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História Lírios Brancos - Incompleto


Escrita por: yewoon

Notas do Autor


Oiii meus amores <33 Como vocês estão? Espero que bem!
Dessa vez em consegui atualizar mais rápido do que o esperado, e estou bem feliz *_* Agora vou ter um tempo para escrever e atualizar minhas outras fanfics aksjqkkeoqke (a autora mais preguiçosa, sim ou claro?)
ENFIM, queria apenas agradecer aos 35 favoritos aaaaaaa!! Vocês não sabem o quanto ver que alguém lê essa história e gosta dela me deixa feliz, e eu amo quando vocês comentam :(( mesmo.

Bom, esse capítulo ficou um pouco mais curtinho, porque até agora, do prólogo até esse tivemos apenas uma "introdução" da situação do Jungkook e tudo o que está acontecendo.
A partir do próximo as coisas vão ficar um pouco mais...jikook aoskqlkeqke.

Ah, outra coisa! Eu tive que repostar o trailer, para que ele pudesse ser assistido pelo celular, então editei o link deixado no prólogo <3

Boa leitura!

Capítulo 3 - Incompleto


Fanfic / Fanfiction Lírios Brancos - Incompleto

Capítulo Dois  — Incompleto

 

— Jungkook, querido? — Ouvi a doce voz de minha mãe ressonar em meus ouvidos e virei a cabeça para vê-la, atrás da porta, com a lateral do rosto encostada no batente. Ela tinha um sorriso brilhante e sincero nos lábios, deixando os dentes compridos dos quais herdei meu sorriso à mostra.

— Hm? — Murmurei em resposta, ainda meio sonolento. Eu passava a maior parte do dia dormindo.

— Você tem uma visita — A ouvi dizer, feliz. Dava pra ver que tinha até feito um esforço para se arrumar um pouco mais. Mas ela era bonita independente do que fazia.

— O quê? — Fiquei em choque. — O-O que disse?

— Tem alguém aqui querendo te ver! — Ela revirou os olhos e riu. — Seu amigo — Sussurrou, colocando uma das mãos ao lado da boca, como se estivesse me contando um segredo.

Senti meu coração disparar. Estava tão agitado e batia tão rápido que eu jurava que a qualquer momento ele sairia pela minha boca. Tive que respirar fundo várias vezes para me acalmar.

Por que de repente eu havia ficado tão ansioso?

Não crie tantas expectativas, Jeon Jungkook. Qualquer pessoa pode passar por aquela porta.

— Ah...tá — Tentei parecer o menos nervoso possível, embora por dentro estivesse tendo um ataque. Eu não queria que ninguém me visse naquelas condições, e também continuava me sentindo mal por não ter recebido nenhuma visita antes, mas...era quase como se uma luzinha, bem pequenininha, tivesse se acendido dentro de mim.

Minha mãe sorriu e fez sinal para que a pessoa, provavelmente escondida atrás dela, entrasse, e ela mesma saiu, provavelmente querendo nos deixar a sós.

Prendi a respiração por um minuto quando ouvi alguém se aproximar, e soltei todo o ar acumulado em meus pulmões que ardiam quando uma cabeleira ruiva passou pela porta.

— H-Hyung... — Hoseok não estava com o sorriso largo e radiante de sempre. Na verdade, o único sorriso que carregava no rosto murchou assim que seus olhos pairaram sobre mim, tornando sua aura sombria.

Ele se aproximou com cuidado, no início um pouco hesitante, como se pisasse em cacos de vidro e a qualquer momento pudesse se cortar.

— Você veio sozinho? — Perguntei, encostando as costas na parede — mamãe provavelmente me mataria se me visse fazendo algo do tipo. Ela vivia dizendo que eu pegaria um resfriado ou qualquer coisa assim, mas eu não me importava.

Hoseok assentiu, de cabeça baixa. Percebi que ele parecia nervoso, porque mexia as mãos nervosamente na frente do corpo.

