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História Lights Out - Não olhe através da janela


Escrita por: saavik

Notas do Autor


Este amorzinho estava guardado faz um tempão a espera do dia das bruxas ♥
[BOA LEITURA]

Capítulo 1 - Não olhe através da janela


Fanfic / Fanfiction Lights Out - Não olhe através da janela

________

O corvo

______________

 

 

Fim do outono e início do inverno, nove e meia da noite.

 

Krabi em transição é sempre cinza e sombria, mesmo com todas as luzes brilhantes de Kanchanaburi: cores em néon e elegantes pilares de ouro. O concreto abaixo dos pés de Kyungsoo é preto e cinza, sujos por anos e anos de fumos e sonhos frustrados, esmagados sobre o chão e deixados para trás sem consideração. A chuva caindo como lanças afiadas dava uma sensação frustrante e inquietante que o fazia abraçar sua jaqueta, posicionar sua mochila pesada sobre os ombros, se inclinar e começar sua melhor corrida de volta para casa.

Apesar dos lembretes nos jornais, havia se esquecido de trazer seu guarda-chuva. Odiava dias como estes, quando tudo parece derreter e o céu dá a entender que chorará em depressão por uma eternidade, dificultando a vida dos desprezados sem mente ou lembrança. Essa noite, como em muitas outras, não havia um corvo sequer o observando de cima, em telhados de madeira ou em copas de árvore. Estava sozinho com o ranger de seus sapatos sobre o cinza molhado, o som é surdo como o barulho das gotas de água caindo em poças nos buracos das ruas mal asfaltadas.

O frio fazia uma varredura ao seu redor e se instalava em algum lugar dentro de suas roupas.

 

Krabi não era mais a velha cidade dos sonhos, não se via mais um céu tão imenso e azul como antes. Os anos anteriores se passaram como pequenos bombardeios na ilha. O verão estava cada vez mais quente, o inverno cada vez mais frio e as folhas secas eram espalhadas pelo chão antes mesmo da primavera, tudo era um conjunto fruto de seus próprios atos, eram suas próprias consequências e dali em diante seria apenas chuva fria e céus índigos, com pássaros e corvos voando bem ao longe em dias de sorte, em outros, não haveria mais nada.

O último circular passa cedo demais desta vez e Kyungsoo quase não consegue o alcançar, correu um pouco mais depressa tremendo de frio e logo estava dentro do abrigo quente, sentado na última fileira de bancos, bem afastado do motorista que rotineiramente lhe cumprimentava. Seu cabelo estava uma bagunça, mas todos os seus livros estavam secos e protegidos dentro da mochila.

A chuva já começa a dar indícios de cessar, mas a última gota é derramada somente quando já está em casa, com a roupa encharcada e uma mochila praticamente seca por completo, devido a muito esforço. O relógio marcava dez e vinte, não estava tão tarde assim para preparar um jantar ou algo relativamente comestível ou digno, mas ainda assim ele prefere agarrar uma maça e dar três mordidas antes de entrar no banheiro com uma toalha azul sobre os ombros. Kitty - sua gata persa - miava do lado de fora da porta trancada. Havia algo cômico em seu miado estridente que causa risos sem sentido no dono.

O fato de gatos miarem para portas fechadas é simbolicamente engraçado demais, faz caber nisso um montante de hipóteses e pensamentos.

 

 

Seu banho fora rápido, depois de passar um dia inteiro estudando é esperado que esteja tão cansado quanto se sente, embora grande parte de sua exaustão venha de lugares distintos: pedaços de si mesmo espalhados por cada canto que se possa enxergar. Não é normal que se sinta tão exausto todos os dias, deveria, com toda certeza, fazer algo em relação a isso, mas, mesmo assim, permanecia sem mover um músculo.

Não é preciso muito para constatar que não há o que fazer em sua casa, é tudo limpo e devidamente arrumado, com exceção das manchas marrons e insistentes nas paredes. Elas estão ali firmes e fortes resistindo a lixamentos e demandas de tinta, mas, no final, é preciso que permaneçam para mostrar a vivencia do local, suas lutas e suas perdas com ou sem glória. É uma casa histórica, vítima e testemunha das mais diversas situações fora do normal. Mas com esperança uma nova cor será comprada no final de semana, talvez algum tipo de vermelho intenso para combinar com o marrom doente. Antes que pudesse se ajeitar melhor sobre a cama para dormir, seu celular vibrou com cinco mensagens de Baekhyun, as respondeu por áudio, para facilitar tudo e não dispersar seu sono com preciosos minutos digitando.

