História Lights - Viagem III

POV JUNGKOOK – 5 horas antes de Jin sumir

Já era fim da tarde quando Jungkook decidiu que já começava a esfriar e que não seria saudável ficar no deck até tão tarde. Esteve sozinho ali durante um bom tempo enquanto Jin tirava um cochilo na rede e o restante jogava ping pong dentro da casa.

Estavam todos mentalmente exaustos. Por mais que Jin e Jimim conversasse muito pouco a respeito, era óbvio que existia uma certa tensão. Jin não tocava ninguém e Jimim se negava a chamar as pessoas pelo nome. Durante o almoço, confessou ter usado sua habilidade para conseguir alguns favores, mas logo depois se sentiu mal, porque não sabia até onde suas palavras podiam ir. Ele se sentiu especialmente envergonhado quando uma menina lhe trouxe o café em dois minutos, obviamente ansiosa e estressada em cumprir o seu desejo. Depois daquilo ele começou a se questionar até onde ele poderia manipular a sensação dos outros. "Se eu mandasse alguém ir até a Lua ela entraria em desespero?".

 
Era uma questão que Jungkook também se fazia. Jimim claramente era apaixonado por ele. A maneira como ele o olhava e lhe implorava atenção denunciava todo o afeto. Era tão transparente que as vezes não lhe soava real. E pior era a tristeza estampada no rosto quando ele lhe negava.

Sentou-se na beirada do deck apenas para dar uma última olhada enquanto refletia a respeito. Não sabia o que fazer. Havia aceitado aquele abraço, mas até onde eles chegariam até começar a se odiar por amarem uma mentira? Viu Jimim se aproximar logo depois, o ruivo sentou ao seu lado, seu corpo praticamente colado no seu. 

- O que você está pensando? 

Jungkook o olhou procurando uma resposta. Jimim ficava especialmente bonito no sol, como ele se lembrava no dia da biblioteca. Seus olhos inchadinhos e castanhos ficavam claros, quase translúcidos. Quis beijá-lo, mas lembrou-se das dezenas de desenhos em que faziam isso. 

Abaixou a cabeça sem lhe responder. 

- Você ainda não pode ser sincero? 

- Desculpa. 

Jimim soltou um longo suspiro. 

- Tudo bem. 

- Quando você começou... sabe... a gostar de mim? – Jungkook perguntou.

- Hum... boa pergunta. Eu não me lembro direito. 

- Foi depois dos desenhos. 

- Provavelmente. - mordeu os lábios como se não soubesse o que dizer. - Eu não sei como funciona isso, mas um dia eu estava jogando basquete e você estava na arquibancada conversando com algumas meninas. Eu não tirava os olhos de você, especialmente quando você sorria tímido e desajustado. Depois nos esbarramos no corredor, se lembra?

- Dias antes do acidente do Tae.

- Sim... Nossa, eu queria muito te beijar naquele dia. - ele soltou um riso como se risse de si mesmo. - Foi estranho, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. 

- Você não ficou com raiva de do nada começar a gostar de um menino? 

- Na verdade um pouco, mas depois eu parei para pensar que aquilo não fazia muita diferença para mim. 

Jungkook refletiu a respeito. Gostar de alguém do mesmo sexo era realmente uma escolha? Quando ele saiu do armário sequer tentou mudar sua postura, o acontecimento foi tão lento e intrínseco que ele sabia que não poderia fazer nada. Jimim não teve esse direito. E ao mesmo tempo ele parecia já saber tanto a respeito.

- Você me disse umas coisas... sabe... como se soubesse o que estava falando. – O Jeon comentou, tentando disfarçar o constrangimento.

 - Bom isso é muito constrangedor, mas eu passei dias imaginando você. Como seria seu corpo, como seria ter você em mim, e... e... outras coisas. 

- É melhor a gente parar por aqui. - Jungkook pediu, sabendo que se aquela conversa continuasse ele não ia conseguir controlar-se.

