História Linha Tênue - Segundo.

A semana passou incrivelmente devagar para Yoongi. Era como se suas aulas tivessem o dobro de duração, seu turno de trabalho na cafeteria do campus tivesse sido estendido e como se até uma tartaruga estivesse andando mais rápido que ele. Ele sabia que estava daquele jeito por causa de seu falso encontro, e se via buscando por seu celular para trocar meia dúzia de palavras com Jimin sempre que podia. Não porque estava interessado nele, mas porque o rapaz era uma pessoa legal. Além de lucrarem uma vingança pessoal com seus amigos, eles ainda estavam ganhando uma nova amizade, então ninguém saía perdendo ali.

“Você não larga esse celular!” Hoseok bufou e tentou ver com quem Yoongi estava conversando, apesar da resposta já ser óbvia. Jimin estava dizendo para ele que gostava de ir à praia sempre que podia, e Yoongi estava adicionando aquilo ao banco de dados sobre o garoto que podia ser útil no futuro caso Hoseok começasse um interrogatório. “Yoongi! Ok, eu acredito, você vai sair com esse tal Jimin. Você conseguiu. Parabéns. O que eu faço para você parar de agir como uma criança comigo?”

“Não, Hoseok, eu ainda vou sair com o Jimin. Hoje é quarta-feira, esqueceu? Nosso encontro é na sexta. Eu ainda vou conseguir sair com ele.” Yoongi se virou para encarar o amigo e se nível de sarcasmo pudesse ser medido, ele teria ultrapassado todos os limites. Hoseok rolou os olhos e grunhiu, levantando-se do sofá logo em seguida e indo até a cozinha para ajudar Seokjin com o jantar. 

Às vezes, Yoongi não conseguia parar de pensar como aquilo realmente era um encontro. Não tinha interesse romântico nenhum, mas eles teriam que sair de casa, eles se encontrariam de verdade – num lugar bem público, de preferência, foi o que Jimin disse – e eles teriam que pelo menos agir como se houvesse algo acontecendo ali. Yoongi sugeriu que eles fossem para a cafeteria onde ele trabalhava, mas Jimin tinha ideias melhores. Ele queria ir a um lugar onde aparentemente seu ex-namorado frequentava bastante, e Yoongi cedeu ao garoto apenas porque ele tinha o arrastado para aquela confusão toda em primeiro lugar.

Quando a sexta-feira finalmente chegou, parecia que suas aulas se arrastaram mais ainda, que seu turno no trabalho demorou ainda mais para acabar, mas quando se deu conta, Yoongi estava em seu quarto encarando seu guarda-roupa enquanto Hoseok estava sentado em sua cama, indignado, talvez ainda sem acreditar muito que Yoongi tinha conseguido aquele encontro.

“Eu não achei que você fosse levar a sério.” Hoseok suspirou e fez uma careta quando Yoongi o mostrou uma combinação que não ficava legal. Ele estava tentando inovar para parecer que estava realmente ligando para aquele encontro, mas acabaria optando por calça jeans e uma camiseta simples como sempre fazia. “Quando você quiser parar de fingir...”

“Eu estava bêbado o suficiente para entrar na pilha.” Yoongi suspirou e tirou a camisa que estava usando e pegou outra mais simples. Tinha algumas palavras em inglês escritas, e talvez aquilo caísse bem com uma calça de couro e uma jaqueta do mesmo material. Ele sabia que ficava bem se vestindo daquele jeito, e se ele queria se vestir para impressionar... “Eu não estou fingindo, Hoseok. Eu realmente vou a um encontro.”

“Sabe aonde seu querido Park Jimin vai te levar pelo menos, hyung? Porque você não mencionou isso em momento algum.”

Yoongi tinha certeza que tinha travado abruptamente o suficiente para Hoseok perceber, a julgar pela risadinha debochada que ele tinha ouvido. Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos enquanto Yoongi mexia no seu armário atrás da calça de couro que tinha ganhado de seus amigos no seu último aniversário, e por Deus, onde ela estava? Ele aproveitou o momento para pensar no que diria para Hoseok – ele não tinha ideia de onde Jimin o levaria, ele só sabia que eles ficariam lá tempo o suficiente para o ex-namorado de Jimin vê-lo e depois eles sairiam de lá para comprar hambúrguer no primeiro drive-thru que vissem aberto. 

