História Linha Tênue - Sétimo.

Jimin tinha certeza de que iria surtar.

Ele tinha uma apresentação importante em poucos dias e continuava errando um mísero passo na coreografia, e por mais que Jungkook dissesse que tudo ia ficar bem, Jimin tinha certeza de que não ia e na hora ia ser tudo um fiasco. Taehyung olhava para cima e o encarava com suas sobrancelhas assustadoras toda vez que Jimin dizia aquilo, mas não dizia nada. Mesmo assim, ele aceitava aquela ajuda mais do que qualquer palavra que Junkook dissesse. Ok, ele sabia que na hora não seria um completo desastre, mas ele precisava aprender aquele passo urgentemente. 

“Você precisa relaxar, Jiminnie,” disse Taehyung. Ele estava com os pés em cima da mesa de centro, o corpo completamente jogado no sofá, e Jungkook estava deitado em sua barriga prestando atenção em qualquer porcaria que Taehyung tinha colocado na televisão para eles assistirem. Jimin estava andando em círculos ao lado da televisão, segurando seu cabelo com tanta força que ele achava que poderia sair uma mecha em suas mãos. “É para isso que você tem um namorado. Mande-o vir para cá, eu aposto que Hoseok hyung e os outros não se incomodariam em nos receber lá.”

“Você está sugerindo que eu expulse vocês daqui para transar com meu namorado?” Jimin parou de andar e encarou o amigo. Pelo jeito que ele sentia os músculos de seu rosto se contorcendo, sua expressão de confusão devia estar exatamente o que ele queria que estivesse – extrema. “É sério isso?”

“Jimin, você está prestes a arrancar seu cabelo. Você merece uma noite com Yoongi hyung.” Jungkook comentou como se fosse o óbvio.

Jimin engoliu em seco e ficou parado pensando. Realmente, chamar Yoongi não seria uma má ideia. Ele adoraria ter o mais velho por perto apenas para conversar, falar sobre diversas coisas e fingir que nada além de Yoongi existia. Só que Jimin havia tentado chamar Yoongi para sair mais cedo, e a resposta que recebeu foi tão direta e tão seca que ele sentiu um calafrio correr por seu corpo. Um simples ‘estou ocupado’ fez o assunto entre eles morrer no mesmo instante, e Jimin nem ousou em pensar em passar na cafeteria onde Yoongi trabalhava apenas para saber como havia sido seu dia.

“Eu adoraria, mas ele disse que está ocupado com algumas coisas.” Jimin relaxou suas mãos ao lado de seu corpo e suspirou, indo até o sofá para se jogar ali perto de seus amigos. Os dois garotos o olhavam curiosos, esperando que Jimin falasse mais alguma coisa. “Eu até entendo, essa época do ano é bem difícil mesmo. E já me impediram de entrar no estúdio depois das horas de aula porque todo mundo sabe que eu sempre acabo exagerando no treino.”

“Então tudo que você pode fazer agora é aproveitar esse anime horrível com seus amigos horríveis,” disse Taehyung com falsa indignação, arrancando uma risada fraca de Jimin. Ele sorriu para Jungkook, que assentiu com a cabeça – tinham conseguido cumprir a meta de fazer Jimin se distrair. “A história é boa, eu prometo. E se você acabar dormindo, o Jungkook te leva para o quarto.”

“Por que eu?” Jungkook franziu o cenho, arrancando uma risada mais alta de Jimin. Taehyung sorriu com aquilo.

“Porque você é mais forte, e eu o carreguei da última vez.” Taehyung deu de ombros. “Agora fiquem quietos porque essa cena é muito boa.”

No dia apresentação nada deu errado, para a felicidade de Jimin. Ele havia descoberto ali mesmo que Hoseok também era um dançarino, só que era de um grupo diferente do dele. Eles passaram alguns minutos antes de suas apresentações conversando animadamente, e Jimin ficou impressionado com a simpatia do rapaz. Ele não tinha sido muito bem recebido da primeira vez que apareceu no apartamento de Yoongi, mas ali, era como se eles dois fossem amigos há anos.

