Abri os olhos devagar, por conta da dificuldade de fazer meus olhos se acostumarem com o ambiente.
Quando finalmente consegui enxergar direito, encontrei Min Yoongi escorado num sofá ao lado da minha cama.
– Yoongi? – Chamei baixinho, mas ele nem se mexeu e eu deduzi que estava dormindo.
Tirei os lençóis que me cobriam e forcei para levantar, sentindo uma dor forte na cabeça.
– Ai droga. – Reclamei e levei a mão esquerda um pouco acima da orelha, sentindo que ali havia um curativo grande.
– Não, não. – Min se levantou com rapidez do sofá e me fitou com os olhos vermelhos e inchados. – Você não pode se levantar.
– E por que não? – Franzi o cenho ao notar uma agulha espetada no dorso da minha mão, seguida por uma mangueirinha. Soro.
– Porque o senhor fez o favor de bater com a cabeça quando caiu, e agora, as enfermeiras disseram que você precisa ficar de repouso.
– Mas que frescura é essa? Eu estou no soro por que desmaiei?
– Não. Você está no soro porque já tem quase vinte e quatro horas que você está aqui.
– O QUE? – Alterei o tom de voz.
– É isso mesmo que você ouviu, Bela Adormecida. – Yoongi se afastou um pouco e pegou uma das maçãs que repousavam sobre a mesinha que ficava perto do sofá que ele dormia. – Afinal, o que houve?
Parei para pensar na pergunta do loiro e percebi que só me lembro das dores que senti quando... vi aquele alfa entrar no refeitório.
– Não sei. – Realmente eu não sabia o que havia acontecido, mas eu não ia nunca contar para o Min que me senti mal ao ver um alfa. Não mesmo.
– Sei... – Ele é esperto e ficou me encarando de um jeito duvidoso, mas desviou o olhar e foi na direção da porta.
– Onde você vai?
– Chamar uma enfermeira para te examinar. Não aguento mais ficar nesse lugar.
O mais velho saiu do quarto e deixou a porta entreaberta. Fiquei analisando meu estado ali naquela cama, com as mãos e braços roxos, por conta das tentativas falhas de encontrar alguma veia para aplicar o soro.
– Boa noite, Bela Adormecida.. – Namjoon entrou cantarolando no quarto, sendo seguido por Baekhyun.
– Mas que droga deu em vocês, para ficarem me chamando de Bela Adormecida? – Resmunguei.
– Olha, devo me defender, eu não falei nada disso. – Baek me olhava com um sorriso tímido.
– Ah, pelo menos você. Obrigado.
– E aí, Tae, já está sabendo da nova? – Namjoon juntou suas mãos na frente e mordeu o lábio, fitando o teto.
– Que nova?
– Bem... – Ele coçou a cabeça e nesse momento, seu celular tocou. – Me dê licença.
– Do que ele está falando, Baek?
– Nada, Tae. – O moreno se aproximou de mim muito rápido e passou suas mãos para o meu rosto. – Você está bem? O que aconteceu com você? Eu fiquei preocupado, mas Yoongi não me deixou ficar aqui. Sua cabeça está doendo?
– Huuum... – Me afastei dele, pois, a cada pergunta que fazia, ele se aproximava mais de mim e eu já estava sentindo o calor da sua boca. – Eu estou bem. Obrigado por se preocupar.
Baekhyun me agarrou num abraço forte e respirou fundo.
– Eu tive tanto medo, Tae. – Epa, o que está acontecendo? – Nossa, você...
– AI. – Berrei quando o mais velho passou a mão com força sobre a agulha que espetava a minha.
– Ah, me desculpe. – Ele levantou a minha canhota e depositou um selar sobre ela.
– Tá bom, Baek. Tudo bem. – Puxei minha mão de volta e levantei da cama, com o intuito de me afastar dele, porém, senti uma tontura e quase caí de novo... se não fosse pelo Baekhyun ali...
