História Line of Lies - Bocas Conhecidas

Hyukjae

Faz quase 10 minutos que eu estou olhando para a tela do meu celular sem conseguir ter alguma reação inteligente. Essa ligação repentina do meu chefe fodeu com meu humor.

Depois desse pedido estranho, preciso de ajuda. Não tenho muitos amigos em Nova York, na verdade, eu não tenho amigos em lugar algum, sempre fui sozinho. Mas de qualquer maneira, preciso providenciar os documentos e descobrir o que meu chefe sabe.

Abro a agenda do meu celular e busco o número de um velho conhecido.

Após alguns toques ele atende.

- “Ora ora, quem é vivo sempre aparece.” - Diz ele com ironia.

- Olá Heechul. – respondo.

- “Olá querido, como vão as coisas no seu lado da cidade?”

- Bom, eu me mudei, não é mais tão longe assim.

- “Não consegue ficar longe de mim, não é mesmo?!” - Heechul solta uma gargalhada breve. – “Mas creio que não me ligou apenas para me informar que está por perto, o que houve?”

- Prefiro falar pessoalmente. Está no Diva?

- “Imaginei. Sim estou.”

- Estou indo aí. Até logo.

- “Até logo, querido.” – finalizo a ligação.

Apesar de ter apenas 23 anos, Heechul é um cara muito esperto, conseguiu conquistar um dos principais membros da máfia Chinesa, e hoje gerencia uma boate muito famosa no centro da cidade que serve de fachada para os trabalhos sujos que seu namorado faz.

O Diva apesar da fama de boate gay, fornece tudo e para todos os gostos. Conheci Heechul lá, ou melhor, ele me reconheceu. Antes dele virar dono de boate e namorado de um mafioso, ele trabalhava como acompanhante de luxo dos empregados de meu pai. Apesar de eu nunca ter notado seu rosto, porque era enorme a quantidade de meninos como ele que transitavam minha casa, ele me reconheceu, após alguns trabalhos prestados consegui seu silêncio e digamos que seu coleguismo.

Sei que ele não me entregaria, ele inclusive me agradece pelo que fiz, Heechul fugiu da casa de meu pai. Os acompanhantes geralmente são garotos órfãos que desde muito novos são levados e treinados como acompanhantes e obrigados a viver assim.

Essa é apenas uma das coisas horríveis que meu pai fez, e graças a mim, Heechul não precisa mais se esconder.

Me apresso e termino de me vestir casualmente, afinal, estou indo para uma boate. Saio de meu quarto e paro na entrada da sala.

Droga Donghae.

O maldito está aparentemente tentando conectar o notebook na televisão, mas o pior é que ele está empinando aquela bela bunda em minha direção, ela é enorme e bonita.

- Humrrrrrrmm! – pigarreio, e ele se vira pra mim em um pulo.

- Aish! Que susto! - ele me analisa dos pés a cabeça. - Vai sair? -  fala um pouco nervoso

- Oh não! - digo ironicamente - Coloquei essa roupa só pra você ver o quanto eu fico sexy nela - prossigo.

Ele vacila um pouco e engole em seco, quando percebe minha ironia, diz:

- Babaca! - ele vai em direção ao sofá e se senta.

- Gostou de me chamar assim, huh? - me sento ao seu lado no sofá.

- Combina com você. - ele cruza os braços e faz um bico com os lábios.

- Certamente. - Lanço um sorriso malicioso e levo minha mão em um toque leve no seu joelho. - Tenho negócios a resolver. Em uma boate. – falo sussurrado perto de seu rosto.

- Não sabia que curtia pagar por sexo. Realmente precisa disso? - ele descruza os braços e me encara, me afasto e retiro minha mão de seu joelho.

Dou uma gargalhada breve.

- Realmente não preciso. Vou falar com o dono, como disse, negócios.

- Claro. - ele me olha com o canto do olho, como se desconfiasse de algo.

- Fique com suas teorias. Outra hora te levo para conhecer o lugar. - pisco pra ele.

- Não é necessário. - ele parece envergonhado.

- Ah não me diga, você nunca foi em uma boate? - zombo.

- Ah, já. Quer dizer, não sou um dos fregueses mais assíduo desses locais, mas já fui algumas vezes.

- Entendi. - me levanto do sofá e analiso sua expressão. - Não demoro, e logo retomaremos a maratona.

- Uhum, boa sorte. - ele olha pro chão.

- Hmmm... – semicerro os olhos tentando decifrá-lo. - Obrigado. Até logo.

Dou as costas e saio pela porta. Alguma coisa me diz que o peixinho é possessivo, confesso que gostei. Mas agora, foco, tenho negócios para resolver. Vou de carro até o Diva, esse lado da cidade, como diz Heechul é um pouco mais tranquilo que o meu antigo bairro. Deixo meu carro no estacionamento reservado para os fregueses da boate e sigo pela sua entrada.

Como sou conhecido do dono não preciso entrar na fila, apenas passo pelo segurança que me reconhece. Um breve aceno de cabeça e estou dentro do Diva.