Ficaram um tempo em silêncio apenas vendo o sol se pondo e tudo ficar laranja. Era relaxante e tranquilizante. Jeon percebeu que Jimim começava a tremer de leve então levou até seus ombros a toalha que usava entorno do pescoço.

- Você não quer entrar? - ele sugeriu já se preparando para sair.  

- Não podemos ficar mais um pouco? 

Ele repetiu aquela frase, primeiro no quarto e agora aqui. Será que ele sempre lhe pediria para ficar mais? 

- Tudo bem - retornou a se sentar e Jimim sorriu de leve. Jungkook desejou realizar aqueles pequenos desejos todos os dias só para vê-lo daquele jeito. 

- Mas sabe... – ele disse como se retomasse um assunto – sobre eu não ter escolhido gostar de você. Isso realmente importa? Por que se sim, como você escolheu gostar de mim?

- Eu não escolhi, eu só olhei para você, comecei a observá-lo e aconteceu.

- Exatamente... se antes de tudo isso, eu não fosse... ou melhor, se eu não me visse como hétero... eu não teria me apaixonado por você?

- Mas isso é só uma hipótese.

- Não é só isso... Eu sempre o observei. Talvez por que você sempre me observava, mas eu sempre te olhei. Sempre tive uma espécie de interesse em você, e talvez até ciúmes. O que me impedia antes de amar você?

Jungkook ficou em silêncio sem saber o que responder. Nunca tinha parado para pensar o que levava uma pessoa a gostar de outra. Eram as circunstâncias? Uma linha vermelha?

- Você entende? – Jimim retomou – Não importa como foi, só podemos lidar agora com que já sentimos...

Veio o silêncio, como se nenhum dos dois soubesse o que dizer. Jungkook precisava de mais tempo e Jimim provavelmente sabia disso, tanto é que, depois de um tempo, ele apenas continuou a falar como se nada tivesse acontecido:

- Na próxima semana irei participar da apresentação bimestral.

- Eu fiquei sabendo. 

- Você vai? 

- Claro, você é meu sunbae . 

Ele tinha dito de uma maneira automática, o que fez Jimim rir soprado e o olhar meio indignado ao mesmo tempo. 

- Agora você me chama de sunbae? 

- Eu sempre...

- Não, você sequer me chama de hyung, é sempre Jimim. 

- Desculpa eu...

- Você sabe o quanto que eu odiava isso? – ele fingiu rancor.

- Não foi intencional, eu só... 

- Me chame de Oppa.

Jungkook apena soltou aquele sorriso de coelho enquanto o batia no ombro. 

 - Você é idiota? 

- Claro que não, você não viu Taehyung chamando Hoseok  de Oppa? Eu quero que você chame de Oppa também. 

- E eu tenho cara de menina para fazer isso? Se quiser te chamo de Hyung.  

- O que custa? - Jimim fingiu estar realmente sério. 

- Por que isso nem faz sentido? 

- Eu sou mais velho do que você. 

- E mais baixinho também. 

- E o que isso tem a ver?

- Que na estatura eu pareço mais velho, até mesmo se olharmos para maneira como você sorrir parece de uma criança. 

- Do que você está falando? Você ama meu sorriso.

- Sim, mas ainda assim... 

Jimim deu uma batidinha de leve no seu braço, mostrando aquele sorriso que subia até os olhos. 

- Você realmente é apaixonado pelo meu sorriso, não? 

Jungkook antes brincalhão se sentiu um pouco constrangido e isso pareceu se transmitir imediatamente para Jimim. 

Eles ficaram em silêncio por um tempo, até que não parecia fazer mais sentido ficarem ali. Jimim levantou-se antes de Jungkook, ajudando-o logo em seguida.

- Aquele ali é o Namjoon hyung? – Jungkook comentou logo após ficar em pé. Apontava para uma pessoa totalmente vestida de preto que andava em direção a garagem. Tinha sido muito rápido por que logo depois ele sumiu em direção ao fundo da casa. – Ele não estava com vocês?

