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  3. 03.2

História Não Ignore O Item 13 - 03.2


Escrita por: Namjoonie30cm

Notas do Autor


Muito obrigada a todos que estão virando uma chance para Não Ignore o item 13 sz
Fatos sobre a Hannah:
1 - inicialmente, ela seria loira e com olhos azuis (até eu perceber que nenhuma loira sobrevive ao apocalipse);
2 - seu sobrenome era para ser Edwards, aí mudei para Turner em homenagem a Lana Turner (mas, no fundo, o nome da Lana é uma homenagem a Lana Del Rey), depois Talbot e Edwards novamente pq o significado é protetor das riquezas, ela protege as riquezas dela: os irmãos.
Amo uma família sem dúvidas o ponto alto dessa fanfic fiquem soft comigo pf
3 - ela tem 20 anos;
4 - estava finalizando a faculdade (engenharia mecânica) quando tudo aconteceu (o curso tem a duração de cinco anos, alguém );
5 - Hannah é resultado de um sonho que eu tive com um apocalipse onde eu entrava numa mercearia apenas para pegar leite em pó para o meu irmão mais novo. Na vida real eu sou muito medrosa, a ideia de um apocalipse me faz tremer, mas naquele sonho eu assumi uma personalidade superprotetora que me fez engolir meus medos para proteger meus irmãos.
Apoiem a história comentando e votando, nenês sz
Boa leitura!

Capítulo 4 - 03.2


PDV Narrador

E assim, Dixon se viu preso entre cerca de nove walkers e uma queda d’água possivelmente perigosa com uma menina de três anos e dois adolescentes estranhos. Ele já sentia que acabaria tendo que salvar a bunda de todos eles mesmo que ainda estivesse fraco e desarmado.

Caçador olhou para trás avaliando suas opções: considerou pular no rio, no entanto a queda deveria ter no mínimo uns 15 metros e a água opaca não permitia saber o quão profundo era, sequer era possível identificar rochas nas águas turvas; poderia ser mortal se caísse bem em cima de uma pedra ou, Deus livre seus traseiros dessa má sorte, houvesse algum walker preso no lodo do fundo com mandíbulas escancaradas.

Não era uma opção ir para a água, principalmente com uma criança tão pequena junto deles.

Porém, seguir pelo rio com as crianças não era a única alternativa existente: estando sozinho, por exemplo, ele poderia tentar. Poderia puxar sua besta dos ombros estreitos de Hannah, empurrá-la para cima dos irmãos, abrir caminho e ir embora pela água ou por terra. Seria o que Merle faria sem sequer pensar duas vezes, provavelmente ele ainda jogaria o garoto em cima dos walkrs para ter uma distração garantida enquanto fugia de forma vergonhosa.

Sentiu-se tentado a seguir a ideia que lhe assaltou a mente, com toda certeza sobreviveria caso o fizesse e poderia voltar rapidamente para o acampamento, retornar a busca por Sophia.

Entretanto a ideia de fazê-lo não parecia… confortável e nem - Merle riria e o chamaria de maricas se ouvisse seus pensamentos -, correta. Ele se sentiu envergonhado por pensar em deixar três crianças para serem devoradas enquanto corria para salvar a própria pele como um frouxo. Aquilo era coisa que apenas covardes fariam e Dixon, apesar da fama de sua família, estava fodidamente longe de ser um.

Além disso, independente de qualquer coisa que os dois mais velhos tenham feito ou falado na noite anterior, ainda havia uma criança inocente que eles tentavam defender. Ora, eles haviam cuidado de sua ferida e lhe deram comida, água, um abrigo durante a noite, isso não era o suficiente para que Daryl apagasse aqueles pensamentos e ficasse ali tempo suficiente para garantir que todos se mantivessem bem?

Quando viu a garota morena atirar sua mochila no chão e sacar duas adagas pondo-se em frente a sua irmã mais nova como um escudo humano, ele soube que a resposta era sim. Se ela tinha coragem o suficiente para pôr-se entre walkers e seus irmãos para protegê-los, aquilo já era suficiente para que merecesse sua ajuda.

