História Lion Heart - Interativa - O bom filho à casa torna

Você nunca saiu daqui, na verdade. A frase do homem retumbou tão forte na mente do garoto, quanto o abraço que o esmagava. Eren tentou conter as lágrimas que chegavam a seus olhos, mas não conseguiu, e no instante seguinte elas já rolavam sobre a pele alva de seu rosto. As palavras bateram forte em seu coração, e no fundo, ele sabia que eram verdadeiras. De fato, deixara a Lion Heart há alguns anos, mas nunca abandonara os valores passados por Richard, tão pouco apagara da memória as lembranças que tinha com o mestre, e com os poucos membros que compunham a guilda antes de sua partida.

Com um rangido das dobradiças de metal, o portão atrás dos dois se abriu, revelando para Eren o pequeno jardim que ficava entre o muro e o prédio da guilda. Um caminho feito de pedras ia do portão até uma pequena escadaria, que dava na porta da guilda.

E ali, parada, outra figura familiar. Uma garota de pele morena e corpo voluptuoso se apoiava no batente da porta, as mãos estavam escondidas atrás das costas, e um sorriso brincalhão desenhava seu rosto.

-Eren-san! – A garota gritou, e, sem esperar resposta do recém-chegado, desatou a correr em sua direção, e o abraçou com tanta força que o fez perder o equilíbrio e cair ao chão.

Por um instante, Eren não teve reação, seus olhos se arregalaram enquanto sua mente trabalhava para discernir o que acabara de acontecer. No chão, Eren olhava a garota nos olhos, uma mistura de surpresa e confusão tomava conta de seu rosto. Após alguns segundos de silêncio, um sorriso se desenhou em sua face, seguido por uma risada.

-Sophie?! – Eren perguntou, em sua voz, a mesma mistura de surpresa e confusão. Lentamente, Eren se sentou, e com delicadeza, tirou a garota de cima de si. – Ual, você… você mudou.

E realmente tinha mudado. Seus olhos cor de âmbar possuíam o mesmo brilho de cinco anos atrás, quando Eren deixou a guilda. Seu corpo já não era mais o mesmo da menina de doze anos – Como Eren se lembrava –, estava crescida, suas curvas agora eram bem definidas, um tanto quanto sensuais de mais, evidenciadas pela roupa de corsária que usava. Um corselete negro com detalhes dourados apertava-lhe o torso, por cima de uma camisa tomara que caia branca com mangas, vestia uma calça preta e botas da mesma cor. Não usava chapéu, e seu cabelo roxo estava preso em um rabo de cavalo.

Sophie sentiu suas bochechas corarem, e com um pulo, levantou-se. Estendeu a mão para ajudar Eren a se erguer.

-Senti sua falta, não te vejo há tanto tempo – Sophie exclamou, abraçando Eren novamente, tomando cuidado para não derrubá-lo desta vez.

-Eu também senti sua falta, Sophie – Eren falou, aproveitando o abraço, ele realmente sentira sua falta. – Mas agora estou de volta, e nunca mais irei embora.

Ambos sorriram e soltaram o abraço.

-Venha, Eren, vamos conhecer seus novos companheiros – Richard finalmente disse algo, colocando a mão no ombro direito do garoto.

-Certo – Eren respondeu.

Os três entraram na guilda, e novamente, Eren se surpreendeu com as mudanças que o tempo fizera. O salão principal mudara e muito, como tudo ali parecia ter mudado. A última lembrança que Eren tinha do lugar, era a de um salão humilde, menor, com poucas bebidas expostas atrás do balcão, e pouquíssimas mesas. Agora o salão era enorme, com um balcão que ocupava toda a extensão da parede oposta à porta, atrás do mesmo, inúmeras garrafas, dos mais derivados tipos de bebidas estavam postas sobre uma grande estante.

