História Lilium Caelum - Um tempo

*Gabriel*

Entramos nas terras abandonadas, saímos da capital há quatro dias, e eu já sentia saudades de Blake, mas não queria que ele fosse comigo. Enfim ele está em segurança, isso o que importa, e quanto a Bianca, ela ficará sob os cuidados dos criados, mas ela em si consegue se virar sozinha, só espero que ela não gaste o dinheiro que deixei para ela, com vestidos e joias. Caminhávamos pelas ruínas de um antigo reino. O motivo da existência das terras abandonadas, se deve ao início do império quando alguns reinos se recusaram a unificação e entraram em guerra contra Parità e seus aliados, resumindo, o império ganhou e os reinos derrotados viraram ruínas agora ocupadas por monstros, bandidos, enfim tudo que não presta, ficou nestas terras.

Eu estava perdido em pensamentos.

-Esperem -Celeste falou.

Paramos no mesmo instante.

-Sinto algo -Ela disse.

-É amigo ou...

Eu não consegui terminar a frase, pois na mesma hora, dos telhados pularam uma matilha de lobos, mas não lobos comuns, eram enormes, do tamanho de uma carruagem.

Por sorte eu saquei minha espada mais rápido, assim que ele pulou em cima de mim a espada entrou em sua barriga, mais que depressa eu afundei mais a espada, e o lobo latiu de dor e caiu para o lado morto. Um outro lobo avançou em Celeste, mas a mesma conjurou sua foice, e com muita agilidade rasgou a lateral do monstro, Miguel pulou em cima de um e cravou sua lança na cabeça da besta. Laylah com apenas uma flecha matou um lobo na mesma hora (afinal as flechas estavam envenenadas). Os meus agentes, a alguns guardiões lutavam conosco, enquanto os outros protegiam as carroças com nossas coisas. Cada vez que matávamos um lobo, outros três apareciam. Eram muitos, eu não sabia se iriamos conseguir matar todos eles. Estávamos cercados, quando de repente, um grupo de seres encapuzados saíram das moitas e dos telhados, e se juntaram a nós, eles carregavam um símbolo familiar em suas capas.

Aquele era o símbolo da Guilda Ombra Della Luce?

Era sim.

Não tenho tempo para pensar nisso agora. Lutamos ferozmente, contra aqueles lobos, Celeste atirou imensas bolas de fogo contra os mesmos que foram pulverizados na hora. Depois de um tempo de batalha eu finalmente matei o último monstro que faltava. Eu dei uma olhada no grupo que nos ajudou, e vi um rosto familiar, aquela era Juliet, seu que só falei com ela poucas vezes, mas era impossível não reconhecer aqueles cabelos verdes incrivelmente escuros, e os olhos cor de mel. Sendo assim isso significava...

-Olá Gabe -Blake brotou ao meu lado com uma espada encantada -Saudades -Ele sorriu, mas não parecia nada feliz em me ver.

Já estava anoitecendo, então eu chamei Laylah.

-Pois não? -Ela disse.

-Arme o acampamento.

-Tem certeza? -Ela perguntou -Ainda dá tempo para avançarmos mais um pouco, mas... olhando pelo teu lado, esta cidade abandonada não é má ideia para acampar aqui, mas por que agora? Por que não andar mais um pouco?

-Eu e Blake temos que ter uma conversa séria, por isso coloque nossa barraca um pouco longe das outras.

As barracas foram montadas, explorando melhor algumas casas abandonadas encontramos mobílias rústicas, porém firmes, como mesas e cadeiras, que serviriam para deixar nossas barracas mais confortáveis, eu ainda não acredito que Blake veio sem eu permitir. Assim que todos estavam alojados e confortáveis para acampar, eu e Blake andamos até nossa barraca onde teríamos uma conversa bem séria.

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-Por que você veio?! -Eu perguntei, andando de um lado para o outro.

-Você não manda em mim!

