1. Spirit Fanfics >
  2. Lion Heart - Interativa >
  3. O homem nas sombras

História Lion Heart - Interativa - O homem nas sombras


Escrita por: SrDimovci e Jaydeen_Baumler

Notas do Autor


Bom, pessoal, sei que demorei pra postar, mas acho que a demora valeu a pena, afinal, são quase cinco mil palavras para vocês se deliciarem kkkkk
Mas já vou avisando NÃO SE ACOSTUMEM COM ISSO! Por favor, não pensem que eu sempre trarei capítulos tão grandes, ok?
Já ia me esquecendo, a fic agora tem um co-autor, meu amigo Jaydeen_Baumler, e com isso, a fic só tende a melhorar, ele vai me ajudar no processo criativo dos personagens, e vai escrever alguns capítulos de vez em quando.

Capítulo 4 - O homem nas sombras


 Foi um massacre.

Jug-Eum possuía habilidades impressionantes, habilidades as quais nem mesmo o mais bem treinado dos soldados poderia sobrepujar. Em questão de poucos segundos, os dois guardas jaziam aos pés da mulher. Um tivera o peito perfurado pelo tridente, com uma das lâminas atravessando seu coração, enquanto o outro, morrera decapitado pela própria arma, tomada de suas mãos por sua assassina.

-Idiotas – A maga falou enquanto pegava o tridente de volta, tendo que pisar no corpo do guarda para poder retirar a arma.

Algumas pessoas poderiam julgá-la por ter assassinado os guardas, mas ela não se importava. Para uma pessoa como Jug-Eum, a morte é algo recorrente, com o qual se pode conviver. Mesmo com tais pensamentos, dignos de uma maga negra, apenas matava quando necessário, sem contar que os guardas tentaram atacá-la. Enquanto refazia o caminho de volta ao casarão, pensou em quantas mulheres sofreram nas mãos daqueles dois, quantas ela livrara do sofrimento ao matá-los. Eis um bom motivo, pensou.

Voltou à camuflagem das trevas, para evitar confusões caso encontrasse outros guardas no caminho.

Chegando na clareira, a encontrou como deixara, vazia. O casarão estava ainda mais macabro, a pressão de magia pesava, a deixava desconfortável, certamente havia algo ali, algo sinistro, mas incapaz de amedrontá-la. Deixando sua cobertura em meio às sombras, avançou a passos rápidos contra a casa, mantendo-se sempre alerta, para qualquer tipo de ataque. Galgou as escadas que levavam à porta e girou a maçaneta.

Trancada.

Forçou a madeira, mas nada aconteceu.

Parou para pensar. Desceu as escadas novamente e observou a fachada do lugar, as janelas quebradas eram uma entrada bem mais fácil, convidativas, até certo ponto. Não sabia com o que encontraria dentro dos quartos, mas invadir por ali, sem fazer alarde, era algo muito mais inteligente do que arrombar a porta, nestas circunstancias o silêncio noturno se fazia um grande inimigo, qualquer ruído, por mais baixo que fosse, seria ouvido por tudo aquilo que havia dentro do casarão, comprometendo completamente a investigação.

Optou por invadir por uma das janelas. Sua pele ficou negra, e em instantes, seu corpo se tornou um com sua própria sombra, a mesma habilidade empregada para se esconder em meio à escuridão da floresta. Com uma velocidade incrível, subiu pela parede da casa e entrou por uma das janelas quebradas.

Dentro do quarto, nada encontrou, apenas uma cama vazia, com as cobertas bagunçadas, o que indicava que alguém que estava ali, fora tirado às pressas de seu leito. O lugar era iluminado apenas pela parca luz da lua, que naquela noite se escondera em meio às nuvens. Deixou as sombras e voltou à forma física. Andou até a porta, não ouvia nada vindo do corredor. Testou a maçaneta novamente. Desta vez, a porta se abriu com um rangido baixo. Abriu-a lentamente, e espiou o corredor.

Vazio.