- Ele deve ter saído pra procurar o Jin. Parece que eles se resolveram.

Logo depois ele tremeu e Jungkook sugeriu que eles simplesmente entrassem.

POV NAMJOON – 2 horas antes de Jin sumir

Namjoon olhou novamente para a janela, enquanto o restante do grupo se reunia entorno da mesa da cozinha. Eles tinham se concentrado ali, após perceberem que Jin não chegaria a tempo de preparar o jantar. Ninguém ali parecia empolgado em cozinhar.

Sem perceber estavam comendo pequenas porcarias enquanto bebericavam o restante das cervejas. 

- Relaxa, ele deve estar de volta daqui a pouco. – Hoseok comentou.

- Ainda acho estranho, ele simplesmente decidiu ir sozinho e não avisou ninguém, 

- Ele nos avisou - Jungkook disse e levou um cheatos de batata até a boca.

- Por que ele não me avisou? 

- Por que ele deveria ter te avisado? - Hoseok perguntou, sem demonstrar nada, mas Namjoon sabia da insinuação por trás de sua pergunta. Ele simplesmente saiu da cozinha e foi para o lado de fora. Vasculhou um pouco a área verde como se pudesse encontrar alguma coisa, mas nada aconteceu. Decidiu entrar apenas para disfarçar sua preocupação e em seguida acompanhou os meninos até a sala de TV.

Não era exatamente aquilo que esperava de uma viagem de dois dias. Normalmente eles beberiam até cair e falariam porcaria sobre mulheres, improvisando rapers e contando piadas escrotas. Mas de algum modo ninguém estava disposto aquilo, sequer Hoseok parecia aberto para brincadeiras idiotas. Pareciam todos muito tranquilos, querendo ver um filme, beber uma cerveja enquanto conversavam e riam. 

Talvez ele estivesse apenas amadurecendo, deixando de lado aquelas diversões sem sentido. E de algum modo aquilo o fazia bem, ou pelo menos provocavam alguma reação interna que não acontecia anteriormente.  

Talvez fosse sobre isso que Suga estava falando durante todo aquele tempo? 

Procurar algo que lhe fizesse mais sentido? 

- Deu uma saudade do Suga, não é? 

Hoseok o interrompeu de seus pensamentos.

- Sim, ele diria que esse filme é uma porcaria. 

Estavam em uma parte especialmente chata do filme. Suga odiava filmes de super-heróis. Talvez se fosse um do Tarantino ele assistiria até o final. Namjoon afastou aqueles pensamentos percebendo que começaria a se sentir melancólico. 

Lembrou-se então de Jin e suas palavras tentando amenizar a sua culpa. Era palavras simples e óbvias que Hoseok já tinha lhe dito um milhão de vezes, mas pareciam surtir efeito apenas agora. 

Desejou conversar com Jin. 

- Acho que vou dar uma volta, esse filme é muito chato. 

Hoseok apenas deu uma olhada demorada como se soubesse se tratar apenas de uma desculpa. 

- Não esqueça o soju - Namjoon escutou o amigo falar logo após ele sair pela porta.

POV HOSEOK

Tae Mim dormiu na primeira metade do filme. Simplesmente se encolheu no canto oposto de Hoseok e apagou no sofá . Hoseok pensou em acordá-la e leva-la para o quarto, mas ela parecia tão confortável que preferiu não fazer nada. Era até engraçado vê-la dormir por que o rosto de Taehyung era exatamente o mesmo, e assim, de olhos fechados e lábios soltos, ela só era o mesmo garoto de antes. Na segunda metade do filme o garoto adormecido mudou de posição, de encolhido, foi se jogando no sofá, uma perna de cada lado, os braços em outra direção, a boca aberta, totalmente confortável. Algo lhe disse que não seria Tae Mim que iria acordar depois.

