História Like a Dream - Capítulo 12

Décimo Segundo Capítulo

O Fim de Mais Uma Aventura

O resto daquele confuso dia havia se passado em um borrão. Uma batalha durante o dia e uma coroação logo após a vitória.

Tenho certeza de que Caspian será um bom Rei. Um rei que Nárnia merece. 

Para mim não foi estranho o fato de ter apagado assim que chegamos ao castelo de Telmar naquela noite. 

No dia seguinte pela manhã, fui avisada de que Aslan estava a minha espera e ao chegar ao seu encontro, reparei que Pedro e Susana também estavam ali. 

— Desculpe a demora. - pedi assim que me aproximei. 

— Não se preocupe com isso, minha criança. - falou o leão - Venham. Vamos caminhar um pouco. 

Andamos ao seu lado durante um tempo, sem dizermos palavra alguma. 

— O que precisava falar conosco que disseste ser tão urgente, Aslan? - perguntou Pedro talvez tão curioso quanto eu sobre o assunto que o grande leão queria nos falar. 

— Vocês cresceram. É sobre isso que preciso falar com vocês. - Aslan começou a dizer e seu semblante era de tristeza - Vocês, minhas crianças, aprenderam tudo o que poderiam aprender. Se tornaram pessoas melhores do que um dia eu poderia imaginar. E é por isso que eu preciso dizer que já está na hora de vocês partirem. 

Parei de andar no mesmo momento em que Ele disse isso, tentando compreender cada palavra dita. Não estava surpresa com o fato de que teríamos que ir embora em algum momento, eu sabia que esse dia iria chegar, só não esperava que fosse tão cedo. 

— Entendemos, Aslan. - falou Susana com tristeza na voz - Nossa ajuda não é mais necessária aqui, mas estaremos prontos caso precisem novamente. 

O olhar que o grande leão nos lançou me fez ter a certeza de que algo não estava certo e uma angústia tomou conta de mim. 

— Não haverá uma próxima vez, Susana. - disse Aslan nos deixando em choque. 

As lágrimas começaram a rolar sem que eu ao menos me desse conta. Saber que esta seria possivelmente minha última vez em Nárnia estava me destruindo. 

— Não voltaremos mais a Nárnia? - perguntei com a voz embargada, tentando o possível para parar as lágrimas que teimavam descer. 

— Você, Edmundo e Lúcia ainda voltaram mais uma vez. Mas sinto dizer que para Pedro e Susana não haverá volta. - explicou o leão - Como eu já disse, vocês cresceram. Aprenderam e ensinaram o que podiam neste lugar. Já é chegada a hora de dizer adeus. 

O silêncio que se segui foi tão doloroso, que nem mesmo o fato de que ainda teria outra chance de voltar consegui me animar. Os dois Pevensie mais velhos não poderiam estar aqui novamente e eu podia entender que eles não estavam nada bem neste momento. 

— Nunca mais voltaremos? - indagou Pedro abalado com a notícia. 

— Não. Não voltaram. - respondeu Ele. 

— Majestade. - Aslan saudou Caspian que não havia percebido que estava mais adiante nos observando.

— Estamos prontos. – falou o novo rei – Já estão todos reunidos.

Com o coração já apertado de saudades, voltei a caminhar ao lado dos irmãos Pevensie e do grande leão.

(...)

Nos encontrávamos a frente de uma grande árvore em um dos pátios da vila de Telmar.

Muitos não sabiam, mas isso era uma despedida.

Por fora eu aparentava a maior calma do mundo, e por dentro estava quebrada por ter que ir embora mais uma vez.

— Nárnia pertence aos narnianos tanto quanto aos homens. Qualquer telmarino que queira ficar e viver em paz é bem vindo. Mas aquele que desejar, Aslan os levara para o lar dos nossos antepassados. – declarou Caspian.

— Já faz gerações que nós deixamos Telmar. – exclamou um telmarino.