O caminho era iluminado apenas por algumas velas, postas em intervalos regulares, entre cada duas portas, de ambos os lados do corredor. A meia luz do ambiente a ajudava, e com cautela, andou para a esquerda. Em carta parte, poucos metros à frente do quarto de onde saíra, a parede oposta a ela dava lugar a um parapeito feito de mármore com vista para o andar de baixo. Do outro lado, pode ver uma escadaria dupla, que levava ao andar onde estava. Se apoiou no parapeito para obter uma visão melhor do térreo. Novamente, o lugar estava vazio, e também não apresentava sinal de vida.

Voltando à forma de sombra, se moveu com total facilidade através das paredes e rapidamente chegou ao andar inferior. Escondida em um canto escuro, entre o teto e a parede, observou o local de novo, aparentemente vazio. Optou por continuar nas sombras, a luminosidade ainda mais fraca a ajudava.

O cômodo onde estava era grande, um tipo de sala de entrada. As paredes laterais se abriam em dois corredores, mais largos que os do andar superior. Jug-Eum fitou as entradas, ambas imersas na escuridão, aparentemente inofensivas. Ficou algum tempo parada, havia algo naquela casa, ela podia sentir, mas não sabia onde estava, ou o que era. Se concentrou na pressão mágica, muito mais esmagadora dentro do casarão. Quanto mais se concentrava, mais podia sentir de onde emanava a energia, e finalmente descobriu. A energia vinha de algum lugar no subsolo da casa, em algum lugar abaixo dela, mas ainda assim, não sabia como ir até ela.

Decidiu procurar uma entrada para o porão, ou o que quer que houvesse ali. Entrou no corredor à direita, que dava numa sala de estar, desta vez, mobiliada, porém, sem sinal de vida. Não se ateve ao cômodo, continuou rastejando pelas sombras.

Após passar por uma sala de jantar e pela cozinha, desistiu de procurar por ali, e refez o caminho até chegar na sala de entrada.

Passou novamente pela sala de estar, onde estivera a pouco, mas desta vez, algo a surpreendeu. O ambiente, antes escuro, agora estava iluminado pelas chamas da lareira, encostada na parede. Sentado em uma poltrona, ao lado do fogo, um homem encarava o canto onde Jug-Eum estava.

-Está perdida, por algum acaso? – Ironizou o homem, ainda fitando o canto onde estava, sem olhar diretamente para ela. Sua pele era negra, não negra como as pessoas de pele escura apenas, mas negra como piche, como as sombras. Em sua cabeça não havia um único fio de cabelo, e seus olhos eram totalmente brancos, sem íris, sem pupila, como duas grandes estrelas no céu noturno.

Jug-Eum não respondeu, pensando que poderia passar despercebida, estava completamente envolta pelas sombras, não tinha como ele ter total certeza de que havia alguém ali.

O que se sucedeu foi algo que nunca passara por sua mente. Desde sempre, desde quando começara a lutar, a usar magia, as trevas eram seu lar, a abraçavam e a protegiam, eram sua fortaleza, seu porto seguro. Em meio às sombras, não havia pessoa alguma que a acertasse, era praticamente invencível quando envolta pela escuridão. Mas aquele homem era diferente, ela podia perceber pelo simples fato de tê-la visto, coisa que ninguém seria capaz de fazer, somente magos muito fortes com grande controle sobre as sombras. E este homem se provou muito mais do que alguém forte no controle das trevas.

Ainda sentado em sua poltrona, esticou a mão em sua direção. O braço se estendeu como um tentáculo negro. A mão agarrou seu pescoço, e com um puxão, o homem a arrancou de seu esconderijo, fazendo-a deixar sua forma de sombras, e cair com muita força no chão, em sua forma física.

Sem nenhum machucado, Jug-Eum se ergueu do chão, uma massa de escuridão escondia seu rosto e sua coxa esquerda, onde trazia a marca da Lion Heart. Em seu rosto, apenas a surpresa e a confusão. Aquilo nunca acontecera, era algo que nem mesmo imaginava ser possível acontecer.

-Ora, o que aconteceu? O gato comeu sua língua? – O homem se levantou da poltrona. Em seu rosto negro, um sorriso malicioso se desenhou de forma macabra, revelando dentes brancos.