— Então... — Começou a falar, mas parecia estar indeciso sobre quais palavras usar. — Quer dizer que você não pode mais andar?

Olhei-o por algum tempo, me esforçando para ignorá-lo.

Que ótimo jeito de se iniciar uma conversa.

— Por que você veio me ver? — Perguntei, relutante.

— Porque fiquei preocupado. Porque queria ter certeza de que você estava bem.

— "Bem" — Ri, sem humor. — Se estava tão preocupado assim, por que não veio antes? Faz ideia do que estou passando? — Senti vontade de chorar e minha voz fraquejou, então me calei e olhei para cima, tentando conter as lágrimas.

— T-Todos...Todos nós ficamos muito abalados, Jungkook. Ninguém queria que isso tivesse acontecido — Se aproximou um pouco mais, me olhando com condolência, e percebi que esse era o pior dos jeitos com os quais ele poderia me olhar. A vergonha me consumiu outra vez. 

Encolhi os ombros, fitando minhas próprias mãos. Só conseguia pensar em como eu queria fugir dali e me esconder, sem nunca mais precisar olhar pra ninguém. Sem nunca mais precisar ter alguém me olhando daquele jeito. 

— S-Só não queríamos te ver assim. Não estávamos prontos — Ele suspirou. — Me desculpe.

Naquele momento, pensei em como tudo é mesmo muito irônico. Em como a vida é uma completa merda. Eles estavam com medo de me ver assim, mas eles não estavam machucados. Nada havia sido tomado deles. Eles podiam fugir.

Mas e quanto a mim? 

Eu estava preso a mim mesmo, e não havia nada pior do que isso. Eu não podia correr, me esconder, ou fugir. Não havia lugar para ir; porque o problema estava em mim. O meu próprio eu estava me assombrando, e eu estava fadado a suportá-lo sozinho, para sempre.

— E o Yoongi? — Perguntei, incerto se queria ouvir a resposta. Apenas pronunciar aquele nome fazia algo dentro de mim doer.

— Não o vi mais depois daquele dia — Sua voz saiu fraca. Senti um calafrio percorrer a minha espinha.

Ficamos em silêncio por mais um tempo, e então o Jung sentou-se em minha cama, ficando ao meu lado. Ele colocou a mão sobre minha perna, sem nem perceber.

Mas eu não podia sentir o seu toque.

E isso foi desesperador.

Quase senti vontade de vomitar.

— O que você acha de nós darmos uma volta por aí? — O ruivo sugeriu, com um sorrisinho.

— A-Aonde você quer ir?

— Não sei...em algum parque? Acho que você pode sair um pouco, não pode?

— NÃO! — Gritei, sentindo minhas mãos começarem a tremer. Hoseok olhou para mim assustado, mas não pude ouvi-lo dizer qualquer coisa. Eu estava entrando em pânico por dentro.

Eu não podia sair daquele hospital. Eu não queria que as pessoas me vissem daquele jeito. Que me olhassem com pena, ou que se afastassem de mim. Afinal, quem ia querer ficar perto de um cadeirante? Tendo que fazer favores o tempo todo? Eu só seria um estorvo.

— N-Não. Eu não quero sair — O olhei em súplica. — N-Não podemos apenas andar pelo hospital?

Hoseok me olhou alguns segundos antes de responder.

— Claro — Ele abriu um sorriso e se levantou, me encarando.

Certo, está tudo bem. Não tem por que entrar em pânico.

— Pode me ajudar? A subir na cadeira — Pedi.

Ele me olhou de forma triste, talvez até um pouco relutante, e então me envolveu com os braços, me ajudando a sair do lugar. Eu não podia fazer muito esforço físico, porque a qualquer hora os pontos podiam se soltar, e eu não queria que algo assim acontecesse mais uma vez. A cadeira de rodas ficava sempre bem perto da maca, porque meus pais e mesmo o médico achavam que eu poderia ter que usá-la de forma urgente alguma hora — eu sabia o que eles queriam dizer com isso, e, embora tivesse minhas ações limitadas, era ótimo, porque eu não queria que enfermeiras me levassem para o banheiro ou coisas do tipo. Só se fosse mesmo necessário.