– Eu disse que você não podia se levantar. – Yoongi me xingou ao entrar na sala acompanhado por uma enfermeira loira.
– Calma, Min. – A mais velha se pronunciou. – Ele até pode se levantar, só não pode fazer esforço físico enquanto não comer direito. – Ela sorriu para mim. – Venha cá, deixe-me examinar você.
A loira faltou me revirar do avesso para ver se estava tudo ok, antes de me liberar.
Peguei minhas roupas e troquei aquela camisola ridícula que me obrigaram a usar. Dei uma ajeitada nos cabelos e saí do quarto.
– Até que enfim. Achei que você estava se vestindo para um desfile de moda. – Yoongi reclamou.
– Hyung, eu não mandei você ficar aí me esperando.
– Ingrato. – O loiro fechou a cara e me deu um tapa forte na cabeça.
– AI. Não está vendo que eu estou com curativo? Idiota.
Fomos andando em direção ao meu quarto e eu percebi que muitas pessoas me encaravam. De longe, pude ver algumas crianças brincando e também vi os alfas ruivos conversando com o de cabelo rosa.
– Aqueles três são uma delícia. Sinta o cheiro deles. – Min Yoongi mais uma vez, inspirou profundamente.
– Para com isso, hyung. Eles estão olhando para nós. – Tentei disfarçar e comecei a andar mais depressa.
– Você não pode fugir dos alfas, Taehyung. Não mais.
– Do que você está falando?
– Você vai ver.
Fui literalmente largado pelo loiro, que saiu correndo na direção dos alfas e me deixou ali plantado na porta da casa.
Continuei andando para o meu quarto, sentindo um cheiro forte, muito forte, porém muito bom.
Abri devagar a maçaneta, eu sentia uma presença ali dentro e eu fiquei nervoso, quando abri a porta, aquele mesmo cheiro me invadiu em cheio e eu quase cuspi fogo quando vi que o alfa causador do meu desmaio estava ali dentro.
– O que está acontecendo aqui? – Alterei o tom de voz.
– Oi para você também. – Ele esticou a mão, mas eu me recusei a segurá-la. – Bem, me mandaram ficar aqui, e foi o que eu fiz.
– Você está brincando comigo, não está?
– Nunca falei tão sério. Aliás, meu nome é Jungkook, Jeon Jungkook. E o seu?
– Pouco me importa quem você seja e não te interessa quem eu sou. Você não vai ficar aqui.
Saí do quarto bufando de raiva e fui até a sala do diretor, onde eu entrei sem pedir licença e já comecei a gritar.
– COMO QUE VOCÊ COLOCA UM ALFA NO MEU QUARTO?
– Taehyung... – O mais velho que parecia cansado, tirou os óculos e me fitou com um semblante preocupado. – Ele também não sabe quais são os poderes dele, nada mais justo que os dois dividam o quarto.
– UM ALFA?
– Tae, se acalme. Ele não vai fazer nada com você. Eu não vou deixar. – O diretor foi como um pai para mim depois que eu vim morar nessa prisão. Ele sempre me ouvia, me acalmava durante minhas crises de ansiedade, me dava bombons, me motivava e me protegia. Eu não podia fazer isso com ele...
– Olha... – Diminuí o tom de voz e fechei os olhos.– Ele vai ficar lá. Mas, se ele encostar um dedo em mim, eu mato ele.
– Tae, Namjoon nunca encostou um dedo em você, e ele é um alfa. – Não sei se mencionei, mas Namjoon era filho do diretor.
– Mas o Nam é diferente. Ele é como se fosse meu irmão.
– E ele é seu irmão. Tenho certeza que ele também não vai deixar nada acontecer com você. Dê uma chance ao Jungkook.
– Rum, Jungkook... nome ridículo. – Sussurrei. – Está bem. Mas você está avisado.
– Obrigado, filho. – O mais velho se levantou e me deu um abraço apertado. – Obrigado.