-Quem é você? – A mulher perguntou, as sombras formando o tridente em suas mãos novamente. Agora apenas a confusão figurava seu rosto.

-Seu pior pesadelo, querida – Falou, a malícia e o sadismo escorrendo pelos lábios. – O verdadeiro mestre das sombras.

Não deu tempo de resposta a Jug-Eum. Pulou em sua direção, o punho cerrado, em questão de pouquíssimos segundos transpôs o espaço entre os dois, como uma fera atacando sua presa. A mulher tentou se defender, erguendo o tridente, mirando o peito do homem. As três pontas tocaram a pele negra de seu agressor.

Nada.

Nada aconteceu. O metal apenas passou direto pelo corpo, saindo do outro lado, era como se tentasse cortar uma sombra, sem corpo físico, sem matéria, apenas uma massa negra de escuridão, que se assemelhava a um estranho tipo de fumaça, condensada na forma do corpo de um homem. Atônita, desnorteada pela surpresa não conseguiu se defender do soco, este sim, físico.

O impacto fortíssimo a atirou ao chão, de costas. Jug-Eum ficou algum tempo estirada, até se recuperar da surpresa. Ergueu-se como um gato, o tridente a postos, mas não havia mais nenhum sinal do homem ali. Olhou para o chão, entre seus pés, bem na sua frente, uma forma negra surgira. Por puro instinto, a mulher pulou para trás, quando uma mão negra saía de dentro da sombra sob seus pés, tomando a forma do homem, que buscava acertar-lhe por baixo.

Seus movimentos possuíam uma velocidade fora do normal, fora do normal até mesmo para um mago. Mas ele não era o único com tais habilidades, ela também possuía habilidades incomuns, e agora que superara a surpresa, poderia revidar.

O corpo do homem se formou novamente, cara a cara com ela.

Sabia que não poderia continuar se segurando, caso o fizesse, poderia retardar o final da luta, poderia tornar o combate muito mais longo do que provavelmente seria. Chamas azuis chisparam em suas mãos, iluminando a sala com a luz do fogo. Estava muito perto do homem, e aproveitou a curta distância para desferir um soco fortíssimo em seu rosto. Sem deixar a força do impacto atirar seu inimigo para longe, segurou-o pelo braço e desferiu outros dois socos, para só então, jogá-lo para longe.

O homem caiu de costas no chão, o sorriso malicioso ainda estampado em seu rosto. Tentou se levantar, mas foi impedido pela mulher, que surgira atrás dele em forma de sombras. Com a mão envolta em trevas, agarrou sua cabeça e bateu duas vezes contra o chão, mas quando se preparava para dar o terceiro golpe, um tipo de chicote negro se enrolou em sua perna e a derrubou no chão. O chicote, a ergueu no ar, para então soltá-la. Antes de se chocar com tudo contra o piso, Jug-Eum conseguiu equilibrar o corpo, para cair dobrando os joelhos, deu uma cambalhota no chão e ficou de pé. O homem se ergueu com um salto acrobático, para ficar de pé e encarar a mulher. Seus olhos eram sinistros, a completa brancura de suas orbes transmitia uma frieza sem tamanho, os típicos olhos de um assassino.

-Você tem bons truques – O homem riu, praticamente ileso, ou sem marcas aparentes sobre a pele.

-Te digo o mesmo – A resposta veio seca, seguida por um sorriso sardônico.

Os dedos do homem se transformaram em ameaçadoras garras negras. Avançou contra Jug-Eum, tentou um primeiro ataque, fazendo um movimento na horizontal, buscando cortá-la ao meio. Porém, se jogando para baixo em um rápido movimento, a mulher conseguiu se esquivar do ataque, apenas sentindo as garras corarem o ar acima de sua cabeça. Mais chamas azuis surgiram em suas mãos, mas desta vez subiram pelo corpo do tridente e se juntaram nas pontas.

Ainda agachada no chão, tentou uma estocada, mirando a barriga do homem, mas o mesmo pulou para trás, escapando do golpe com facilidade. Se erguendo, tentou outras duas estocadas, com uma velocidade incrível, acertando o homem de raspão no plexo solar, fazendo um fio carmesim escorrer sobre a pele negra.