Yoongi estava lá para assistir a tudo e parabenizar não só seu amigo, mas também seu ‘namorado’. Os outros quatro também estavam na plateia, e logo depois todos saíram para comemorar o sucesso das apresentações. Jimin não havia errado o passo que parecia impossível, e Hoseok fora parabenizado por alguns dos olheiros que sempre iam àquelas apresentações para caçar talentos.

Enquanto voltavam para casa, Seokjin puxou Jimin para o lado para ‘ter uma conversa’ com ele. Jimin se sentiu intimidado, como se estivesse conhecendo os pais de seu namorado – apesar dele já conhecer Seokjin, e saber que ele era um amor de pessoa – mas concordou e ouviu tudo que o hyung tinha para dizer. Jin falou sobre como Yoongi andou estressado naquela semana, e reclamou praticamente todos os dias como ele não tinha tempo para ver Jimin, dizendo que só queria alguns minutos de paz. Seokjin sorriu e comentou como o garoto mais novo era importante para Yoongi, arrancando uma risada fraca de Jimin, fazendo suas bochechas corarem levemente. 

“Eu fico feliz de saber que vocês estão juntos.” Seokjin sorriu e apontou na direção de Yoongi com seu queixo. Ele estava andando com passos tortos e com os braços jogados nos ombros de Hoseok e Taehyung, às vezes soltando uma risada escandalosa que atraía a atenção de quem estivesse por perto. “Eu não o vejo feliz desse jeito há muito tempo, e fico contente de saber que é você que está o deixando assim.”

Jimin sorriu e assentiu, concordando com aquela afirmação dentro de sua cabeça. Ele também estava feliz de saber que deixava Yoongi daquele jeito.

**

Faltava menos de uma semana para as férias de verão começarem quando Jimin se deu conta de duas coisas terríveis.

A primeira coisa terrível era que ele passaria muito tempo longe de Yoongi. Jimin geralmente passava as férias em Busan com seus pais e voltava para Seul um pouco antes das aulas recomeçarem, e aquilo nunca havia sido um problema até então. Jimin já estava acostumado a passar pelo menos vinte minutos de seu dia ao lado de Yoongi na cafeteria, e Hoseok já estava mais do que convencido de que eles estavam juntos. Na verdade, todos estavam convencidos. Até mesmo Namjoon, que Yoongi disse que no início descobriu tudo. Agora, Yoongi e Jimin eram vistos como inseparáveis, mesmo que estivessem juntos havia pouco mais de dois meses.

A segunda coisa terrível era que ele não deveria se preocupar em passar tanto tempo longe de Yoongi.

Afinal de contas, ambos sabiam que eles não eram nada além de amigos. Jimin vivia em um estado de eterna confusão, porque ele sabia que queria a amizade de Yoongi, mas também queria muito beija-lo todas as vezes que tivesse a oportunidade. Era por isso que, toda vez que os sete saíam, Jimin usava a mesma desculpa de sempre para se agarrar com Yoongi – plateia, hyung. Sempre funcionava porque em algum ponto da agarração, um de seus amigos dizia que era melhor que eles saíssem logo dali antes que começassem a transar em local público. Ou como acontecia quando eles resolviam beber em casa, todos iam para o apartamento disponível e os deixavam sozinhos, desejando-os uma boa noite e pedindo que usassem proteção.

Tanto Yoongi quanto Jimin chegaram perto de ultrapassar os limites que eles haviam imposto em suas sessões de ‘agarração’, mas aquilo era sempre chutado para debaixo do tapete e eles nunca conversavam sobre o que havia acontecido. No dia seguinte, era como se as mãos bobas e os pedidos de por favor, só dessa vez nunca tivessem existido. Nenhum dos amigos deles suspeitava, é claro, até porque quando chegavam no apartamento no dia seguinte, as marcas nos pescoços de ambos eram suficientes para fazê-los pensar que algo havia realmente acontecido. 

Jimin sabia que tudo aquilo poderia não passar de desejo, e ele esperava que realmente fosse o caso. A quantidade de vezes que precisava se lembrar de que Yoongi o olhava daquele jeito apenas porque seus amigos estavam por perto estava aumentando cada vez mais, e ele não podia se dar ao luxo de ter até mesmo uma queda por seu namorado falso.