— Não nos referimos a Telma. – falou Aslan – Seus antepassados foram marinheiros errantes, piratas arrastados para uma ilha. Nela acharam uma caverna, uma rara fenda entre este mundo e aquele mundo. O mesmo mundo de nossos Reis e Rainhas. É para essa ilha que posso retorna-los. É um bom lugar para qualquer um que queira recomeçar.

 Um murmúrio de desconfiança se espalhou por entre os telmarinos que estavam logo a nossa frente, junto do povo narniano.

— Eu vou. – disse um dos soldados, provocando surpresa em todos – Eu aceito a oferta.

— E nós também. – declarou a tia de Caspian, seguindo junto do homem até Aslan.

— Porque foram os primeiros a decidir, vocês serão felizes nesse outro mundo. – disse o leão, e soprou sobre eles.

 No mesmo instante a árvore que ali estava começou a se contorcer e no meio dela foi se abrindo o que pude ver como uma porta.

A nossa porta para casa, pensei.

Aqueles que escolheram ir, atravessaram a porta que se abriu e sumiram por ela, provocando espanto nos humanos que estavam ali.

— Como saberemos que não estão nos levando para a morte? – gritou um telmarino.

— Senhor, se meu exemplo pode servir de alguma coisa, passarei com onze ratos sem demora. – proferiu o pequeno rato Ripchip.

— Não. – falei dando um passo a frente. Por mais que eu não quisesse, esta era a nossa hora. Troquei um olhar com Pedro e Susana, tomando coragem para fazer o que era certo – Eu vou!

— E nós também. – afirmou o loiro.

— Iremos? – perguntou surpreso o rei mais novo, que só agora percebi que me encarava e desviou o olhar para o irmão.

— Vamos embora.  Chegou nossa hora. – falou Pedro para os mais novos e depois caminhou até Caspian – Afinal, não precisam mais de nós.

— Vou cuidar de tudo até que voltem. – disse o novo rei, que pegava em suas mãos a espada que o loiro estendia.

— Esse é o problema. – interferiu Susana – Não vamos voltar.

— Não vamos? – perguntou Lúcia atônica.

— Nós três iremos. – falei rapidamente tentando evitar que a pequena se desmanchasse em lagrimas. Sabia que se ela chorasse, eu não aguentaria também – Ainda teremos trabalho pela frente, Lu. – fitei o rosto de cada um deles, gravando o máximo de detalhes que conseguiria lembrar – Me sinto honrada por ter tido a chance de conhecê-los. Ei, Lu. Não precisa ficar assim. Nós somos do mesmo mundo, lembra? Quem sabe não nos esbarramos por ai? – falei para a pequena que havia me envolvido em um forte abraço. Ela havia se tornado uma grande amiga, mesmo sendo mais nova que eu. Soltei-me de Lúcia e abracei Susana – Sei que não foi uma noticia fácil, mas sei que ficara tudo bem Se cuida. – disse para ela e caminhei até Pedro e Caspian, falando primeiro com o loiro – Eu estava enganada. Você é um bom rei, Pedro. E Caspian, você será um tão bom quanto ele. – depois de abraça-los, segui até o moreno mais novo e lancei meus braços ao redor de seu pescoço em um abraço apertado. Acho que dentre todos, seria dele que eu mais sentiria falta – Estou feliz por ter te conhecido Ed.

Afastei-me um pouco dele e sem pensar duas vezes, grudei meus lábios nos do moreno antes que perdesse a coragem. Não sabia que queria tanto isso até fazer.

Com o rosto queimando de vergonha me separei dele e caminhai até Aslan sem olhar para Ed e ver sua reação com o que fiz.

— Sentirei sua falta. – falei para o leão, afundando meu rosto em sua juba.

— Também sentirei a sua, criança. – disse Ele – Agora vá. Nos veremos em breve.

Respirei fundo e dando mais uma olhada ao redor e oferecendo um sorriso a todos, atravessei o portal na árvore e me vi novamente em frente ao barranco.

Havia chegado ao fim de mais uma aventura.