Ao observar a guilda, Eren pode ver outra mudança, o número de membros. Quando deixara a Lion Heart, podia contar nos dedos de uma mão todos os seus companheiros. Agora, o número passava da casa dos vinte. Tudo mudara, e ele não estava lá para aproveitar as mudanças da guilda, não estava lá para ajudar o homem que o criou como a um filho. Os pensamentos invadiram sua mente, e o deixaram um tanto quanto triste.

Eren soltou um suspiro, deixando a tristeza transparecer um pouco. Instintivamente, Richard colocou a mão em seu ombro.

-Está tudo bem, garoto. – Perguntou o mestre.

-Está sim, só me lembrei de algumas coisas, mas está tudo certo, Rick – Eren respondeu, dando um sorriso forçado para o homem. Este, por sua vez, apenas assentiu, pois sabia o que se passava na mente do garoto.

Com um assovio, o mestre chamou a atenção de todos no salão, que o olharam.

-Leões! – Exclamou. – É com grande felicidade que lhes anuncio o retorno de um dos nossos mais antigos leões, que após um longo período retornou para casa, de onde nunca saiu verdadeiramente. Então, peço que deem as boas vindas para Eren, meu filho!

Ao terminar a frase, ergueu a mão esquerda do garoto, que foi recebido por todos, com palmas exaltadas, batidas de canecas e assovios. Todos sabiam o quanto Richard ansiava por este dia, e comemoraram tanto por ver o desejo de seu mestre realizado, quanto pela chegada de um novo companheiro.

Eren agradeceu a recepção, e depois que a comemoração cessou, disse:

-Cerveja por minha conta, para todos!

E com isto, a alegria retomou a conta do local, as palmas voltaram mais fortes e mais exaltadas, mais canecas foram batidas contra as mesas, entre todos os outros tipos de comemoração que se espera de pessoas levemente embriagadas.

A passos rápidos, Sophie andou até o bar, onde começou a encher e entregar canecas para aqueles que pediam. Eren a seguiu, e sentou-se em uma das cadeiras altas que ficavam dispostas na frente do balcão.

-Então você virou a balconista – Eren falou, sorrindo, enquanto recebia uma caneca dada pela garota. Deu uma gargalhada. – Era de se esperar, você sempre foi chegada em umas biritas.

Sophie riu, enquanto saia de trás do balcão, com uma bandeja nas mãos, com canecas cheias de cerveja.

Eren sorriu ao ver a guilda cheia, aquele era mesmo o sonho de Richard, e finalmente tornara-se realidade. Levou a caneca até os lábios e provou a cerveja, era deliciosa. Bebeu o líquido em pequenos goles, aproveitando todo o sabor da bebida, até que ouvir alguém se sentar na cadeira ao seu lado.

Virou-se para ver quem era e se deparou com uma bela garota, dona de cabelos brancos, que caiam até além de sua cintura, formando belos cachos naturais. Uma franja bagunçada lhe emoldurava o rosto de traços finos. Possuía um lindo corpo, com curvas fartas e sedutoras, e tinha a pele alva. Mas, a despeito de toda sua beleza corpórea, o que mais chamou a atenção do garoto foram seus olhos, verdes como jade, porém, não era apenas a cor de suas íris que os faziam tão belos e interessantes, mas sim, uma curiosa luz no lugar de suas pupilas. E com tais olhos, a garota o encarava, ou era isso que parecia aos olhos de Eren.

Trajava uma blusa de moletom, preta, saia jeans e tênis de cano alto branco.

-Ahn… olá – Eren falou, um tanto quanto desconfortável.

-Então foi você – A garota falou, pensativa, ignorando o cumprimento do garoto, que ficou mais confuso ainda.

-O que? – Eren perguntou, sem entender nada do que estava acontecendo.

-A presença de magia que eu senti mais cedo, na cidade – Explicou-se, só então percebendo que estava deixando o garoto desconfortável. – Ah, céus, me perdoe, não queria te assustar. Meu nome é Cateline Legrand, bem-vindo à guilda.