Então, ao mesmo tempo que estava assustado por pensar que talvez estivesse sentindo alguma coisa por Yoongi, Jimin estava grato pelo tempo que passaria longe dele – para colocar sua cabeça no lugar, para esquecer, e para começar a planejar um término entre eles, agora que tudo estava resolvido e eles não tinham muitos motivos para continuar juntos. 

“Jiminnie?” Jimin piscou algumas vezes e olhou para baixo, vendo que sua mão pequena tinha sido praticamente engolida pela mão de Yoongi. O mesmo o olhava de cenho franzido, talvez um pouco preocupado, mas sorriu quando viu Jimin o encarando com os olhos levemente arregalados. “Você estava distraído. Aconteceu alguma coisa?”

“Não, hyung.” Jimin sorriu, e Yoongi o imitou. Ele tentou ignorar a pontada que sentiu em seu coração e entrelaçou seus dedos no de Yoongi, um hábito que eles haviam adquirido tinha pouco tempo. ‘É o que namorados fazem, certo?’. Eles não faziam aquilo em locais cheios, e geralmente faziam mais quando seus amigos estavam por perto, mas era sempre bom ter uma mão quente grudada na dele enquanto faziam o caminho de volta da cafeteria para seus apartamentos. “O que você estava dizendo?”

“Eu só disse que ia passar o verão em Seul por causa do trabalho, nada demais.” Yoongi deu de ombros e olhou para seus pés. Eles caminhavam pela rua praticamente silenciosa observando seus arredores, às vezes trocando palavras enquanto se olhavam. Era uma sensação aconchegante, e Jimin começou a entender porque sentiria tanta falta de Yoongi quando estivesse em Busan. “Talvez eu pegue um tempo de férias e vá para Daegu, mas eu ainda não sei.”

A amizade que eles tinham era boa, e aquecia o coração de Jimin em todos os lugares certos. Yoongi fazia brincadeiras com ele como fazia com todos seus amigos, mas tinha um toque especial de ganhar um beijo no final de tudo e ter que ouvir os sons de vômito que geralmente Taehyung e Jungkook faziam. Yoongi era algo – no caso, alguém – que Jimin precisava havia muito tempo, mas nunca tinha se dado conta.

Yoongi deixou Jimin na porta de casa como fazia em todos os dias, desejou-o uma boa noite e foi embora. Quanto mais quente ficava, mais Jimin percebia como o tempo estava passando rápido, e mais ele se dava conta do quanto ele não queria que aquilo acontecesse porque significava que o término de seu falso namoro estava cada vez mais próximo de chegar. 

**

Quando chegou em Busan, a primeira coisa que Jimin fez não foi procurar seus pais para abraça-los o quanto antes. Na verdade, ele mandou uma mensagem para Yoongi dizendo que havia chegado bem e, surpreendentemente, recebeu uma resposta na hora. Um simples ‘que bom. Divirta-se’ que fez um sorriso descomunal se abrir em seu rosto. Quando seus pais o viram, não hesitaram em dar um forte abraço no rapaz e perguntar como andava a faculdade, os amigos, se tinha algum interesse romântico, e todo tipo de coisa que qualquer pai perguntaria ao seu filho depois de um longo tempo sem vê-lo. Jimin respondia a tudo com entusiasmo, contando das novas amizades que fez, da sua apresentação que quase deu errado, e fez uma longa pausa antes de falar de Yoongi.

Seus pais sabiam de sua orientação sexual, e, por mais que não entendessem completamente e ainda magoassem os sentimentos de Jimin sem a intenção de fazer aquilo, eles estavam dispostos a aprender e se tornar mais entendedores do assunto. Mas o problema não era exatamente aquele – Jimin não sabia se contava a verdade para seus pais, ou se falava de Yoongi como se ele fosse realmente seu namorado. Foram alguns segundos de silêncio até ele decidir começar a falar de um novo interesse romântico que havia conhecido tinha pouco tempo, e sua mãe não pensou duas vezes antes de falar que queria conhece-lo. O pai de Jimin concordou e perguntou se tinha como ele passar em Busan nas férias, mas o garoto simplesmente riu e disse que estava cedo demais para algo tão grande como conhecer os pais. 