Hoseok e eu paramos em uma área um pouco isolada do hospital. Alguns pacientes pareciam ir ali para tomar um ar, já que havia uma grande janela que dava vista para o jardim.

O ruivo se sentou em um dos bancos de madeiras, e posicionou a minha cadeira ao seu lado. Ele parecia mais desconfortável do que eu no começo, e acho que eu podia entender um pouco o seu lado.

— Lembra de quando o Yoongi hyung nos apresentou? Você ficou morrendo de ciúmes — Ele riu, olhando para cima. Abri um sorrisinho. — Um dia depois já estávamos juntos como unha e carne. Você até me chamava de Hobi, lembra?

— Não sei. Talvez — Dei de ombros, fingindo estar indiferente. Mas logo depois acabei caindo no riso junto com o mais velho.

Talvez pareça um pouco exagerado, mas Hoseok era como um verdadeiro sol na vida das pessoas. Ele conseguia tirá-las da sombra e aquecê-las de uma forma tão natural que quase não se podia perceber.

Mas, infelizmente, nem mesmo o Sol ilumina para sempre.

Em algum momento ele se vai.

— Sua mãe queria nos matar toda vez que eu e Yoongi dormíamos na sua casa. Ela sempre nos fazia limpar a bagunça — Eu disse, nostálgico. — Às vezes eu achava que não voltaria pra casa até que tivesse deixado cada pedaço do chão brilhando — Ri.

— Não sei como ela ainda deixava vocês irem pra lá — Balançou a cabeça negativamente, com uma expressão de desaprovação — porém nem um pouco convincente. — Éramos umas pestes — Não que tivéssemos deixado de fazer as mesmas coisas, pensei.

Nós continuamos a conversar ali por pelo menos mais uma ou duras horas, e por um momento me vi sem preocupações. Sem pensar no futuro ou no passado — pelo menos não de uma forma ruim —, sem martirizar a mim mesmo a cada minuto ou sentir vontade de fugir.

Era uma sensação boa. Só não era...completa.

— Jungkook — A voz de Hoseok tirou a minha atenção de meus pensamentos, e sua mão encontrou o meu pulso, deslizando os dedos por eles. — Desculpe. Por não ter te impedido de ir embora. Por não ter vindo antes — Ele me olhou nos olhos, e pude ver a verdade refletida nos seus. — Sei que não tenho o direito de te pedir isso, mas dê um tempo aos outros. Todos amam você. Taehyung fala de você todo dia.

Forcei um sorriso.

— Obrigado por vir, hyung — Agradeci, soltando sua mão e ainda sorrindo.

Eu não queria desapontá-lo. Não queria dizer que eu não conseguia perdoá-los. Não queria mostrar que cada lágrima minha fazia parte de um oceano no qual eu mesmo estava me afogando.

— E aí? Como foi? — Mamãe perguntou, entrando no quarto. Ela carregava uma expressão mais leve. Era a primeira vez que eu a via assim em muito tempo. — O que foi? Por que está com essa cara? — Ela correu até mim e envolveu o meu rosto com as mãos, preocupada.

— Nada — Respondi, afastando suas mãos de mim.

— Você não parece bem. Achei que fosse ficar feliz pelo seu amigo ter vindo te ver — Ela pareceu decepcionada.

— Eu fiquei, mãe — Tentei convencê-la, mentindo para mim mesmo. — É só que...ainda é difícil digerir tudo isso — Expliquei, e a mulher olhou para baixo, sem responder. Minha mão buscou a sua e entrelacei nossos dedos, forçando um sorriso para ela. Ela sorriu de volta, e mais uma vez vi os seus olhos se tornarem cristalinos com as lágrimas que estavam prestes a cair.

— Você está tão magro. E pálido — Disse, desnorteada. — Você precisa comer, Jungkook. Não quero que fique doente — Suplicou, com uma aura quase infantil.