O homem tocou o sangue que escorria por sua barriga. Observou a mão manchada, cerrou os punhos, em um acesso de fúria, fulminando Jug-Eum com seu olhar.

-Sua vadiazinha imunda – Avançou na direção da mulher, usando suas garras para atacá-la.

Jug-Eum tentou usar o tridente flamejante para se defender, mas seu agressor foi mais rápido, se esquivando para o lado direito e fazendo mais um corte horizontal com suas garras. A mulher tentou se esquivar, pulando para trás, mas não conseguiu escapar das lâminas negras, que pegaram sua coxa de raspão.

O corte não foi profundo, mas, ainda assim, fez com que sangue escorresse de sua coxa, que continuava enegrecida, envolta pelas sombras.

-Errou – Falou com um sorriso sardônico, limpando o sangue de sua coxa.

-Certeza? – Um sorriso malicioso se formou no rosto do homem.

A princípio, Jug-Eum não sentiu nada, mas, passados alguns segundos, uma dor lancinante se apossou de sua perna. A dor era tamanha, que a fez cair de joelhos, tão forte que era. O músculo de sua coxa latejava, e seu sangue parecia queimar, escorrendo muito mais fartamente do que deveria. Novamente o homem a surpreendera. Se não bastasse o fato de tê-la arrancado de seu esconderijo nas trevas, ainda foi capaz de feri-la, de uma forma completamente nova, com trevas.

Ponderou sobre o que deveria fazer. Se levasse a luta até as últimas consequências, poderia destruir a casa, e todas as pessoas que ali viviam, em sua maioria, crianças, como ouvira nos corredores do conselho. Sem contar que poderia expor a Lion Heart, e colocar em risco toda a investigação caso fosse vencida, ou então poderia ser atacada por outro mago, e levando em conta que precisava conter seus poderes, não conseguiria enfrentar os dois. A conclusão mais óbvia e inteligente a ser tomada, era recuar. Não por medo, ou por fraqueza, mas por prudência, precisava abandonar a luta, se reportar a Richard, e mais tarde, conduzir um ataque ao casarão. Sendo assim, principiou sua fuga.

-O que é isso, maldito? – Perguntou, a voz afetada pela dor, saindo rouca.

Não deu resposta ao homem. Fez as chamas azuis surgirem em suas mãos, esticou o braço direito, e dele surgiu um jato de fogo, mirado na direção de seu oponente. O ataque não o acertou, mas foi o suficiente para afastá-lo. Continuou o fluxo do jato, afastando o homem, enquanto se erguia e caminhava na direção de uma das velas que iluminavam o lugar, ela precisava cauterizar o ferimento, antes que vertesse mais sangue. Pegou uma vela, com a mão trêmula a aproximou da coxa. Passou a chama por cima do ferimento, soltando um uivo de dor. Deixou a vela de lado e cessou o fluxo das chamas. Voltou à forma de sombras e deslizou em direção ao corredor que dava na sala de entrada, e de lá, refez o caminho até o lado de fora do casarão.

Ao adentrar a floresta, soube que estava segura. Continuou deslizando pelas trevas, passou pelos corpos dos soldados que matara, até chegar no outro extremo do bosque, onde se encontrava uma pequena vila. Voltou à forma física e caminhou até a vila, onde uma senhorinha a amparou. As trevas que escondiam seu rosto e sua coxa se dissiparam, o que estimulou a velha ainda mais a oferecer-lhe ajuda.

A vila era composta por umas vinte casinhas de madeira, e em uma delas fora improvisada uma enfermaria, e era para lá que a velha a guiava. Jug-Eum deitou-se em um dos leitos, e a mesma senhorinha iniciou seus cuidados. Pegou um emplasto e passou sobre o machucado em sua coxa. Ao toque da pomada, a dor diminuiu, até tornar-se apenas um pequeno incomodo. Aquilo era patético, pensou, logo alguém como ela, a única maga Classe SS da Lion Heart, com todo o poder que possuía, sendo tudo o que era, estava ali, numa vila desconhecida, aos cuidados de uma velha. Pela primeira vez sentiu o amargo gosto de necessitar da ajuda de outrem, ou era assim que pensava.

