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História Língua de Fogo - ;i


Escrita por: JAYG0TH

Notas do Autor


Olá genteee
Bom, estou participando do #satansoochallenge, e essa é a primeira fanfic do desafio, correspondente aos itens 28 e 30.
Espero que gostem, e eu dedico essa fanfic à minha linda Lua.

Amo todos vocês, e espero que gostem, deixando seus comentários lindos de sempre!

Vejo vocês lá em baixo.

Capítulo 1 - ;i


 

 

 

Desde os tempos antigos, os Deuses veneravam o fogo.

Mas quando este lhe foi roubado e entregue aos mortais abaixo de si, tudo desmoronou. O culpado foi sentenciado a uma vida eterna, onde seu castigo seria, do mesmo modo, eternizado.

Mas de fato, não há nada mais bonito que o fogo.

Uma presença forte, intimidadora, capaz de destruir em segundos. E ao contrário de muitos outros destruidores, não é capaz de construir de igual forma. Seus punhos esmagadores exterminam qualquer tipo de fragilidade.

E é por isso que ele também é solitário. Tendo por única companhia as chamas gêmeas ao seu redor, não há elemento que se misture ao fogo. As labaredas reluzem desoladas, assistindo à enorme língua de fogo engolir suas semelhantes.

O fogo nunca acaba. Ele pode ser apagado, mas sua marca permanece para sempre, seja fisicamente ou emocionalmente.

Muitas pessoas usam o fogo como diversão. Palhaços em um circo, ou dançarinos profissionais.

Ou que o utilizam em suas profissões, como cozinheiros, e ferreiros.

Alguns o veneram como um artefato, ou o usam para se aquecer.

E também há aqueles que o usam a seu favor para destruir os outros. Como uma arma.

Mas para mim, o fogo não é uma diversão, uma profissão, nem tampouco uma arma.

Para mim o fogo é um vício.

 

 

 

 

3 anos antes

 

 

O chão parecia vibrar sob meus pés, e as vibrações enviavam ondas por todo o meu corpo, mesmo estando sentada. O suor de tanto dançar escorria de meus cabelos para minhas têmporas, e meu peito ainda subia e descia pesadamente com o cansaço. Minha respiração estava entrecortada e minha boca estava seca. Alcancei uma taça de champagne em cima da mesa de vidro e levei-a aos lábios. A sensação das pequenas gotas escorrendo pelas minhas costas deixava minha pele arrepiada; era como sentir dedos mornos percorrendo todo meu corpo, enquanto meu corpo subia e descia e meus ouvidos zumbiam com a música alta.

Da mesa onde estava sentada eu tinha uma boa visão da pista de dança e da porta de entrada, e era justamente esse o motivo pelo qual eu havia escolhido essa mesa. Ela ficava na área V.I.P, mas eu não precisaria me preocupar com dinheiro. Naquela noite, a conta seria paga por outra pessoa.

Eu observava as pessoas dançando ao som da batida forte de This Is What You Came For, uma música que começava a me aborrecer por tocar tantas vezes em todos os lugares. Mas era a primeira vez que tocava ali, nessa noite, então as pessoas estavam curtindo. Havia amigas girando na pista e rindo, meninas com shorts curtos demais se esfregando em meninos bonitos e inexperientes, homens bêbados rondando ao redor de meninas desacompanhadas, tentando conseguir algo delas; alguns apenas riam dos looks de outras pessoas, enchiam a cara no bar, ou se beijavam pelos cantos, talvez até a ponto de fazer algo mais.

E era exatamente esse “algo mais” que eu gostava. Que eu gosto. Na verdade, o sexo está mais para uma necessidade do que uma satisfação. Não é algo que eu consiga controlar, e tem vezes que eu nem me importo com o local, a hora, a pessoa ou até mesmo a situação. O que me deixa confusa é a culpa que vêm depois do prazer, que vêm quando eu já estou andando de volta para o que quer que estivesse fazendo ou a ponto de fazer antes da transa. Talvez seja por que eu nunca transei com alguém que eu amava, — e nem tenho certeza de que alguma vez já amei alguém. Mas quando minha única saída foi trabalhar de dia como garçonete em um pub e de noite como prostituta, saber que meu sustento viria unica e exclusivamente deste tipo de “trabalho” retirava um pouco da angústia e da culpa posposta.

 No entanto o que realmente eu não entendo é por que esse tipo de sentimento acomete meu corpo; o fogo que dança por dentro de mim, que sorve tudo da minha mente e acaricia meu peito quase que 24 horas por dia, como uma língua de fogo eterno.

