História Like Air - Busy busy.

     Acordei cedo na manhã seguinte, tomei um longo banho quente, sequei meu cabelo o melhor que pude, deixei a toalha embrulhada na cabeça para terminar o serviço. Enquanto isso, pedi para deixarem o café da manhã no meu quarto novamente. Peguei meu script e dei uma olhada nas novas cenas que eu iria gravar. 
     Não tive resposta ainda sobre a audição do dia anterior, porém eu precisava gravar novas cenas com o Roan. Script lido, e café da manhã tomado,  peguei minha maquiagem e caprichei no visual naquela manhã: olhos esfumados, camadas e mais camadas de máscara nos cílios e batom cor de boca. Era algo simples apenas para realçar um pouco da beleza que eu tinha, não costumava me maquiar com muita frequência. 
     Assim que coloquei meus pés para fora do hotel, me espantei com aquele todo movimento. Basicamente uma grande correria, parecida que as compras de presentes de natal de ultima hora, dominava todos os habitantes daquele lugar. Na bagunça dos últimos dias, acabei me esquecendo que dia era hoje. E que por isso estava tudo tão maravilhosamente esquisito, e com um ambiente totalmente acolhedor. Era natal! Era natal e eu estava em L.A, como eu amava passar o natal em L.A! Distraída observando o movimento mal percebi que o Roan estava em seu carro de frente para o meu hotel, me esperando. Acenei para ele, e ele fez menção para que eu me aproximasse, que gentilmente se ofereceu para me dar carona até o estúdio. 
      Assim que entramos na sala de gravação, todas as cabeças se viraram para nos observar. Corei um pouco e procurei por rostos conhecidos. Encontrei Kane, com um imenso sorriso, me olhando maravilhado. O que estava acontecendo que eu não estava sabendo?
- Está todo mundo olhando pra mim! - cochichei para Roan.
- E por que não estariam? Não creio que algum dessas pessoas já tenham visto uma jovem tão bonita e encantadora tão de perto.
- Pare de brincar, Roan! - falei baixinho, disfarçando a cantada que Roan acabara de me dar.
- Não estou brincado, Clarke. - seu rosto era sério, os olhos traziam o mesmo brilho da noite passada quando me levou até o local onde estou hospedada. Tentei me distrair para não acabar falando o que não deveria. 
     Para minha felicidade, avistei Kane ainda com o sorriso em seu rosto, se aproximando. 
- Toda a equipe estão adorando vocês dois! - Ele afirmou. 
- Sério? - Falei um pouco séria, eu estava feliz, porém estava me sentindo desconfortável perto de Roan. 
- Sim! Eles querem que vocês gravem mais algumas cenas. 
- Achei que essa seria a última cena de teste... - Falei 
- Seria, mas eles prologaram. Tem uma outra atriz que também está a altura de pegar o papel. 
- Vamos começar então? - Roan falou, e todos concordamos com a cabeça. 
     As gravações estavam sendo bem pesadas hoje, e eu já estava me sentindo bastante exausta. Só queria deitar e dormir. Para não minha surpresa, adicionaram uma cena extra entre mim e Roan, e nos deram algumas horas para estudar as falas, que eram poucas. 
- GRAVANDO! - gritou o diretor pela centésima vez naquela tarde.
- Quem dera Storm cedesse às minhas súplicas assim tão facilmente! - ele disse depois de alguns giros na alavanca de emergência.
- Está me comparando a um robô? - fingi estar ofendida enquanto observava ele fazer seu serviço.
- Não com um robô. Com Storm. - ele sorriu. - Acho que vocês dois tem a mesma expressão nos olhos. A mesma liberdade cravada na alma.
- Liberdade! - zombei. - Minha alma já não me pertence mais. Como posso ser livre? E robôs não tem expressão. 
- Eventualmente, a senhora está certa. 
- Agora deixe de papo furado, e volte ao trabalho. 
- E CORTA! Excelente trabalho pessoal! A cena ficou ótima. - o diretor e mais algumas pessoas da equipe aplaudiram a cena. 
     [...]
     Já era noite e fomos finalmente liberados, voei para meu camarim para poder trocar de roupa e tirar esses acessórios de minha cabeça. Quando peguei meu celular para poder ver que horas já eram, haviam 7 chamadas perdidas e 4 mensagens de texto. Droga!