 

  x

 

“Orh orh”

Havia uma escuridão tremenda em seu sonho que se apossou de praticamente toda a sua vista. Não havia muito mais além de escuridão e uma única porta que irradiava uma forte luz branca de onde parecia ser sua única saída, mas havia pássaros negros voando alto e cantando por todo lugar, mostrando-lhe algo em uma direção contraria. Eles estavam atormentando seus sonhos depois de três anos sem aparecer em sua vida, mas há algo real e palpável em seu cantar.

Quando Kyungsoo abre seus olhos as cortinas verdes não estavam mais ali, esqueceu-se de coloca-las novamente no lugar depois de terem passado pela lavanderia. O céu não estava claro, estava bastante escuro do lado de fora, mas a cor era agradável e confortável, algum tipo de azul escuro e magnifico.

O céu invadiu o quarto, ultrapassou os vidros das janelas e se deitou sobre a cama de casal a qual dorme somente um rapaz.   

“Orh orh”

 

Era a primeira vez em anos que ouvia novamente o velho e conhecido cantar dos corvos do lado de fora da janela, junto ao canto também estava presente as visíveis penas negras dançando contra o vento e o som alto do bater de assas. Agora eles são muitos e brigam pelo resto comida que ainda é deixado com esperança, mas, mesmo com comida escassa, estão ali novamente, depois de muito tempo sem aparecerem.  

Estava prestes a completar três anos desde que recebeu a visita do último corvo que pousou sobre o chafariz no quintal, se alimentou, deixou uma bonita e pequena pedra rosa de presente sobre o gramado e foi embora.

Kyungsoo franziu a testa, é claro que não iria conseguir pregar o olho novamente. Eram cinco e meia da manhã, as suas aulas começavam as sete e o estágio era logo em seguida e se estendia até as nove e vinte da noite.

Não há mais a possibilidade de descansar com tanto barulho. Havia algo doloroso nos corvos do lado de fora que o faz se levantar sem pestanejar com um saco de grãos e frutas secas para alimentá-los. O ar está muito mais frio do lado de fora. O Do sentiu a enorme fenda no ar antes mesmo de ser notado, mãos firmes em uma roda de fumaça negra no ar rasgavam um espaço aberto que fez sua visão mudar de imediato. O chafariz foi pintado pela escuridão das penas negras. Alguns corvos ainda voam no alto, prestes a irem para o leste sem antes bicar grão algum, não estavam mais acostumados com sua presença, mas, a sua esquerda, entre as árvores que dividem o cemitério e a sua casa, estava novamente uma bela figura em contraste; um par de olhos humanos observadores e terrivelmente brilhantes envoltos em trevas e o outro em luz.     

A risada grosseira que agora ricocheteava por entre as árvores soou alta o bastante para o fazer correr, se trancar em casa e passar a olhar para fora por entre as persianas marrons. Mas não havia nada lá, era somente o seu declínio. Estava louco, irreversivelmente louco.  

 

x

 

O tempo passa aos empurrões, socos e pontapés e não havia escapatória para Kyungsoo a não ser sair de casa e ir para a faculdade, embora não tenha vontade alguma para isso. Não é só o seu cabelo que estava uma bagunça, e todo o conjunto acabava se refletindo nos olhares que eram direcionados para si durante o curto trajeto, sua mente traça uma rota diferente para a volta para casa, talvez não seja apropriado tomar o mesmo circular que ontem à noite, talvez seja perigoso.

Durante as aulas Baekhyun - seu amigo de infância e de faculdade - insistiu em saber mais sobre a noite mal dormida, sobre os olhos brilhantes observando na penumbra e a incrível volta dos corvos mal-agradecidos que pareciam terem desaparecido.

Kyungsoo apoiou seus cotovelos sobre a carteira, continuou a anotar o conteúdo do quadro negro e lhe explicou com meias palavras, não estava disposto a manter uma conversa. Baekhyun, como de costume, sentiu-se ofendido e continuou a falar enquanto fazia suas anotações

– Eu acho que você deveria sair um pouco, comer mais e se divertir. Você está horrível!

– Muito obrigada.

– Estou falando sério! Eu me preocupo seu maldito.

