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História Linked by Dreams - Inexplicavelmente


Escrita por: Matsu_Megurine

Notas do Autor


Finalmente terminei ♡
Eu demorei (muito *risca*) um pouco porque eu meio que mudei minhas ideias sobre o que ia rolar umas 300 vezes kkk
Obrigada por esperarem ♡ eu amo vocês e amei escrever essa fanfic *-*

Capítulo 3 - Inexplicavelmente


A música era a mesma de antes, mas apenas por um instante. Uma segunda melodia a substituiu e as duas se mesclaram, cada qual tentando tomar o controle. Havia uma espécie de interferência no ambiente, ele não conseguia decidir se estava claro demais ou sem luz alguma. Ele tinha a impressão de estar cercado de gente, mas eles não eram perceptíveis aos seus sentidos por tempo suficiente.

Mas o tempo todo ele estava de frente para a pista de patinação. E a única certeza que ele tinha era de que havia um significado naquilo.

Por um momento, tudo ficou mudo, e ele ouviu apenas o barulho de patins se movendo. Suas mãos se fecharam na beirada do rinque. O que estava acontecendo? Por que ele não podia ter mais certeza?Ele ficou lá parado, até perceber que a pessoa que patinava parara.

***

Viktor acordou com dor de cabeça e uma expressão de desgosto. Era o último dia antes do embate entre Yuuri é Yuri e ele ainda não fazia ideia do que faria para concertar o que fizera ao sugerí-lo. Ele tinha que dar um jeito de descobrir quem era aquela pessoa logo! Ou nada disso teria mais sentido.

- Viktor? Está acordado? – Ele ouviu a mãe de Yuuri perguntar num inglês cheio de sotaque, do outro lado da porta.

Ele olhou no relógio ao seu lado e viu que realmente perdera um pouco a hora. Mesmo assim, ele pôs um sorriso no rosto.

- Estou de pé. – Ele confirmou. – Desço num instante.

Ele se certificou de estar pronto rapidamente e foi encontrar os outros. Yurio parecia irritado, mexendo com a comida. Yuuri parecia ansioso. As mulheres cuidavam de manter um assunto fluindo, talvez tentando melhorar o astral dos garotos, talvez só os ignorando.

Viktor fixou o olhou nos dois jovens, um de cada vez. Yurio tentou ignorá-lo, parecendo concentrado em pensamentos, com as sobrancelhas apertadas. Yuuri levantou o olhar para ele, o rosto corando, mas então assentiu de leve. Ambos estavam, a seu modo determinados.

O dia de treinos se passou como os anteriores. Viktor corrigia pequenos movimentos, inclinações de cabeças, troncos e membros aqui e acolá, mas os dois estavam já com as respectivas coreografias bem firmadas em suas mentes.

O problema... Era a interpretação. Aos dois ainda faltava uma espécie de conexão com o que estavam fazendo. Eles sabiam os passos, mas pareciam estar pensando demais nele. Viktor não negava estar bastante desagradado com isso. Era sobre amor. Cada apresentação de uma forma, mas ainda assim só teria sentido se eles estivessem sentindo, se seus movimentos fossem mais instintivos que mecânicos.

Eles dois já haviam lhe contado suas motivações. Viktor não tinha o que opinar nesse quesito. Mas ao passo que Yurio ficava sempre meio frustrado em algum ponto e saía do clima Ágape com facilidade, Yuuri não conseguia passar a sua ideia de Eros para a plateia – no caso, Viktor – em absoluto! O japonês experimentava diferentes combinações de olhares e gestos, mas sua linguagem corporal estava insegura e desnorteada.

Viktor não conseguia parar de olhar para ele, meio torcendo para que ele conseguisse, mas já sem acreditar de verdade nisso. E, a cada vez que Yuuri tentava lançar para a arquibancada um falho sorriso sedutor, Viktor sentia o peito pesar.