E foi quando eu a vi. Ela entrou diretamente pela porta, sem nem ao menos esperar na fila. O segurança simplesmente retirou a cordinha vermelha para que ela passasse, e ela lhe dirigiu um sorriso meigo, que o segurança respondeu com um aceno de cabeça. Ela vestia jeans escuros e rasgados nos joelhos e parte das coxas, uma camiseta listrada de vermelho e branco, All Star’s vermelhos, velhos e de cano médio, e uma jaqueta bomber, também vermelha com duas listras douradas ao longo da manga, dos dois lados. Não conseguia ver seu rosto ainda, mas seu cabelo era visível preso em um coque desarrumado atrás da cabeça, com fios soltos, curtos demais para serem presos, e uma franja que terminava exatamente acima das sobrancelhas grossas e bem feitas.

Ela abria e fechava um isqueiro de prata constantemente, desviando de todos com habilidade, enquanto suas pernas finas praticamente deslizavam no chão multicolorido de LED. Quando ela finalmente contornou todas as pessoas na pista de dança, passou perto de minha mesa e fez a volta, sem prestar atenção à nada e ninguém, seguindo para uma área mais afastada e mais calma da boate. Nas costas de sua jaqueta, havia um lindo dragão bordado em fios dourados.

Exatamente como me foi dito.

Com um pulo, levantei da cadeira à mesa e passei pela corda isolante, e prontamente um segurança em um terno escuro parou à frente da entrada. E então, enquanto chegava àquela parte da música onde Rihanna cantava “Baby, this is what you came for”, eu pensava no que estava prestes a fazer; era o que eu tinha vindo fazer. Com minha bolsa em uma das mãos e uma crescente efervescência se espalhando pelo meu corpo, eu a segui.

 

 

 

O barulho da boate era irritante no começo, mas aos poucos, fui me acostumando. Faria tudo — até mesmo aturar músicas eletrônicas que mais pareciam LPs travados por conta da persistente repetição — para, uma vez por mês, ver aquele maravilhoso show nos fundos. Segui quase que automaticamente, sem parar para observar ninguém em particular; novas pessoas poderiam chegar todos os dias, mas para mim seriam sempre os mesmos rostos, os mesmos costumes, os mesmos atos.

Eu nunca fui uma fisionomista muito boa, e sempre que conhecia alguém novo, esquecia seu nome quase que imediatamente. Por isso, levava um tempo para que eu decorasse o nome do recém-conhecido. Não que, nos últimos anos, eu tenha conhecido alguém novo. Eu basicamente só ficava sozinha em meu apartamento, entretida com os discos que meu pai me mandava de vez em quando, de artistas com Led Zeppelin, Nirvana, Beatles, Pink Floyd. Eu não tinha televisão, apenas uma imensidade de livros, que lia e relia todos os dias. Não precisava sair para comprar, pois minhas compras de mercado eram trazidas uma vez por mês por um empregado do meu pai, e eu nem gostava muito de roupas novas ou de fazer compras. Eu só saia nesse único dia no mês dia para ver o show.

Assim que cheguei à área dos banheiros, parei e entrei pela porta que dizia “Damas”. Eu não sei por que, todas as vezes que vinha aqui, eu ria da mesma coisa: tinha certeza de que não havia realmente nenhuma dama nesse estabelecimento, e nenhum dia haverá.

Parei em frente ao espelho rachado acima da única pia enferrujada e suja do banheiro feminino, e guardei o isqueiro no bolso. Era o meu favorito, mesmo que meu pai houvesse comprado vários outros dos mais variados tipos — e preços. Este em especial fora de minha mãe; meu pai comprara para ela nos primeiros anos de namoro, e ela me dera há muitos anos.

Finalmente fitei o espelho pela primeira vez no mês. Aqui era o único lugar onde eu podia me ver, por que eu não tinha espelhos em casa, e as janelas eram foscas, para que nem eu pudesse enxergar lá fora, e nem ninguém lá fora pudesse me ver. Eu não sei por que, mas isso nunca me incomodara, e nem me incomoda. Mas eu gostava de ver meu rosto em sua plenitude, mesmo que em um banheiro decadente com um espelho quebrado.

A porta então se abriu, e por um segundo os sons de música alta e gritos de alegria soaram mais nítidos, mais audíveis, enquanto eu observava uma menina de longos cabelos castanhos entrar, olhando para baixo, e seguir para os boxes atrás de mim. Então a porta se fechou e um zumbido baixo de toda essa agitação voltou a ser distinto.