-Estará saudável amanhã, minha criança – A velha entregou um sorriso banguela, carregado de amor e benevolência.

A maga apenas devolveu um sorriso, como forma de agradecimento. A velha foi embora, apagando as velas e deixando o lugar imerso nas trevas, o que até mesmo confortou Jug-Eum. Pensou em deixar a vila imediatamente, mas o cansaço a abateu. A luta, mesmo sendo curta, a abateu, especialmente por causa do estranho machucado que sofrera.

Ficar na vila era perigoso, ela sabia disso, mas estava debilitada, e se a tivessem seguido, já teriam atacado o lugar. Optou por dormir um pouco, partiria pela manhã.

 

 

No casarão, as chamas da mulher consumiram boa parte da mobília da sala de estar, mas não chegaram a comprometer a construção do lugar. O homem saiu no encalço da maga, deslizando em forma de sombra, procurou pela mansão, mas não encontrou nada dela, vasculhou os quartos, todos vazios. Cansado pela luta, com a barriga doendo, desistiu da caça. Voltou à forma física e caminhou até um quarto específico, a porta possuía inúmeras trancas, cada uma com um tipo diferente de segredo. Estendeu a mão, de seus dedos saíram tentáculos negros, cada um destravando uma tranca diferente, e em segundos, a porta se abriu.

O cômodo se revelou como um escritório, muito simplório se comparado com toda a segurança da porta. Uma mesa ocupava o centro da sala, muito bem organizada, não haviam papéis empilhados por sobre a mesa, apenas uma vela estava posta ali, cuja luz bruxuleante era o único ponto de iluminação do lugar. Atrás da mesa, sentado em uma cadeira giratória, um homem encarava a janela, de costas para o homem que entrara no cômodo. Não era possível ver nada de seu corpo, apenas um chapéu pontudo arroxeado que se erguia sobre as costas da cadeira.

-Não deu conta de uma mulherzinha? – Perguntou.

-Ela não era uma simples mulherzinha – Respondeu o homem de pele enegrecida. – Seus poderes se igualavam aos meus.

O outro riu, em deboche.

-Dê as desculpas que quiser, o fato é que não foi capaz de vencê-la – Provocou. – Mas diga, o que conseguiu descobrir sobre nossa… visitante?

-Nada muito conclusivo – Respondeu, dando de ombros. – Mas descobri sua guilda. Lion Heart. Ela tentou esconder a marca com trevas… Coitadinha, não sabia com quem estava lidando.

-E conseguiu ver seu rosto? – O outro perguntou, curioso.

-Não, as sombras que o encobriam eram densas de mais.

Outra risada de deboche.

-Coitadinho, não sabia com quem estava lidando – O homem que fitava a janela falou, sardônico, usando as mesmas palavras do outro.

-O que pretende fazer? – As provocações irritavam o recém-chegado.

-Meu plano é o seguinte. Pelo que sei, a guilda é repleta de magos fortíssimos, teremos de separá-los em três grupos. Em breve haverá uma reunião entre os conselheiros, e Richard deverá deixar a guilda. Isso vai diminuir em muito suas defesas. Vamos precisar de uma maneira de tirar os membros mais fortes, levá-los para outro lugar.

-Pode deixar comigo, darei um jeito nisso.

-Ótimo, agora o que nós faremos quando a guilda estiver separada é o seguinte…

 

Cinco dias depois, Jug-Eum já estava em Era, no quartel-general do conselho mágico. Assim como planejado, deixara a pequena vila ao raiar do dia, alugando um cavalo. Antes de deixar a cidade, deixou uma pequena quantidade de dinheiro com a idosa que a ajudara, mais por pena do que por gratidão. Sua viajem durou cinco dias, cavalgando sem parar desde de o nascer até o pôr do sol, descansando durante a noite, fosse em cidades, fosse em florestas. Ainda receosa com o fato de ser seguida, trocou de roupa novamente, colocando mais uma vez o vestido vermelho.