- Taehyung? – sussurrou próximo do seu rosto assim que o filme terminou. Jungkook e Jimim já estavam meio dormidos no sofá. Bateu de leve em seu rosto. – V?

O garoto abriu lentamente os olhos e um sorriso lento e preguiçoso surgiu. Hoseok sorriu já sabendo que se tratava de V e aquilo realmente se confirmou quando o garoto inclinou-se e o abraçou. Provavelmente estava drogado e manhoso pelo sono.

- Vamos dormir? – Hoseok sugeriu, lembrando-se do pedido de Tae Mim. V apenas concordou com a cabeça e com a ajuda do mais velho levantou-se e seguiu até seu quarto compartilhado com Jungkook.

Hoseok ajeitou a cama tirando o edredom e arrumando os travesseiros. Enquanto isso V esperava de pé ainda embargado pelo sono.

- Ela te falou não foi?

- Sobre o que? – Hoseok perguntou ainda concentrado no que fazia.

- Sobre... eu... e você.

O moreno virou-se para ver V com cara de sono, mas ainda em condições de falar. Sentiu discretamente uma áurea de constrangimento, mas sabia de algum modo que ele não estava pensando direito. Até ele mesmo sentia um pouco de vergonha e ansiedade sem saber o que fazer.

- Vem, a cama já está pronta.

- Ela falou, não foi? Que eu gosto de você?

- Sim, ela disse. – respondeu, mas sabia que não deveria dar corda para o assunto. Virou-se novamente ajeitando o travesseiro, apenas para cortar contato visual.

Não era por que não quisesse, por que não se sentia atraído ou qualquer justificativa sensata. Era só por que, no seu íntimo, ainda se sentia confuso, ainda mais sabendo que V só começou aquele assunto pelo seu estado de dormência.– A gente pode conversar sobre isso depois.

Hoseok podia sentir a sensação dos outros e de certo modo prever sua atitude. Ele já estava até se habituando a isso. Mas o movimento de V foi tão rápido que ele sequer teve tempo para perceber. Assim que terminou de falar sentiu-se sendo abraçado pelas costas. V depositava seu rosto na curva do seu pescoço por que eles praticamente tinham a mesma altura.

- Não era mentira...

Hoseok desistiu completamente. Ele já tinha sido totalmente claro com que sentia pelo garoto, mesmo que as circunstâncias fossem totalmente anormais.  Levou suas mãos até as deles e suspirou longamente ao sentir seu corpo tão colado ao seu.

- Eu gosto de você...

V sussurrou e então seu coração acelerou. Ou pelo menos foi nesse momento que Hoseok percebeu que seu peito estava descompassado. Sorriu, resmungando internamente que não adiantava mentir. Ele estava apaixonado pelo garoto de sorriso quadrado.

- Eu também gosto de você.

V afastou-se um pouco apenas para que Hoseok pudesse se virar na sua direção. O garoto tinha o sorriso característico, e mesmo que sua cara estivesse levemente amassada, era inevitável não perceber o quanto que ele era bonito.

- Oh droga... – Hoseok resmungou baixinho e levou suas mãos até seu rosto. O sorriso do mais novo foi sumindo lentamente, deixando seus lábios estreitos entreaberto.  – Eu quero muito te beijar agora.

- Então me beija hyung.

V disse, mas abaixou a cabeça. Suas bochechas claramente vermelhas fazendo Hoseok sentir seu constrangimento e ansiedade ainda mais nítido.

- Deveríamos?

A pergunta soou como uma brincadeira, fazendo V se afastar com uma cara de resmungo. Por um instante, qualquer um diria que o “momento” tinha sumido completamente, mas Hoseok não permitiu, o puxou pelo braço e simples assim o beijou.

O mais novo demorou para reagir, mas assim que pareceu notar a situação, agarrou-se em seu pescoço e aprofundou o beijo. Lento e intenso, depositando toda a ansiedade acumulada.