Voltei meus olhos novamente para o espelho e observei.

Meu rosto era o que poderia ser chamado de “delicado”. Gostava de minhas bochechas rosadas, e sabia que elas estavam constantemente rosadas, pois eu sentia o calor delas sob meus dedos gelados. Mas meu nariz, assim como meus dedos dos pés e das mãos, além de ser arrebitado, feioso e coberto de sardas, era também gelado. A minha circulação de alguma forma não funcionava direito nessas áreas nas extremidades, mesmo eu não entendendo o por quê, e por isso, em qualquer clima eles estavam gélidos. O que me deixava mais frustrada em relação à isso era como uma menina obcecada pelo fogo poderia ser de natureza tão fria? Por que motivo eu não poderia ser como ele, forte, quente e fascinante?

Minha boca não era nem tão fina nem tão carnuda, e sempre cortada, como estava agora, pois sempre que ficava ansiosa, além de puxar o isqueiro do bolso e abri-lo e fechá-lo, eu arrancava peles secas dos lábios. Meus olhos eram o que mais chamavam a atenção, e eu gostava muito deles, pois eram grandes e tão escuros quanto olhos castanhos poderiam ser. Eram como buracos negros no meio do meu rosto, só que muito mais amigáveis, do tipo “Ei, vamos dar um passeio para o outro lado da Galáxia” e não “VOUENGOLIRSEUSSONHOS”. E era também com eles que eu lia, e por isso agradecia por tê-los.

Minhas orelhas eram furadas, com vários furos de cada lado, mas a maioria fechara com o desuso de brincos. Eu apenas mantinha um velho par de brincos dourados de bolinha, do tamanho usado para orelhas de bebê. Mas eu também amava meus ouvidos. Meu pai dizia que Deus me dera o dom da música, e que por isso, eu podia distinguir qualquer nota de qualquer música que já houvesse ouvido pelo menos uma vez na vida, e podia decorar músicas rapidamente, e tocar vários instrumentos. Mas na verdade, assim como minha mãe, eu não acreditava em Deus, então gostava de acreditar que o dom viera por genética de algum parente distante de nossa família, já que eu era a única que possuía essa habilidade.

Meu médico chamava de memória auditiva.

Foi quando analisava meus olhos e discernia uma nova melodia se iniciando nas caixas de som do lado de fora que eu a vi. Apoiada na parede atrás de mim. Me observando com a cabeça levemente inclinada para o lado e um sorriso torto no rosto. A menina que entrara cabisbaixa. Eu havia me esquecido de sua permanência ali, e era só agora que reparava nela em um todo.

Suas roupas eram curtas, mas bonitas e bem cortadas. Diria até que de uma marca famosa e bem caras, mesmo sem poder afirmar a marca por falta de conhecimento. Ela estava com uma perna cruzada na frente da outra, a base das costas recostada na parede, uma das mãos apoiada no quadril contrário ao lado do braço, e a outra pendente ao seu lado segurando uma bolsinha prateada. Seus saltos também eram prateados, e maiores do que eu jamais ousaria usar. Mas ela parecia não ver problema em usá-los, e suas pernas pareciam firmes sobre eles, que eram de uma coloração bronzeada de sol, e combinavam perfeitamente com o tom magenta de seu vestido.

Eu me virei lentamente para olhá-la de frente, e ela não moveu um músculo. Olhando desse ângulo e sem o auxilio do espelho, ela era mil vezes mais bonita.

— Você está… anh… procurando alguém? — às vezes, ficava impressionada com minha capacidade de conversação. Não tenho culpa, dizia uma voz em minha cabeça, se você não conversa com ninguém.

Ela apenas endireitou a cabeça, e se desencostou da parede de azulejos brancos. Ela ainda continuava sorrindo do mesmo jeito e isso era irritante. Nesse momento comecei a percorrer minha mente a procura de algum anúncio de moda em que provavelmente já havia visto-a, por que ela tinha a aparência de uma modelo.

— Eu queria perguntar o seu nome. — meu cérebro demorou um pouco para se desligar da busca e perceber que ela havia respondido, e que me perguntava algo. Quero dizer, ela não perguntou, mas deixou o questionamento no ar. E então, quando estava prestes a responder, outra voz apareceu em minha consciência. Nunca diga seu nome, minha filha, dissera meu pai uma vez, alguém pode querer te usar contra mim.

