História Line of Lies - Conversando com Botões

Donghae

- Donghae, venha comer, meu filho! – grita noona pela milésima vez da cozinha.

- Já disse que não estou com fome! – desta vez não obtive resposta, acho que ela finalmente entendeu que eu não irei sair do meu quarto hoje.

Logo depois de sair do escritório da imobiliária com o cartão do tal Hyukjae em mãos, fui direto para casa. Eu sinceramente não gostaria que isso estivesse acontecendo, minha ideia de liberdade não inclui dividir apartamento com um arrogante bem vestido. Ele disse para eu “me decidir”, mas com certeza ele não irá abrir mão do apartamento, ou eu moro com ele, ou vou ficar com minha noona até terminar a faculdade, pois nunca irei achar um apartamento tão bom por esse preço novamente.

Olho para o cartão de contatos que a corretora me deu do senhor arrogância e me pergunto por que ele tem um cartão de contatos? Quer dizer, que eu saiba as pessoas que tem cartões de contatos são geralmente de grande nome a qual precisam estar sempre passando seus diversos números e e-mails para as pessoas, e o cartão facilita muito. Mas será ele tão importante assim?

Leio o cartão preto com grandes letras douradas pela décima vez, tem o link de um site depositado na parte inferior do mesmo. Já estou instigado então resolvo pegar meu notebook e tentar descobrir algo sobre meu futuro colega de apartamento. Puxo o notebook para meu colo e sento encostado na cabeceira da cama.

Digito o link e espero a página carregar enquanto volto a roer minhas unhas que quase nem existem mais de tão pequenas. Os primeiros letreiros do site aparecem, “Sturm, Ruger & Co, Inc.”*, deslizo a página para baixo e descubro que é uma fábrica de armas dos Estados Unidos, mas como sou leigo no assunto resolvo procurar no Wikipédia sobre a empresa, ao que tudo indica ela foi fundada em 1949 em Southport, Connecticut, mas tem diversas outras filiais atualmente, a sua principal fábrica hoje está localizada aqui em Nova York.

Então meu futuro colega de apartamento trabalha em uma fábrica de armas, bom, ele não deve ser um dos encarregados de dirigir as máquinas quais produzem o produto, provavelmente deve trabalhar na parte burocrática, enfim, irei descobrir com o tempo.

Resolvo então que irei tentar morar com o sujeito, como não tenho nenhuma opção além dessa que não seja desistir. Pego meu telefone e disco o número do cartão, espero que ele atenda. Depois de alguns toques ele finalmente atende.

- "Alô."

- Hummm.. ahh.. Hyukjae?

- "Sim, quem é?"

- Sou Donghae, o cara da imobiliária, e já tomei minha decisão. – estou incrivelmente nervoso só de ouvir sua voz.

- "E então?" – apesar de ser direto não notei arrogância em sua voz.

- Ahh hmm, eu vou dividir com você o apartamento. – tentei demonstrar firmeza nas últimas palavras de minha fala, mas acho que falhei.

            - "Desistir não é uma opção?" – ele vai insistir nisso?

- Bom, não, eu preciso desse apartamento e sei que o senhor não irá desistir dele... – por que chamei ele de senhor? Ele não deve ser muito mais velho que eu, ele definitivamente me tira o controle - ...e eu preciso...

- "Não quer beber uma água e depois me ligar?" – ele fala e depois da uma risada nasalada.

Sério que ele vai fazer piada do meu nervosismo descaradamente?

- Não, estou bem. Irei passar na imobiliária amanhã ás 9 da manhã, espero você lá. – em seguida desligo o telefone antes que ele responda, eu preciso de ar, e de um copo de água.

Saindo do meu quarto para pegar um copo de água e observo o olhar reprovador que noona me lança. Por que aquele ser ultrajante me desconcentra tanto? Nem no dia que prestei meu vestibular que foi a coisa mais importante para mim até agora não estive tão nervoso. Maldito seja. Só espero que ele apareça na imobiliária amanhã.

Kyuhyun

Eu esperava que ele fosse pelo menos ficar para o jantar. É do feitio de Hyukjae recusar um convite com tanta classe. Apesar dessa personalidade extravagantemente forte, eu gosto dele. Claro que gosto, ele é meu braço direito na empresa que herdei de meu falecido pai. Por anos não tive ninguém a quem confiasse esse cargo, sempre apenas confiei em mim mesmo. Mas iniciando como meu contador, Hyukjae conseguiu me conquistar, apesar dele saber mais de mim do que eu dele, não me importo, pois ele muito me ajuda nas questões da empresa e segue minhas ordens sem muito questionar.

Logo depois que Hyukjae saiu de meu apartamento com aquela maldita pressa, resolvi descansar um pouco deitando no meu sofá. Se ele estivesse ficado para o jantar eu pediria algo ou talvez saísse para comer. Mas como estou novamente sozinho em meu apartamento vou apenas comer o resto de um pacote de MM’s que tinha em meu armário da cozinha. Meu médico sempre diz que devo cuidar de minha saúde, mas eu não ligo muito para ela, eu sou rico, qualquer complicação futura que eu possa vir a ter eu certamente conseguirei custear.

Como qualquer homem rico e solteiro, eu já fiz muitas coisas. Esses momentos em que fico sozinho no meu local de descanso antes de fechar qualquer negócio são os mais torturantes. Tudo que já fiz de bom e ruim me vem à mente. A época em que mais fui feliz foi quando recentemente havia herdado a empresa. Eu tinha amigos que me apresentaram algumas coisas, por muito tempo eu sumia por semanas por conta de alguma overdose de uma droga qualquer, conforme eu fui envelhecendo percebi que se eu quisesse cuidar de uma empresa e evitar que ela falisse em minhas mãos deveria parar de me portar como um playboy mimado.

Passei tempos tentando me distanciar das drogas, até que consegui encontrar um scape, que me fazia esquecer da minha abstinência. Um amigo antigo me apresentou a um clube de BDSM, acho que eu sempre tive vocação para Dominador. Com isso consegui me afastar das drogas, mas acabei me viciando em fazer visitas ao clube para me divertir um pouco com um Submisso qualquer. Acho que cheguei à conclusão que minha vida é movida a vícios.

Meu pai quando morreu deixou a empresa com um grande número de ações e parcerias, atualmente depois de seu falecimento sou eu quem mantém tudo, a ideia da empresa de minha família exportar ilegalmente armas para o tráfico e máfia no início me assustou. É muito comum que as pessoas envolvidas com essas questões tenham uma vida curta, justamente por isso tenho um grande número de seguranças armados em todo lugares em que estou. O medo de morrer cedo demais é um dos grandes motivadores do meu problema de confiança, e o culpado de que com 32 anos eu ainda esteja vivendo sozinho.

Acho que os MM’s e grandes doses de vinho estão me fazendo devanear demais. Saio do confortável abraço de meu sofá e vou para meu quarto arrumar as malas, logo cedo estarei voando em direção a Coréia do Sul.