— Vou tentar — Mentira.

— Você precisa que a mamãe faça algo para você? Te traga alguma coisa? Eu posso comprar algum salgado na lanchonete, se estiver com fome. A comida do hospital é horrível.

Neguei, balançando a cabeça levemente. Eu acabava ficando um pouco tonto quando me movimentava de forma muito brusca, então precisava tomar cuidado. Meus sentidos ainda estavam um pouco confusos por causa do acidente.

Ela suspirou.

— Bem, e como estão os seus ferimentos? Estão melhorando? O Doutor disse que a sua recuperação está sendo boa, e que logo você poderá ir pra casa...

— Mãe — A interrompi.

— Sim, amor?

— Será que a senhora pode me deixar sozinho? Por favor — Pedi, e notei como sua feição se tornou ainda mais triste.

Me desculpe, mãe. Talvez algum dia eu possa te responder com sinceridade.

Até lá, por favor, não se esforce tanto. Você já faz mais do que o suficiente.

Sempre fez.

Um mês. Já fazia um mês que eu estava no hospital, e, infelizmente, os dias pareciam ficar cada vez mais longos à medida que passavam. Era como se o tempo estivesse congelado.

Eu visitava o meu psicólogo quase todos os dias, e tinha certeza de que eles também sabiam que eu não estava melhorando. Bem, pelo menos não emocionalmente falando. Na verdade, me impressionava como Jin hyung — como ele carinhosamente havia pedido para ser chamado — ainda não tivesse desistido de mim. Ele sempre me fazia perguntas e parecia animado, mas na maior parte do tempo mal trocávamos palavras.

A verdade é que eu não sentia mais nada. Me via como uma pessoa completamente vazia, sem luz. As flores dentro de mim haviam morrido, como se botas pesadas tivessem passado por cima do meu jardim, que uma vez fora bonito e colorido.

Apesar disso, quando eu sentia algo, a dor vinha com tudo. Como um baque. Como o carro que me atingiu naquela noite.

E de novo, e de novo, e de novo.

Sempre ouvi dizer que o branco é a junção de todas as cores, e que preto é a ausência de todas elas.

Nesses termos, eu me sentia cinza.

Ninguém gosta de cinza. Cinza é sem graça, é chato. "Combina com tudo", porque qualquer outra cor irá se destacar mais. Porque é indiferente.

É tudo e ao mesmo tempo nada.

Como podia a mesma coisa ter significados tão distintos, completamente opostos?

— Usar uma cadeira de rodas não tem lá muitos obstáculos, então pode parecer um pouco trivial para você ter que aprender, mas não é — A voz do médico atravessou os meus ouvidos sensíveis, despertando-me de meu transe. Meus pais estavam ali. O médico não costumava visitar muito o meu quarto, acho que porque ele preferia dar as notícias ruins aos meus responsáveis, para que assim eu não me abalasse tanto — e no entanto, era tão óbvio —, mas, dizia ele, aquele era um dia importante. — Certo. É claro que você não vai ter a ajuda dos outros o tempo todo, então sempre que for subir sozinho na cadeira, deverá antes encostá-la na parede ou em algum móvel que possa servir de apoio. E os freios devem sempre estar travados — Explicou, e tomei o cuidado de prestar atenção em cada palavra dita.

Era como se eu estivesse aprendendo a andar novamente, mas tivesse que memorizar todos os passos para que nada desse errado.

Na verdade, não parecia nem era tão difícil. Era apenas uma questão de prática; mesmo que eu saísse por aí batendo na parede ou em outros objetos, já me confortava saber que eu não dependeria da ajuda dos outros o tempo todo.

Quer dizer, eu não me sentia motivado a tentar, muito menos estava feliz em ter que usar aquilo. Mas eu não queria ser um peso maior do que já era.

— Por que você não dá uma volta pelo hospital agora? — O homem de branco sugeriu, assim que terminou a explicação.