Mesmo que com as mãos limpas Daryl ainda era um sobrevivente que não precisava de armas para ser mortal e por isso estufou o feito com uma boa tragada de ar fresco antes de preparar os músculos para mais uma das várias lutas que vinha enfrentando para manter a sua vida. Daryl encarou os mordedores, estava pronto para esmagar cabeças com os pés já que sua besta não havia sido devolvida e ele não iria implorar.

Sentiu um cutucão seu braço, Seth o estava entregando sua balesta sem sequer o encarar. A expressão carrancuda do menino deixava claro que foi uma ordem da irmã, não sua vontade própria.

Dixon os olhou com gratidão em seu olhar, preferindo se manter calado e rapidamente a pegou, prendeu o pé no estribo e puxou a corda, colocou uma flecha na ranhura e mal teve tempo para mirar, apenas seguiu o instinto e acertou uma flecha no monstro mais próximo. O som da seta cravando no crânio macio foi como um tiro de largada, pois em seguida só se viam corpos caindo, sangue negro espirrando e ouviam pequenos choramingou de Lana.

Hannah movia-se com rapidez puxando as coisas pelos pescoços e enfiando adagas ora em suas têmporas, ora em seus globos oculares. Seth não ficava para trás, ostentava o machado e o facão em suas mãos empurrando-os com força contra os crânios, derrubando um atrás de outro com certa dificuldade, grunhia cada vez que se encontrava com algum recém transformado que ainda possuía os ossos duros, fazendo com que o metal ficasse preso em muitos momentos.

Mesmo que todos eles trabalhassem rápido ainda haviam muitos e a cada segundo mais pareciam surgir entre as árvores para se aproximarem da confusão. Daryl ainda derrubou mais dois com as flechas antes de começar a usar a coronha para esmagar cabeças, o instinto de sobrevivência dominando seus membros, fazendo-o mais rápido e preciso em seus movimentos como se entrasse num piloto automático fodido que o deixava praticamente fora de si.

O sol ardia acima deles, queimando sua nuca, piorando cheiro de podridão que nem o incomodava mais. O calor e o cansaço foram substituídos por algo maior: a vontade de viver. A necessidade de se proteger era sempre maior do que qualquer outra coisa, movia seus membros limpando sua mente e acelerando sua pressão sanguínea, deixando-o zonzo em alguns momentos. Nada mais no momento importava do que empurrar cadáveres para o chão e usar suas botas para esmagar os ossos macios e livrar seu caminho de mais um corpo que poderia arrastar-lhe para a sepultura. Não era ele ali se movendo, esquivando-se de dentes e unhas: era seu instinto de sobrevivência, a única coisa que mantinha seu coração batendo, mesmo que acelerado a um ponto perigoso e todos os avisos em seu cérebro o mandassem apenas correr para o mais longe possível sem sequer olhar para trás.

A atenção de Daryl estava toda nos andantes a sua volta. Ele tinha consciência dos meninos se dividindo em dois para atacar e proteger, o Tripa sempre próximo da mais nova enquanto a irmã mais velha praticamente se enfiava entre os walkers, praticamente dançando com eles, puxando toda a atenção para si como se uma estrela da música pop e eles seus fãs enlouquecidos por um pedacinho dela. Aquilo era uma idiotice sem fim, enfiar-se cada vez mais perto dos mordedores, mas isso os levava para longe da criança parada aos prantos, mostrando que para ela tanto faz permanecer viva ou não, o que importava era a pequena permanecer bem.

Ele não sabia quantos havia derrubado quando finalmente pode respirar e se deu conta de que seu coração estava para explodir em sua caixa torácica. Muitos corpos estavam imóveis ao seu redor. Homens, mulheres e até umas duas crianças, mas ele não parou para contar, gravar seus rostos ou se importou em sentir pesar: já não eram mais humanos, apenas corpos famintos pela sua carne que não pensariam duas vezes antes de abri-lo ao meio para devorar seus órgãos antes mesmo que ele perdesse a consciência. Os sons de luta, os grunhidos das coisas e até alguns gritinhos que Lana havia solto atraíam cada vez mais coisas, dando-lhe a impressão de que o fluxo de caminhantes nunca cessaria.

