Desde que começara o estágio na empresa do pai, Derek se via cada vez mais ocupado e sem tempo algum para se dedicar a sua banda que era composta por quatro rapazes incluindo ele: Neville era o baterista, Edward o baixista, Loui nos teclados e ele se encarregava da guitarra e voz. Todos amigos do colégio, filhos de famílias ricas cuja única preocupação era passar de ano e conseguir lugares legais para tocarem.
Derek, apesar de ser possivelmente o mais rico de todos, era de longe o mais simples e isto se devia ao fato de que Castiel e Alice jamais permitiram ao filho ter tudo o que queria sem que precisasse se esforçar para conseguir. A educação dada por eles consistia em ensina-lo o valor das coisas e não o preço.
A banda era importante para ele, pois era quando mais se sentia próximo ao pai já que Castiel fazia questão de estar presente e prestigiar o filho sempre que tocava em algum lugar. Para Castiel era uma forma de relembrar sua adolescência já que este, um dia, foi o seu sonho de juventude. Derek adorava ser comparado ao pai, sabia que ele havia feito faculdade de música e que também tocava, mas nunca cogitou fazer a mesma coisa, a banda era uma diversão e continuaria sendo.
Seus companheiros vinham o pressionando nos últimos dias para que falasse com Castiel sobre a apresentação que haviam conseguido para o final de semana. Seria sexta à noite, e para isso, precisaria de uma liberação para que pudessem ao menos ensaiar na sexta pela manhã, já que viajariam a tarde.
- Onde será essa apresentação filho? – Perguntava Castiel disposto a flexibilizar, uma vez que Derek ia bem no cumprimento de suas novas responsabilidades.
- Será em Village Sucre, no bar do tio Alexy. A mãe do Neville conhece a galera lá e descolou pra gente essa apresentação.
Ao ouvir o nome Village Sucre Castiel sentiu um leve frio na barriga. Pensar no Harmony então, era lembrar de Vivian, Gabriel, Sofia... Sofia... “ mas que inferno, com tanta cidade nesse país eles tinham que ir tocar lá ”? Tentou disfarçar seu desconforto com a costumeira delicadeza:
- Em primeiro lugar Alexy não é meu irmão para ser seu tio. Em segundo lugar o bar não é dele, é do tio dele.
- Melhor ele nunca ouvir você dizer que ele não é meu tio senão o escândalo vai ser certo – Falou Derek gargalhando. Alexy sempre visitava Castiel quando ia a Paris e tinha muito carinho por Derek desde que o garoto era criança e com isto o ensinou a trata-lo por tio. Castiel reclamava, mas na verdade não se importava nem um pouco, até achava bacana, era só para não perder o habito de zoar Alexy.
- Deus me livre! Bom, voltando ao assunto da apresentação, como pretendem ir?
- Err... estávamos contando que você fosse com a gente
- EU? Não, melhor não. Sua mãe não vai querer ir e nem me deixar ir, ela detesta aquela cidade.
- Mas pai, você vai me acompanhar! É a primeira vez que a gente vai tocar num lugar bacana fora de Paris... por favor fala com ela, olha eu mesmo falo se você quiser e peço a ela pra deixar você ir com a gente!
- Será? – Falou Castiel pensativo sem se dar conta de que a situação se invertera completamente agora. Ele é que precisava de liberação e estava prestes a aceitar que o filho intercedesse por ele. Foi quando percebeu o ridículo daquela situação
- Ora essa Derek, imagine se preciso “pedir” alguma coisa pra sua mãe ou que você peça!
- Beleza, então está certo ne? Sexta lá pelas 15 hr a gente desce pra Village Sucre
- Calma, também não é assim. Vou avisar a ela, com calma, com jeito, não quero que fique chateada.
- Sei – Falou Derek com um sorriso de canto
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Em Village Sucre, Sofia discutia com Lysandre pelo mesmo e cansativo motivo
- Achei que tínhamos concordado que você não atenderia mais esses clientes fora da cidade Lysandre.
- Não me lembro de ter concordado com isso, lembro que prometi cancelar alguns clientes, mas não posso evitar todos. Esses clientes são importantes também para o escritório, que se você não se lembra, divido com Nathaniel e não é correto que só ele traga clientes. Meu Deus, a mesma explicação ano após ano, eu realmente não entendo porque você fica tão irritada com isso se vou num dia e volto no outro! Além do mais já diminuí consideravelmente as viagens.
De fato, ele havia diminuído muito a frequência com que ia a Amboise e sempre retornava no dia seguinte antes do anoitecer. Passava a tarde com Benjamin, saiam a noite e no dia seguinte após o almoço com sua “quase outra família” ele retornava. Mas Sofia não fazia isto por desconfiança, ela sabia que Lysandre era fiel, contudo era uma forma de lhe tirar um pouco a autonomia, a liberdade, como ele fazia com ela, porem no caso dela era de maneira totalmente explicita e intensa. O ciúme dele era sufocante, seu sentimento de posse era abusivo.