Ao entender o que estava acontecendo, Eren soltou uma risada alta.

-Não me assustou, só… tente não ficar encarando as pessoas – Falou, sorrindo, enquanto Cateline soltava um risinho – Meu nome é Eren, Eren Tsuki.

Ao dizer isso, estendeu a mão, mas novamente, teve o cumprimento ignorado pela garota. Deu um sorriso falso e passou a mão no ombro esquerdo, fingindo que nada acontecera. Suspirou.

-Bom, acho que vou dar uma passeada por aí, ainda tenho que carimbar minha marca, foi bom te conhecer – Eren falou, se levantando. Terminou de beber a cerveja que estava na caneca e se virou.

-Tudo bem, também foi bom te conhecer – Cateline falou, sorrindo.

Antes de sair andando, virou-se para a garota e se permitiu um elogio:

-Belos olhos.

Cat olhou para baixo, deu um sorriso e agradeceu. Continuou ali, parada por alguns instantes.

Enquanto saia à procura de Richard, Eren tentava entender o que acontecera. Cateline o tratara até que de certa forma, bem, se desculpara por deixá-lo desconfortável, rira de suas piadas, mas por que o ignorara? O que era aquela estranha luz em suas pupilas? Ele ainda descobriria isso, de um jeito ou de outro.

Um garoto loiro e alto se aproximou de Cateline, sentando na cadeira em que Eren estava.

-Era ele? Aquela presença gigante que você sentiu na cidade – O loiro perguntou, seus olhos cinzas caíram sobre a garota. Trajava uma camiseta amarela surrada, calça verde-oliva, e um tênis preto.

-Sim, era ele – Cateline respondeu.

-Não contou para ele né?

-Vou esperar mais um pouco, ver se ele merece minha confiança, só então contarei, foi assim com você, Yoki.

-Sim, mas ele é praticamente filho do mestre, merece um voto de confiança.

-Talvez, mas por algum motivo ele abandonou a guilda, talvez não mereça tanta confiança assim – A garota respondeu, pondo fim ao assunto.

Yoki deu de ombros. Talvez o garoto não fosse tão confiável quanto Richard pensava. Pegou duas canecas com Sophie, que passava perto dos dois.

-Quer beber? – Perguntou para a garota.

-Não, obrigada – Cat respondeu.

Os dois continuaram ali, conversando sobre vários assuntos.

Eren subiu um lance de escadas, que levava até o segundo andar, onde ficava o escritório de Richard. Caminhou até a porta e bateu na madeira.

-Entre – Richard falou lá de dentro.

O garoto abriu a porta e se deparou com a única coisa na guilda que não mudara, o escritório de seu mestre. A mesma mesa de madeira maciça no centro da sala, o mesmo sofá, a mesma bagunça, tudo igual, como se tivesse parado no tempo.

-Como foi conhecer seus novos companheiros? – Richard perguntou, sentado numa cadeira confortável, atrás da mesa. Seus longos cabelos castanhos, que lembravam em muito a juba de um leão, caiam por sobre seus ombros.

-Não conheci todos, mas alguns parecem… interessantes – Falou, escondendo o acontecido com Cateline. Algo que Richard percebeu em sua voz.

-Com o tempo você ganha a confiança deles. Devem estar desconfiados pelo seu retorno – Richard falou – Mas, enfim, o que lhe traz aqui?

-Vim receber minha marca novamente.

Richard riu, deixando Eren sem entender o que se passava.

-Olhe no seu peito, garoto - Rick falou, simplesmente.

Eren desabotoou a camisa vermelha que usava e olhou seu peito, ao lado esquerdo, na cor vermelha, a marca da cabeça do leão era desenhada magicamente sobre sua pele.

-Voilà – Richard falou com um sorriso.

Eren abotoou a camisa e sorriu.

-É bom estar de volta – Falou, por fim.