Hoseok nunca tinha beijado um garoto. Mas soube, assim que o beijo iniciou, que aquilo não fazia nenhuma diferença por que se tratava de V. Era simplesmente correto. Inclinou-se mais para frente, levando suas mãos até sua cintura e o trouxe para mais perto de si, fazendo suspirar em sua boca para logo depois o beijo se intensificar. Sentiu sua língua invadir sua boca e suas mãos irem até os seus cabelos, caminha atrás das orelhas, até a nuca. Era um toque simples mais cheio de intensidade, fazendo com que Hoseok jogasse sua cabeça para trás como se pudesse sentir mais detalhadamente aquele toque.

- Acho que descobri um ponto fraco. – V comentou, a voz ainda embargada. Aquele simples detalhe o encheu de desejo. Hoseok sorriu e logo depois, em um movimento brusco, voltou a beijá-lo. O segurou pela cintura empurrando até a cama, fazendo-o cair e logo em seguida subiu sobre ele sem deixar de beijá-lo.

Sabia que não era correto, pois, por mais que gostasse de V, ele estava tocando o corpo de Taehyung que até hoje sequer sabia quem era ele. Mas era só olhar para aquele rosto que começava a deixar aqueles pensamentos de lado e só conseguia se concentrar na maneira como ele mordiscava levemente sua boca.

Morder, adorava ser mordido por V.

- Hoseok Hyung...  – o mais novo sussurrou enquanto seu pescoço era marcado pelo outro. – Me toca mais...

Sentiu o quadril dele indo de encontro ao seu, roçando suas peças de roupas que disfarçavam o volume de suas ereções. Naquele momento a situação estava ainda controlável, mas assim que V disse aquilo, sentiu as mãos do garoto entrando no cós do seu short e apertando de leve sua bunda, insinuando um movimento contra seu pênis. Ele começou então uma fricção intensa, por que necessitava de contato, mas no íntimo não sabia o que fazer. Não sabia se estaria apressando demais, se ele suportaria a culpa depois. Então, permanecer com as roupas era uma espécie de contrato mental que bailava entre a responsabilidade e o desejo.

- Hyung... quero mais.

Mas aquele pendulo parecia estar preste a ser rompido, por que V enfiou as mãos em sua cueca e segurou seu membro apertando-o. Hoseok soltou um gemido, mas assim que o fez percebeu a gravidade da situação. Com muita dificuldade jogou-se na cama ficando ao lado do garoto, que ainda insistia em acariciá-lo, obrigando-o então a ter que, com as próprias mãos, retirar as mãos do garoto de dentro da sua roupa.

V estava claramente insatisfeito com aquela atitude.

- O que foi?

Perguntou e inclinou-se sobre ele, pronto para beijá-lo de novo.

- Calma. Por favor, vamos com calma, tudo bem?

V ignorou e voltou a beijar sua bochecha e levou suas mãos até sua barriga acariciando-o.

- Por que a pressa? – Hoseok perguntou e o garoto finalmente pareceu para com suas investidas. Ele franziu a boca e piscou várias vezes antes de assumir:

- Eu não sei quando eu volto.

Hoseok entendeu logo o que ele queria dizer. Tae Mim tinha surgido, sendo a segunda personalidade a aparecer e a primeira a ocupar o espaço que sempre foi de V. Era óbvio que ele sentisse aquele tipo de insegurança.

- Eu entendo... – disse compreensivo e logo depois o aconchegou em seu abraço – Mas não vamos apressar nossa relação, tudo bem?

V reclamou no início mais logo depois cedeu. Ficaram então um tempo ali, apenas deitado e dando beijos, abraços, cheiros e mordidas de leve, enquanto riam e conversavam sobre assuntos aleatórios. Descobriu que V planejava mudar de faculdade, que queria viajar para o exterior com amigos, que gostava de filme de super-heróis e, se pudesse, adotaria uma cadela – fêmea por que estava cansado de homens a sua volta.