“Ele quis fazer surpresa.” Yoongi deu de ombros quando finalmente achou a calça em meio a bagunça que estava seu armário. Se sua mãe visse aquilo, brigaria com ele até que estivesse tudo organizado de novo. Da cama, Hoseok bufou e murmurou algo que ele não conseguiu entender, ou talvez ele só tivesse preferido não entender. “Disse que é um lugar que gosta muito.”

“Certo.” Hoseok deu uma risada, bateu nas costas de Yoongi e saiu do quarto, dizendo uma última frase sem olhar para trás. “Depois me diz se você gostou do lugar.”

Depois de finalmente se arrumar, Yoongi foi para a sala e ficou lá esperando por alguns minutos. Namjoon e Seokjin tinham saído para fazer alguma coisa que Yoongi não prestou atenção neles dizendo, e Hoseok estava confortável demais no sofá para pensar em sair de casa. Em algum momento, Yoongi foi ao banheiro para ver se sua aparência estava realmente aceitável, e quando voltou para sala, Jimin estava parado na porta com as mãos em frente ao seu corpo e um Hoseok bem menos simpático do que ele geralmente era estava bem ao seu lado.

“Seu encontro chegou, Yoongi.” Hoseok arrastou cada sílaba do nome do amigo, e o encarou como se estivesse pronto para pular em seu pescoço a qualquer minuto. Yoongi não sabia quanto tempo levaria para ele finalmente aceitar que o que ele tinha com Jimin era real, mas por enquanto ele apenas aproveitaria para dar risada do homem desconfiado e irritado. “Tenha uma boa noite.”

“Obrigado, Hoseok.” Yoongi abriu um sorriso falso para seu amigo e, com o canto de seu olho, pôde ver os dedos de Jimin se mexendo nervosamente por finalmente conhecer quem era o homem que tecnicamente havia o colocado naquela situação em primeiro lugar: Hoseok. “Não me espere acordado.”

Enquanto conversavam por mensagem, às vezes Yoongi tinha um tempo para pensar no que devia responder a Jimin. Não que ele não gostasse de falar com o garoto – ele gostava, até demais, e aquilo estava sendo uma surpresa até para ele – mas é que às vezes ele precisava medir suas palavras para não soar esquisito na frente de Jimin. Yoongi sabia que não devia ligar muito até porque aquilo não era um encontro real, mas se ia fingir fazer aquilo, tinha que pelo menos ser amigo da pessoa com quem dividiria uma falsa vida amorosa. Yoongi achava que por ser sério demais as pessoas o evitavam, ou ele não conseguia manter uma conversa, e era quase cômico o jeito que ele se esforçava para falar com Jimin sem assusta-lo ou algo parecido.

Ali, ao vivo, ele não tinha o tempo abençoado que a tecnologia das mensagens de texto deu ao mundo para pensar em uma resposta, e Yoongi ficou com medo que sua seriedade e seu senso de humor um tanto quanto diferente do normal assustassem Jimin. Ele não queria que aquilo acontecesse. Primeiro de tudo, ele queria provar a Hoseok que sim, ele conseguiu um encontro, e de quebra ainda conseguiu namorar o garoto. Eles não precisariam ficar muito tempo juntos, apenas tempo o suficiente para um namoro dar certo e logo em seguida dar errado, então Hoseok calaria a boca e pararia de encher Yoongi. Segundo, Jimin era uma pessoa legal e ele não merecia ter ao seu lado uma companhia que ele não gostasse. Terceiro, Yoongi estava observando enquanto eles andavam até o carro de Jimin, era que ele era muito mais bonito do que ele se lembrava da noite do bar.

“Hyung, eu nem te avisei aonde nós vamos!” Jimin disse e sua boca ficou em um formato oval que lembrava Yoongi de desenhos animados, fazendo-o rir baixo. Jimin fez questão de abrir a porta para Yoongi – ele rezou para Hoseok ser chato o suficiente para estar assistindo a tudo aquilo pela janela – e enquanto o garoto dava a volta para se sentar ao volante depois de ter certeza de que seu hyung estava confortável, Yoongi pensou que fingir sair com Jimin não seria tão ruim. “É tipo um bar que nem o que nos conhecemos, só que... Mais animado. Tem música, e várias pessoas de cabelo colorido.” Jimin disse se sentando no banco do motorista, e ele soltou uma risada tão adorável que Yoongi precisou se lembrar que aquilo era um encontro falso. “Eu conheci meu ex lá, e sei que ele vai até hoje... E não é difícil de encontrá-lo, sério, ele tem cabelo verde menta.”