— N-Não acha que é um pouco perigoso? — Minha mãe interviu, preocupada, o que fez o marido revirar os olhos.

— Deixe o menino tentar. Ele está numa cadeira de rodas, Jiwon. Tenho certeza de que ele não vai morrer — Meu pai revirou os olhos, apertando a ponte do nariz com os dedos. Eu percebia que a cada dia a relação entre eles dois ficava mais tensa e estreita, e eu detestava aquele clima pesado.

É culpa minha?, eu me perguntava.

— Quando você vai assinar os papéis do divórcio, Jiwon? — Papai perguntou, frustrado como em todas as vezes em que tocava naquele assunto. Eu estava escutando por trás da porta. Pedi a uma das enfermeiras que me deixasse um tempo sozinho, na cadeira, e ela concordou desde que eu não tentasse nada. De qualquer forma, meus pais estavam no corredor. E eu podia ouvir tudo.

A porta tinha uma longa e estreita abertura na lateral, de onde se podia ter visão do lado de fora.

Minha mãe o olhou como se ele tivesse pronunciado as palavras mais infames do mundo.

— Não acredito que você está falando disso de novo! — Respondeu irritada. — Como pode ser tão egoísta? Prometemos fazer isso, pelo nosso filho. Você quer que ele piore?

— É claro que não! — Respondeu de prontidão, como que ofendido. — Mas até quando vamos continuar nos prendendo a algo que não dá mais certo? Isso não está funcionando!

— Não estou fazendo isso por mim, Hanguk. Estou fazendo por ele — Levou a mão ao peito e se sentou em um dos bancos, esgotada. — Será que podemos falar disso em casa? — Ela dizia isso sempre que tentava evitar uma discussão.

— Se ao menos tivéssemos tempo. Nós não vivemos mais na nossa casa, Jiwon. É apenas um lugar para dormir. Nossa vida se alterna entre o período de trabalho e o tempo em que passamos aqui, com o Jungkook. — A mulher não respondeu, deixando a cabeça pendida para baixo; ele suspirou e se sentou ao seu lado, colocando uma mão sobre suas costas. — Não estou dizendo que não vou mais apoiar a você ou ele. Só não quero que forcemos algo que nenhum de nós quer. Você sabe que ele também não ia querer isso.

— E-Eu só não quero que ele se machuque ainda mais — Sua voz saiu abafada em meio a um soluço. — Quero que ele receba alta e tenha os dois de nós perto dele — As mãos adentraram o seu cabelo escuro e não mais tão bem cuidado, e percebi que a aliança ainda estava no mesmo lugar em que foi colocada. — Não quero que pense que é culpa dele. Quero que veja que as coisas continuam as mesmas. Mesmo que não seja verdade.

Papai suspirou e apenas murmurou um "eu sei", antes de se levantar e sumir da minha visão.

Achavam que eu talvez melhoraria se eles continuassem juntos, mas não era assim que as coisas funcionavam. Vê-los se prendendo por causa de mim tornava tudo ainda mais difícil.

Respirei fundo e coloquei as mãos nas rodas, tentando convencer a mim mesmo de aquela não era a hora para esse assunto.

Me senti um pouco desconfortável com todos me olhando com os olhos cheios de expectativa, como se eu fosse uma criança aprendendo a andar de bicicleta ou um pássaro deixando o ninho, mas tentei me desligar desses pensamentos por um minuto. Por apenas um minuto.

Quase bati na porta, mas quando passei por ela, meus ombros relaxaram quase que de imediato.

Mas essa sensação não durou muito.

Não olhe pra mim, não olhe pra mim, eu dizia mentalmente sempre que algum paciente ou visitante passava por mim.

Os olhares das pessoas me intimidavam de alguma forma, porque eu me sentia impotente. Me sentia exposto, transparente, sem nenhuma casca para me proteger.

Também tentava não olhar o meu próprio reflexo nas portas de vidro e janelas espalhadas pelos corredores, numa ilusória tentativa de esquecer.