– Por nada.
Voltei para o meu quarto muito puto, mas decidi ignorar a criatura de cabelos negros que agora dormiria ali.
– Ah, você voltou. – Reformulando meu pensamento, tentar ignorar a criatura. – Então, conseguiu outro quarto para mim?
– Olha bem. – Levantei um dedo a apontei no rosto dele. – Você vai ficar aqui. Mas se tentar alguma gracinha, se achar que é meu amiguinho, se mexer nas minhas coisas, se tentar encostar em mim, você vai desejar nunca ter vindo para esse lugar. Eu posso ser um ômega, mas eu sou o ômega mais esperto desse lugar, e eu não pensarei duas vezes antes de cortar seu pescoço.
– Então você ameaça alfas? – Jungkook veio se aproximando de mim e me encarou profundamente com aqueles olhos negros.
– Sinta-se honrado, porque eu não sou muito de avisar. – Respondi à altura.
– Atrevidinho, você. – Ele se aproximou o bastante para que eu pudesse sentir o calor do seu corpo, porém, ele não encostou em mim.
– Você ainda não viu nada. – Comecei a andar de costas para me afastar, mas ele me seguiu.
– Nossa, você tem... – O moreno fechou os olhos e inspirou devagar.
Eu já estava ficando nervoso, então tirei minha faca da cintura e levantei ela de uma vez, o que fez o outro se assustar e afastar de mim.
– Não ousa a chegar perto de mim de novo. – Custei a pronunciar essas palavras. Confesso que o alfa me deixou sem reação e eu odiei isso.
Saí correndo do quarto para ficar num lugar sozinho.
– Ei, Tae. – Baekhyun apareceu e veio correndo na minha direção. – Você melhorou?
– Sim, obrigado.
– Você está bonito, hoje.
– Baek, estou com fome, vamos comer alguma coisa? – Tentei mudar de assunto.
– Ah vamos sim. Venha. – O moreno estendeu o braço para mim e nós fomos para a cozinha afim de preparar algo para comer.
**
Eram mais ou menos umas 17:00, quando o diretor avisou que queria todos reunidos no pátio principal, para uma pequena reunião.
Me sentei entre Min Yoongi e Baekhyun, que não me largava de jeito nenhum.
Corri os olhos para o lado e avistei Jungkook se sentando um pouco afastado de nós e logo que me viu, ficou me encarando.
Baek percebeu, e passou o braço por cima do meu ombro.
– Tae, se esse garoto fizer algo com você, me avisa, tá?
– Obrigado, mas eu sei me defender sozinho. – O mais velho franziu o cenho e tirou o braço de cima de mim, virando para a frente e fitando o diretor que se aproximava.
– Boa tarde, pessoal. – O mais velho começou. – Então, estou aqui para desejar boas-vindas aos novos moradores. Sejam bem-vindos e aproveitem ao máximo. – Todos bateram palmas. – Outra coisa, como chegaram muitas pessoas, nós vamos precisar que alguns de vocês se prontifiquem a ajudar alguém com as nossas atividades aqui.
– Eu me prontifico. – Yoongi levantou o braço e sorriu na direção dos ruivos e do rosado.
– Eu tenho vergonha de você. – Cochichei.
– Taehyung? – O diretor chamou minha atenção.
– Sim?
– Bem, como você tem muito mais tempo para treinar, e agora, o Jungkook também terá, eu quero que você o ensine tudo o que sabe.
– Você está brincando, né? – Que vontade de sair correndo dali.
– Não, Tae, eu não estou. – Ele sorriu de lado, me provocando.
– Tudo bem. – Forcei um sorriso muito falso. – Mas você sabe das minhas condições. Depois não diga que eu não avisei. – Levantei dali e saí andando para o meio das árvores. – Que raiva, que raiva, que raiva, QUE RAIVA. AARGH! – Eu comecei a gritar igual a um louco, quando tive certeza de que ninguém me ouviria.
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