“Verde menta? Que cor idiota.” Yoongi se lembrou da vez que Hoseok o impediu de comprar a tinta daquela exata cor, e em seguida tocou seu cabelo, sentindo o quão ressecado estava depois de o descolorir. Jimin deu uma risadinha fraca e começou a dirigir, um silêncio confortável se instalando entre eles. “Eu estava falando sério sobre o drive-thru depois que sairmos de lá. Eu fico com fome depois de festas.”

Jimin não disse nada, apenas concordou, e eles ficaram em silêncio durante todo o caminho. Era estranho, Yoongi achava, porque eles deviam aproveitar o tempo juntos para se conhecerem melhor, e depois poder esfregar informações nas caras de seus amigos que os importunavam com essa coisa de ter que sair com alguém. Mesmo assim, ele não achou ruim. Jimin gostava de ouvir jazz enquanto dirigia, e Yoongi sabia que era porque ele tentava o máximo se manter calmo no trânsito, sendo essa uma das quinhentas informações que eles trocaram durante a semana que se falaram.

“Chegamos.”

Yoongi nunca foi fã de festa. Era muito raro seus amigos conseguirem convencê-lo de que um lugar cheio de gente bêbada e suada dançando e se esfregando umas nas outras era o programa ideal, mas às vezes ele gostava. Às vezes, depois do seu segundo drink ou de alguns shots, ele se misturava às pessoas suadas e se esfregava nelas também, mas aquilo quase nunca acontecia. Foi por isso que ele sentiu seu coração bater um pouco mais forte quando viu que o ‘tipo um bar’ que Jimin havia mencionado estava mais para uma boate – cheia de gente suada e bêbada se esfregado umas nas outras – do que um bar de fato.

“Sua cara não está muito boa.” Jimin disse com uma risada fraca enquanto tentava procurar uma vaga para estacionar. Yoongi piscou e tirou a atenção da porta do local, olhando para o garoto ao seu lado e abrindo um sorriso que ele sabia que não tinha saído nada convincente. Jimin deu uma risada e finalmente desligou o carro. O jazz parou de tocar, e de repente eles conseguiram ouvir o quanto a rua estava barulhenta com as pessoas querendo entrar no bar. “Se você quiser, nós podemos ir embora. Você disse que não gosta de festas, mas essa não é bem uma.”

“Nós vamos entrar lá.” Yoongi disse certo, e ele esperava que seu tom de voz tivesse saído convincente, porque ele realmente disse aquilo com convicção. Às vezes ele se sentia um pouco culpado por Jimin fazer parte daquela palhaçada, e sentia como se tivesse que fazer os favores do garoto sempre que ele quisesse, então ele viu aquilo como uma oportunidade boa para manter a promessa que fez para si mesmo. Yoongi já conhecia Jimin bem o suficiente para saber que ele sempre procurava o bem-estar dos outros, então bastaria ele dizer que não, não quero entrar e eles iriam para o drive-thru no mesmo instante. “Cabelo verde menta, não é mesmo? Tem certeza de que ele não mudou de cor?”

O sorriso no rosto de Jimin fez o coração de Yoongi parar de bater por um segundo. Era um encontro falso, ele precisava se lembrar constantemente, e aquele fato estava o deixando um tanto quanto preocupado. Ele não devia estar precisando se lembrar a todo momento de quais eram as reais intenções de ambos ali.

“Não é muito caro para entrar, e o preço você usa para consumir bebidas lá dentro... Se você passar do valor, você paga mais.” Jimin explicou e saltou do carro, e quando Yoongi estava prestes a abrir a porta, o garoto mais novo a abriu com um sorriso enorme no rosto. Yoongi não entendia como ele podia estar tão feliz em uma situação daquelas. O coração de Jimin era bom demais, alguma hora ele veria a parte ruim de ser daquele jeito, e isso o preocupava. Um pouco. “Mas nós não vamos ficar muito tempo, não é mesmo? Algumas cervejas, um pouco de flerte na frente do Kihyun, e o drive-thru será todo nosso!”