Continuei conduzindo a cadeira completamente sem rumo, tentando evitar corredores com muitas pessoas — havia mais enfermeiros correndo de um lado para o outro do que pacientes, e isso tornava o ambiente ainda menos familiar e confortável.

Então eu ergui a cabeça, e vi uma figura já antes vista.

Um garoto, provavelmente da mesma idade que eu, andava em minha direção. Seus cabelos eram tingidos de rosa, exatamente como os do rapaz que eu vira alguns dias antes.

Me vi quase hipnotizado quando ele parou à minha frente e me olhou nos olhos. Engoli em seco.

— Por que você 'tá aí, parado no meio do corredor? — Perguntou, e isso me tirou do transe. — Precisa de ajuda?

— N-Não...eu só...estava dando uma volta — Ele não pareceu meio convencido, pela maneira como balançou a cabeça devagar e me olhou fingido.

— Tudo bem, então — Sorriu. — Meu nome é Park Jimin. E o seu?

— Jeon...Jeon Jungkook. — Respondi, hesitante. Que tipo de pessoa começava a puxar conversa com um estranho, e ainda por cima no meio do corredor de um hospital?

— Por que você está aqui? — Perguntou. Ele tinha uma postura um pouco desajeitada. As mãos no banco de madeira apoiavam o seu corpo e as pernas estavam esticadas. Ele usava uma blusa de mangas longas listrada e uma calça jeans.

Olhei para mim mesmo, como se a resposta fosse óbvia, mas suspirei ao perceber que talvez não fosse o caso.

— Eu...sofri um acidente. Já faz algumas semanas — Murmurei, incomodado pela pergunta repentina. — Não posso mais andar — Apertei as mãos. — E você?

Ele me fitou por alguns segundos, sem responder. Eu não queria que ninguém soubesse, pensasse ou falasse qualquer coisa sobre mim. Não queria que as pessoas me expusessem, mas tinha algo sobre o olhar de Jimin que me incomodava mais do que o de outras pessoas.

— Vim fazer alguns exames com a minha avó. Ela está doente — E então tive certeza de que ele era aquele garoto. Não tinha como não ser. Eu nunca havia visto alguém com o cabelo daquela cor.

— O que ela tem? — Perguntei, torcendo para não parecer muito intrometido. Mas ele apenas deu um sorriso fraco.

— Câncer.

— Sinto muito.

— Tudo bem. Também sinto pelas...você sabe, suas pernas — Ri nasalmente, e ele abriu um sorriso ainda maior. Não pude deixar de reparar que ele tinha um dente levemente torto, o que lhe conferia um toque mais "único". — E qual a sua história, Jeon?

"Jeon"?

— Como assim?

— Você sabe, a sua história. De onde você veio, o que faz. Essas coisas — Deu de ombros.

— Eu nasci em Busan, e eu e meus pais viemos para cá quando eu ainda era pequeno. Acho que é isso.

— Só isso? — Ele retrucou, parecendo intrigado. Tive vontade de rir da expressão que fez, como se aquele fosse o maior absurdo do mundo.

— Não sou o filho do Imperador da Coréia e nem nada do tipo. O que você estava esperando?

— Não sei — Deu de ombros novamente. — Algo melhor do que "nasci em Busan e vim pra cá quando era pequeno".

— E qual é a sua história, Park Jimin? — Cruzei os braços, o encarando com certo desdém. Já que você se acha o bonzão, deve ter uma boa história para contar.

— Eu também nasci em Busan, e vivi lá boa parte da minha vida. Pelo menos até ter a estabilidade que precisava para vir morar em Seul com a minha avó — Ele sorriu, parecendo distante e nostálgico. — Descobri que estava com câncer quando tinha sete anos — Fiquei paralisado quando ouvi tais palavras, sem saber o que dizer ou como reagir. Ele estalou os lábios e cruzou os braços atrás da cabeça, como se estivesse contando sua rotina, assim, sem mais nem menos. — Ah, mas não precisa se preocupar. Eu ainda estou aqui, vivo, e "curado" — Riu, e eu não entendi o motivo, mas gostei de como seus olhos quase desapareciam em suas bochechas cheias. — Ah, e agora eu faço faculdade de história. E você? Estuda?