Ao chegar em Era, pela manhã, correu para encontrar-se com o mago que Richard enviara para ocupar seu lugar enquanto investigava o casarão, Shiro Jaguarjaquez.

O prédio do quartel-general do conselho se assemelhava a um imponente castelo, feito de pedra branca, com duas torres enormes em cada lado. A fachada era composta por grandes janelas arqueadas, e no centro da construção uma porta dupla dava entrada a seu interior, encimada por um teto piramidal.

Adentrou o lugar às pressas, seu rosto já era conhecido pelos guardas, que não a impediram de entrar. Subiu as escadarias que levavam ao segundo andar, e guiou-se rapidamente para o escritório reservado a Richard e seus representantes. Bateu à porta.

-Entre – Ouviu Shiro responder.

Jug-Eum abriu a porta e adentrou o cômodo, apressada.

Sentado à mesa, Shiro a olhava com um sorriso no rosto. Os olhos eram azuis-escuros, assim como seus cabelos. A tez era morena e o corpo um tanto quanto musculoso. Parecia um homem comum, não aparentava nada de mais aos olhos de qualquer outro, mas o que chamava atenção no quarto não era ele, e sim o animal ao seu lado. Sentada, com as orelhas em pé, prestes a identificar qualquer sinal de perigo, havia uma grande pantera-negra.

-Oi, Jug-chan – Passou a mão esquerda no pelo do animal enquanto saudava a amiga. Seus movimentos e trejeitos eram afeminados.

-Já disse para não me chamar assim – Respondeu, secamente, fazendo Shiro soltar um suspiro tristonho.

-Me perdoe – Pediu o garoto.

Jug-Eum ignorou a fala do outro, sentando-se no sofá encostado na parede da saleta. Foi direto ao ponto.

-Enfim, sabe quando o mestre vem pra cá?

Shiro abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido pelo abrir repentino da porta.

-Shiro, vamos logo a assembleia já vai começar – Richard anunciou, adentrando o escritório. Só depois de alguns segundos notou que Jug-Eum também estava ali. – Ah, você voltou, que alívio.

-Mestre? – A mulher se surpreendeu com a chegada de Rick. – O que faz aqui?

-Pelo que entendi, há alguns assuntos sobre os quais o conselho deve deliberar, e nestas situações, eu mesmo tenho que comparecer – Respondeu, apressado. Estava bem em baixo do pé-direito da porta, e precisava se abaixar um pouco para não encostar o topo da cabeça no batente. – Venham comigo, estou atrasado.

-Mestre, há coisas que eu preciso te contar – Jug-Eum tentou parar Richard.

-Depois, acredito que alguém esteja desconfiando de nós – Richard anunciou, meio que em um sussurro.

Os três saíram apressados do escritório e seguiram rapidamente pelos corredores. Subiram mais um lance de escadas, para enfim chegar na sala de reuniões. A despeito do que muitos imaginavam, a sala onde todas as decisões referentes ao mundo mágico eram tomadas, era muito menos mágica do que se esperava. O salão era imponente, quanto a isso não haviam dúvidas, vários quadros representando imagens de magos famosos dos tempos antigos enfeitavam as paredes laterais. A parede oposta à porta, era constituída apenas por arcos, sem vitrais, formando um tipo estranho de varanda. No centro da sala, oito pequenos tronos de prata formavam um semi-circulo, com um grande trono dourado despontando no espaço entre os dois tronos das pontas.

Richard caminhou rapidamente até seu trono, o último, da esquerda para a direita.

-Está atrasado – O homem sentado no trono dourado o encarou. Trajava a conhecida túnica branca dos conselheiros, com o símbolo do conselho no peito, em dourado. Já possuía idade avançada e os fios alvos caiam sobre seus ombros como uma juba desgrenhada, a barba era farta, tão bagunçada quanto seus cabelos, parecendo mais uma extensão das madeixas para a face, apenas seu bigode era negro, e mais lembrava uma taturana estacionada sobre seu nariz. Sua pele era clara, com o rosto cheio de rugas, os olhos eram azuis, contornados por grandes pés de galinha.

