os olhos se acostumam a escuridão

E ela pode se fazer presente

Mesmo quando cercado de gente

Quando se cede a amargura

O coração perde a ternura

A alma em luta constante

Clama ao corpo “siga adiante”

E quando a matéria não mais reage

O invisível com o corpo interage

Olhos sempre  abertos na escuridão

Se fecham para ver a luz na extrema unção

Eram 4:00 h da madrugada, Lysandre rabiscava em um pedaço de papel estes antigos versos que escrevera na infância quando ainda tinha 12 anos.

A solidão sempre fez parte de sua vida, era como uma promessa de companhia constante. Como se a imagem de uma família brincando na praia em um dia de sol pertencesse apenas aos outros e aos comerciais de margarina. Não a ele, nunca a ele.

O que fizera de errado? Estaria sendo castigado por ter desejado a mulher do amigo? Amou demais? Ou o castigo era por ter engravidado e abandonado uma garota que, assim como ele, cometeu o erro de amar demais?

Olhou para a cama onde Sofia finalmente havia dormido a base de calmante após protagonizar uma cena de completa histeria ao retornarem para o hotel.

Flashback on

Sofia procurava por Lysandre no salão quando Rosália disse que ele havia ido atrás dela no banheiro. Imediatamente ela apavorou-se e voltou correndo pra lá, foi quando o viu ainda no mesmo lugar onde havia assistido a traição de sua namorada.

 – Lys... Lys eu posso, eu posso explicar tudo - Disse a garota aflita.

Ele com sua voz melodiosa e sua calma quase irritante voltou-se para ela com um meio sorriso

 -  É claro que pode. Mas não aqui.

Saíram sem se despedir de ninguém, durante o caminho Lysandre não emitia palavra e nem olhava para Sofia, o que começou a causar certo desespero nela.

– Lys fala comigo

 – Não teremos essa conversa num taxi Sofia.

Ao chegarem ao hotel tão logo a porta do quarto se fechou, Sofia caiu em um choro inconsolável se atropelando nas próprias palavras pedindo-lhe perdão. Lysandre observava imóvel seu descontrole até que ela partiu pra cima dele segurando-lhe uma das mãos e fazendo com que batesse nela própria

 – Pare Sofia, pelo amor de Deus pare com isso!  O que acha que vai conseguir? Apagar a sua traição? Acha que se lhe desse um tapa de verdade doeria mais do que o meu coração está doendo agora? Engana-se pensando assim.

 – Lys você tem que me perdoar, por favor, eu me deixei levar pelo momento, eu...

 – Tem certeza disso? De que se deixou levar pelo momento? - Disse ele ainda mantendo o tom frio na voz.

Ela parou por um instante e percebeu que seria pior tentar encobrir a verdade, seria franca como sempre foi, não poderia perder este valor sob pena de não mais se reconhecer devido as últimas atitudes.

– Você tem razão Lys, meu coração está dividido e eu me sinto a pior pessoa do mundo porque sei que não mereço nem você nem o Castiel – disse ela de cabeça baixa ainda soluçando.

 – Não posso dizer que entendo o que você fez Sofia, tampouco tenho capacidade de compreender um sentimento dividido se todo o sentimento que tenho dentro de mim canalizei unicamente para você. Fiz de você meu objetivo de vida, meu sonho real, não quero constatar o que vi. Não quero ouvir de você que eu realmente vi aquilo. Quero que você me diga que eu estava num pesadelo e que aquilo jamais aconteceu!

 – Então me perdoe, me perdoe e isso jamais acontecerá novamente

Lysandre ficou em silencio, apenas fitava o céu através da janela do quarto cada vez mais introspectivo.

Diante de seu silencio ela começou a chorar novamente e a repetir adjetivos como impura, leviana e outros tantos a respeito de si mesma até que se trancou no banheiro e finalmente conseguiu assim chamar sua atenção, pois ele foi imediatamente até a porta tentando abri-la.

 – Abre a porta Sofia, por favor, abre... - Gritou preocupado do outro lado da porta.

– Não, me deixe aqui Lysandre você tem direito de nunca mais querer olhar na minha cara

– Sofia eu não faria isso, por favor abre a porta, vem vamos conversar, por favor abre...

Ela então abriu a porta e ele, não aguentando mais, a puxou para um abraço apertado e chorou junto com ela.