— Não — Respondi, fraco. De corpo e alma.

— Por que não?

Sorri torto, procurando desviar o rumo daquela conversa.

— Por que você escolheu história? Não acha chato, tipo, ficar decorando todos aqueles nomes e datas?

— Não — Respondeu, simplista, e quase soou meio grosseiro. Mas talvez eu estivesse sendo o inconveniente ali. — Acho fascinante. Gosto de cada mínimo detalhe. São as coisas pequenas e mais simples que acabam formando algo complexo, entende?

— Acho que sim — Sorri pequeno, sem tirar meus olhos do rapaz ao meu lado enquanto tentava compreender tudo o que este falava.

— E é maravilhoso poder conhecer outras culturas e estudá-las. É como conhecer um novo mundo, completamente diferente do seu, com pessoas, ideais, histórias diferentes — Jimin passou um tempo falando sobre como era estudar história, e apesar de não ser muito fã dessa matéria desde mais novo, ouvi-lo falar tão passionalmente daquilo o tornava mais interessante.

Me encolhi quando uma pessoa passou por nós, repetindo aquelas mesmas palavras mentalmente. E Jimin fez uma careta pra mim.

— O que foi?

— Não quero que as pessoas olhem para mim. Não enquanto eu estiver assim — Sussurrei. A princípio ele não pareceu entender, mas logo assimilou o que eu queria dizer.

— E qual o problema de estar "assim"? — Sussurrou de volta, com uma cara engraçada. Não soube como responder. — Sabe, Jeon, embora eu não veja nada de errado com você — além de você contar histórias bem chatas sobre si mesmo —, se continuar a agir assim só vai chamar mais atenção — Disse confiantemente.

— As pessoas me olham com pena, Jimin. E isso é como receber um lembrete a cada instante de que eu perdi algo que nunca mais vou ter — Retruquei, sentindo a minha voz fraquejar. Minha respiração estava ficando pesada de novo.

— Se sua intenção é ser invisível, então sinto muito, porque não está funcionando — Ele tirou uma caixinha cheia de balas de hortelã do bolso, me ofereceu uma — que recusei — e enfiou outra na boca. — Tente se preocupar menos. Talvez você chame menos atenção se não demonstrar que se importa — Sorriu. — Sabe, talvez as pessoas não olhem por mal — Deu de ombros.

— É apenas...assustador — Sussurrei em resposta, abraçando o meu próprio corpo. Ele nunca entenderia. Ninguém nunca entenderia.

Nem eu mesmo era capaz de compreender.

— Tem razão. Acho que não posso te entender — Ele disse olhando para cima e de repente, após alguns minutos de um puro e incômodo silêncio, como se pudesse saber o que se passava pela minha cabeça. — Se você não pode andar, então eu te darei asas para voar — Seus olhos encontraram os meus, e ele sorria, ainda que parecesse muito sério quanto ao que dizia.

Fechei e abri os lábios várias vezes, tentando dizer algo, mas nada saía pela minha boca.

Eu não conseguia entender por que, do nada, aquele garoto resolveu se aproximar de alguém que mal conhecia.

Mas o mais confuso, para mim, era que meu coração continuava a bater cada vez mais rápido quando aquelas palavras ecoavam em minha cabeça repetidas vezes, num loop eterno.

Se me dessem um soco na cara naquele momento, eu ainda estaria com a mesma expressão de idiota.

 


Notas Finais


Obrigada, se você chegou até aqui! <33
Espero que tenha gostado e, caso ache que algo está faltando, por favor não desista de mim! Alguns detalhes serão mais abordados nos próximos caps, então...=]

Espero que você tenha gostado! <3
Deixe um comentário, eu ADORARIA saber sua opinião.


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