-Não importa! -Eu exclamei -Isso é um assunto dos guardiões, você não deve se intrometer...

-Seu idiota! -Ele retrucou mais alto -Tu não querias que eu viesse porque me achas fraco.

-Bem...fora de Parità

-Eu não sou fraco fora da capital!

Eu já estava furioso ao ver Gabe aumentando o tom.

-DIGA ISSO PARA EDINA! -Eu respondi mais alto -AH! ESPERE TÚ NÃO PODES, POIS EU A MATEI, ALGO QUE TÚ NÃO FIZESTE.

Eu acabei ganhando um tapa na minha cara.

-TÚ NÃO ME AMAS!

-PARE COM ESTA CHANTAGEM EMOCIONAL, CLARO QUE EU TE AMO!

-SE ME AMASSE ME DARIA UMA CHANCE!

Eu respirei fundo e recobrei minha calma.

-Afinal como descobriste para onde eu ía? -Eu perguntei.

-Eu espionei você -Ela já derrubava lágrimas -Eu não gostei do que disseste de mim, você mentiu.

Eu menti?

Desta vez, fui eu que dei um tapa na cara dele.

-COMO TE ATREVES A ME ESPIONAR! -Eu berrei -ISTO É ASSUNTO DE GUARDIÕES!

Então ele fez algo que eu jamais imaginei que ele faria, ele me deu um soco que acertou minha bochecha.

-PARE DE DIZER GUARDIÕES COMO SE ELES FOSSEM SUPERIORES! -Ele berrou em meio ao choro -POUCO ME IMPORTA OS GUARDIÕES, TÚ NÃO PASSAS DE RAPAZ MIMADO, QUE PENSA SER MELHOR SÓ POR TER ESSA MERDA DE ASAS PRATEADAS.

Então eu devolvi o soco que ele me deu, acertando o mesmo lugar que ele me acertou, a com isso a briga começou, eu atirei Blake, e ele bateu com as costas contra uma mesa de madeira que achamos em uma das casas, ele devolveu um soco em minha barriga e logo depois tentou me dar um chute, mas então eu segurei o pé dele e o inclinei com força para cima, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio e caísse no chão, com isso eu segurei os dois braços dele para que não pudesse fazer nada.

-NUNCA MAIS FALE ISSO! -Eu berrei -MINHAS ASAS SÃO MEU ORGULHO, FORA QUE FORAM ELES QUE TE SALVARAM DUAS VEZES!

Com os dois pés ele me deu um chute fazendo com que eu soltasse ele, e o mesmo se levantou, ficamos um encarando o outro com ódio, e nossas bocas sangravam, eu sentia vontade de chorar, mas me mantive forte, quanto a Blake chorava muito.

-ÓTIMO ENTÃO! -Ele retrucou -POR TÚ NÃO FODE SUAS ASAS, AO INVÉS DE MIM?! EU CANSEI NÃO QUERO MAIS ISSO!

-ESTÁ TERMINANDO?! -Eu perguntei, só que dessa vez espantado.

Ele pareceu hesitar na resposta.

-NÃO! MAS EU QUERO DAR UM TEMPO! EU NÃO SOU UMA DONZELA OU UMA CRIANÇA PARA SER PROTEGIDA! -Ele respondeu e foi embora da barraca chorando.

Eu fiquei em pé por um tempo, minha alma pesou como chumbo. Eu levantei uma cadeira que havia caído durante nossa luta e me sentei nela, eu não aguentava mais, então por fim comecei a chorar e a lamentar.

***********

*Blake*

Por que eu disse aquilo?

Eu não queria dar um tempo, mas estávamos tão descontrolados, a que ponto chegamos?

Se essa briga foi infantil? Talvez.

Ou será nossa essência agindo para fazer-nos brigar daquela forma?

Eu chorava muito, nem conseguia ver para onde eu ia. Por fim eu entrei em uma branca grande como a Gabe.