– E o que você sugere? Irmos a Khao san road comer arroz com banana?

– Pode ser.… amanhã é sábado, tire o dia para descansar e eu apareço no domingo para sairmos.

 

Aquilo se perdurou até o ultimo horário, quando trocaram algumas palavras e informações sobre a maquete para a próxima semana e se despediram. O dia, como já era esperado, permaneceu frio e nublado, nem mesmo a costumeira claridade das três da tarde de Krabi apareceram para agraciar a ilha, parecia que ela havia sido esquecida por completo. Os turistas estavam indo embora aos poucos e não se restava ninguém mais pelas ruas, ela permaneceu deserta até o seu horário de volta do estágio, as nove e meia da noite.   

Desta vez não teve tanta sorte em correr em busca do último circular, o que o fez perguntar-se porque Krabi adormecia anormalmente tão cedo, deveria ser tão noturna e barulhenta quanto as demais cidades da Tailândia, embora fosse uma das conhecidas cidades espirituais, ainda assim recebia os mais variados e estranhos turistas.

 

O motorista do circular desta vez sequer notara sua corrida, chegara cinco minutos atrasado, mas talvez este fosse o seu karma por fugir todos os dias de seus cumprimentos gentis e conversas vazias durante o longo trajeto. Tudo o que lhe restava agora naquela noite era a longa caminhada de quarenta minutos até sua casa, naquelas ruas tétricas e vazias.

Uma dor estranha permeava através de seu corpo como um doce aperto do tempo frio e cálido, uma descarga elétrica de algum tipo estranho de mistura entre medo e inquietação deixavam seus braços trêmulos, as linhas das palmas de suas mãos pareciam dançar a cada novo aperto que dava nas alças de sua mochila sobre os ombros. As ruas a sua frente estavam desertas, mas haviam palavras desconexas, um tanto longínquas e passos apressados atrás de si, dobrando cada esquina logo após seus passos vacilantes, e cada vez que olhava para trás, enxergava apenas achadas e folhetos precariamente presos a arvores balançando por causa do vento, e nada mais, ninguém nas ruas. Não havia nada lá.  

– Está indo para casa?

A voz que aparecera a sua direita saia dos lábios fartos de um homem levemente curvado com um cigarro pendendo sobre os lábios e as mãos afundadas nos bolsos de um sobretudo bege, quando este levou sua destra aos lábios em busca de agarrar o cigarro, Kyungsoo o observou e notou um sorriso indecente brotar nos lábios do desconhecido assim que mirou seus semelhantes. Não assimilou a imagem, mal escutou suas palavras e mal enxergou seu rosto, aquiesceu e, sem dizer palavra alguma, pôs-se a andar na frente do homem.

Seus primeiros passos foram lentos, mas evoluíram quase que instantaneamente para uma corrida desenfreada, mal se importava em parecer um louco ou fugir de alguém sem o menor motivo, embora em sua mente tenha milhares deles.

Toda a sua sorte fora questionada novamente quando uma repentina abertura no céu fez começar a chover, primeiros uma leve garoa e depois de segundos grossas e pesadas gotas que o encharcavam até os ossos, infiltrando o frio na pele e o cravando até faze-lo se sentir mal, triste e deprimido novamente.

Suas calças molhadas dificultavam sua corrida, já deveria estar longe o bastante, mas, quando aliviado fez menção de cessar seus passos, fora arremessado contra a parede de tijolos vermelhos de uma loja de artesanato. Um punho fechado acertou em sua coluna e em seguida um novo acertou seu torso, um pouco abaixo do peitoral. Caído ao chão, levou uma das mãos até o local, desesperado a procura do ar que fora expulsado de seus pulmões enquanto a outra apoiava-se sobre o chão.   

– M-me passa a carteira! Anda! – Ordenou desesperadamente uma voz masculina e um tanto quanto vacilante ao seu lado.

Kyungsoo não olhou o dono da voz, embora fosse um timbre diferente, era bastante claro que o homem que a minutos atrás falara consigo agora o estava roubando.

– Fica no chão e me dá tudo! Anda logo... ou vou atirar em você em três segundos. – Kyungsoo inicialmente se manteve imóvel, mas o ladrão logo o provara de suas palavras e um forte estrondo ecoou pelas ruas.

Ele disparou contra a parede. A bala raspou pelo ombro direito do Do e ricocheteou pelas paredes junto ao seu urro de dor.