“Kihyun?” Yoongi perguntou mesmo já sabendo a resposta. Jimin nunca havia colocado um nome para seu ex-namorado, e era uma surpresa considerando o tanto que ele falava do homem. “É o seu...?”

“Ex-namorado, sim.” Jimin abriu um sorriso tímido e olhou para suas mãos. Yoongi mordeu o interior de sua bochecha como se a dor fosse impedi-lo de pensar em como os dedos de Jimin eram fofos. Aliás, que raios de pensamento era aquele? “Melhor nós entrarmos, não é? Quanto mais cedo isso acabar, melhor.”

O lugar não era tão sufocante quanto Yoongi achou que seria. Realmente, ali era uma espécie de bar com pista de dança, e não era tão mal iluminado quanto uma boate. Para sua felicidade, as pessoas também não estavam completamente bêbadas, suadas e se esfregando umas nas outras. Elas dançavam calmamente, a caixa de som dando a eles uma melodia serena o suficiente para as pessoas conversarem sem precisarem gritar. Não era um lugar ruim, e Yoongi provavelmente deixou transparecer seu alívio, porque Jimin disse eu falei que não seria bem uma festa, e deslizou uma mão por sua cintura.

Realmente, havia muitas pessoas de cabelo colorido por ali. A última vez que ele tinha visto uma variedade tão rica de cores havia sido em um show do Big Bang que Hoseok havia o convencido de ir, e havia arrastado Namjoon e Seokjin com eles. Aquilo já fazia alguns anos, então Yoongi precisou de um tempo para se acostumar com a quantidade de roxos, vermelhos e rosas que ele via passando ao seu lado. O próprio Jimin tinha um laranja bem chamativo em sua cabeça, e por um momento, Yoongi se sentiu normal por ser um dos poucos ali que só tinha o cabelo descolorido e nada além disso. Ele podia ter pelo menos comprado uma tinta rosa...

“Yoongi hyung, nós podíamos falar mais perto, se você não se incomodar.” Jimin deslizou um pouco no balcão onde eles estavam apoiados, quase invadindo o espaço pessoal de Yoongi. Em qualquer outra circunstância, em um primeiro encontro de verdade, Yoongi provavelmente já pensaria duas vezes antes de ver se aquele garoto valia a pena para um segundo encontro. Como estava na sua situação, ele se aproximou mais um pouco e tentou segurar uma risada que queria escapar, vendo que eles realmente estavam invadindo o espaço pessoal um do outro, e não tinha uma gota de álcool em seus sistemas. “Se você quer saber, o preço da entrada dá para comprar umas quatro cervejas.”

“Então vá pegar uma para nós, eu vou esperar por aqui.”

Jimin saiu saltitando pelo local, e Yoongi ficou para trás apenas o observando. Ele se perguntava como teve a sorte de arranjar uma aposta daquelas com um homem lindo feito Jimin, porque ele definitivamente era demais para Yoongi. Sua pele tinha um tom bronzeado incrível enquanto ele era pálido, Jimin tinha músculos esculpindo seu corpo enquanto Yoongi era magro, e ele nem ia começar a falar das pernas de Jimin... 

Seu pensamento foi cortado quando Yoongi viu um homem alto de cabelo verde se aproximando de onde Jimin estava, carregando outra pessoa qualquer com ele com um cabelo azul que seria capaz de cegar alguém de tão claro que era. Quando Jimin se virou para trás e viu quem tinha cutucado seu ombro, Yoongi engoliu em seco. Aquele era definitivamente o famoso Kihyun, o motivo pelo qual Jimin havia aceitado participar do plano maluco de Yoongi, e ele não sabia o que fazer. Estava parado em seu lugar quando sabia que a melhor opção seria andar até onde eles estavam, deslizar uma mão pela cintura de Jimin, e deixar sua voz o mais grave possível para intimidar o homem de cabelo verde que era realmente bem alto, o que assustava Yoongi até de longe.