Dias atrás, não, já quando ele assistiu o vídeo de Yuuri pela primeira vez, ele tinha certeza de que aquilo de que ele precisava estava naquele rapaz de cabelos negros. Agora, ele forçava sorrisos e deixava escapar provocações, ansioso pelo erro que cometera ao lhe atribuir Eros. Como sua intuição podia tê-lo traído daquela forma? Não fazia sentido...

E, de novo e de novo, ele lembrava do sonho que tivera. O desta noite, não aquele com o qual se acostumara por anos. Ele perdera a sua certeza, e nem sabia o que isso significava.

O dia de treino terminou antes mesmo que ele se desse conta. Ainda era o meio da tarde, mas ele não estava com cabeça mais para assistir aos dois. Ele preferia se agarrar à esperança de que iria se surpreender no dia seguinte.

E se, no fim das contas, ele estivesse dando atenção ao “yuri” errado? Yurio tinha um potencial enorme, e faria sentido pela personalidade dele que fosse ele a dançar Eros. E se seu sonho mudara porque ele lhe deu a música errada?

Ou ele podia estar profundamente errado. Seu grande amor poderia estar esperando por ele na Rússia, esperando que ele voltasse às competições. Ou, já que seu sonho original era em uma das etapas do Grand Prix, podia ser que eles não se conhecessem ainda.

Viktor estava confuso. Ele não sabia aonde aquilo iria dar, e a cada noite que se passava naquele novo, caótico e impreciso sonho ele acreditava mais que talvez nem viesse mais a descobrir sua alma gêmea.

Ele deveria nunca ter tentado apressar as coisas!

Já era noite agora. Ele comera alguma coisa que a senhora Katsuki preparara, mas nem lembrava o que tinha sido. Nada tinha importância.

Remoendo-se em pensamentos, ele pensou que já estava bem tarde e que Yuuri não voltara ainda...

Bem, tanto faz. Não importava mais.

***

Nada poderia importar mais!

Quando Viktor chegou ao rinque de patinação no dia seguinte, o lugar já estava cheio de gente. Tá, ele já sabia que muita gente tinha ido apenas por sua causa, já que a chegada do grande Viktor Nikiforov havia causado uma comoção e tanto. Mesmo assim, ele não esperava que fosse ter aquele nível de repercussão numa cidade tão pequena.

Viktor respirou fundo sentindo o coração acelerar a cada minuto que se passava, e um sorriso se estendeu por seu rosto, feito de uma ansiedade boa. Os últimos dias tinham sido voltados unicamente para que este acontecesse. Ele poderia se dar ao luxo de se empolgar um pouco, não podia?

Ele olhou ao redor. Yuri e Yuuri estavam cada um de um canto do rinque, sem cruzar os olhares, concentrados. Por um instante, Viktor se sentiu um pouco orgulhoso, pois afinal meio que os dois garotos estavam ali por causa dele.

E se...

E se ele parasse de pensar que esse negócio de almas gêmeas existia?

Certo, ele sabia que a pessoa a quem estava destinado estava no mundo da patinação. Ele sabia que ela existia, apesar de ele já não saber como se encontrariam.

Mas talvez ele pudesse... Não se preocupar com isso... Talvez?

Por um instante, Yuri sumiu por uma porta, para aparecer instantes depois trajando o figurino escolhido por ele. Viktor se perguntou qual seria a diferença daquela apresentação para todas as vezes que o vira patinar antes.

O loiro se posicionou no centro do gelo e a música lírica começou a tocar. Yuri Plisetsky era excepcional. Seus movimentos haviam se tornado delicados, mas não impassíveis ou descuidados. Ele executou lindamente cada um dos saltos, e quaisquer erros lá presentes certamente seriam ignorados pelas mentes dos telespectadores.