Os dias foram passando, transformando-se em semanas e Jimin viu que estava completamente entediado e precisava fazer algo o mais rápido possível. Ele estava sempre falando com Yoongi, dizendo que sentia falta da vida agitada de Seul, das pessoas, e até mesmo sentia falta das noites que eles passavam conversando na cafeteria. Yoongi dizia que sua situação não estava muito melhor, contando como o movimento na cafeteria havia diminuído muito por conta das férias, mas que ele pelo menos tinha mais tempo para se apresentar como rapper junto com Namjoon. Yoongi gostava de silêncio e o zelava mais do que qualquer coisa no mundo, mas quando era só ele e Namjoon no apartamento, às vezes a barulheira de Hoseok fazia falta. Mas, segundo ele, nada fazia mais falta do que a comida de Seokjin. Nada.

Mesmo com seus dias sendo preenchidos por nada além de mensagens de Yoongi – o que era muito bom, Jimin pensava –, ele precisava de algo a mais. Jimin precisava sair, ver pessoas que não fossem seus pais ou familiares, mas não tinha mais contato com ninguém da escola. Ele até poderia chamar Junkook para sair, mas o garoto mais novo resolveu passar o início das férias em Daegu com Taehyung e só chegaria em Busan dentro de duas semanas.

Como tudo que precisava fazer era ver gente diferente, Jimin vestiu a primeira combinação de roupas decentes que ele viu e saiu de casa sem avisar para onde estava indo. Ele andou pelas ruas em que foi criado sem saber onde iria; passou de porta em porta, de loja em loja, parou em algum lugar qualquer para comprar sorvete e finalmente decidiu que iria ao cinema. Não sabia se tinha algum filme interessante em cartaz, mas sabia que estava disposto a pagar para fazer qualquer coisa que não fosse ficar em casa.

O filme que escolheu assistir, para sua infelicidade, tinha um protagonista que lembrava demais um certo falso namorado chamado Min Yoongi que andava assombrando os pensamentos de Jimin. Então, ao invés de focar na história a qual havia pagado para ver, Jimin passou quase duas horas sentado na cadeira do cinema pensando no homem que tinha ficado em Seul e em todas aquelas confusões que passavam por dentro de sua cabeça. Jimin respirou fundo e finalmente aceitou que talvez as pontadas no coração que sentia não eram só de luxúria, e toda vez que um deles quase ultrapassava os limites, ele queria mais era que o limite fosse à merda e queria ter Yoongi só para ele.

Isso era um problema enorme.

Jimin praticamente voou para fora do cinema quando o filme acabou, e não se importou se quase atropelou pelo menos meia dúzia de pessoas no caminho para casa. Ele sabia que não podia gostar de verdade de Yoongi, sabia que aquilo só traria problema, e agora ele estava acostumado demais com essa vida de falso namoro para querer acabar com tudo. 

Seus pais o perguntaram se ele estava passando mal, e com um sorriso no rosto ele negou e disse que só precisava passar um tempo sozinho para descansar. Tudo que se passava por sua cabeça era Yoongi, Yoongi, Yoongi, e Jimin só queria que aquilo parasse. Jimin só queria esquecer tudo que estava acontecendo e desistir de toda aquela baboseira de namoro falso, mas ele não queria perder a companhia de Yoongi quando voltasse para a faculdade no fim do verão. Parte dele dizia que devia desistir daquilo e seguir em frente, e outra parte dizia para continuar fazendo o que estava fazendo e deixar tudo acontecer naturalmente.

Aqueles pensamentos estavam deixando de poluir a mente de Jimin quando seu celular tocou alertando uma nova mensagem e tudo voltou como uma avalanche.

Min Yoongi: Você acredita que quando deu a hora que você geralmente chega aqui eu acabei preparando seu pedido de sempre sem querer??

Min Yoongi: Quando você volta pra Seul?

Jimin estava surpreso. Não porque Yoongi havia feito aquilo, não – mas porque ele tinha contado que tinha feito, o que era com certeza uma novidade. Jimin geralmente sabia das pequenas coisas que Yoongi fazia pensando nele quando não estava por perto através dos amigos de Yoongi, e nunca diretamente desse jeito. Aquilo o fez pensar se Namjoon havia pegado o celular do amigo para mandar a mensagem, mas Jimin também se lembrou que ninguém além do próprio Yoongi sabia a senha de seu celular. Então não, não havia sido um amigo dele. A decisão de enviar aquela mensagem havia sido completamente dele.