Jimin já estava se virando para sair dali com duas cervejas na mão quando Yoongi apareceu ao seu lado e fez exatamente como planejou, colocou uma mão em sua cintura e franziu seu cenho. Por dois segundos ele se sentiu como uma espécie de macho alfa e quis se estapear por ter pensado naquilo, mas pelo jeito que os ombros de Jimin relaxaram quando ele chegou, talvez ele estivesse fazendo um favor. O homem de cabelos verdes não era tão alto de perto, mas ele arqueou uma sobrancelha como quem estava curioso para saber quem era aquele baixinho magrelo que estava tratando Jimin como propriedade.

“Jimin, você não disse que estava com um amigo.” Kihyun abriu um sorriso que não parecia tão simpático, e Yoongi retribuiu da mesma forma. “Ainda mais um amigo que não é o Jungkook ou o Taehyung... Você só tinha eles dois, não é mesmo?”

“Não, agora também tem o Yoongi, prazer.” Yoongi estendeu a mão. Kihyun ficou a encarando por alguns milésimos de segundos antes de aperta-la com um pouco mais de força que o necessário, e ele se perguntou como Jimin, a personificação de um raio de sol, tinha se envolvido com uma pessoa que aparentava ser tão desagradável como aquele homem. “Você é...?”

“Kihyun, um antigo amigo de Jimin.” Yoongi pelo menos devia parabeniza-lo por não usar o termo namorado perto do homem que estava saindo com ele no momento. Mas ao usar aquela palavra, Jimin segurou a mão de Yoongi que segurava sua cintura, apertando-a levemente, quase implorando para que saíssem dali. “Bom, eu vou deixar vocês dois a sós. Não quero atrapalhar nada. Tenham uma boa noite!”

Do mesmo jeito que veio, Kihyun foi embora: rápido. Seu acompanhante foi carregado por ele pela mão, e Jimin respirou pelo que parecia ser a primeira vez em muito tempo. Yoongi apertou um pouco sua cintura e o garoto sorriu, entregando-lhe sua garrafa de cerveja e levantando a própria para um brinde. Yoongi sorriu e eles brindaram, tomando alguns goles e voltando ao local onde estavam conversando antes. Agora que eles sabiam que Kihyun estava por perto, era como se espaço pessoal entre eles realmente não existisse. Depois da segunda cerveja a situação só piorou. Eles começaram a dançar no lugar deles enquanto as pessoas se moviam para a pista de dança, e a música saía de lenta para algo mais agitado. Yoongi quase conseguia sentir um olhar os perfurando, mas quanto mais seu sistema era afetado pelo álcool, menos ele ligava, e mais ele queria se aproximar de Jimin.

“Hyung...” Jimin era fraco para bebidas, Yoongi havia percebido. Suas bochechas já estavam coradas, seus olhos estavam caídos e seus sorrisos não tomavam conta de seu rosto como antes por conta das três garrafas que ele já havia bebido. Seus braços estavam jogados nos ombros de Yoongi, e ele dançava em um ritmo lento, de um lado para o outro, mas a música que tocava pedia uma dança mais agitada. “Nós temos que ir ao drive-thru, lembra? Eu prometi. Kihyun já viu o suficiente, vamos embora.”

“Eu bem queria ir, mas você não consegue dirigir nesse estado.” Yoongi fez algo parecido com um biquinho que arrancou uma gargalhada de Jimin, e ele ficou contente com aquela reação. “Eu ainda consigo pegar no volante, mas nós não podemos andar muito por aí.”

“Tem um McDonald’s aqui perto, nós podemos parar para comer.” Jimin deu de ombros e jogou sua cabeça para o lado, seus olhos grudados nos de Yoongi. Mais uma vez, ele precisou se lembrar de que aquilo era um encontro falso. Já havia perdido as contas de quantas vezes precisou dizer aquilo para si mesmo naquela noite, e o número deveria deixa-lo alarmado, mas Yoongi apenas concordou com Jimin. “Eu gosto do Big Mac.”

“Eu compro um Big Mac para você.” Yoongi abriu um sorriso, e talvez ele também já estivesse mexido por conta das cervejas, mas agora era tarde demais para dizer que não faria aquilo. Jimin tirou os braços de seus ombros e o pegou pelo pulso, caminhando até a porta do bar.