Mas, Viktor pensou, era isso. Nada além. Belo, sem dúvida. Um profissional, de fato. Mas o que ele vira na Stay Close To Me de Yuuri, aquilo que ele tanto ansiava, isso Yuri Plisetsky não possuía. Não havia dúvidas de que ele inspiraria muitas pessoas, que sua coreografia tocaria muitos corações.... Mas não o de Viktor. E Viktor soube que não era ele.

Então o erro dele não fora ao dar-lhe o Ágape. Ele fechou os olhos, não sabendo se isso o deveria deixar mais aliviado ou preocupado.

Conforme a sequência de Yuri terminava, ele avistou o outro rapaz. Yuuri estava nervoso, sem dúvidas, com a cabeça baixa parecendo murmurar algo para si mesmo. Viktor caminhou até ele assim que teve a chance.

- Yuuri. – Ele disse, pegando o outro um pouco de surpresa. – É a sua vez.

Yuuri levantou os olhos para os dele e por um momento eles pareceram tão, tão vastos, que Viktor se perguntou quantas emoções diferentes poderiam estar passando por eles. Yuuri tinha uma alma tão profunda, suas nuances acentuadas da melhor das formas, que Viktor não pôde deixar de pensar no porquê de ter escolhido revirar sua vida inteira por ele.

Então Yuuri avançou de uma vez e o abraçou. Viktor sentiu o rosto corar por instinto ao sentir os braços de Yuuri se fecharem ao seu redor e a cabeça dele encostar em seu ombro. Sua respiração parou.

Ele deixou que seus braços circundassem a cintura de Yuuri, um instante antes de o rapaz afastar o tronco para olhar em seus olhos.

- Eu vou ser um katsudon delicioso. – Yuuri disse. Viktor quase tinha esquecido que aquela era a representação do amor sensual escolhida por ele. – Então não tire os olhos de mim.

Viktor sorriu.

- Eu nem pensaria nisso.

Sem mais palavras, Yuuri se afastou dele e foi se posicionar no centro da pista de patinação.

E, então, foi tudo muito mais rápido do que Viktor queria que fosse.

Yuuri não hesitou em nada. Ele não errou os movimentos que normalmente o deixavam inseguro. Ele não ficou cansado, nem no fim do programa. Ele parecia atiçado por uma adrenalina que fazia seus movimentos parecerem brilharem.

E, o queixo de Viktor caiu com a constatação, Yuuri estava bastante sensual.

Viktor corou quando seus olhos se encontraram, e o olhar que Yuuri lhe deu foi tão intenso e significativo! Como se ele estivesse despindo Viktor, como se fosse um predador que estivera apenas se preparando para o bote, como se ele por fim tivesse plena consciência do estrago que aqueles olhos escuros fixos em Viktor faziam com a sanidade de um homem...

Viktor se sentia rendido.

Mas, repito, foi rápido demais.

Antes que ele se desse conta – e ele conhecia cada nota de In Regards Of Love: Eros – a plateia estava aplaudindo. Ele ficou lá por uns dois segundos, atônito. Yuuri estava arfante, mas logo um sorriso se desenhou em seu rosto, e só então Viktor descongelou de seu próprio deslumbramento. Então ele foi até a saída da pista de patinação.

Ele tinha a impressão de ter esquecido alguma coisa.

Mas ele não conseguiria desviar sua atenção de Yuuri. Seus olhos só conseguiam olhar para Yuuri, e seus braços queriam abraçar Yuuri, e estava óbvio quem é que ganhara o duelo de patinação entre os dois rapazes.

***

Viktor calçou os patins. Ele os usara há pouco tempo, afinal precisava deles para coreografar Eros e Ágape, porém havia um imenso sentimento de saudosismo na sensação dos patins de gelo envolvendo seus pés agora, enquanto ele entrava no rinque.

Ele percebeu que era porque essa era a primeira vez desde que saíra da Rússia que ele patinava por si mesmo. Em seguida, ficou surpreso por demorar tanto para perceber isso, e se repreendeu mentalmente.