Num momento de distração para entender de onde havia vindo um gemido que parecia humano demais, Daryl foi atacado. Dedos fortes prenderam sua camisa, fazendo força para se aproximar do pescoço do caçador, que lutou para se soltar, empurrando a coronha da besta contra o ser; antes mesmo de se livrar do mordedor que resolveu adotar hábitos de macacos ao pendurar-se no tronco do caçador, algo puxou seu pé, derrubando-o no chão.

Dixon engasgou quando o ar foi expulso de seus pulmões com a força do impacto. Ele estava praticamente dominado com duas coisas em cima de si, mas não desistiu, jamais cederia tão fácil. Seus pés não paravam de sacudir e bater em qualquer coisa que estivesse em seu caminho, acertando a cabeça do outro que tentava morder suas pernas, conseguia se livrar dos dentes, mas ela continuava a puxar-lhe as calças tentando subir pelo seu corpo.

Lutou para se soltar, batendo com a coronha da besta no que estava preso ao seu tronco, ouviu um crack do pescoço quebrando e empurrou a besta com força, afundando a arcada dentária da criatura em seu crânio e a jogando para cima de si com um empurrão. Menos um. Sentou-se tentando puxar os pés para longe do segundo que rastejava em sua direção como um verme. Daryl segurou seus ombros quando ele saltou em sua direção, ficando o mais longe possível dos dentes, tentando não olhar para os olhos opacos, perdidos, mas seus braços estavam cansados pelo esforço recém-feito para jogar o primeiro de cima de si. Novamente se viu abaixo de uma criatura e estava passando a odiar a sensação.

Por força do hábito, Daryl pensou em pegar a besta para atacar, esquecendo-se que ela estava há metros de distância presa a cara de um dos bichos que se movia debilmente sem conseguir se levantar devido ao peso da arma em sua cabeça. Xingou o vento e varreu o chão com os olhos em busca de qualquer coisa que pudesse servir enquanto a criatura se forçava contra seus braços, usando toda força que tinha para chegar até a carne quente do caçador.

Encontrou uma pedra de tamanho considerável, mas ela estava distantes demais para que fizesse diferença. Ele seria atacado antes mesmo de dar o primeiro passo, isso caso conseguisse se soltar. Surpreendendo-o, Seth agiu rápido ao assumir a situação e enfiar sua machadinha na lateral da cabeça do bicho que cedeu ao peso do próprio corpo sem vida assim como faria um balão ao perder seu ar interior. O menino estendeu uma mão içou Daryl para cima e deu meia-volta para atacar o que uma vez deve ter sido uma mulher muito bonita, mas agora era apenas mais um monte de pele seca como couro se arrastando até sua irmã mais nova.

Não houve tempo para respirar, Daryl catou a pedra grande que havia visto antes e a acertou diversas vezes contra a cabeça do que estava mais próximo, fazendo sangue espirrar em si. Antes mesmo de terminar com este já haviam mais quatro coisas grunhindo próximas a Seth, que agora estava mais perto da linha das árvores.

- Venham até aqui! Isso, cabeça oca, olha para cá. Pode vir aqui é apenas carne de primeira qualidade. - o garoto continuava falando alto batendo o machado contra o facão, fazendo um som insuportável com as lâminas, atraindo as atenções para si. - Jesus, a que ponto chegamos? Vem dar uma mordidinha, vem, pode ter certeza que eu sou uma delícia.

Dixon correu até o mordedor que ainda estava no chão sob o peso de sua besta, esmagou o crânio do desgraçado e armou a besta com os olhos frenéticos enquanto olhava em volta, não havia nenhum monstro perto de si o suficiente para merecer atenção, porém, constatar que ele não viu Hannah em lugar algum e o preocupou.

Engatilhou a besta e atirou, derrubando o que estava mais próximo de Seth. Colocou outra flecha na besta, usou a coronha para acertar a cabeça de um monstro que havia se aproximado demais de si e atirou novamente, derrubando com a seta outro que estava se aproximando de Lana.

Daryl olhou em volta, seu instinto o mandando checar se todos estavam em pé e finalmente encontrou Hannah rolando com uma criatura pela terra, fazendo seu máximo para afastar-se da boca que exalava podridão e morte, moviam-se tão rapidamente para perto da beirada que para o caçador era difícil ver um meio de acertar o bicho sem acertar a morena no processo. Ora, mesmo que não fizesse grande diferença em sua vida se ela estava viva ou morta ele não queria ter o seu sangue em mãos e a culpa cutucando sua consciência. Eles estavam no mesmo lado no final de contas.