Dessa vez, Jimin escolheu colocar em uma rádio que estava tocando EXO, e ele não ligava que era meia-noite, o volume estava no máximo e Jimin cantava cada parte como se fosse um integrante do grupo. Yoongi, ao volante, apenas ria e andava o mais devagar que ele podia até finalmente achar o McDonald’s do qual Jimin havia falado. Eles não estavam quietos, e nem conseguiam ficar. O álcool que corria por seus corpos estava começando a fazer efeito de verdade e eles riam alto e conversavam sobre tudo e nada, enquanto outros funcionários e clientes os encaravam, praticamente os expulsando dali com o olhar.

Então eles foram para o carro, ficaram parados no estacionamento do McDonald’s cantando músicas aleatórias – que Yoongi dizia não gostar, mas Jimin sabia que no fundo ele gostava – que tocavam na rádio, pedindo o máximo de informação um sobre o outro que eles podiam no curto período de tempo que ainda tinham. Yoongi precisou se lembrar mais algumas vezes de que aquilo tudo não passava de um encontro falso.

“Yoongi hyung, eu preciso voltar para meu apartamento.” Jimin piscou lentamente, encostando sua bochecha em seus joelhos, que estavam abraçados contra seu corpo. Yoongi achava que ele parecia uma criança daquele jeito, mas preferiu não comentar e apenas aproveitar a vista. “Já estou melhor e... Eu quero pegar Taehyung e Jungkook acordados, apenas para eles verem que eu me diverti essa noite.”

“Se você prometer não nos matar enquanto dirige.” Yoongi abriu um pequeno sorriso que fez Jimin abrir um também, logo depois escondendo seu rosto entre seus joelhos. “E se prometer não se matar quando eu não estiver mais dentro do carro para ter certeza de que você está bem.”

“Ninguém vai morrer, hyung.” Jimin deu uma risada e ligou o carro, colocando seu cinto de segurança e piscando algumas vezes, provavelmente se concentrando para sair dali sem acidentar ninguém. “E eu realmente me diverti hoje. Não acredito que meu encontro falso foi mais legal que todos os encontros reais que eu já tive até hoje.”

Yoongi sorriu e concordou. Jimin escolheu deixar a rádio tocando, porque se eu colocar jazz é capaz de eu dormir no volante. Mesmo com uma música pop irritante preenchendo o ambiente, eles estavam em silêncio, e não sentiam a necessidade de falar. Em um piscar de olhos, Yoongi viu o prédio onde morava e sentiu o carro parando, a música ficando gradativamente mais baixa.

“Hyung,” disse Jimin, as sílabas arrastadas, e foi só então que Yoongi se deu conta do quão cansado o garoto estava. Não passava de duas horas da manhã, mas ambos se sentiam exaustos. Tinha sido uma noite realmente divertida. “Acho que a luz da sua sala está acesa. Você mora de frente no segundo andar?”

“Moro.” Yoongi abriu um sorriso e olhou na mesma direção que Jimin. Ele conseguia ver vagamente uma sombra na janela, e deu uma risada, porque sabia exatamente o que era aquilo. “Hoseok deve estar me esperando.”

“Vamos nos beijar, hyung.” Jimin piscou os olhos lentamente, mas estava com tanto sono que nem conseguia avaliar a reação de Yoongi. Ele próprio não sabia como avaliar sua reação, mas estava mais do que disposto a atender ao pedido de Jimin. “Eu abro a porta para você, nós nos beijamos do lado de fora. Seu amigo Hoseok vê tudo. O que me diz?”

“Eu acho uma excelente ideia.”

Jimin abriu um sorriso e pulou do carro no mesmo instante, mal deixando tempo para Yoongi desistir da ideia ou acrescentar alguma outra. De dentro do carro, ele tentou checar se a sombra de Hoseok ainda estava lá, e não só ele, como Namjoon (ou Seokjin, Yoongi não tinha certeza) estava o acompanhando agora. Yoongi deu uma risada baixa e levou um susto quando Jimin abriu a porta. Ele estava com o olhar caído, e se aquilo fosse um primeiro encontro de verdade, Yoongi até poderia ter confundido aquele olhar com um de desejo. Com um pequeno sorriso no rosto, ele saltou para o lado de fora e ficou encarando Jimin, que estava levando todo o tempo do mundo para fechar a porta.