Mas, de alguma forma, ele não sentia nenhum pesar por isso. Ele gostava de patinar, sim, mas não se arrependia de ter vindo até o Japão no papel de treinador. Não depois do show que presenciara hoje nas Termas On Ice.

“Yuuri...”

Ele ensaiou uns movimentos, uma mescla de coreografias suas com ideias que lhe vinham à cabeça. O lugar estava vazio, como Viktor sabia que estaria, e ele não se deu ao trabalho de ligar mais do que o suficiente de iluminação. A amiga de Yuuri – Yuko, não era? – tinha hesitado por um momento ou dois quanto a deixar ele usar o rinque sozinho tão tarde, mas, ei! Ele era Viktor Nikiforov.

Um salto duplo no ar. Viktor não se deu ao trabalho de refletir qual havia sido. Sua cabeça estava longe.

Não, ele não se arrependia nem um pouco de ter saído da Rússia. De ter encontrado Yuuri. No fim das contas, estar na função de mentor dele era algo com o que Viktor se identificou bem mais que o esperado.

Ser aquele a ajudar Yuuri a brilhar. Estar ao lado dele.

Ele respirou fundo e inclinou a coluna, dando um longo giro abaixado, para então trazer a perna para cima conforme ficava de pé outra vez.

De repente ele ouviu algo. Era um som simples de alguém batendo palmas, mas Viktor percebeu que estivera muito dentro de seu próprio mundo porque sua perna deslizou mais do que deveria, levando-o ao chão.

- Viktor!

Ele levantou a cabeça assim que ouviu a voz de Yuuri. Seu rosto ficou inteiramente vermelho pela queda vergonhosa, e não melhorou ao ver Yuuri correndo em direção ao rinque.

O rapaz entrou de uma só vez para tentar ajudá-lo... Mas ele não tinha calçado patins, então caiu de bumbum logo em seguida. Viktor olhou para ele com os olhos arregalados e então começou a rir. Yuuri ficou vermelho como um pimentão, ainda caído no gelo.

- Não foi isso que eu planejei quando te segui até aqui. – Ele disse.

Viktor parou de rir e levantou uma sobrancelha.

- Você.... Me seguiu? Pensei que a Yuko tivesse te roubado para uma celebração—

“Ah. Ela contou...”

Yuuri tentou se levantar, mas não conseguiu. Viktor deu um risinho consigo mesmo e deu um jeito de se pôr de pé de novo. Então estendeu a mão para Yuuri. Este aceitou, e o russo deu um impulso para cima de uma vez, segurando Yuuri entre seus braços para que não caísse de novo.

- Eu podia levantar sozinho... – Ele disse, em voz baixa.
Viktor passou a mão pelas costas dele até o estar segurando pela cintura. Ele deu um sorriso torto como resposta.

- Não é mais confortável assim? – Brincou.

Yuuri desviou os olhos, ainda com o rosto vermelho e os lábios pressionados juntos.

- É confortável. – Ele admitiu, e Viktor se surpreendeu. Não esperava ouvir Yuuri dizendo aquilo. – E... Combina com o que eu queria falar com você. 

O coração de Viktor acelerou, e ele podia sentir o de Yuuri fazer o mesmo. Ele estendeu seu sorriso de forma travessa.

- E o que seria que queria falar comigo?

Yuuri travou. Então ele passou os braços ao redor de Viktor também, apoiando a cabeça no peito dele. Viktor não podia ver seu rosto, mas sabia da ansiedade dele pelo ritmo da respiração que sentia rente a seu braço. 

- Eu fiquei feliz... – Ele começou. – Por ter ganho a competição. Porque isso quer dizer que você vai ficar aqui.

- Hmm. – Viktor concordou.

Yuuri pausou um instante antes de prosseguir.

- Eu sei que posso estar... Apressando as coisas falando isso agora...

Ele se interrompeu.

- ... Yuuri?