Seus movimentos agora eram mais lentos do que nunca, mas sua mente parecia trabalhar incompreensivelmente mais rápido, a ardência em sua coluna e torso se alastravam por todo o seu corpo, mas o mantinha consciente e cheio de adrenalina. Olhou para o outro por cima do ombro, apenas o bastante para enxergar sua arma e não o seu rosto. Embora tudo estivesse escuro, ela refletia um brilho metálico e inconfundível.

Sua carteira não estava no bolso esquerdo de sua calça, mas só percebeu isso depois de enfiar sua mão esquerda no lugar, enquanto a destra apoiava-se no chão de paralelepípedos, mantendo-se em uma posição humilhante e desagradável. Sua mochila caiu de suas costas no momento certo, o zíper dela foi aberto por sua mão com tanta força que quase fora rasgado. Mas uma enorme confusão começava se desfazer bem a sua frente, aos poucos.  

Primeiro vieram o canto dos corvos, os conhecidos “orh orh’s” sobrevoando bem acima de sua cabeça, em seguida o bater de asas, depois as penas negras. Um corvo atrás do outro, formando um grande coro ruidoso de ‘’orh’s’’. O ladrão tremeu, mirando os incontáveis olhos pequenos e negros vidrados em suas ações. Kyungsoo os olhou também, vislumbrando uma enorme quantidade de corvos aparecem e se posicionarem espalhados por telhados, arvores e chão, só para vê-lo voltar para casa sem dinheiro, documentos e, possivelmente, sem os sapatos. O ladrão continuava a lhe pressionar, desta vez começando a praguejar baixo por tanta demora, mas suas mãos atrapalhavam-se entre materiais, bolsos e papeis descartáveis dentro de sua bolsa.

E então tudo se desfez rapidamente, os ruídos dos corvos tornaram-se insuportavelmente altos e o bater de assas surpreendentemente mais perto de sua audição, assim como gritos dolorosos e rasgados. Uma chuva de penas negras caiu sobre seu rosto ao mesmo tempo que em que o levantava para enxergar que acontecia. Todos os corvos agora estavam ao redor do ladrão, bicando sua face e pescoço em um ataque brutal. E lá estava o desconhecido com sobretudo bege, sorrindo um pouco afastado da confusão, mas seu rosto era tão desumano que seus olhos negros e brilhantes e o seu rosto tomado parcialmente por penas negras fizeram Kyungsoo se encolher e se esquecer do ladrão que a pouco o tentara assaltar e que agora era atacado mesmo estando visivelmente morto.

– Você não me disse se estava indo para casa ou não – começara, com um tom de voz calmo e baixo. – É uma pena, sabe... eu poderia tê-lo acompanhado e agora você não estaria tremulo, encharcado de sangue e gemendo de dor – sorriu vitorioso, como se fizesse piada com a situação, negligenciando totalmente o corpo estraçalhado por bicadas logo ao seu lado. – Vem, vou leva-lo para casa.

Kyungsoo se manteve em silêncio enquanto o estranho lhe agarrava pelo braço e o levantava do chão com facilidade, não fazia ideia de que estava tão leve assim, embora pouco fizesse refeições durante o dia. As palavras pareciam ter sumido de sua mente, foram varridas pela fantasia que acabara de ver, uma fantasia que agora se misturava ao pelo vento e a chuva, e lá estava ela novamente, lhe castigando agora que tudo parecia ter acabado. Passou a andar calmamente por entre as ruas, segurando firme sua mochila contra as costelas com o outro ao seu lado, rindo baixo de sua face distorcida pelo espanto e assoviando para os corvos que faziam escolta.

Quando colocou os pés em seu jardim, avistou a porta de sua casa aberta. O desconhecido ainda lhe fitava, sabia disso e, embora não quisesse de forma alguma olha-lo por receio de manter vivido seus traços em sua mente, o fitou em busca de respostas, querendo ser compreendido sem ao menos fazer o esforço de falar.  

Ele deu de ombros, esboçando um sorriso indecente. Na escuridão, por sorte, não se enxergava muito de seu rosto, mas seus olhos negros brilhavam de forma obscura e nítida.  

– Foram eles... os corvos. – Defendeu-se do que acreditou ser uma acusação.

– Você é um demônio?

– Acredita em demônios? – Riu baixo, cobrindo seus lábios com as mãos. – Acredita que demônios são como eu? Metade humano e metade corvo?