-Me perdoe, Karl – Richard se desculpou, suportando o olhar do homem – Mas vejo que não sou o único.

E não era. A primeira cadeira da esquerda para a direita, reservada ao vice-presidente do conselho, também estava vazia.

-Skits está em missão, algo importante de mais para você saber, por enquanto – As palavras transbordavam arrogância. Jug-Eum preparou uma resposta à altura, mas foi impedida por Shiro, que tocou seu ombro. Ambos respeitavam de mais o mestre, e o fato de não poder responder ao homem lhes era desgostoso, mas a prudência, novamente lhes dizia para se calar – Agora se me permite, leãozinho, gostaria de começar a assembleia.

A provocação atingiu Richard como um raio. Não era arrogante, nem mesmo muito orgulhoso, mas ser tratado desta forma era um estorvo. Obrigou-se a engolir a arrogância do presidente, como se não a escutasse. Ao desacatar o homem, correria o risco de ser retirado de seu posto como conselheiro, o que atrapalharia toda sua investigação. Ele precisava se manter no conselho, e para isso, necessitava engolir certos sapos.

Karl esperou uma réplica vinda de Richard, mas como não recebeu resposta, apenas conteve uma risada e prosseguiu:

-Um garoto veio até nós, com um pedido, por isso convoquei esta reunião. Deixemos que ele fale. Podem mandar entrar!

Dada a ordem, as portas se abriram com um rangido, dando entrada a um garoto escoltado por dois guardas, armados com alabardas. O garoto era alto, tinha o corpo delgado, seus cabelos eram brancos, com algumas mechas roxas nas pontas. Trajava um terno branco, encimado por um sobretudo negro. À medida que caminhava, suas feições se tornavam mais nítidas, revelando a cútis clara e a grande cicatriz em seu olho esquerdo, cuja íris era completamente branca, enquanto a direita era rubra como sangue.

Andou até o centro do semicírculo, fez uma reverência a Karl, virou-se para os outros conselheiros e repetiu o gesto.

-Agradeço a todos por me ouvirem, meu nome é Eduardo Soul, fui enviado pelo próprio Papa Constantino…

A menção ao nome do Papa fez todos se espantarem. Constantino era, assim como o Rei, uma das figuras com maior autoridade por todo o reino. Richard prontamente se ajeitou no trono, prestando atenção às palavras do garoto. O único que permaneceu indiferente foi Karl, que o interrompeu.

-Sem formalidades, garoto – A impaciência e o desgosto de ouvir o nome do pontífice eram claros em sua voz. – Vá direto ao ponto, não temos muito tempo.

-C-certo – O garoto gaguejou, sem jeito. – Uma maga, parente do Papa está desaparecida há mais de um ano, e nós clamamos pelo auxílio do conselho nas buscas.

Karl encarou o garoto enquanto o mesmo falava, ao final, apenas soltou um risinho de deboche.

-Por que acha que nós perderíamos nosso tempo correndo atrás de uma mulherzinha fujona? Sinto muito, garoto, temo não poder te ajudar.

-Por favor, senhores, eu imploro, ajudem-me – Suplicou novamente. A provocação do homem parecia não lhe afetar, como se nem mesmo a tivesse escutado.

-Karl, nós devemos fazer isso, é uma maga, precisa da nossa ajuda – Richard se pronunciou, surpreendendo o homem. – Ao menos votemos, afinal, é para isso que servem as assembleias.

Alguns conselheiros concordaram com as palavras de Richard, iniciando um murmúrio na sala. Karl o fuzilou com o olhar, soltou um suspiro.

-Se assim desejam, que seja – Anunciou, ainda encarando o gigante. – Na ausência de um dos membros, eu sou encarregado de votar pelo mesmo, então, o voto de Skits é não.

A votação foi rápida, como todas as outras. Ao pedir a votação, Richard anunciara seu voto, deixando a contagem empatada, com um voto positivo e um negativo. Passados dez minutos, finalmente era a hora do último membro votar, um homem que como muitos sabiam, era amigo de Karl. A votação era favorável ao sim, que vencia por quatro votos a três.