- Eu quero ficar com você. Eu quero ficar com você, e quero que você fique comigo. Viktor, eu—, eu me apaixonei por você.

A notícia atingiu Viktor como nada antes tinha feito. Seu coração acelerou a um nível absurdo, e suas pernas ficaram bambas, quase os levando ao chão outra vez. Ele olhou para Yuuri, ainda abraçado contra si. De alguma forma, parecia que tudo se encaixara. Não podia ser diferente, não era?

Yuuri lentamente virou o rosto para ele, ao que Viktor respondeu inclinando-o para cima com uma das mãos, em direção a um beijo.

Viktor não sabia de onde aquilo viera, mas ele tinha certeza de que estava apaixonado por Yuuri. Sem nenhuma falha, sem nenhum contratempo, sem nenhuma hesitação. Ele sentiu como se estivesse entrando em ebulição, mesmo com o frio do gelo ao redor, pela forma como Yuuri, na ponta dos pés, se encaixava perfeitamente a ele.

Nenhum dos dois queria quebrar o contato antes do necessário. E, para falar a verdade, quebrar o contato nem sequer parecia necessário! Então, mesmo quando suas bocas se afastaram, eles ficaram demorados minutos abraçados e olhando um para o outro. Com sorrisos bobos e olhos felizes.
Viktor se sentia repleto de uma felicidade pura. Estar apaixonado por Yuuri... Aquilo era incrível! E, ele pensou, era o que faltava para ele.

***

Viktor não voltou a sonhar.

Desde a noite que antecedeu a disputa de Yuuri e Yurio, ele nunca mais tivera um vislumbre que fosse de seu encontro com sua alma gêmea.

Ele não entendia direito o que tinha acontecido.

Na verdade, ele não entendia direito até hoje o que houvera sido aquele sonho. Fragmentado de um jeito que ele nem conseguia distinguir exatamente o que acontecia nele.

Ele se perguntou por muitos, muitos dias se aquilo significara que as escolhas que ele fez o tinham impedido completamente de encontrar aquela pessoa a quem ele estava destinado... Porque, afinal, a única pista concreta que ele tinha era o Grand Prix...

No entanto.... Ele não se importou de fato. Mesmo que não fosse a pessoa certa, mesmo que ele fosse se arrepender disso... Yuuri era importante. Ele não queria trocá-lo por nada, por nenhuma carreira, por nenhuma pessoa.

O amor de Yuuri, e reciprocar esse amor, era tudo o que ele podia querer. Viktor estava absolutamente feliz e ele não dava a mínima se nunca viria a saber quem era aquela pessoa, porque ele se sentia perfeito com Yuuri.

***

O Grand Prix de fato chegou mais rápido que os dois esperavam e, de repente, eles já estavam na China. Na própria Copa da China, pra falar a verdade. Tudo está a lindamente decorado no centro de patinação e todos ali estavam eufóricos com a competição.

Os olhos de Yuuri brilhavam enquanto ele entrava no centro, acompanhado por Viktor. O treinador passou uma mão pelos cabelos platinados, meio nervoso. Eles trocaram um olhar. Yuuri estava bem mais confiante do que estivera em seus campeonatos anteriores e ambos sabiam que isso se devia à presença de Viktor junto a ele.

A essa altura, já faziam alguns meses desde que Viktor se encontrara com aquele rapaz impressionante e que ele tinha orgulho de dizer que tomara o seu coração. Era bem estranho fazer uma viagem internacional rumando a uma etapa do Grand Prix estando em posição de treinador e não de patinador, mas sua consciência estava serena. Como sempre acontecia se estava com Yuuri, ele tinha a impressão de que era assim que era para as coisas serem.

Ele não precisava de uma carreira independente. Ele precisava ficar junto de Yuuri, mesmo que precisasse mudar seus planos profissionais.

Assim que eles entraram, porém, Viktor foi arrombado por uma sensação de dejà vu. Ele piscou duas vezes. Seu olhar mudava constantemente dos letreiros, para as arquibancadas, para a pista de gelo.