Se ela descobriu isto anos depois? Não, claro que não! Nos primeiros anos de casamento ele já havia demonstrado este lado, até mesmo antes, quando eram apenas namorados Sofia pôde ter um vislumbre do que seria a vida de casada, mas não deu ouvidos a ninguém e preferiu achar que com o tempo ele melhoraria, quando na verdade só piorou.
Muitas vezes ela se sentia cansada daquele casamento cheio de altos e baixos. Lysandre era um bom marido, sempre dedicou a ela todo o seu tempo e amor, mas com o passar do tempo ela percebeu que o sentimento que a impulsionara no começo era bem diferente do que agora existia. Antes ela admirava Lysandre como alguém superior a ela; sempre equilibrado, sempre em pleno domínio das situações por mais problemáticas que pudessem parecer. Ele foi seu suporte quando rompeu com Castiel, foi um noivo cuidadoso em sua gravidez, foi um verdadeiro herói se desdobrando em mil para suprir as necessidades de uma Anya ainda bebe e uma Sofia em depressão, e por esses e vários outros motivos, sentia-se devedora, assim, se acostumou a viver com seu ciúme e necessidade de controle.
Não podia negar que sentia uma enorme atração pelo marido, uma paixão mútua que os anos jamais conseguiram esfriar e durante muito tempo chamou esse sentimento de amor, mas o amor que dizem trazer paz, que faz você enxergar toda sua vida futura nos olhos da pessoa amada, esse amor ela somente reconheceu habitar seu coração há dois anos atrás, quando o toque de outros lábios a fizeram voltar no tempo e querer ficar por lá.
Mais uma vez havia falhado, e desta vez não houve espaço para expor a verdade, pois ela provocaria uma avalanche de todas as proporções em sua vida conjugal e agora tinha uma família constituída para zelar.
- Muito bem, e quando você vai? – Perguntou ela
- Nesta sexta a tarde. Volto no sábado a tempo de fazermos algo a noite tudo bem?
Ela assentiu e saiu em direção ao quarto de Anya a fim de chama-la para o jantar. Ao entrar encontrou a garota desligando o telefone
- Hum, com quem a srta estava falando com essa vozinha toda melosa?
- Vozinha melosa? Eu? Nada a ver – Respondeu sem graça – Estava falando com um amigo meu
- Que amigo é esse? Eu conheço?
- Ainda não. Nos conhecemos lá no colégio de Paris, ele é muito legal mãe, você irá adora-lo. A gente conversa horas e parece que nunca falta assunto rsrs , vou te apresentar a ele assim que ele puder vir me visitar.
- Que ótimo filha, fico feliz de você ter feito novas amizades, quer dizer... é só amizade mesmo?
- Claro Dona Sofia, é só amizade. A gente gosta das mesmas coisas, pensa parecido e eu me sinto super à vontade com ele, mas não o vejo com outros olhos não, aliás nem brinca com isso que não quero que o papai ouça e venha dar chiliques.
- Bom, se é assim... vamos jantar, vem.
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Em Amboise Nina também surpreendia o filho com cara de bobo desligando o telefone
- Ben, o jantar está na mesa...
- Já estou aqui mãezinha – Falou ele agarrando Nina pela cintura e rodopiando com ela no ar
- Benjamin... vai me deixar tonta! Que alegria é essa hein? Não me engana não que conheço você. Quem é ela?
- É só uma amiga mãe, conheci em Paris.
- Sei, e como ela é?
- Ah, muito legal. Linda, inteligente, doce, engraçada, ela é ... é ... ah, nem sei dizer!
- Meu Deus Ben – Exclamou Nina.
- O que foi?
- Filho, você está apaixonado!
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A sexta-feira chegou e Derek organizava algumas coisas básicas numa mochila enquanto Castiel esperava no carro a ponto de desistir do que para ele parecia ser uma insanidade, afinal, o que ele esperava indo a Village Sucre? Não dava pra mentir pra si próprio, desta vez não era Derek a única razão, ele queria correr o risco de vê-la. Só mais uma vez, que mal haveria? Ficaria satisfeito se ao menos a visse passar de longe.
- Pai, ei tá no mundo da lua? – Pergunta Derek abrindo a porta do carro
- Anda logo moleque, antes que eu me arrependa.
- A mamãe tá chateada?
- Não, ela vai passar o fim de semana com sua avó. Mas então, cadê os outros elementos?
- Credo pai, até parece que somos bandidos! Já estão lá fora
Seguiram então para Village Sucre onde ambos teriam uma noite cheia de surpresas
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- Mae o que é que custa, é tão pertinho... além do mais eu não vou demorar. Eu te ligo e você vai me pegar, aproveita e fica um pouquinho lá com a tia Vivian, o papai não vai se importar – Dizia Anya convencendo Sofia a leva-la ao Harmony.
- Não tem nada a ver com seu pai Anya, mas está bem, faremos como você sugeriu: me liga e eu te pego, mas se eu ficar será só um pouquinho mesmo ta?
- Feito. Prometo não insistir. Vou ligar para as meninas e fico pronta em 20 minutos.