Algumas coisas mudaram desde minha última visita, aumentou o número de pole dances, o que significa carne fresca, mas o mesmo estilo completamente sensual de sempre, com diversos estofados em tons de vermelho, luzes neon, garotos semi-nus brincando com fogo, o Diva de sempre. Sigo até o fundo da boate onde Heechul geralmente fica em sua sala, que como sempre está sendo vigiada por seu mais confiável segurança.

- Olá senhor Lee. Vou avisar que o senhor chegou. – fala em tom sério.

- Sem cordialidades, Siwon. – abro um sorriso amigável.

- Senti sua falta Hyukjae. - Siwon abre um grande sorriso e me puxa para um abraço breve. - O Diva é tão tedioso sem você por aqui. - ele pisca.

- Vou tentar aparecer mais vezes. – minto e sorrio maliciosamente.

Siwon acena com a cabeça e some para dentro da sala de Heechul provavelmente para avisá-lo de minha presença. Eu e Siwon temos, digamos, um passado sexual. Extremamente casual, mas esse cara é de fato incrível na cama.

Em poucos minutos Siwon sai de dentro da sala de Heechul com um sorriso estranho no rosto.

- Pode entrar. - ele diz.

Aceno com a cabeça e adentro a sala.

Sou recebido com um cheiro forte de flores, e por Heebum, o gato cinzento de Heechul.

- Ora ora. - Heechul me lança um sorriso malicioso sentando em sua poltrona cor de vinho depositada no meio do recinto.

Observo sua sala com atenção, ele muda a decoração a todo o instante, dessa vez parece o Palácio de Buckingham só que com uma tensão sexual mais presente, cores vibrantes e quadros de pessoas nuas espalhados pelas paredes.

- Olá Heechul. - digo sentando na poltrona a sua frente.

- Sempre deixando rastros por onde passa. - diz enquanto preenche com uísque um copo vazio que depositado em cima da mesa de centro, claramente para mim pois o seu já está cheio em sua mão.

- O que quer dizer com isso? - questiono.

- Acha que não percebi o volume nas calças de meu segurança? - ele me entrega o copo. - Sou um bom observador.

- Acho que você está mais pra presunçoso. – dou um sorriso.

- Talvez. Mas de qualquer maneira, apareça mais vezes, todos ficam contentes. – ele devolve o sorriso

- Talvez eu apareça. – desfaço meu sorriso, a conversa precisa tomar outro rumo.

Heechul bebe um pouco da bebida que está em seu copo, e pigarreia.

- Bom, ao que devo o prazer de sua visita? – ele bate os dedos em seu copo e cruza as pernas, como se esperasse ouvir uma boa história.

- Sem mais delongas, você sabe sobre meus problemas na Coréia do Sul. - bebo um gole do meu uísque e ele me analisa atentamente. - A uns dias atrás meu chefe viajou para o lugar em questão a negócios, e recentemente ele me fez uma ligação, pedindo toda a papelada do meu passado. Entende minha preocupação?

- Isso é perigoso. – ele pausa a fala e parece estar pensando. - Tome cuidado Hyukjae. Não conheço seu chefe, mas espero que você fale com ele antes que alguém fale, ou pelo menos tente enrolá-lo da melhor forma. - ele muda a expressão de preocupado para interessado. - Mas e quanto a mim, qual vai ser minha função nessa situação?

- Ah sim, preciso que você arrume uma papelada falsa para mim, a mais autêntica que conseguir. Não quero que meu chefe saiba do meu passado na Coréia do Sul. - termino de beber meu uísque, e observo o copo vazio. - Fiz o que fiz para acabar com o que acontecia em meu passado, mas acho que isso nunca vai ter um fim.

- Isso é péssimo. - Heechul se inclina e pega o copo de minha mão para enchê-lo novamente. - Eu vou fazer o que posso, acredite. Você me ajudou muito, e tem um bom coração, eu sei. Mas não deixe que seu passado transforme seu futuro, nem todas as pessoas são ruins. - ele me devolve o copo cheio.

- Não sei onde você quer chegar. - fico confuso.

- Faz anos que você saiu da Coréia do Sul por conta das pessoas a sua volta, e olhe só você. Trabalhando para um dos maiores exportadores de armas da máfia. - ele sorri acidamente. – Irônico, não? Parece que você gosta disso no final das contas.

- Acho que tudo isso me persegue. – falo em um tom triste e deposito o copo em cima da mesa de centro, vazio. - Você se casou com um mafioso. Estamos na mesma.

- Gostar ou não, não vem ao caso quando se precisa de segurança. Claro que, hoje eu amo Hangeng. Mas a segurança é importante. - ele se arruma na poltrona. - Já você, tem tesão pelo perigo. E você sabe que sim.

- Heechul... Não vim aqui para levar lição de moral. Vai conseguir os documentos para mim? – fujo do assunto.

- Vou, claro, me passe seus dados principais por e-mail para facilitar o trabalho de meus súditos. -  ele ri.

- Certo. - me levanto. - Já vou indo.

