História Lírio Branco - Lótus

•°* Jung Hoseok *°•

Acordei ao sentir algo roçar atrás de mim, e ao sentir aquela respiração serena indo de encontro a minha nuca, eu acabei por me lembrar do alfa que em um alto nível de sonolência, acabou por se deitar em minha cama. Normalizei minha respiração e agradeci por seu braço não estar mais envolto em minha cintura – como aconteceu no meio da madrugada.

Me afastei com cuidado e saí da cama a passos leves. Por sorte Yoongi possuía um sono pesado, e por esse motivo nem notou que eu o havia deixado só. O alfa apenas se remexeu resmungando e voltando a dormir tranquilamente. Sorri antes de abrir e fechar a porta com delicadeza, me virando e dando de cara com Taehyung que me encarava com o cenho franzido.

– O que tem aí dentro, para sair com esse cuidado todo? – me indagou em seu tom normal. Lhe pedi silêncio com um ‘shh’ com o indicador riste aos lábios enquanto o puxava pelo pulso para as escadas e consequentemente longe da porta do meu quarto. – E então? – me perguntou em um tom mais baixo, quase num sussurro.

– Yoongi está dormindo lá. – respondi simplório, mas aquilo foi o suficiente para que o ômega sorrisse maliciando minhas palavras. – Não é o que está pensando! – o adverti. – Ele só dormiu lá porque certas pessoas estavam fazendo muito barulho. – arqueei a sobrancelha causando um enrubescer alheio.

– A-ah, entendo. – assentiu enquanto olhava para todo lugar, menos para o meu rosto.

– O que aconteceu para acender esse fogo todo em vocês três? – perguntei lhe sorrindo, tentando passar algum indício de que eu não estava bravo consigo, apenas brincando.

– É uma longa história. – ele sorriu de lado, visivelmente feliz.

– Acho que pelo horário, temos tempo o suficiente antes que os alfas dessa casa acordem. – disse enquanto entrelaçava nossos dedos e o puxava para a sala. – Bom dia hyung! – disse assim que vi um Seokjin sonolento preparando o café da manhã. – Parece cansado, aconteceu alguma coisa? – perguntei enquanto Taehyung murmurava um ‘bom dia’ extremamente envergonhado e saía para a sala, me esperando.

– Namjoon aconteceu. – disse bocejando em seguida. – Meu alfa é um amor comigo, mas na cama ele se transforma. – ri com a facilidade que meu hyung possuía para falar de coisas tão intimas, porém não era novidade para ninguém o tipo de ômega desbocado que Seokjin sempre foi.

– Entendi. Quer ajuda? – perguntei, mas ele negou.

– Pode ir conversar com o mais novo maridinho da casa. – sorriu para mim enquanto eu arregalava os olhos. Sem esperar muito, corri para a sala me sentando no mesmo sofá que Taehyung, logo me virando para ele colocando minha perna dobrada no estofado.

– Me conta essa história agora! – disse com visível excitação na voz, ganhando um sorrisinho tímido do ômega. – Cadê? Quem foi? – de repente várias questões borbulhavam na minha mente ao constatar que o mais novo namorava dois alfas.

Taehyung se virou para mim e afastou a gola de seu pijama e me mostrou a mordida avermelhada, não demorando a repetir o ato do lado contrário e me mostrar outra mordida também avermelhada, ambas próximas a curvatura do pescoço. Enquanto minha boca se abria em um ‘o’ perfeito, o ômega sorria orgulhoso.

– Estávamos bem, mas por conta de uns acontecimentos desagradáveis – seu rosto se torceu naquela expressão de desgosto que só aparecia quando o ômega contava sobre as garotas da faculdade que davam em cima de Jimin e Jungkook mesmo sabendo que os três estavam em um relacionamento. –, acabamos brigando feio e meio que eles me trouxeram para casa já que seria um vexame discutir nosso relacionamento no meio de tanta gente. Então em meio a gritos e verdades expostas por cada um de nós, acabamos fazendo as pazes. – um sorriso feliz brincou nos lábios bonitos do ômega. Acabei por sorrir com ele. – E então no meio da... reconciliação, eles me marcaram. E o resto vocês ouviram. – ele disse a última parte visivelmente constrangido. – Perdão por aquilo, mas quando eu acordei depois de ser mordido, uma coisa louca tomou conta de nós e... enfim, acho que já deu para entender. – ele disse com o rosto rubro. Mas ao contrário de fazer piadinhas, eu simplesmente o agarrei em um abraço apertado.