-Meu voto é não, senhor presidente – Anunciou, acabando com as esperanças do garoto. O voto empatou a contagem, fazendo necessário um desempate, votado pelo presidente do conselho.

Karl encarou Eduardo, soltou um sorriso sardônico.

-Sinto muito, garoto, o conselho mágico tem coisas mais importes com as quais se preocupar, espero que entenda, mas não vamos te ajudar.

-Karl, pense direito, podemos ter problemas com a igreja se não ajudarmos – Richard tentou reverter a situação, mas em vão.

-Quieto, leãozinho! – O presidente bradou, irritado. Atrás de Richard, Jug-Eum cerrou os punhos, não aguentaria continuar ouvindo as provocações do homem por muito tempo – Não estou nem aí para o que a igreja pode fazer.

-Senhor, eu imploro, ajude-nos – Eduardo suplicou, sem se importar com as palavras de Karl.

O homem o encarou com o olhar, raízes vermelhas tomavam a parte branca de seus olhos.

-Você está me irritando, suma daqui – Ordenou, fazendo um gesto indicando a porta para Eduardo.

Os guardas seguraram o garoto pelos braços, mas o mesmo disse que não seria necessário, e deixou a sala pisando duro.

Ao passar pela porta, olhou para o lado, e avistou Fishi sentado no chão, ao lado de um vaso. O gato o encarva com os olhos verdes enquanto lambia uma das patas. Possuía um pelo negro que cobria seu corpo inteiro, com exceção da barriga, cuja pelagem era branca. Seria um gato normal, não fosse pelas duas caudas que possuía.

-Como foi lá? – O gato perguntou andando na direção de Eduardo, que apenas suspirou – Ei, você vai encontrá-la, se esses velhos não querem te ajudar, o problema é deles, mas você vai conseguir, mesmo que seja sozinho.

Eduardo sorriu, as palavras de seu amigo felino realmente o reconfortavam. Os dois começaram a andar, mas o barulho das portas se abrindo os parou. Eduardo girou sobre os calcanhares, e viu Richard saindo do salão.

-Eduardo Soul – O homem o chamou. – É um prazer conhecê-lo, sou Richard, mestre da guilda Lion Heart. Tenho algo a lhe dizer.

-Ah, sim, é um prazer conhecê-lo também – Eduardo estendeu a mão para cumprimentar o homem que se aproximava. O aperto da mãozorra de Richard fez seus dedos doerem. – O que é?

-Sinto muito pela maga, mas acho que tenho um jeito de te ajudar – Anunciou, despertando a curiosidade do garoto.

-Como?

-Já pensou em participar de uma guilda? Isso pode te ajudar bastante.

-E você quer que eu vá para a sua guilda – A princípio o garoto estava desconfiado, mas lembrou-se de Richard tentando ajudá-lo. Pensou um pouco, realmente seria bom, estando em uma guilda, teria ajuda de todos os outros membros em sua busca, e sua solidão diminuiria. – Certo, onde fica a Lion Heart?

Richard se surpreendeu com a aceitação do garoto, ele já fizera isso outras vezes, oferecendo o acolhimento da guilda para magos que pediam auxílio ao conselho, fora assim com a própria Sophie, mas nenhum aceitara a proposta de primeira.

-Fica em Hargeon, sabe chegar lá?

-Sei.

-Ótimo, infelizmente eu terei que ficar aqui por alguns dias, mas ao chegar lá, procure por Sophie, diga que eu te enviei, ela lhe dará sua marca.

-Certo, vou indo então, mestre – Eduardo falou, com um sorriso no rosto. Saiu andando enquanto Richard regressava à sala de reuniões.

-Confia nele? – Fishi perguntou, esteve calado durante toda a conversa.

-Não sei dizer ao certo – O garoto respondeu, com um suspiro. – Ele tentou me defender, acho que merece um voto de confiança. Sem contar que toda ajuda é bem-vinda.

-Se você diz, confiarei nele – Fishi falou, por fim.


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
Vejo vocês nos comentários, até lá!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...