Em breve, Yuuri estava pronto. O figurino de Eros se encaixava lindamente em seu corpo e Viktor achava difícil acreditar que a roupa inicialmente houvera sido feita para uma pessoa diferente – no caso, ele mesmo. Os olhos de Viktor ainda estavam inquietos e Yuuri percebeu.

Já no gelo, a meros minutos de começar a apresentar seu programa curto, Yuuri prendeu seus olhos no homem por quem se apaixonara. Viktor percebeu o olhar dele e suavizou sua expressão, como que num pedido de desculpas. Foi quando Yuuri deslizou até ele e segurou sua mão. Apenas a parede divisória do rinque se punha entre eles.

Yuuri encostou as testas deles. E prendeu Viktor no escuro de seus olhos.

- Não tire nunca os seus olhos de mim.

Viktor só pôde assentir.

- Você vai arrasar. – Disse. – Agora você tem o que é preciso para Eros só em você mesmo não é?

- Uhum...

Houve uma pequena tensão, e Viktor desejou beijar Yuuri. Mas o rapaz já se afastara, e o próximo olhar que Viktor recebeu dele foi aquele olhar, profundamente sensual e cheio de uma confiança que parecia ser direcionada especificamente a Viktor. Porque ele tinha a confiança de que conseguia atingir Viktor com sua performance e, mais do que pontuar mais que os outros competidores, aquele era o seu objetivo. Quando Yuuri dançava para Viktor, não existiam outros competidores. Era um jogo só entre os dois, e já estava vencido.

Mas a sensação irritante de dejà vu pesava sobre Viktor. E, por um instante, ele desviou o olhar de Yuuri.

E uma sensação onírica tomou conta dele. A melodia instrumental entrava por seus ouvidos de forma hipnótica... Ele estava inclinado nas grades do rinque de patinação. Ao redor dele, uma plateia animada saudava Yuuri, que pisava no gelo naquele momento. E tudo...

... Meio que fez sentido, né?

Imediatamente seus olhos voltaram para Yuuri. Ele estava maravilhoso. O coração de Viktor perdeu o compasso e cobriu a boca com a mão, desestabilizado.

É ele.

É claro que é ele.

Como podia não ser ele?

E tudo o que ele queria agora era tomar Yuuri nos braços, e contar-lhe que o amor que sentia tinha proporções muito maiores do que ele suspeitara.

Yuuri era aquela pessoa. E, por um momento, nada fazia mais sentido que isso. E Viktor não precisava de absolutamente mais nada.

Yuuri terminou de dançar. Viktor aplaudiu. Todos aplaudiram. Eles olharam um para o outro com sorrisos enormes. Mas Viktor só queria encontrá-lo sozinho.

Ele conseguiu isso apenas de noite, quando voltaram ao hotel.

- Yuuri. – Viktor falou antes que Yuuri abrisse a porta de seu quarto. – Posso falar com você um minuto.

Yuuri olhou para ele preocupado.

- Ahn...

- N-Não há nada de errado! – Ele se corrigiu quando percebeu como soara. – Eu... Só quero poder ter um pouco de privacidade.

Ele levou a mão à nuca meio sem graça. Yuuri arregalou um pouco os olhos, então sorriu da forma mais doce.

- Entra então.

Ele abriu a porta do quarto e os dois entraram. Tão logo Yuuri fechou a porta, Viktor puxou-o para si e beijou seus lábios ardentemente. Yuuri ficou meio surpreso, mas logo retribuiu, entrelaçando as mãos atrás do pescoço de Viktor.

- Yuuri, eu te amo. Eu te amo, eu te amo mais que tudo.

Yuuri sorriu, meio corado e passou os dedos pelos fios platinados do mais velho.

- Era isso o que tinha pra falar? – Ele riu e beijou Viktor outra vez. – Bobo, eu já sei disso.