– Ah Tae! Eu fico tão feliz por você! – separei o contato e segurei na lateral de seus ombros, longe das marcas para não lhe machucar. – Finalmente a tensão que pairava sobre vocês não vai mais te incomodar, e também ninguém vai se colocar entre vocês já que agora estão atados um ao outro. – ele sorriu satisfeito e concordou comigo. – Não vejo a hora de vocês terem filhotes! – o garoto engasgou e me encarou com certo desespero.

– Vamos com calma, Hobi! Meu cio está longe ainda, e eu já deixei claro que quero pelo menos terminar a faculdade antes de ter filhotes. – um bico se formou no rosto do ômega, mas logo rompeu em um sorriso feliz.

A partir dali ficamos conversando até que Seokjin viesse mancando nos chamar para o café da manhã. Eu não falei nada, e muito menos Taehyung – que não estava muito diferente do ômega mais velho. Ri internamente da condição dos dois sentindo uma pontinha de inveja, já que eu não seria marcado por alfa algum. Afinal quem gostaria de se atar a um ômega que nem ao menos pode gerar filhotes? Que futuro tal alfa teria? Todos sabem que a vontade de todo o ser humano ao alcançar a vida adulta é constituir uma família, e isso eu jamais poderia proporcionar.

Suspirei tristemente antes de colocar um sorriso no rosto e regozijar-me na felicidade dos meus dois irmãos. Já os considerava da minha família, e ver Taehyung perguntando sobre a marca para Seokjin e se encabulando sobre os “benefícios” que a mesma trazia, era no mínimo engraçado. Ficamos ali rindo e ouvindo as experiências de Seokjin enquanto comíamos animadamente. Não tardou para o restante dos moradores da república acordarem e juntarem-se a nós. Naquele dia até mesmo Yoongi, mesmo com uma terrível cara de sono, se juntou à mesa e conversava quando lhe perguntavam algo.

Todos pareciam puramente animados, mesmo sendo sábado e estar relativamente cedo. Àquela altura todos já haviam terminado de comer, mas ninguém se atreveu a sair da mesa. A conversa estava realmente boa, e era a primeira vez que nos reuníamos como amigos. Eu ria da história engraçada que Namjoon contava envolvendo o alfa tatuado de quando uma barata invadiu a casa, e não pude deixar de gargalhar quando ele dizia que Yoongi se fazia de durão, mas foi o primeiro a subir em cima do sofá quando o bichinho passou a andar.

– Pare de me difamar, Namjoon! – o alfa tatuado fingia uma cara feia. – Porque você correu para os braços do Seokjin quando ela começou a voar! – sorriu vitorioso quando as gargalhadas de todos romperam na mesa. O Kim apenas deu de ombros derrotado.

– Mas ela era voadora! – tentou se defender depois de um tempo.

– No fim, quem matou aquela praga foi eu. – Seokjin disse revirando os olhos. – Esses dois gritavam como garotas! – apontou para Namjoon e depois para Yoongi. Os dois acabaram vermelhos e sem graça.

– Não sabia dessa história. – Taehyung dizia tentando conter as lágrimas que escapavam vez ou outra devido a risada descontrolada que emitia.

– Foi antes de você e os meninos se mudarem para cá. – Seokjin disse sorrindo abertamente.

– Mas isso não muda o fato de que deve ter sido hilário! – Jimin disse enquanto voltava a rir, sendo acompanhado por Jungkook.

– Eu não consigo acreditar que o Yoongi-ssi foi o primeiro a correr do bichinho! – disse em tom brincalhão olhando para o alfa que estava sentado ao meu lado na mesa. Ele me olhou fazendo sua melhor feição de culpado, mas logo caiu em uma risada.

Enquanto davam esse assunto por encerrado e coroavam Seokjin como o macho alfa da casa iniciando um novo assunto em seguida, Yoongi se virou para mim e sorriu. Senti um calor se espalhar por meu peito.

– Eu não sou muito fã de insetos. – confessou e eu soltei um risinho concordando. – E a propósito, pode me chamar de hyung. – ele disse e eu senti meu rosto se esquentar enquanto eu assentia debilmente.

