Levo um susto, e Bex também. Ela se separa rapidamente de mim, e minha mãe se aproxima ainda mais.
- eu não acredito que vi o que acabei de ver. – ela diz fuzilando nós duas com os olhos.
Nesse momento, eu gostaria muito de ter a coragem da Bex. Ela se aproxima de mim, e entrelaça seus dedos nos meus.
- acredite. Você acabou de ver eu e a Hey se beijando. E sim, sou lésbica e ela também. Namoramos há um tempo. E além de tudo, somos melhores amigas.
- como você ousa? – minha mãe aponta seus dedos para mim. Ela nunca ficou tão brava comigo. Mas agora, eu vejo ódio em seus olhos.
- tira o dedo da cara dela, por favor? Como uma empresária, acho que esse não é um gesto muito educado pra você fazer.
- cala a boca, garota! E sai da minha casa! – ela puxa Bex pelo braço.
- mãe! – tento puxar ela, que me joga na cama e me dá um tapa na cara. Meu rosto arde e as lágrimas descem quentes. Bex me olha boquiaberta e meu pai aparece na porta.
- mas o que está acontecendo aqui? Hailey, por que está chorando querida?
- a sua filha está namorando com uma garota! – minha mãe diz gritando.
Meu pai olha confuso pra mim e para Bex.
- com você? – ele pergunta pra ela, que diz com firmeza.
- sim. Por isso usamos alianças. Me desculpe por termos dito que a aliança era de amizade. Na verdade, também é, porque além de tudo, somos melhores amigas, namoradas e parceiras, em tudo.
Minha mãe entra no meio dos dois.
- O que você está fazendo? Deveria estar brigando com a Hailey! ELA É LÉSBICA!
Meu pai levanta uma sobrancelha.
- qual o problema?
Minha mãe olha pra ele chocada, e Bex segura uma risada ao fundo. Olho pra ela de uma maneira tipo “Bex, fica na sua”. Ela fica séria no mesmo instante.
- qual o problema? É SÉRIO ISSO? Nós somos da igreja! Imagina a vergonha que iremos passar ao chegar lá e todos saberem que a nossa pequena Hailey, que há pouco tempo era um anjinho virou lésbica?!
- não vejo problema algum. Ela escolheu a sexualidade dela, e se ela fez a escolha, não podemos interferir. E não me venha com essa de igreja, porque religião não tem nada a ver com isso. Deus não pediu para amarmos apenas os héteros. Mas sim, todos! Você não pode falar como se fosse uma crente, coisa que você não é.
- meu deus... – minha mãe abaixa a cabeça.
Bex vem e senta ao meu lado, me abraçando enquanto choro baixinho no seu ombro.
- Não vejo problema algum em ter uma filha homossexual. Vejo problema em você, mãe dela, não apoiar ela em suas escolhas e situações. Vejo problema em você não aceitar o fato de ela amar alguém do mesmo sexo, outra mulher que não seja você. Olhe pra ela, Hailey ficou diferente depois que conheceu a Rebecca. Olhe em quantas situações Bex ficou ao lado dela enquanto nós tínhamos que viajar a negócios! Amor, não seja tão rude. Pode ser difícil aceitar agora, mas você vai ver que não há diferença entre ela namorar uma garota ou um garoto.
- nunca teremos netos! – ela diz chorando. – Eu não vou me acostumar. E você como pai, deveria me apoiar e não apoiar a ela.
- Não estou apoiando ninguém. Só não acho certo você ser tão homofóbica assim!
- eu? Sério? Há pouco tempo atrás você vivia falando mal dos gays, e agora vem querer me dar lição de moral? Eu não acredito!
- eu não entendia a situação antes. Agora, por favor. Vamos conversar em outro lugar. Deixe as duas em paz.
- Eu realmente não estou acreditando. Estou nessa sozinha. Não, tudo bem. Hailey. – ela me chama. Levanto a cabeça devagar.
- arrume suas coisas.
- você está expulsando ela de casa? – Bex pergunta indignada.
- estou. E você não se intrometa.
- Amor! – meu pai tenta interferir.
- e você fique quieto. Já que não sabe educar sua filha, eu educo. Anda Hailey. Quando eu voltar pra casa de novo, não quero ver a sua cara aqui e muito menos as suas coisas. – ela sai e meu pai a puxa pelo braço.
- pra onde você vai?
- vou arrumar um advogado.
- o quê? Pra quê?
- pra cuidar dos papéis da nossa separação. Com licença. – ela sai.
Meu pai passa a mão pelo cabelo e deixa ela ir. Vem até mim e se ajoelha.
- você tem algum lugar pra ficar até eu achar uma casa para nós?
- não sei eu...
- ela pode ficar na minha. É pequena, mas ela pode ficar lá quanto tempo quiser. – Bex diz. Meu pai sorri.
- tudo bem. Bex, obrigada por se assumir e assumir suas responsabilidades. Você já tinha a minha admiração, agora, você também têm o meu respeito.
- Obrigada... Não fiz mais do que a minha obrigação.
- pai, você não liga pro fato de se separar?
- Não, meu amor. Eu e sua mãe não nos entendemos já faz um tempo. E ela descobriu que eu... bem...
- tem outra? – Bex pergunta envergonhada.
- sim. Sua mãe mudou, Hailey. Do nada. Por isso eu e a...
- Cloe. Eu já sabia. – digo baixo.
- como?
- vi algumas mensagens suas com ela. E pra falar a verdade, gosto dela.
Ele sorri de um jeito triste.
- Preciso ir. Vá com a Bex, te ligo depois. – ele se levanta.
- pai! – digo enquanto o puxo pelo braço. – obrigada. – ele sorri e me abraça.
– Hailey, quando você nasceu, eu prometi à mim mesmo que estaria do seu lado pra tudo e em qualquer situação. Se eu quebrasse a promessa, estaria sendo infiel comigo mesmo. Você não tem que agradecer. Eu amo você do mesmo jeito. – ele diz enquanto limpa algumas lágrimas minhas. Então sorri, olha para Bex e pra mim antes de sair.
Fico com a cabeça abaixada, enquanto pego minhas malas e começo a arrumar as minhas coisas.
- quer ajuda? – Bex pergunta num tom baixo.
- seria muito bom. – tento sorrir, embora meu coração esteja em pedaços. Minha própria mãe, aquela com quem eu sempre contava coisas, às vezes preferia contar coisas a ela a contar para a Carl, e agora, tudo isso se foi. Sem me segurar, começo a chorar novamente, chegando a soluçar, e choro tudo, lágrimas de todas as situações, talvez desde quando eu era criança, rolando soltas. Bex me segura forte e chora comigo.
- me deculpa, Bex. Por te colocar nessa situação.
- não precisa se desculpar amor. Eu prometi que sempre estaria aqui com você. Não vou quebrar essa promessa. Eu amo você. – ela diz e me dá um beijo casto. – eu já te disse que seus lábios ficam macios quando você chora? – ela sorri. Sorrio e continuo abraçada a ela, enquanto as lagrimas ainda descem. Força Hailey! Força!
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