Jimin sorriu e respondeu a mensagem, ficando em uma troca incessante até finalmente pegar no sono.

Ele estava muito ferrado.

**

Faltava apenas um dia para Jungkook voltar para Busan e Jimin finalmente teria algum movimento em sua vida. Taehyung o acompanharia e era como se os céus tivessem ouvido as preces de Jimin, porque ele não queria nada além da companhia de seus amigos para se esquecer de toda a confusão que estava tomando conta de sua mente. Era daquilo que Jimin precisava: distração.

Enquanto ele não tinha seus amigos por perto, no entanto, ele fazia tudo que seus pais pediam. Jimin ia às compras, Jimin pagava contas no banco, Jimin até levava seus pais ao trabalho de manhã cedo, e logo depois caminhava na beira da praia. Era uma rotina calma que ele poderia até sentir falta depois que voltasse para Seul, mas no momento tudo que ele queria era a agitação de volta. Jimin precisava da rotina corrida, de todos os seus amigos por perto, Jimin precisava ter a certeza de que veria Yoongi no final do dia.

Jimin estava no mercado pela milésima vez naquela semana comprando algo que sua mãe havia pedido pelo telefone quando ele se lembrou porque nunca tinha sentido falta de Kihyun enquanto estava em Busan.

“Jimin?”

A voz quase fez Jimin derrubar os ovos que estava inspecionando para ver se valia a pena compra-los. Ele respirou fundo e pensou em todas as entonações que já tinha ouvido seu nome ser dito pela pessoa que estava atrás dele, e pensou em todas as situações que ouviu cada uma delas. Jimin colocou um sorriso forçado no rosto e se virou para trás levemente, segurando os ovos com as duas mãos com medo de uma delas vacilar e ele acabar derrubando tudo no meio do mercado.

“Kihyun.”

Ele estava diferente do que Jimin se lembrava – a última vez que se viram fora na festa que ele brigou com Yoongi – e tinha uma expressão muito mais leve no rosto. Claro que Jimin não sentiu falta de Kihyun enquanto estava em Busan: Kihyun era de Busan. Não só isso, mas ele também havia se esquecido de como o homem mais velho ficava diferente quando voltava para casa. Seu cabelo estava pintado de um tom castanho escuro e não estava estilizado como Jimin já havia se acostumado a ver em Seul. Era como se fosse um homem completamente diferente, e Jimin não conseguia se impedir de pensar no último verão, o qual tinha passado praticamente ao lado de Kihyun a todo momento que tivesse uma oportunidade.

“Busan não é uma cidade pequena, eu não esperava ver você por aqui.” Kihyun abriu um sorriso e Jimin sentiu toda sua compostura ir embora naquele mesmo instante. Foi por aquele homem que se apaixonou uma semana antes das férias de verão do ano anterior começarem, e a realidade daquilo resolveu socar seu estômago naquela hora. “O que você tem feito?”

“Compras para minha mãe.” Jimin mostrou os ovos que estavam em suas mãos e Kihyun riu, ele riu, e Jimin se deixou sorrir também. Bem que as pessoas diziam que um corte de cabelo – no caso uma cor – mudava alguém. Jimin esqueceu todo o desconforto que sentiu quando encontrou Kihyun em festas enquanto estava com Yoongi, dando lugar a algo que ele sentia na época que estavam juntos. Aquilo não era nada bom. “E você?”

“Eu não estou muito melhor que você.” Kihyun deu de ombros e mostrou as bananas que segurava em uma mão. “Cadê seu namorado? Como era o nome dele mesmo?”

“Yoongi hyung.” Jimin não conseguiu conter o sorriso que se abriu em seu rosto ao dizer o nome de seu suposto namorado, e ele decidiu que aquilo era definitivamente pior que a falta do desconforto perto de Kihyun. “Ele ficou em Seul para trabalhar, e se tirar férias vai para Daegu passar uns dias com os pais.”

“Entendi.” Kihyun balançou sua cabeça positivamente algumas vezes, olhou para os lados e depois voltou a encarar o garoto a sua frente. Jimin tinha ficado intimidado com a altura dele no começo, mas com o passar do tempo era como se a diferença de tamanho entre eles nem existisse. Era estranho pensar que ele ainda se sentia daquela forma mesmo depois de terminarem. “O que me diz de nós tomarmos um café depois daqui? Sem ressentimentos. Pelos velhos tempos, Jimin.”