- Que rude, sente-se. – ele gesticula com a mão. - Você é meu amigo, vamos conversar, soube que está morando com um garoto. Bem bonito ele por acaso. - Heechul morde o lábio inferior.

- As fofocas desse lado da cidade correm bem mais depressa! Antes de vir aqui na ligação você agiu como se não soubesse disso. - me sento novamente. - O que você sabe?

- Nada muito além disso. Na ligação estava tentando te pescar, entende? – ele sorri. - Soube que comprou um apartamento com um garoto jovem. Seu novo brinquedinho?

- Talvez um dia ele se torne. Mas não é nada disso, estou dividindo o apartamento, fico entediado ás vezes, é bom ter alguém alheio a minha realidade para me fazer fugir dela.

- Que sentimental. -  ele finge surpresa. - Espero que seja promissor. 

- Promissor? Não sei. – nos mantemos em silêncio por alguns segundos, fitando o vazio. - Bom, acho que é isso. Obrigado Heechul. - vou em direção a sua poltrona e ele prontamente se levanta.

- De nada, querido. - Ele me abraça e deposita um beijo demorado em minha bochecha. - Volte sempre que puder.

- Manteremos contato. - vou em direção a porta e saio por ela.

Nenhum sinal de Siwon, mas a balada continua cheia, minha vontade de procurar alguém e foder é enorme. Mas tenho algo delicioso me esperando em casa.

Donghae

Passei horas organizando alguns trabalhos da faculdade, tentando não pensar no que Hyukjae realmente foi fazer na boate e se ele volta hoje. Coloco meu CD favorito para tocar, WE do grupo Shinhwa e me afundo nos estudos.

*TOC*

Ouço um barulho vindo da minha porta e dou um pulo na cadeira assustado. Hyukjae chegou? Desligo a música e vou até a porta e abro.

- Voltei. – Hyukjae está sem camisa e parece contente. – O que está fazendo? -  ele coloca a cabeça para dentro de meu quarto e eu vou para sua frente tapando sua visão.

- Você bebeu? – sinto um cheiro forte de uísque, ignoro sua pergunta.

- Um pouco, mas sou bem tolerante ao álcool, não estou bêbado. – ele vai em direção a sala. – Você não vem?

- Já vou. – volto para o meu quarto e guardo minhas coisas. Vou para a sala e ele está falando no telefone, quando chego no sofá ele desliga.

- Minha namorada. – ele balança o celular e sorri.

- Não sabia que você namorava. – ele namora, o quê?

Ele gargalha olhando para mim. – Tá com ciúmes? – ele arqueia uma sobrancelha.

- Eu não, só surpreso. – faço um bico.

Ele continua gargalhando.

- O que é tão engraçado? – pergunto indignado.

- Você, como sempre. – ele para de rir. – Eu estava pedindo pizza.

- Para sua namorada?

- Não, Donghae. Era brincadeira. Você é sempre tão lerdo? -  ele começa a tirar seu tênis.

- Eu nunca sei o que esperar de você, então sei lá. – dou de ombros.

- Bom saber. – ele joga os tênis para longe e coloca as pernas em cima do sofá. - Daqui a pouco ela chega, fica esperto.

- Quem? – fico confuso.

- Minha namorada, Donghae. – ele fala sério.

- Mas você disse que não tinha.

- Eu estava sendo irônico, de novo. Estou falando da pizza. Você é meio lento para entender ironia, não é mesmo? – ele ri.

- Você que me confunde! Babaca. – Finjo estar bravo.

- Ok, parei.

Ele pega o celular e digita freneticamente por longos minutos, fico em silêncio. Até que um barulho vem da porta e ele parece despertar me lançando algumas notas de dinheiro, vou até a porta e pego a pizza, coloco-a na mesa de centro e vou buscar pratos e energéticos.

Quando eu volto vejo que ele continua no telefone, arrisco fazer uma pergunta.

- Não vai comer? – falo enquanto corto um pedaço da pizza para mim.

- Desculpa, estava respondendo um e-mail importante. – ele larga o celular e olha para a pizza e pega o pedaço que eu estava cortando para mim e dá uma mordida. – Obrigado. – ele fala de boca cheia.

- Ei! – penso em como seria engraçado tentar tirar o pedaço dele, mas desisto, começo a cortar outro para mim, afinal, ele pagou por ela. – Vou comer e ir dormir, amanhã tenho aula cedo. – termino de cortar meu pedaço.

- Eu também, meu dia de folga acabou. – ele parece chateado.

Comemos o resto da pizza e bebemos o energético em silêncio. Terminamos e ele volta para o telefone, junto as coisas da mesa de centro e levo para cozinha. Na volta passo pela sala.

- Boa noite, obrigado pela pizza. – agradeço meio sem jeito.

- Disponha. – ele faz sinal de continência.

Vou para meu quarto e arrumo minha cama para dormir. Os questionamentos aparecem. Será que é seguro morar com Hyukjae? Não sei, ele é tão misterioso que eu nunca vou saber. Me deito e observo a luz da sala que passa pela fresta abaixo de minha porta até conseguir pegar no sono.