Durante toda a conversa Hosoek lembrou-se da conversa Tae Mim e o desejo do garoto de ser cuidado. Conseguiu visualizar uma carência, uma vontade de ser amado e querido, como se não tivesse recebido isso no tempo certo. Percebeu também, que, mesmo ele mesmo sendo um grande falador, nem ele conseguia controlar a língua de V. Ele falava sobre si, sobre Jungkook, sobre tudo, mas principalmente dos seu desejos e visão de mundo, como se ansiasse que Hoseok o conhece profundamente.

- Ela poderia se chamar Moon se ela for gordinha...

V comentou imaginando a cadela que teria.

Hoseok só sorriu, numa mistura de tristeza, preocupação, mas acima de tudo, carinho. Gostava de V, lhe despertava uma vontade de cuidado e consideração, principalmente de conhecê-lo profundamente e sem receios.  

Hoseok devia estar encarando-o com muita intensidade, por que V repentinamente parou de falar e o encarou curioso.

- O que foi?

- Nada, você tem uma voz bonita, só isso.

Ele sorriu e o abraçou mais forte. Minutos depois eles dormiram ali, abraçados.

POV NAMJOON

Ligou para Jin já pensando em uma desculpa. “Eu preciso de uns remédios também...mas não me lembro o nome, só conversando com o farmacêutico. ”. Sabia que era estúpido e que nem Jin cairia naquela, mas de algum modo ele tinha que verificar se estava tudo bem. Mas o moreno simplesmente não atendeu sua chamada, chamou e chamou mais algumas vezes, até que desistiu e foi para a cidade mais próxima mesmo que não soubesse onde exatamente o garoto estaria. Entretanto, mesmo perguntando para o dono do único comércio, para a dona da pousada, e até para a central de taxi, ele não obteve uma notícia sequer do garoto. Já eram quase 22h30min quando decidiu voltar para casa na esperança de que ele simplesmente tivesse retornado e esquecido o celular no silencioso. Mas não era o caso, não havia ninguém. E aquilo começou a preocupá-lo.

Assim que chegou em casa encontrou Jimim e Jungkook na cozinha preparando uma rámem. Explicou toda a situação, mas nenhum dele parecia compartilhar da sua preocupação com a mesma intensidade. Aqueles garotos achavam o quê?

- Ele deve ter deixado o celular em casa. E mesmo que você não tenha tido notícias dele lá, talvez ele só esteja a caminho de casa. Você tentou as paradas de ônibus?

- Não. – amaldiçoou-se mentalmente. – Mas já são quase onze horas da noite, ele deveria ter pego um taxi.

- Calma Hyung, vamos esperar até dar meia noite para a gente fazer alguma coisa.

- Tudo bem, eu vou falar com Hoseok.

- Não! – Jimim soltou. – Ele está com Taehyung no quarto... sabe...

- Como assim? – Namjoon perguntou realmente sem entender.

- Eles estão no quarto, sozinhos, talvez se agarrando, talvez transando. – Jungkook disse, sem constrangimentos.

Namjoon levantou uma sobrancelha. Era estranho imaginar o amigo com uma pessoa do mesmo sexo? Óbvio. Ainda mais Hoseok que sequer tinha lhe dado indicativo de ser gay.  Mas decidiu que só pensaria sobre isso quando tivesse oportunidade de conversar com ele pessoalmente, ainda mais considerando que sua prioridade era descobrir onde Jin estava.

Decidiram assistir um outro filme, apenas para ocupar o tempo. Namjoon por um instante até conseguiu não pensar no assunto, foi então quando já passava da meia-noite, seu celular tocou. Era Jin.

- Namjoon?

- Caramba, onde você está?

Ele deu uma pausa no outro lado da linha.

- Desculpa por preocupá-lo. Eu demorei em um restaurante e acabou que não consegui nenhum taxi. Desculpa por isso.

Namjoon apenas suspirou como se um peso gigante tivesse saído das suas costas.

- Tudo bem... você volta amanhã?

- Sim. Antes de vocês acordarem eu devo estar ai, tudo bem?

