História Lírio - Falcão

Estava sentada em uma das cadeiras de ferro acolchoada na enorme varanda da minha casa, ela tinha detalhes rústicos, varias flores e plantas pendiam das sacadas, o estandarte com a insígnia do rei era ostentado em uma das colunas de madeira refinada.
A insígnia do rei era um enorme e lustroso falcão de asas abertas, com detalhes em ouro, em cada pena, um pequeno e brilhante diamante que reluzia a luz do por do sol.
Eu vestia um vestido bonito e um tanto simples de cetim preto, meus cabelos longos e escuros como a noite estavam presos no alto da cabeça, alguns cachos caiam  se espalhando pelo meu rosto pálido.
Fiquei de pé finalmente quando minha mãe e meu pai apareceram pela porta, estavam vestidos impecavelmente. Minha mãe compunha um vestido de camadas cor de pastel, seu cabelo muito parecido com o meu estava solto e balançava com o vento do final da tarde. Já meu pai estava com uma camisa verde musgo e abotoadeiras douradas.
-Você está adorável, querida.- Meu pai disse sorrindo.
-Obrigada.- Sorri de volta. 
Minha mãe olhava para mim com os mesmos olhos brilhantes. Desde que eu consigo me lembrar eles nunca foram rudes comigo, algumas reclamações, claro, mas nunca severos demais. 
Meu pai era um dos vários nobres do rei, tinha terras e outras fazendas, algumas até que eu nunca tive a chance de visitar. 
Uma carruagem estampava o simbolo da nossa casa, era uma flor de Lirio, branca como a neve com pontas avermelhadas. Eu também tenho um anel prata, delicado, e desenhado com o mesmo simbolo.
Meu pai uma vez me contou que o Lirio, significava as flores das nossas fazendas, e as pontas vermelhas era o sangue da nossa família.
Sentei e me acomodei no banco da carruagem, minha mãe ao meu lado, e meu pai à minha frente, eles conversavam sobre a colheita de flores que estava se aproximando.
Eu olhei para a janela, árvores verdes cobriam a grande extensão das nossas terras, quando o cenário foi mudando para casinhas simples, sabia que estávamos perto.
Casas grandes e bonitas começaram a entrar no meu campo de visão, logo passamos por uma ponte, a ponte que ligava o castelo e o resto da cidade, percebi eu. Não tem muito tempo que fiz uma visita ao castelo, mas não importa quantas vezes eu veja, sempre vou ficar boquiaberta com o tamanho, e com a beleza que ele exibe.
Parecia que era feito inteiramente de ouro, colunas e torres, sacadas e janelas magnificas, luzes iluminavam todos os lados, até a água do mar abaixo parecia mais brilhante.
Na torre mais alta, a insígnia do rei era exposta, exuberante com todo o seu brilho, cada asa da águia cuidadosamente costurada, até os seus diamantes e ouro. 
O salão ainda estava mais bonito do que eu me lembrava, arranjos de flores coloridas cobriam as mesas, serventes passavam com bandejas e mais bandejas recheadas de comidas, bem ao centro, casais dançavam a musica lenta da sinfonia e riam, felizes, toda a atmosfera estava com um clima festivo. 
Dois enormes tronos dourados como o sol estavam ocupados por um homem, com sua barba quase grisalha e seus olhos pretos penetrantes, uma coroa de ouro e diamantes estava descansando em sua cabeça.
Ao seu lado, uma mulher com cabelos loiros trançado para traz, seu vestido cor de marfim fazia um bonito contraste com seus olhos azuis céu, uma pequena tiara de prata estava sobre seus cabelos, a rainha.
Do outro lado do salão, conversando com alguns nobres, estava o príncipe Jules, seu cabelo era loiro como trigo, um pouco abaixo dos ombros, vestia uma camisa preta e calças cor de creme. Seus olhos eram azul escuro. 
Eu brincava distraidamente com o tecido do meu vestido quando todos se levantaram, o rei, estava de pé na frente do seu trono. Seus olhos viajavam pelo o salão, ele começou, cada palavra alta e calculada.
-Obrigado por virem aqui esta noite. Hoje, cidadães de Isisleia, vocês vão participar da primeira etapa do torneio para escolher a nossa nova rainha, como vocês já sabem, à que se mostrar mais poderosa, vence.-
Claro que eu sabia como fazia essa escolha, a gerações e gerações, blá, blá...
As 5 meninas mais poderosas (e bonitas) do reino, eram chamadas para comparecer ao castelo, elas ficam aqui alguns meses, onde podem mostrar seu talento em uma serie de provas.
A finalidade dessa bobagem toda? Gerar um herdeiro puro, e manter a linhagem poderosa. 
Ultima pessoa da nossa família capaz de fazer algum tipo de magia, foi minha bisavó, sinceramente não ligo muito para isso. Minha mãe já dizia que magia, pode ser um dom, e também uma maldição. 
O príncipe Jules era puro fogo, ao longo desses anos vi apresentações dele, ele moldava o fogo do jeito que queria, sangue puro corria em suas veias. 
A rainha cantava, o canto dela podia levar pessoas a pularem de penhascos ou até enfiarem uma espada no seu próprio coração. Brutal.
O rei é um guerreiro de natureza, sua força é fora do normal, todas as batalhas que ele já lutou, saiu vencedor.
Abriram espaço para as cinco belas participantes passarem, a primeira tinha cabelos castanhos claros e uma beleza hipnotizante, a segunda era negra com cabelos encaracolados, trazia em seu pescoço um colar de ouro em forma de espiral, terceira era alta com um corpo escultural, quarta vinha com os cabelos pretos preso em um rabo de cavalo apertado, a ultima da fila vestia trajes um pouco mais espessos e resistentes que as outras, usava um par de luvas e botas. 
Colocaram barras de vidros protetoras para separar as pessoas das competidoras. Foram diversas demonstrações de poder, a primeira fez um pequeno terremoto suficiente para eu quase cair no chão, a próxima fez subir um barreira de água em sua frente, a mulher do corpo escultural se tranformou em uma onça preta enorme, outra provocou um pequeno apagão só fechando os olhos.
Chegou a vez da ultima, ela tinha um maxilar travado, e andava com uma postura inabalável, em sua frente, tinha varias taças de vidro, ela estalou o pescoço e se aproximou, colocou uma mão em frente ao corpo, se concentrou. Ela só olhava para os copos, encarando fixamente, eles começaram a tremer, só que, o vidro de divisão também começou a vibrar, foi tudo muito rápido. Primeiro as taças estouraram e logo depois o vidro de proteção se estilhaçou, gritei  e coloquei uma das mão em frente ao rosto por instinto de proteção, alguns cacos de vidros passavam rasgando minha pele, pessoas gritavam e corriam, mas logo depois todos ficaram em um silencio mortal.
Abri meus olhos, a dor era tanta que meus joelhos estavam vacilando, os cacos de vidro estavam suspensos no ar, minha mão ainda estava levantada, sentia cada força do meu corpo se esvaindo devagar. Tombei no chão e todos os cacos de vidro caíram comigo.