     Toda essa correria, e eu simplesmente esqueci que ligara para Lexa, nem para desejar feliz natal a liguei. Que idiota eu sou! Li todas suas mensagens, ela estava chateada, também quem pudera. Disquei seu número para poder retornar a ligação e antes que pudesse dar o primeiro toque, ouço batidas na minha porta do camarim. Desligo a chamada e abro a porta para poder ver quem era. Roan. 
- Está ocupada? Desculpa. 
- Ah, er, não. Não estou. - falei colocando o celular dentro da bolsa. - Posso ajudar? 
- Não basicamente. É natal, e estamos sozinhos na grande Los angeles. 
- Pois é. - cruzei os braços, abaixando um pouco a cabeça. 
- Gostaria de jantar comigo hoje, Clarke? - Soltou apressado. Me assustei com sua pergunta. O que eu iria responder?
- Eu...
- Não precisa aceitar se não quiser. 
- Claro, vamos. Não temos muito a perder não é mesmo? Mas não quero chegar tarde em casa. - Falei séria, sem animação. 
- Claro, sem problemas! - O sorriso era visível em seu rosto.  
     O restaurante que Roan me levou era perto do meu hotel, o que me deixou um pouco mais aliviada sobre o horário de voltar. Escolhemos uma mesa para dois que ficava perto de uma grande janela de vidro. Fiz meu pedido, e Roan fez o dele. Enquanto esperávamos, nossos pedidos chegarem, Roan puxava assuntos e mais assuntos sem parar. Ele era um cara legal, porém eu estava sacando quais eram as suas intenções, e, era algo impossível de acontecer. Eu já tinha Lexa. 
- Vou ao banheiro, enquanto nossos pedidos ainda não chegaram. - Ele disse já se levantando de sua cadeira, apenas concordei com a cabeça. Assim que o vi se afastando, peguei meu celular apressada e liguei para Lexa. Depois de chamar três vezes ela me atendeu. 
- Alô? - sua voz parecia cansada. 
- Lex, feliz natal! 
- Clarke? Nossa, achei que não iria ouvir sua voz hoje.
- Eu sei, eu sei. Me perdoa, está uma correria aqui, e eu simplesmente não estou com tempo. - Falei com tristeza, ela respirou fundo do outro lado da linha, parecia estar tentando controlar o choro, meu coração palpitou. - Está tudo bem?
- Está sim, não se preocupe. - Ela mentiu. 
- Lex...
- Nossa, que fila enorme para poder usar o banheiro! Se eu fosse você nem tentaria haha. - Roan disse já se sentando na cadeira, sem perceber que eu estava no celular. 
- Quem está com você Clarke? - A voz de Lexa, soou chateada. 
- Tenho que desligar senhorita Woods, depois te ligo novamente. - Não esperei sua resposta, apenas desliguei rápido e guardei o celular.
- Quem era? Não que seja do meu interesse. - Roan perguntou. 
- Ah, minha professora da faculdade. Ela ligou para saber como anda minha dissertação que ainda não finalizei. - Menti. Roan não poderia saber da minha sexualidade agora, a mídia não poderia saber. Ainda mais que eu estou tendo um caso com uma professora de faculdade, a faculdade em que eu estudo. 
- Legal a preocupação dela. 
- Sim. - sorri. - Ah, olha aí nossa comida! - Apontei para o garçom que se aproximava. 
     Depois que comemos pedi para Roan me deixar no hotel, eu estava cansada, e era verdade. O dia tinha sido longo. Antes de sair do seu carro, Roan se aproximou de mim e beijou minha bochecha para minha surpresa. Não falei nada, apenas saí apressada, entrando no hotel e subindo no elevador. 
     Joguei as chaves do quarto em cima da cama junto com minha bolsa e tirei minhas roupas. Peguei o celular novamente para ligar para Lexa, para explicar o por que desliguei tão apressada, não queria nem imaginar o que ela iria me dizer. Dessa vez eu sabia que ela estava chateada e com razão. Porém para minha infelicidade, o celular dela caia direto na caixa de mensagem. 
     Esperei mais alguns minutos e tentei ligar novamente. Sem sucesso. Fui para a janela do quarto, e olhei para o céu, as nuvens encobriam a lua e a noite escura não permitia ver o brilho das estrelas. Senti meu corpo pesar, e minha mente. 
- Por favor, chama. - supliquei com lágrimas nos olhos, para que o celular fizesse aquele barulho de ligação sendo efetuada.
      Fiquei ali sentada, encolhida como uma criança assustada, por muito tempo, olhando o céu escuro e tentando ligar umas mil vezes. Até que não aguentei mais e adormeci, alí mesmo onde estava, apenas enrolada a uma toalha.