— É Sol… — respondi em um sussurro o apelido que minha mãe me dera, mas acho que ela me ouviu, por que começou a caminhar em minha direção. Ela era confiante, e manteve a cabeça erguida em todo o tempo. Foram apenas alguns passos, mas parecera uma eternidade em minha cabeça. Suas pernas não tremeram em nenhum segundo, e eu sentia minha boca seca quando recuei um passo e me apoiei com as mãos na pequena pia encardida. Não sei por que me afastei, mas simplesmente o fiz e ela percebeu. Então ela parou, a dois passos pequenos de onde eu estava, e sorriu timidamente.

— Pode me chamar de Lua se quiser. — um pequeno clique foi audível em minha cabeça, e eu podia jurar que ela o tinha escutado também. Lua e Sol? Será que ela havia inventado o apelido — por que obviamente era um apelido — na hora, ou essa sempre fora sua identificação? E por que isso me deixava, ao mesmo tempo, assustada e curiosa sobre ela?

— E eu só queria saber… — ela olhou para minhas mãos e depois novamente para meu rosto. Ela não conseguia encarar meu olhar, e isso me deixava desconfortável. Eu sempre olhava nos olhos das pessoas. Ou costumava, quando ainda falava com as pessoas. —… por que você carrega um isqueiro? Você fuma?

Seu tom não era inquisitivo, apenas interrogativo. Meu corpo começou a relaxar e foi só assim que eu percebi que havia me contraído toda. Automaticamente, minha mão buscou o bolso mais pesado e retirou de lá o isqueiro prateado.

— Ah, isso? Não, é apenas… — pensei em tudo que me já acontecera. Tudo relacionado àquela coisa tão perfeita que era o fogo. O que ele significava pra mim, e como eu colocaria em palavras, como eu descreveria isso para alguém que eu acabara de conhecer, e que nunca vira em nenhum lugar, eu chegava agora à conclusão? Se nem mesmo as pessoas próximas de mim entenderam o porquê ou algum dia entenderão, como ela entenderia? Então, eu simplesmente respondi o que já havia admitido para mim mesmo anos atrás: — É apenas um vício.

Ela então finalmente me olhou. Nos meus olhos, sem desviá-los por alguns segundos; foi tempo suficiente para que eu visse tudo neles: por mais que sua atitude parecesse arrogante, sensual e até indiferente, seus olhos eram totalmente díspares. Lembraram-me chocolate derretido, quente e aconchegante, doce e meigo, como um poço de doçura e amabilidade. Os olhos de alguém que, ou amava demais, ou que nunca havia amado alguém.

— Um… vício? — ela perguntou, de modo que somente eu ouvisse por estar à sua frente, e suas palavras pareceram tão fascinadas espontâneas que era como se eu a tivesse pego de surpresa com minha resposta. Mas sua expressão estava ilegível; eu não poderia adivinhar se havia sido uma surpresa nem que tentasse ao máximo. — Quer dizer que você também tem um?

Dessa vez, suas palavras saíram sussurradas, e sua voz sussurrada provocou arrepios nos pelos de minha nuca e meus braços. Minha mão que ainda estava apoiada na pia apertou-a mais firmemente, enquanto a mão com o isqueiro o havia largado dentro do bolso novamente.

E então, quando eu menos esperava, seu rosto se iluminou em um sorriso de ponta a ponta, onde todos os seus dentes ficavam expostos. E eles eram lindos, certinhos de um jeito que somente alguém que usara aparelho poderia ter. Ela passou por mim como um furacão e agarrou a mão que não estava segura a pia, puxando-me com ela para fora do banheiro, em direção à multidão e a música cada vez mais alta. Olhei para trás, por cima do meu ombro, enquanto minhas pernas se moviam para longe do banheiro, longe da porta que levava aos fundos do local, onde todos os dias por três anos eu fui ver o show pirotécnico. E pela primeira vez nesses três anos, pensei, enquanto olhava novamente para frente, e me focava na menina que me guiava por entre a massa de pessoas, parava no centro da pista de dança e começava a balançar ao ritmo da música — que reconheci como sendo Closer, dos The Chainsmokers —, eu não iria assistir ao show. E, quando ela sorriu pra mim me encorajando a dançar também, eu me senti mais leve, e dancei; tinha certeza de que não iria me arrepender nunca daquela noite.

 

 

 


Notas Finais


EAÍ??? O que acharam? Vai ser meio pesado, então quem não gosta ou não aguenta... eu não recomendaria.

Então até o próximo capítulo,
Dual.


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