Viktor abanou a cabeça.

- Não, não é isso! Quer dizer, é isso sim! Aaahhh! – Ele segurou o rosto de Yuuri entre as palmas e lhe dirigiu um olhar suplicante. – Yuuri, é você! Nós... Estamos destinados um ao outro. Eu finalmente descobri que você é a pessoa certa. Desculpe se isso te assustar, eu sei que deve parecer estranho, mas eu precisava que você soubesse.

Yuuri olhou para ele, parecendo confuso por um instante. Depois deu um risinho que fez o rosto de Viktor esquentar de tão adorável.

- Eu já sei disso também. – Ele levou uma das mãos à face, pondo-se por cima da de Viktor. O coração de Viktor martelava alto.

- Você já sabe...? Que somos... Almas gêmeas?

Yuuri assentiu.

- Há quanto tempo acha que sou apaixonado por você? – Ele riu. – Já tem muito tempo que meus sonhos pararam.

“Que os sonhos pararam...”

Viktor arregalou os olhos. Ele se sentia estúpido por não ter entendido antes.

- ... Então faz tempo assim...? – Ele murmurou e abaixou as mãos, apenas para abraçar Yuuri logo em seguida.

- Vi-Viktor?! O que aconteceu? Será que... Você não sabia?

- Eu sinto muito! – Ele se desculpou de forma infantil, quase gritando. – Foi tudo tão... Confuso!

Yuuri afastou um pouco os rostos deles.

- Ei... – Ele lhe deu sua melhor versão de um olhar sedutor. – Isso não importa agora... Estamos juntos, não é?

Ele aproximou a boca do pescoço de Viktor respirando ali de forma que causou um arrepio delicioso ao outro. Yuuri esfregou a cintura contra a de Viktor de forma provocativa.

- Então, agora que já sabe que somos feitos um para o outro... – Ele beijou demoradamente o pescoço pálido de Viktor. – Que tal comemorarmos juntos o fato de eu ter ficado em primeiro hoje?

Se Viktor olhasse para o rosto de Yuuri, veria que ele estava completamente corado. Yuuri gostava de provocar Viktor, mas isso não queria dizer que ele não sentisse um pouco de vergonha de ser tão explícito.

- Eu adoraria. – Viktor respondeu, antes que outro intenso beijo começasse.

Peças de roupa eram retiradas numa mistura bem dosada de impaciência com provocação. Viktor não conseguia desviar o olhar do namorado, e Yuuri também se movia de forma a garantir que ele não faria isso. Tudo ocorreu de uma forma fluida e inebriante até que Viktor se visse na cama, com Yuuri retirando os óculos e se pondo por cima dele. Ele se inclinou para cima em busca dos lábios de Yuuri e ficou feliz ao sentir o calor de seus corpos juntos.

Mas, em meio àquela magia sob a qual Yuuri lhe deixava, ele conseguiu ainda formular um pensamento. Uma conclusão.

Ele mudara seu destino ao atribuir Eros para Yuuri naquele dia, sim, mas não porque aquela foi uma decisão errada. É que se as Termas On Ice não tivessem ocorrido, ele só viria a se apaixonar por Yuuri ali. Na Copa da China. Tal qual haviam seus sonhos lhe mostrado por anos e anos. Mas aquela decisão dele mudara tudo, ao fazê-lo se apaixonar antes.

Ele inclinou a cabeça para trás involuntariamente enquanto Yuuri passava a língua e os dentes por seu pescoço e seu peito. Um suspiro escapou de seus lábios, e outro dos de Yuuri, conforme seus corpos já unidos se moviam juntos.

- Yuuri... Nunca saia de perto de mim...

- Viktor—

O mais velho passou as pernas ao redor das do amado e mudou a posição deles, se pondo por cima. Ele sorriu para Yuuri e este lhe devolveu um sorriso torto, o rosto corado pelo calor do sexo e os cabelos suados espalhados pelo travesseiro.