“Então...” Jimin se virou para encarar Yoongi e se encostou no carro, colocando suas mãos na parte de trás de seu corpo, praticamente um convite para Yoongi se aproximar. Yoongi riu e colocou suas mãos no bolso de sua calça, incerto do que fazer com elas naquele momento. “Você quer conversar um pouco e depois partir para a ação, ou quer me beijar logo e matar a vontade que eu estou sentindo desde que terminei minha primeira cerveja?”

Yoongi arregalou os olhos com aquilo. De repente, todos os lembretes que ele fez de que aquilo era um encontro falso durante a noite passaram por sua cabeça, e talvez ele tivesse feito tantos justamente porque Jimin realmente estava dando em cima dele. Yoongi ficou quieto por alguns segundos e Jimin deu uma risada baixa, passando as mãos pelo rosto e clicando sua língua.

“Eu não devia ter dito isso, não é?” Jimin bufou e jogou a cabeça para trás, respirando fundo e fechando os olhos. Yoongi ficou em silêncio, esperando que ele dissesse mais alguma coisa. Não muito tempo depois, Jimin voltou a encara-lo com o mesmo olhar que ele tinha quando abriu a porta do carro, e talvez tivesse o desejo que Yoongi enxergou ali, mas preferiu dizer que não era. “É só curiosidade, hyung. Nós vamos ter que fazer isso mais algumas vezes, não é mesmo? Em frente ao nossos amigos, em frente ao Kihyun.”

“Não tem problema nenhum você ter dito isso, Jimin.” Yoongi sorriu e olhou para baixo, incapaz de manter contato visual naquele momento. Talvez as mãos bobas de Jimin durante a noite não tivessem sido coisa de sua cabeça, talvez os olhares que ele dava não tivessem sido apenas alucinações causadas pelo álcool, talvez Jimin quisesse mesmo o beijar. “E sim, nós vamos ter que fazer isso algumas vezes.”

“Então o que você está esperando, Yoongi?” Jimin murmurou e colocou suas mãos na parte de trás do pescoço de Yoongi. Ele inclinou sua cabeça para o lado e abriu um pequeno sorriso, quase como se estivesse o desafiando. Min Yoongi não recusa um desafio, muito menos o perde. “Me beija.”

Levou menos de dois segundos para as mãos que estavam no bolso de Yoongi irem para a cintura de Jimin, trazendo os corpos para mais perto um do outro ao mesmo tempo em que Yoongi empurrava o garoto contra o carro, buscando o máximo de contato físico entre eles. O beijo estava uma bagunça. Yoongi tinha certeza de que eles haviam batido dente antes de suas línguas se encontrarem, e ele mal conseguia sentir a pressão da boca de Jimin contra a sua por conta da dormência em seus lábios, mas o ar em volta deles estava tão intoxicante e a sensação estava tão boa que ele não ligava. Yoongi só conseguia pensar que queria mais, mais e mais de Jimin, fosse de sua boca, fosse de suas mãos fazendo carinho em sua nuca, ocasionalmente puxando a parte de trás de seu cabelo, fosse do pequeno contato que ele buscava com sua pélvis. 

Um assovio que veio de não muito longe o fez voltar para a realidade e ele se separou de Jimin, que gemeu em uma mistura de reprovação e por favor, eu quero mais e começou a distribuir beijos pelo rosto de Yoongi. Outro assovio, dessa vez seguido por um ‘não parem o show!’, fez ambos rirem e se encararem por alguns segundos. Jimin ainda fazia carinho na nuca de Yoongi, e pela primeira vez na noite ele não estava certo do que deveria dizer a seguir.

“Hyung, me leva pra sua casa.” Jimin murmurou e tentou puxar o rosto de Yoongi para mais perto, mesmo sabendo que ele não ganharia nada além de alguns selinhos. O silêncio que ficou entre eles por alguns segundos serviu de resposta para o pedido de Jimin, mas ele tentou mais um pouco. “Nós nem precisamos transar. Nós só precisamos fingir. E talvez nos beijar mais um pouco.”

