História Link - A chegada dos novos "amigos"

Vivo num mundo, em que algumas crianças têm a felicidade – ou não – de nascer com algumas habilidades especiais. Essas crianças, são identificadas por uma marca em formato de lua, que aparece no seu braço esquerdo quando completam dez anos de idade.

Aos 17 anos, após terminarem os estudos, essas pessoas – que já não são mais crianças – praticamente se rebelam contra a vida e por isso, são destinadas a viver num local isolado, aprendendo a controlar seus poderes e aprendendo outras coisas interessantes, nas horas vagas.

Nem todos têm a mesma habilidade, uns conseguem controlar a luz, outros o fogo, outros o ar, alguns ficam invisíveis... e tem eu, que ganhei a marca na idade certa, mas até hoje eu não descobri qual é o meu dom.

Vivo nesse fim de mundo há dois anos, mas não acho ruim. Apesar de não ter poder nenhum para controlar, ninguém me deixa sair daqui e, pelo menos, eu aprendi a tocar alguns instrumentos, uso arco e flecha como ninguém – afinal, tive muito tempo para treinar – e o melhor, ninguém me vence numa luta com espadas.

Prazer, meu nome é Kim Taehyung e eu sou um ômega, sem poderes.

Acordei, ouvindo o som da chuva cair no telhado do meu quarto, estiquei o braço até o criado mudo e levantei o celular, apertando o botão central, para acender a tela.

– Argh – Praguejei quando vi que ainda eram cinco da manhã.

Virei de lado e coloquei um travesseiro sobre minha cabeça, afim de diminuir o som da chuva... sem sucesso.

– Mas que droga! – Chutei as cobertas e joguei o travesseiro na janela, não sei para quê. Levantei e fui em direção à sala, encontrando um Yoongi deitado no sofá.

– Não consegue dormir, Taehyung? – Ele estalou os dedos e desapareceu.

– Só vou conversar com você, se você parar com essa palhaçada de sumir toda hora. – Resmunguei.

 Continuei andando até à cozinha e quase caí, quando esbarrei naquela figura agora parada na porta da mesma.

– Cuidado, Tae. – Ele sorriu perverso.

– Yoongi, se você fizer isso mais uma vez, eu espeto uma flecha em você, quando estiver dormindo. – Apontei um dedo na cara dele.

– Acho difícil. – Ele retrucou. – Do jeito que o Hyungwon ronca, eu acho que não conseguirei dormir nunca mais. – Yoongi foi em direção ao armário e pegou duas barras de cereais, jogando uma delas em minha direção. – Você tem sorte por dormir sozinho.

– Sorte... – Dei um sorriso falso. – Estou preso aqui, não tenho poder nenhum para controlar, e ainda não posso sair daqui para fazer nada.

– Mas ainda dorme sozinho. – Ele completou, levantando as sobrancelhas. – Não tem ninguém aqui, que ainda não descobriu os poderes para dividir o quarto com você.

– O único bônus é esse. Durmo sozinho e não tem ninguém para roncar enquanto durmo. – Sorri vitorioso.

– Se eu pudesse, eu iria dormir com você.

– Bem capaz. Acha mesmo que eu ia deixar? Manda o Hyungwon desaparecer, aí você dorme.

– Por que você não conseguiu dormir? – O loiro perguntou, enquanto se levantava para jogar o papel da barrinha no lixo.

– Acordei com o barulho da chuva e não consegui dormir mais. – Cocei a nuca. – Estou com uma sensação de incômodo.

– Será que seu primeiro cio está chegando? – Yoongi perguntou preocupado.

– Espero que não. Não tenho pressa nenhuma para isso acontecer. – Torci o nariz. – Vou voltar pro quarto, quer ir comigo?

– Ah que bom que você me convidou. – O loiro sorriu e veio junto comigo.

Espiei pelos cantos para ver se não vinha alguém – normalmente não é permitido dormir fora do seu próprio quarto – abri a porta e entrei, sendo seguido pelo mais velho.

– Tem mais cobertores no armário. Pega alguns lá para você fazer uma cama improvisada.

Yoongi preparou um verdadeiro ninho ao lado da minha cama e se acomodou ali. Ficamos mais um tempo conversando, até que o outro dormiu e eu fiquei ali fitando o teto. De repente, alguém bateu na porta:

– Taehyung? Taehyung, você está aí? – Não reconheci a voz de quem era, pois, a chuva estava muito forte.

–   Yoongi? Yoongi, acorda. – Chutei o loiro que aparentemente tinha hibernado do meu lado.

– Aah que é? – Ele respondeu e bateu na minha perna.

– Se esconda. Tem alguém na porta. – Cochichei.

Com um salto, ele se pôs de pé, jogou sua cama improvisada sobre a minha e se escondeu do lado do armário.

– P-Pode abrir. – Gritei.

Namjoon abriu e porta e eu suspirei de alívio quando vi que era ele.

– Está tudo bem? – Ele perguntou desconfiado e abriu um pouco mais a porta, o que fez Yoongi estalar os dedos e desaparecer.

– S-Sim. Então? – Gesticulei para que ele falasse o que queria.

– O diretor está mandando todos levantarem, porque ele tem um aviso importante para dar e quer todos no refeitório em... – Ele olhou no relógio. – Exatamente meia hora.

– Aaaah meia hora? – Reclamei.

– Uhum. Acho melhor se apressar. – Ele já ia saindo e voltou.– Ah, Yoongi, eu consigo sentir seu cheiro.

– Ah que droga. – O loiro reapareceu e fez cara de emburrado, enquanto Namjoon fechava a porta.