Era toda azul, no meio estava Celeste em volta de um círculo, ou melhor um pentáculo, em volta dela quatro orbes flutuavam e giravam em um eixo próprio, uma brilhava e queimava, outra era transparente e cristalina como a água, outra era uma mistura de pedra terra e areia, a outra era um vapor.

-Ignis, aqua, terra, aer et astras* -Ela pronunciava.

-Celeste? -Eu perguntei soluçando.

Ela abriu os olhos e deixou os orbes caírem, o de água explodiu e se esparramou pelo chão, o de ar desapareceu, o de terra se desfez, e o de fogo perdeu o brilho.

-Desculpa se vos interrompi -Eu disse ainda soluçando.

-Imagina -Ela disse no mesmo tom doce de sempre -Eu só estava meditando, e pelo que posso ver a conversa entre você e Gabe não foi mito boa.

-Sim, nós decidimos dar um tempo -Dizer isso doeu. -Às vezes ele é tão impossível!

-Eu sei, mas ele só quer te proteger, os guardiões já são protetores com quem eles amam, mas Gabe é duas vezes mais.

-Mas por que? -Eu perguntei.

-Gabe já te contou que já teve o caso com a filha do nobre que ele salvou?

Eu assenti.

-Então, pouco depois que ele foi embora a jovem foi envenenada e morreu, ele se culpou por meses, por não está lá para protege-la, ela a amava até conhecer você, o medo dele é perder quem ele ama, claro isso não justifica o fato de ele ter mentido para você.

-Sim -Eu me senti péssimo, não pela história, mas sim por não ter perguntado antes o motivo de ele querer me proteger -E agora, será que nosso amor irá sobreviver depois da briguinha que tivemos?

-Briguinha? -Celeste perguntou -Está mais para luta, olhe o teu estado.

-Eu não quero ficar sem ele -Eu comecei a chorar novamente.

-Acalma-te -Ela disse, erguendo um orbe de fogo e um orbe de água -O amor verdadeiro é única chama que não pode ser apagada, nem destruída.

Ela juntou os dois orbes, e o de fogo por incrível que pareça, predominou e evaporou a de água.

-Apenas de um tempo por agora -Ela recomendou -Até que o desejo e a paixão ardam novamente.

Eu assenti.

-É melhor eu voltar para a barraca, Gabe deve estar lá, mas com certeza já se acalmou.

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Assim que eu entrei na barraca, me deparei com algo que me entristeceu muito, Gabe estava chorando muito.

-Gabe -Eu perguntei -Estás chorando?

-Não! -Ele exclamou soluçando e saiu da barraca.

Ver Gabe chorando era horrível, pior do que eu chorando.

**********

*Gabriel*

Eu subi por uma colina e fiquei apreciando a vista da floresta.

-Oi -Eu olhei e era Juliet -Pelo que posso ver....

-Nós só conversamos -Eu a interrompi.

-E se espancaram, sua boca está sangrando.

-O que importa, Blake não me ama mais.

-Terminaram?

-Não, ele apenas disse que queria um tempo.

-Às vezes é preciso dar um tempo -Ela disse – Para que um sinta falta do outro e vice e versa.

-Eu ainda o amo.

-E ele também vos ama, eu vi ele chorando, mas decidi não falar com ele e entrei em minha barraca novamente. -Ficamos em silencio por um tempo -Bem acho melhor irmos dormir, amanhã será um longo dia.

Eu concordei e com isso nos separamos, eu retornei para barraca.

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Quando cheguei Blake já dormia no colchão dobrável no chão, ele estava tão fofo, eu me tirei meu casaco, sapatos e meias, então me deitei ao lado dele, ambos virados para lados opostos e um longe do outro, fazia muito frio, mesmo com todos aqueles cobertores, era a primeira vez que dormíamos em uma mesma “cama” (pois é só um colchão) sem sentir um desejo profundo, um pelo outro.

Espero que possamos fazer as pazes.

E vamos.