Eles encerraram o telefonema. Jimim e Jungkook o olhava atentamente, não precisou explicar, por que suas respostas davam para compreender perfeitamente o que tinha acontecido.

- Mais aliviado, hyung?

A pergunta era simples, mas repentinamente ela soou muito mais cheia de significado do que deveria.

- Sim... – sussurrou, confuso consigo mesmo.

POV JIN

As vezes pensava que deveria fazer teatro, por que Namjoon pareceu acreditar nele completamente. De certo modo aquilo era um alívio, por que repentinamente aquela situação era tão confusa que ele não saberia por onde começar. Talvez pelo exato momento em que foi drogado, raptado e levado até aquele quartinho de hotel barato, sem saber exatamente onde ficava ou por que estava ali. Mas, por mais confuso que fosse, ele sabia que não poderia contar toda a verdade para os meninos, muito menos para Namjoon.

Ajeitou-se um pouco melhor na cama, considerando que não precisava se inclinar para poder falar no celular segurado por seu raptador. Ele tinha sido forçado a dar aquele telefonema e dizer toda aquela ladainha, mas mesmo assim Jin ainda não conseguia deixar de olhar para ele sem se sentir totalmente confuso e fascinado. Mesmo que estivesse com as mãos presas na cabeceira por uma algema, era inevitável que seus olhos não fossem levados até ele sem sentir uma certa curiosidade.

- Satisfeito? – Jin perguntou.

- Sim. – sua voz obviamente não tinha mudado, mesmo que as cores do seu cabelo fossem agora azuis e seu corpo fosse claramente mais magro. Mas todo restante era igual, a boca cheia, a testa franzindo-se sem motivo, a pele morena. – Você sempre foi bom em mentir.

Seu comentário não ofendeu, por que ele estava sorrindo.

- Temos então até amanhã para você me explicar tudo, acredito que você possa me soltar agora. – disse, olhando para a algema e em seguida para ele.

- Certo... – ele respondeu lentamente, olhando-o de uma maneira que Jin não soube entender o que significava. Era um olhar diferente de tudo que ele se lembrava. – Vou soltá-lo, mas não fuja ou grite, você precisa realmente entender a situação.

- Tudo bem, só me solte.

Ele o liberou das algemas, e Jin, em resposta, apenas começou a acariciar o pulso tentando amenizar as marcas.

- Desculpa por isso.

- Poderia não ter feito então – Jin sugeriu ácido.

- Sim, mas era necessário.

- Necessário para o que?

Ele não respondeu e aquilo deixou Jin frustrado e com raiva.

- Me responda, para quê?

- Lá... no futuro, você me avisou que eu precisaria fazer isso.

(...)

Quando acordou naquele quarto, Jin entrou em pânico. Ele estava sentado, com um esparadrapo na boca, os seus punhos paralisados por algemas e ele mesmo fedia a álcool. Estava preso a uma cama de casal, provavelmente em um quarto de hotel, por que era tudo impessoal. Seu primeiro movimento foi tentar se libertar, mas sem sucesso, começou a se debater, apenas para se machucar ainda mais. Foi quando ouviu uma porta ser aberta e de lá surgir uma pessoa.

Seus olhos arregalaram pelo pânico e depois se suavizaram ao identificar quem era.

Namjoon.

Era ele, mas de cabelos azuis e com uma presença diferente.

- Oi Jin – ele sorriu e logo depois sentou-se ao seu lado, como se fosse extremamente natural ter um conhecido preso em sua cama. – Desculpa pela dor de cabeça e o cheiro de álcool.

Arrancou o esparadrapo na sua boca em um único movimento.

- O que está acontecendo, por que estou aqui? – Jin perguntou já nervoso. Namjoon olhou para baixo e franziu o cenho, logo depois voltou a encará-lo, os olhos cheios de intensidade.

- Por que você irá fazer uma grande merda, e eu vim do futuro para impedir isso. 

CONTINUA...