Anya combinou de se encontrar com Rafaela, Raissa e Marcela diretamente no Harmony. Resolveu caprichar um pouquinho mais no visual já que não era todo dia que se tinha uma banda nova tocando na cidade. Usou um vestido preto no meio da perna que se ajustava em seu corpo perfeitamente, desenhando suas curvas sem que isto lhe deixasse vulgar. Os cabelos soltos emolduravam o rosto de feições delicadas, lábios coloridos por um batom vermelho e olhos ligeiramente esfumaçados num cinza discreto. Era muito parecida com a mãe.
Após cerca de meia hora de sua chegada, a iluminação mudou e a movimentação no palco montado especialmente para aquela noite anunciava que o show iria começar. Castiel estava sentado numa mesa de canto ao fundo, após conversar por horas com Vivian e Gabriel, sentou-se com Alexy para beber um pouco e curtir o filho que entraria no palco em instantes.
- Nossa Cast, parece que foi ontem esse bar inaugurando e a gente ainda sem saber direito o que fazer da vida! – Comentou Alexy em tom de nostalgia.
- Verdade. Parece que foi ontem...
Neste momento Alexy quase deu um pulo da cadeira
- Tá louco Alexy? Que merda tem aí nessa sua bebida colorida? – Resmungou Castiel
- Olha lá Cast! É Anya, a filha da Sofia
- Onde? Acho que não reconheço, quando a vi era só uma garotinha
- Fica aí que já volto
- E pra onde eu iria? – Pergunta Castiel balançando a cabeça.
Alexy foi em direção a mesa de Anya fazendo aquela festa com as meninas que já o conheciam e o a-do-ra-vam. Chamou as garotas para se juntarem a eles e ao chegarem na mesa, Anya encarou Castiel tentando se lembrar de onde o conhecia e ele quase paralisa admirado com a semelhança entre ela e a mãe.
- Meninas esse é meu amigo Castiel.
- Eu conheço você de algum lugar... – Disse Anya sem conseguir se lembrar
- Vi você ainda pequena, no parque em Paris com sua mãe, você não se lembra?
- Claro, agora sim eu me lembro! – Falou com um sorriso enorme - e o Derek? Como ele está? Lembro que ficamos brincando aquele dia e foi muito divertido.
- Ele está ótimo, vai poder perguntar a ele pessoalmente após o show.
- Não me diga que ele...
Nem terminou de falar e a guitarra emitia seus primeiros acordes chamando a atenção de todos para o palco onde o rapaz de olhos puxados já arrancava suspiros das garotas na plateia, e isto incluía Raissa e Rafaela, já que Marcela estava em estado catatônico olhando para Castiel.
Após uma sequência rock que agitou toda a plateia, os rapazes pararam para um pequeno intervalo e Derek veio em direção ao pai. Cumprimentou a todos e não pôde esconder seu encanto ao ser novamente apresentado a Anya.
- Não se lembra dela filho? Vocês se conheceram ainda pequenos no Parque em Paris – Falou Castiel
- Anya – Disse ele sem tirar o sorriso bobo do rosto
- Isso mesmo, como vai Derek? Olha, fiquei impressionada, você toca e canta muito bem! – Elogiou ela
- Obrigada, eu esperava ter uma noite muito legal tocando aqui, mas confesso que de todas as surpresas que eu poderia ter, a de te reencontrar tanto tempo depois e tão linda desse jeito, superou qualquer coisa que eu pudesse imaginar de bom!
- Menino, esse aí fez curso intensivo com você foi Cast querido? – Perguntou Alexy sem a menor discrição. A essas alturas Anya assemelhava-se a um tomate maduro.
Conversaram durante todo o intervalo. O segundo tempo do show transcorreu ainda mais animado e quando a banda finalizou sua apresentação a plateia parecia querer mais. Anya já havia ligado para Sofia e a mesma acabara de chegar para busca-la, porém, ao entrar no bar se deparou com Castiel arrumando o violão e sentando-se no palco para tocar a última música com Derek.
Castiel que já tinha perdido qualquer expectativa de revê-la, ao se deparar com sua figura de pé em frente ao palco mudou imediatamente de repertorio e resolveu cantar outra música, a qual lhe dedicou através do seu olhar.
Derek se juntou aos outros na mesa para ouvi-lo cantar
“ Mesmo que você suporte este casamento
Por causa dos filhos, por muito tempo
Dez, vinte, trinta anos
Até se assustar com os seus cabelos brancos
Um dia vai sentar numa cadeira de balanço
Vai lembrar do tempo em que tinha vinte anos
Vai lembrar de mim e se perguntar
Por onde esse cara deve estar?
E eu vou estar
Te esperando
Nem que já esteja velhinha gagá
Com noventa, viúva, sozinha
Não vou me importar
Vou ligar, te chamar pra sair
Namorar no sofá
Nem que seja além dessa vida
Eu vou estar
Te esperando…
Te esperando “
Anya e Derek não entendiam o que acontecia naquele instante em que o mundo parecia ter parado de girar para Sofia. Apenas Alexy, que acompanhou toda a história daquele amor adolescente pôde compreender o signficado daquelas lagrimas que escorriam dos olhos dela.
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