– Min, você precisa controlar isso. Sua função, é ficar invisível e isso inclui disfarçar seu cheiro. – Joguei as cobertas para ele de volta. – Sem contar, que você precisa desaparecer, sem ter que estalar os dedos.

– Você acha que isso é fácil? – Ele me olhou de lado e com a cara fechada. – Faça você, então.

– Idiota. – Eu realmente ficava chateado quando alguém jogava na minha cara que eu não tinha poderes. – Vá pro seu quarto, imbecil.

– Tae, me desculpa.

– Sai logo.

– Taehyung, você precisa melhorar seu humor. Nossa cara, você ficar dando um de estressadinho com todo mundo, não vai te ajudar em nada. – Yoongi saiu do meu quarto e bateu a porta.

Tirei meu pijama e só coloquei uma roupa de moletom qualquer, afinal, em meia hora, eu não poderia fazer todas as minhas higienes matinais.

Cheguei no refeitório e dei de cara todo aquele pessoal que, além de estar com sono, praguejavam alguma coisa. Fui até a mesa principal, peguei um copo de vitamina e alguns biscoitos e me sentei no meu lugar de sempre.

Pouco tempo depois, Min Yoongi chegou junto com o Hyungwon, que coçava os olhos desesperadamente, em busca de se manter acordado; logo eles me viram e se sentaram comigo.

– Min, o que você estava fazendo no quarto do Taehyung? – Namjoon brotou atrás de mim, o que me deu um baita susto, e nos entregou algumas maçãs.

– Cala a boca, Nam. – O loiro reclamou. – Eu fui tentar dormir. Hyungwon ronca tanto, que me impede de ter uma noite sequer de sono.

– Bom dia, pessoal. – A voz do diretor soou alta atrás de nós. – Reuni todos vocês aqui e agora, para dar-lhes um recado importante. – Ele pigarreou. – Bem, como vocês sabem, sempre nascem crianças, que desenvolvem a marca depois dos dez anos de idade, porém, aconteceu algo inesperado por todos. Uma criança de cinco anos, ganhou sua marca há dois dias.

Todos no refeitório começaram a cochichar e nós nos entreolhamos calados.

– Contudo. – Ele continuou. – Nós achamos melhor, trazer para cá, essa criança, juntamente com as outras que já têm suas marcas e acolher as mesmas aqui.

– Mas e a escola? – Uma menina perguntou preocupada.

– Querida, nós já estamos em época de férias escolares. O ano letivo terminou semana passada. Então, assim como essas crianças chegarão hoje, nós teremos mais alunos chegando hoje também. Então se preparem.

– As crianças vão dormir junto com a gente? – Outra pessoa se manifestou.

– Não. Elas terão uma ala separada. – O diretor explicou. – Bem, agora, eu preciso sair, conto com vocês para se prepararem e estarem prontos para as boas vindas dos novos... amigos. – O mais velho saiu andando rápido e eu pude notar um tom de preocupação na sua voz.

– Crianças? – Perguntei, direcionando minha palavra aos meus amigos de mesa. – Pessoas novas, agora? Tem alguma coisa de errado aí. – Concluí, recebendo olhares nervosos dos hyungs.

**

Era rotina, toda vez que uma “turma” nova chegasse, nós fazíamos uma festa em volta da fogueira, com bastante comida e bebida para recebê-los, porém, hoje estava chovendo, então a festa seria no próprio refeitório.

Era cansativo, mas era divertido, nós preparávamos as comidas, os enfeites, vestíamos uma roupa legal e deixávamos tudo pronto para a hora das boas vindas.

**

Já eram quase 18:00 quando os carros chegaram com os novos alunos. Não sei o porquê, mas eu estava muito nervoso com isso, minhas mãos tremiam e suavam, eu nunca fiquei assim.

Aos poucos, as pessoas iam chegando, entrando no refeitório, e eu começava a balançar os pés, nervoso.

– Para com isso. Está me irritando. – Yoongi reclamou.

– Então sai de perto. – Respondi, frio.

Meu olhar percorreu sobre pessoas e travou num trio parado perto da porta. Um deles, tinha os cabelos rosados, lábios grossos, usava uma jaqueta de couro, uma calça preta rasgada no joelho e coturnos pretos. Ele era um... alfa.

Os dois garotos ao lado desse, tinha os fios do cabelo num tom de laranja e um sorriso enorme no rosto. O maior, usava uma camisa branca, uma calça preta e um nike branco, já o menor, tinha a roupa toda preta e usava um tênis vermelho. Eles não paravam de conversar, deduzi que fossem irmãos, e ambos eram... alfas.

– Não é possível. Já achei três alfas. – Cochichei com Yoongi, que não tirava os olhos do de cabelo rosa. – Apaixonou?

– Ele é muito cheiroso. – Min sussurrou e fechou os olhos, para inspirar mais fundo.

– Você é um ômega muito safado. Vai tirar todo o cheiro do cara, desse jeito. – Brinquei.

De repente, senti uma pontada forte na cabeça e me encolhi com a dor.

– Ah, mas que dr... – Minha fala simplesmente desapareceu, quando outro alfa passou pela porta. Esse tinha a pele branquinha, os cabelos negros caíam sobre a testa e ele usava um sobretudo preto muito elegante.

O alfa parou de andar por um tempo, e seus olhos se direcionaram a mim, instantaneamente. Senti outra pontada mais forte na cabeça, e levei a mão direita para o local.

– Aih...– Gemi.

– O que foi, Tae?

– Yoongi, eu não estou me sentindo b... – Dessa vez, minha fala se perdeu no meio do caminho.

Levantei de uma vez da cadeira, e minha vista escureceu. Só me lembro de ouvir o Yoongi berrando meu nome, antes de eu cair inconsciente no chão.