Flashback off

Era madrugada e ele ainda não conseguira dormir. Rasgou o pequeno papel onde rabiscava os versos e foi para a cama na esperança de que o amanhecer trouxesse algum conforto ao seu coração.

xxx

Por volta das 11 da manhã chegaram no apartamento de Raquel e Jean para o almoço que Sofia marcara com os pais no dia anterior. Ambos usavam óculos escuros: ela para disfarçar os olhos inchados, ele as olheiras profundas.

Raquel estava muito feliz com a presença deles ali e sobretudo por sua filha estar finalmente com um “bom partido” nas palavras dela, mas seria impossível não perceber que algo não estava bem entre os dois e seja lá o que fosse ela iria descobrir e obviamente, intervir.

– Filha, me ajuda com a sobremesa?

 – Claro mãe

Mae e filha foram para a cozinha onde puderam conversar reservadamente, e é claro, Sofia teve que contar tudo o que aconteceu mesmo a contragosto pois não queria tocar no assunto.

– Não acredito Sofia que você fez uma besteira dessa! Afinal, você ainda não esqueceu esse rapaz?

 – Não mãe, eu gosto demais de Lysandre acho até que o amo, mas o que sinto por Castiel é muito mais forte do que eu pensei e não estou sabendo lidar com isso! Estou completamente dividida entre os dois, eu sei que isso é horrível, mas é a verdade...

– Filha, no momento certo você saberá o que é mais importante. Acredite.

Antes que o dia terminasse Raquel encontrou uma maneira de também conversar a sós com Lysandre para descobrir se ele pretendia pôr um fim no relacionamento dos dois.

 – Amo sua filha Raquel, com todas as minhas forças. Em nome desse amor sou capaz de passar por cima disso como se nada tivesse acontecido, mas o que me deixa preocupado é o fato dela estar em dúvida. Tenho medo de que ela simplesmente me deixe e escolha ficar com ele e isso está me matando!

 – Meu querido, você sabe que toda mãe quer a felicidade de seus filhos e eu não sou diferente. Para lhe ser bem sincera, nunca vi um futuro para Sofia ao lado de Castiel, estou certa de que se eles estivessem juntos ele jamais teria ido trabalhar com o pai e continuaria na ilusão de viver de um barzinho e um violão! Não foi pra isso que criei Sofia. Já você é diferente: é maduro, tem foco e sabe o que quer, mas com toda sua perspicácia que admiro, não consegue ver que você só precisa da fita que dará o laço definitivo para a união de vocês.  

Por mais que Lysandre fosse astuto ainda não havia captado o que Raquel queria dizer e foi obrigado a pedir-lhe que fosse mais direta

 – Desculpe Raquel mas não entendi de que fita você está falando, 

– Pense meu genro querido. O que falta para que uma garota sentimental e sonhadora como Sofia sinta que tem uma família perfeita e que poderá ser uma mãe muito melhor do que eu fui, ter um marido presente como o pai dela não foi...?  Acha que se ela tiver construído isso deixará que alguém interfira?

– Certamente que não.

 – E então? O que está esperando para dar-lhe isso? Para colocar em seus braços um lindo bebê de olhos bicolores? Esta é a fita que irá enlaçá-los pois ela já ama você e não será capaz de desfazer uma linda família por sentimento algum que possa existir e que com o tempo certamente morrerá.

Os olhos de Lysandre brilharam com aquela ideia. Um filho não foi suficiente para que Nina o prendesse, mas a situação sendo inversa seria completamente favorável a ele. Sofia sempre quis uma família perfeita e ele a daria isto.

xxx

A noite quando retornaram, ela acreditou que ele ainda estava aborrecido e foi para o quarto tentar dormir. Para sua surpresa Lysandre deitou-se com ela e começou a beija-la com carinho e dizer-lhe o quanto a amava. Sofia ficou de tal forma feliz que se entregou a ele com paixão e os dois se amaram entre lagrimas, juras de amor e pedidos de perdão. Ela jamais iria observar naquele momento se ele colocara ou não o preservativo, tudo o que lhe importava era o seu perdão. E ela obteve.

Naquele momento de êxtase Lysandre sentiu que suas vidas estariam interligadas para sempre. Ele só não pensou nas consequências de ter dois filhos que cresceriam sem saber da existência um do outro.