História Like I Would - Despedida

              * Bex On *

Chegando na minha pequena kitnet, arrumo todas as minhas coisas. Lavo a louça na pia, pego minhas fotos com a Hey e guardo. Meu pai deve estar vindo pra cá, vou me foder geral. Vou me mudar pra uma casa perto da escola. Hailey deve estar dormindo uma hora dessas, então amanhã eu ligo pra ela.

Chego na casa e jogo minhas malas no pequeno sofá. Estou exausta! Quanta coisa num dia só. Deito no sofá maior e acabo dormindo. Espero que a Hailey fique bem.
 

 ● de manhã ●

Acordo com meu celular apitando. É a merda do despertador, esqueci de desativar. Nossa! Tem 23 ligações da Hailey! Merda! Ligo pra ela 6 vezes, sem resultado. Ainda são 06 e 50, ela deve estar dormindo. Ligo mais tarde.

Preparo um café e panquecas. Hailey adora panquecas. Acabo sorrindo com a imagem dela se queimando o dia em que foi tentar preparar panquecas pra mim. Tomo um banho rápido e fico vendo TV, já que não vou conseguir dormir.

Atualizo minha história e tento fazer alguns movimentos de ioga que vi na Internet. Até que me ajudou. Quando me dou conta, já são 10 e 15. Visto uma roupa decente, então me lembro que deixei os dois pares de sapatos que eu mais gosto na kitnet. Que droga, Bex! Tu parece uma velha com amnésia.

Hoje o tempo tá ruim. Vai chover à qualquer momento, então ando o mais rápido que posso. Chego na recepção e peço a chave, e subo.

Quando vou destrancar a porta, percebo que ela já está aberta. Será que alguém arrombou minha kitnet? Bom, de qualquer maneira, entro. Mas juro, juro por Deus, por Alá, por Buda, por qualquer deus, que eu não estava preparada. Não mesmo. Hailey está no chão, pálida, desmaiada. Meu coração quase para, e minhas pernas ficam bambas. O pânico me aterroriza e sinto que a qualquer momento posso desmaiar também. Mas não é só o fato de ela estar no chão, pálida e desmaiada que me assusta. Mas sim as várias caixas e potes de remédio do seu lado. Quando vejo, é a hora que meus joelhos cedem. Minha visão embaça e o desespero toma conta completamente de mim. Ligo pra ambulância e só sei chorar, enquanto pego ela no colo e vejo seu rosto. Sua pulsação? Quase inexistente. Ligo pro seu pai, mas ele não atende. Não, Hailey. Você não pode me deixar agora... não, agora!

A ambulância chega e eles pegam ela. Vou junto. Ligo de novo pro pai dela, novamente sem resposta. Mas que merda, Jamie!

Depois de 3 horas na sala de espera, a médica sai do quarto.

- oi, como ela tá? - pergunto quando ela se aproxima.

- você é o que dela?

- namorada.

- ah, sim. Lamento, ela tomou muitos remédios e todos tomados em grande quantidades, eles podem causar consequências sérias. Ela está em coma. - ela me segura quando eu quase caio. Não acredito. - sinto muito. Fizemos de tudo pra reanimá-la, mas a quantidade de remédios foi grande. E dar mais remédios a ela só irá piorar. Temos que esperar. - ela sorri melancolicamente. Sinto fadiga. Vou até a janela e respiro. Minha crise de ansiedade vai começar.

Fico mais 4 horas sentada. Ainda não posso ver ela. Que merda. Tento me distrair e coloco meus fones de ouvido. No aleatório, a primera a tocar é Carry On My Wayward Son. Choro mais. Ligo pro pai dela pela centésima vez, e ele finalmente atende.

- estou sabendo. Chego em 6 horas, estou em Nevada! - ele desliga.

Meu coração acelera quando penso na possibilidade de perder meu grande amor... só de pensar...
 

         ● Hailey On ●

Você já ouviu sobre aquela sensação onde você ouve tudo e todos à sua volta, mas é como se você estivesse dormindo, e há névoas em toda parte? Tipo, você não consegue se mexer, falar nem nada? É assim que tô me sentindo. E pra ajudar, não tenho a Bex do meu lado. Isso dificulta mais, me deixa mal. Sinto alguém tocando meus dedos. Demoro reconhecer, estou com o cérebro tão lento. Acho que tudo está morrendo dentro de mim.

- amor... - é a bex! Ela tá aqui! Tento responder, mas em vão. - eu... não sei o que dizer. Eu só sei sentir. Por que você fez isso? Eu fiz alguma coisa? Lógico, fora ter assumido a culpa de nada? Porra, eu tava em choque. Me perdoa. Eu... acho que você pensou que eu tinha ido embora... - Sim, Bex. Eu pensei. - Mas na verdade Eu só me mudei. Quando você me ligou estava dormindo, não ouvi meu celular tocar. Volta, por favor! Eu preciso de você. Eu amo tanto você, você não pode me deixar aqui. Na verdade, você sabe... essa é uma escolha sua. É você que sabe. Mas eu quero que fique, claro. Eu só queria te dizer que te amo. Eu te amo, mil vezes te amo. Faria de tudo pra te proteger. Eu... acho que é isso. - junto alguma força, não sei da onde e tento me mover. Então, de repente, minha mãe aparece. No meio das névoas.

- mãe? - olho através das névoas. Eu tô dopada pra caralho.

- querida. - é realmente ela, que se aproxima e aos poucos me envolve num abraço quente e amoroso. - senti sua falta. Você vai ficar, não vai?

- eu não sei, eu...

- querida, precisamos conversar. Preciso te pedir perdão por tudo! Eu  fui tão estúpida, não tive chance de perceber isso quando estava viva.

- Então eu tô morta? - ela ri. A risada doce que minha mãe dava em sua época de alegria.

- não de fato. Você pode escolher entre ficar, ou ir. Ambas terão consequências devastadoras. - ela segura minha mão, me passando uma tranquilidade enorme. Essa é a minha mãe.

-  preciso dizer adeus.

- como quiser, meu amor.

E juntando todo o resto das minhas forças, consigo abrir meus olhos.
 

- eu também te amo. - digo enquanto me acostumo com a luz nos meus olhos. Bex me olha chocada.

- os médicos, eu... - ela se levanta, mas seguro sua mão.

- só vim me despedir. Diga ao meu pai que eu o amo muito , e que ele foi o melhor pai que eu poderia querer.

- o quê? - ela franze a testa. Lágrimas já descendo pelos seus olhos.

- Rebecca Edison Taylor-Klaus, eu te amo com todas as minhas forças. Obrigada por ter sentado na minha carteira. - ela me dá um beijo. - você é a menina mais idiota que conheci. Obrigada por isso. - sorrio uma última vez, antes de me sentir livre para partir, e pegar a mão da minha mãe, e seguir para a luz...