– Tudo bem, hyung. – o pronome parecia tão diferente ao se tratar de Yoongi. Mas decidi ignorar isso e voltar minha atenção para a mesa. Seokjin me encarava na cara dura, não deixando de sorrir de lado passando o olhar de mim para Yoongi sugestivamente. Franzi o cenho e desviei meu olhar de si tentado me concentrar na conversa que os outros engatavam.

•°*~☆~*°•

– O assunto está muito bom, mas eu e meus maridos temos um encontro. – Jungkook disse enquanto pegava cada um de seus cônjuges pela mão e os levando para cima, sem nem dar a chance de Taehyung, o único que parecia perdido ali, perguntar alguma coisa.

– Divirtam-se! – Seokjin gritou de onde estávamos já se levantando e indo lavar a louça suja. Não demorou muito para que Namjoon fosse até seu ômega o abraçando por trás e depositando um beijo na bochecha do mais velho. A cena era incrivelmente fofa, e quando o alfa passou a ajudar Seokjin secando e guardando o que foi sujo, eu realmente comecei a considerar os dois como os pais de todos que moravam ali.

Yoongi apenas levantou e subiu as escadas, acredito que para ajeitar seu quarto, buscando seu colchão no meu e seus cobertores e travesseiros. “Será que ele...” deixei meu pensamento morrer ao lembrar de algo bem mais importante: minha consulta.

Periodicamente eu tinha exames para verificar meu estado hormonal, depois de iniciar na faculdade eu sempre marcava as minhas consultas para os sábados. Meu médico Park Jungsu, me atendia mesmo sendo fim de semana pois a família dele e a minha eram realmente próximas, e ele fazia questão de cuidar de mim. Meu hyung era um beta amoroso, sempre disposto a se dar pelo próximo. Ele sempre me dizia para não perder a fé, pois deveríamos lutar até o último segundo possível.

Mas aquela não seria uma consulta como as outras. Não, aquela era de longe a consulta mais importante e que definiria de vez seu futuro. Justamente por esse motivo não queria ir sozinho, não saberia lidar com a dor, afinal sempre doía sair daquele consultório com as minhas esperanças cada vez mais reduzidas. Porém dessa vez seria a última.

Especialmente hoje seria minha consulta decisiva, eu sairia daquela clínica como estéril oficialmente. Tremi momentaneamente pensando sobre isso enquanto esperava pacientemente Seokjin terminar a louça. Namjoon subiu para o primeiro andar e logo o ômega se virou para mim me olhando de forma curiosa.

– Hyung, você vai sair hoje? – perguntei com as sobrancelhas unidas. Ele só acenou simples. – Ah, tudo bem então.

– Por que? – perguntou já se preocupando.

– Eu tenho uma consulta hoje e não queria ir sozinho...

– Ai Hobi, infelizmente não vou conseguir ir com você. É meu aniversário de casamento com o Namjoon e estamos indo viajar daqui a pouco. – assenti tentando não deixar transparecer minha tristeza ao ter de ir sozinho.

– Parabéns pelo aniversário, e não se preocupe! Eu posso ir sozinho. – lhe sorri e ele pareceu acreditar nem um pouco.

– O Tae vai sair com os alfas dele, tsc. – pela feição do ômega ele tentava encontrar alguma solução para o meu pequeno probleminha. – Não é bom você ir sozinho. O Yoongi poderia ir com você... não. Talvez o Nam possa adiar a viagem e...

– Não, nada disso. Eu posso me virar, e você trate de aproveitar bastante essa viagem. – lhe cortei. – Vão tentar ter filhotes? – brinquei recebendo uma gargalhada em resposta.

– Não voltamos a falar desse assunto, mas se acontecer... – ele deu de ombros ainda sorrindo. – Você vai mesmo ficar bem sozinho? – ele perguntou desfazendo sua feição feliz e franziu o cenho.

– Vou. É a minha última consulta, mas eu vou ficar bem sim. – assenti e Seokjin se aproximou apertando meu ombro de leve. – Eu vou ir me arrumar. – levantei e com um sorriso pequeno, saí da cozinha caminhando rumo às escadas. Acabei por encontrar Yoongi no topo da escada, ele me olhava de maneira ilegível. Lhe sorri e desviei de seu corpo estático.

– Ômega. – me virei ao perceber que Yoongi falava comigo. – Eu vou com você. – e sem ao menos olhar para mim, desceu as escadas me deixando com um bolo na garganta.