– É isso o que você é? – O desconhecido manteve-se em silêncio, o observando. – São todos como você?

– Não vai me convidar para entrar? – Fez menção de seguir pelo caminho do jardim, em direção a porta de entrada entreaberta.

– Vai deixar aquele cara lá?

– Não é minha responsabilidade, não sou culpado por aquilo.

O Do ao menos precisara recrutar, o desconhecido já lhe dava as costas, porém, rumava em direção contraria a que vieram. Estava indo para o cemitério da saudade. Sem ao menos pensar correu até sua casa e fechou a porta com um estrondo logo após.

– Isso não pode ser real... – levou sua destra até os fios de seus cabelos molhados e desarrumados, puxando, bagunçando e os quebrando.

A dor em seu ombro ainda permanecia, mas a ferida já havia parado de sangrar, mas, no entanto, ela estava ali para lembra-lo de que não fora sua imaginação fantasiosa, realmente foi assaltado e por pouco não morto por uma bala perdida. O ladrão havia realmente sido morto, ou brutalmente ferido por corvos... corvos. Os mesmos corvos que alimentava desde que criança e era agradecido com presentes, presentes estes que agora estavam em amontoados de caixas e sacos de lixo no porão, mas ainda havia o desconhecido, o corvo... o humano, ou os dois. Não era real, era fruto de sua mente. Ninguém o trouxe até em casa e não havia mais ninguém lá além de si mesmo e o ladrão, era apenas o seu declínio, estava louco, irreversivelmente louco.

As portas e janelas foram trancadas assim que dispersou todos os seus pensamentos. Kitty miava agitada em cima do sofá, querendo atenção, fazia tempos que não direcionava tipo algum de atenção ou agrado a gata velha, mas por hora apenas lhe coçou entre as orelhas, a ouviu ronronar e rumou até o banheiro para um longo banho. Limpou a ferida em seu ombro e o envolveu com gaze. Não tinha fome, seu estomago se revirava apenas em pensar em comer.

Acabou por se deitar, remoendo em sua cabeça os acontecimentos, eram fruto de sua mente e apenas isso.

Sua noite foi regada a pesadelos e sussurros. Sua casa estava repleta deles, e quando acordou no meio da noite, pode ouvi-lo sussurrando em seus cômodos, na penumbra, com a voz serena como na noite passada. Os corvos do lado de fora pareciam cantar em coro suave e penoso, aquilo o assustou, o fez trancar-se no quarto e não olhar através da janela sem cortinas.

Quando acordou no dia seguinte, depois de uma noite mal dormida, entendeu que, mesmo mal sabendo se o que acontecera na noite passada fora real, os corvos haviam voltado e não estavam contentes consigo. Eles estavam espalhados por seu quintal, em seu telhado e também no chafariz. Espiando-o a cada passo e o penetrando com seus olhos negros, em tantos e tantos anos sendo companheiro destas aves, sentiu medo pela primeira vez.

E lá estava, no meio das árvores, os olhos que pensara ter visto na noite passada, à espreita, o observando. Quando correu de volta para casa, trancando-se, uma risada cultural ecoou por seu quintal e atormentou seus ouvidos, arrepiando seus pelos. As dez e meia da manhã, no noticiário, seu pesadelo tornou-se oficialmente real. A foto de seu assaltante e agressor estava na televisão, onde uma jornalista reportava a notícia de que o corpo de Koen Chiragun, de trinta e dois anos de idade, fora encontrado morto as cinco e meia da manhã, com marcas de cortes e perfurações profundas na pele. Segundo ela as marcas foram causadas por aves, e no local do crime ainda haviam cinco corvos, que lá permaneceram à espreita até o corpo ser retirado e levado até o instituto médico legal ¹. As imagens eram horríveis, piores do que havia se dado conta. A mídia tailandesa era realmente sensacionalista e cruel.

Kyungsoo, embora estivesse com medo, estava aliviado. Os corvos haviam salvado sua vida, e seria eternamente grato por isso, mas havia o demônio visto na noite passado, aquele que o acompanhara até em casa e o observava, tinha certeza disso. Os sussurros e risadas ecoando pelas paredes lhe enlouqueciam, e por algum motivo, o Do tinha certeza de que vinham do demônio, o corvo metade humano que ainda o estava esperando do lado de fora. 


Notas Finais


Até o próximo ♥


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