Taehyung aprenderia a falar ‘não’ em todas as línguas que existissem no mundo se fosse necessário para convencer Jimin de que aquilo era uma má ideia. Jungkook o encararia por exatos quatro segundos e seria o suficiente para fazer com que Jimin entendesse que estava prestes a cometer o maior erro de sua vida. Mas como nenhum deles estava ali, e Jimin estava apavorado com seu cérebro tomado por Yoongi vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, ele assentiu e ainda sugeriu que eles parassem em sua casa para deixar as compras lá primeiro.

O segundo maior erro da vida de Jimin foi convidar Kihyun para entrar e beber uma água, afinal de contas o calor está de matar, não é mesmo? Ele sabia que estava cavando sua própria cova enquanto assistia a Kihyun tirar seus sapatos na porta de entrada e logo depois andar pelos cômodos como se fosse dono do lugar. Ele realmente havia passado um bom tempo na residência dos Park no verão passado, mas Jimin esperava que ele pelo menos fingisse que estava tímido por entrar lá depois de tanto tempo, e considerando tudo que aconteceu desde então.

“Sua água.”

Jimin entregou o copo e encarou Kihyun com um olhar inocente, piscando seus olhos o máximo possível para reforçar que não queria que nada inapropriado acontecesse ali. Mesmo assim, Kihyun suspirou, pegou o copo, colocou-o de lado e ainda segurando a mão de Jimin, puxou-o para mais perto a ponto de fazer com que seus corpos se tocassem. Na cozinha, o silêncio era ensurdecedor. Kihyun se aproximava lentamente, pela primeira vez parecendo incerto do que estava fazendo desde que tinha chegado ali. Jimin não devia fazer aquilo. Eles tinham terminado por algum motivo, e Taehyung repetiu milhões de vezes a frase ‘se ex fosse bom, não era ex’ até Jimin acreditar que era verdade, mas mesmo com todos aqueles motivos em sua cabeça sendo suficientes para ele parar o que estava fazendo ali mesmo, só teve uma coisa que fez com que seus braços empurrassem Kihyun lentamente para eles se afastarem.

Yoongi.

“Kihyun.” Jimin respirou fundo e aos poucos Kihyun foi se afastando dele naturalmente, sem precisar das mãos do mais novo o empurrando. Se antes o silêncio entre eles era ensurdecedor, agora tinha piorado um milhão de vezes mais. “Nós terminamos por algum motivo, certo? Você terminou comigo, se eu bem me lembro. Sem contar que eu tenho o Yoongi agora e–”

“Você ainda tem um coração enorme, Jimin.” Kihyun abriu um sorriso de canto e soltou a mão de Jimin, dando um passo para trás e finalmente pegando o copo que ele tinha colocado em cima da pia poucos momentos antes. “Desculpe. Você tem razão. Eu me deixei levar pelo momento e quase fiz besteira. Mas... Eu ainda queria sair para tomar café com você, pode ser? Eu prometo não invadir mais seu espaço pessoal.”

Jimin aceitou, mas dessa vez não foi como se ele estivesse cometendo o maior erro de sua vida. Kihyun transpareceu sinceridade, e era daquilo que Jimin precisava para aceitar o convite.

O dia correu sem problemas. Eles tomaram o café que tinham combinado, e Kihyun cumpriu com sua promessa. Quando voltou para casa, Jimin cumprimentou seus pais e ouviu atentamente as histórias que eles tinham para contar sobre seu dia, aproveitando o resto da noite para passarem alguns momentos juntos em família. Apesar de todas as ocorrências, havia sido um dia bom e um tanto quanto diferente dos outros dias que Jimin havia vivido desde que suas férias de verão haviam começado. Ainda antes de dormir, ele leu atentamente cada mensagem que Yoongi o mandou contando sobre um cliente que apareceu na cafeteria vestido como se estivesse enfrentando um inverno rigoroso e ainda pediu um chocolate quente.

Em meio a mensagens de boa noite, Jimin adormeceu com um sorriso no rosto.