“Hoseok sabe que eu tenho uma regra de não transar antes do terceiro encontro. Ele acharia suspeito se nós transássemos.” O que é verdade. Yoongi só transava de primeira com pessoas que ele não pretendia manter contato, ou que seu cérebro tomado de álcool dissesse para ele transar. Ele não queria aquilo de Jimin. “Nós vamos ter que esperar mais um pouco.”

“Tudo bem, mas eu quero te beijar de novo.” Jimin abriu um sorriso e afastou o corpo de Yoongi do seu, e pela primeira vez em muito tempo, Yoongi sentiu falta de calor humano. “Amigos coloridos. Só que... Só com beijo. Você realmente tem um talento espetacular com sua língua, hyung. E suas mãos também.”

“Acho que essas são todas as cervejas que você tomou falando, não?” Yoongi abriu um pequeno sorriso e voltou a colocar as mãos dentro do bolso da calça. Jimin se encostou no carro da mesma forma relaxada de antes, dessa vez com os braços cruzados, e parecia que eles estavam fazendo o reverso do que fizeram antes de se beijarem. “Mas se você quiser, eu aceito. Te beijar realmente não foi ruim.”

“Vou encarar isso como um elogio.” Jimin sorriu e se desencostou do carro, ficando de frente para Yoongi e o encarando por alguns segundos em silêncio. “Depois nós vemos onde vai ser nosso próximo encontro, pode ser?”

“Claro.” Yoongi assentiu e olhou para cada lado da rua, e, tendo certeza de que nenhum carro passaria ali àquela hora, começou a andar para trás sem tirar os olhos de Jimin. “Avisa quando chegar em casa, ok? Eu ainda acho que você não está muito bem para dirigir.”

“Não se preocupe, hyung, eu vou ficar bem. Não moro muito longe daqui.”

Yoongi assistiu a Jimin ir embora, e só quando viu o carro do garoto virando a esquina, ele entrou em seu prédio e foi para o elevador. Seu celular estava em sua mão, pronto para receber a mensagem de Jimin a qualquer segundo, e sua cabeça doía só de pensar em tudo que teria que ouvir de Hoseok assim que colocasse seus pés dentro do apartamento. Yoongi estava recapitulando tudo que havia acontecido – desde o medo de ter concordado em ir a uma festa sem querer, até Jimin se derretendo em suas mãos – e pensou que não se arrependeu de absolutamente nada do que tinha feito naquela noite.

Como esperado, Namjoon e Hoseok ficaram o perturbando assim que Yoongi abriu a porta do apartamento, bombardeando-o com perguntas que pareciam não ter fim. Do sofá, Seokjin dizia para eles dois o deixarem em paz, mas o pedido entrou por um ouvido e saiu pelo outro, e tudo que Yoongi conseguia prestar atenção era no nome de Jimin que saía da boca de Hoseok um milhão de vezes por segundo. 

“Foi uma noite boa.” Yoongi disse com um sorriso solto no rosto, fazendo os dois se calarem no mesmo instante. Até mesmo Seokjin tirou a atenção da televisão e o encarou, curioso para saber mais do que eles tinham feito. “Nós fomos a um bar que era uma espécie de festa, dançamos, e depois fomos ao McDonald’s. Ele canta bem. Beija bem também.”

“Eu só assoviei da janela porque eu vi de longe que vocês dois estavam se empolgando demais.” Hoseok comentou com um sorriso largo no rosto, e Yoongi o acompanhou sorrindo também. “Se não eu teria deixado continuar.”

O som de mensagem nova que veio do celular de Yoongi assustou todos ali, especialmente Hoseok. Ele viu o ‘estou vivo, hyung’ escrito em sua tela e desbloqueou o celular, caminhando em direção ao seu quarto e desejando uma boa noite a seus amigos, ignorando todas as perguntas que eles voltaram a fazer. Yoongi não tinha forças para fazer algo além de trocar de roupa para ir dormir, jogando-se na cama assim que estava perfeitamente confortável usando seu pijama de todas as noites: sua própria cueca. 

Ele passou mais alguns minutos trocando mensagens com Jimin antes que o sono o vencesse, mas mesmo assim, um último pensamento não podia deixar de passar por sua mente antes que ele pegasse no sono.

Nem tudo era falso, a amizade deles poderia ser verdadeira.