“Tão lindo...” Viktor sonhou acordado, antes de ser puxado para mais um beijo. Ele abafou um gemido contra os lábios quentes de Yuuri quando este passou a movimentar os quadris mais rápido.

Ele se sentia pleno. Ele era amado, e não apenas isso, mas essa pessoa era aquela pessoa. Viktor sorriu tolamente gemendo o nome de Yuuri conforme eles dois chegavam ao clímax juntos. Ele ouviu Yuuri pronunciar o seu nome entrecortadamente e isso foi como música aos seus ouvidos. Cada palavra de afeto vinda de Yuuri era, na verdade, a melhor das melodias. Viktor mal podia conter a felicidade. Esse era o seu final feliz.

Ele abraçou Yuuri na cama assim que eles separaram os corpos, não querendo que houvesse distância entre eles. Yuuri deitou a cabeça no braço dele, olhando em seus olhos.

- Eu te amo. – Os lábios dele formaram.

Viktor sorriu e beijou o nariz dele. Yuuri sorriu e juntou a cabeça ao peito do amado, sentindo seu cheiro.

- Para sempre. – Viktor sussurrou.

- Ainda não entendo como não percebeu. – Yuuri comentou um momento depois. – Você não disse que tinha se apaixonado por mim naquele dia, em Hasetsu?

Viktor queria enterrar a cabeça num buraco de vergonha. Ao invés, ele a enterrou nos cabelos de Yuuri. Ele contou, de forma abafada, sobre o sonho caótico que tivera por último.

- ... Então eu não sabia o que isso significava quando tudo parou.

Yuuri levantou o rosto, olhando nos olhos dele.

- Deve ser – ele respondeu, quando a ideia lhe ocorreu – porque você não... Se apaixonou de uma vez só.

- ... Não sei se entendi.

- Bem, é um sentimento complexo, né? Então você pode ter compreendido ele em partes. – Ele riu consigo mesmo. – Isso faz sentido?

- Estar com você faz sentido.

Yuuri abraçou ele mais forte.

- Viktor idiota... – Brincou.

- ... Mas e você? – Ele perguntou por fim. – Não foi um “sentimento complexo” pra você?

Yuuri pensou um pouco e respondeu sem olhar para ele. Viktor sabia que era porque ele estava com o rosto vermelho demais para ter coragem de se mostrar.

- Eu acho que eu sempre soube. Então, quando eu finalmente tive o estalo... Foi só como se a última peça tivesse se encaixado.

Viktor beijou o topo da cabeça dele. Então puxou seu rosto para cima para beijar sua boca. Apenas um selo delicado, mas cheio de sentimento. Um sentimento puro, concreto e imutável.

- Eu te amo, Yuuri. E nunca tirarei meus olhos de você.

Yuuri sorriu de forma reluzente.

- E eu vou sempre garantir que nunca precise fazer isso. – Ele o beijou de novo, então disse em russo. – Eu te amo, Vitya.

O coração de Viktor mal se aguentava no lugar, então ele se pôs outra vez sobre Yuuri.

- Vou sempre ser seu.

Yuuri circundam com os braços as costas dele, trazendo seu corpo nu novamente para junto do seu.

- Bem – ele disse, entrelaçando as pernas nas de Viktor – foi você quem roubou meu coração primeiro...

Viktor abaixou-se para beijá-lo profundamente, as línguas se entrelaçando e provando de cada deliciosa sensação que o outro pudesse lhe provir. Viktor sentia seu corpo inteiro em contato com o de Yuuri, e o menor remexer da pélvis dele fez um arrepio de prazer atravessar sua espinha e o calor novamente tomar conta dele.

“Ah, Yuuri... Você não faz ideia...”


Notas Finais


É isso, gente ♡ obrigada por lerem, e agradeço muito se comentarem, favoritarem, etc XD


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