Pela falta de flechas, Daryl teve de correr para puxar o corpo do walker de cima da menina pelo pescoço e acabou com um punhado de carne podre em mãos, os ossos dos punhos estavam firmes ao redor dos ombros da morena. Com um puxão final, ele finalmente a arrancou de cima da mulher e a acertou na cabeça do monstro com força, descontando no crânio em decomposição que estourou como fruta podre. Uma energia alucinante fluía em seu corpo, resultado da adrenalina que recebeu por novamente estar tão próximo da morte.

Ouviu um som de faca quebrando osso atrás de si e virou, a besta já pronta para acertar mais cabeças, mas era apenas Hannah completamente descabelada, suja e suada, a camisa antes branca agora coberta de sangue preto com outro walker morto aos seus pés. Ela lhe sorriu, bochechas coradas e olhos brilhando de forma selvagem.

- Mana! - Lana soltou um grito e todas as atenções foram direcionadas a menina. Lana estava em cima de um tronco de árvore que parecia ter sido queimado por um raio, a raposinha presa entre suas mãos e o cadáver de uma mulher tentando puxá-la pelos pés lhe fazendo companhia.

Daryl correu com a besta em mãos para o chão preparando-a para mais uma flecha, as mãos trêmulas deixaram a corda escapar e ele xingou antes de puxar o elástico novamente. Estava longe demais para acertar a criatura com suas mãos, teria que ser com a besta, mas já não haviam mais flechas consigo.

Ele xingou novamente antes de varrer o chão com os olhos a procura de suas setas. Pela visão periférica ele pode identificar Seth com seu machado preso em uma cabeça; Hannah estava mais a frente, correndo para alcançar a irmã, contudo eles estavam longe demais, antes de chegar até ela a criatura movida pela fome já havia jogado sua carcaça em direção a Lana, que ficava cada vez mais vermelha num choro silencioso.

O coração de Daryl batia com força contra o peito com a explosão de adrenalina quando viu a criatura agarrada aos pés cobertos pelas botas de Lana, que sacudia as pernas sem parar, gritando ao sentir que era apertada entre os dedos podres. Pouco afetada pela fraca menina, a criatura continuou se inclinando em direção a pequena com a mandíbula escancarada prestes a dar a primeira dentada de carne quente na perna curta.

A mordida teria sido fatal se Hannah não houvesse se jogado contra a coisa com as mãos estendidas e a faca em punho, enfiando o metal na boca da coisa, errando o cérebro por pouco, mas isso não importava, pois ela impediu a mordida. A balestra estava armada, mas com os cabelos castanhos sujos tampando sua visão da criatura não era possível uma linha de tiro limpa. Seth correu para puxar a pequena que estava aterrorizada aos prantos enquanto via sua irmã mais velha lutar com uma criatura que parecia mais monstruosa de perto do que em seus sonhos.

Ela retirou a adaga e a enfiou novamente, paralisando de vez o corpo débil.

Daryl suspirou, mas não se permitiu baixar a guarda. Aquele havia sido o último, mas poderiam ter outros indo para lá. Pegou todas as outras flechas que haviam se espalhado, prometendo para si mesmo que faria novas para não passar por essa agonia novamente e olhou em direção aos irmãos. Eles estavam ocupados conversando com a menina pequena, as atenções focadas em ter certeza que ela estava inteira e o menos traumatizada possível para perceber o caçador andando de lá para cá.

E estava ali mais uma chance de ir embora silenciosamente, pensou enquanto limpava suas flechas na própria camisa e observava a pequena Lana recebendo um carinho na cabeça pela irmã mais velha. Mas ele não foi, assim como quando em todas as outras vezes em sua vida em que teve a chance de escapar sem nenhuma atenção em si, ele suspirou e apenas ficou. Ele sempre ficava, não sabia porque o fazia e preferia desta forma.

Daryl sentiu uma inveja absurda lhe dominar, misturando-se a uma certa felicidade e até alívio pela pequena menina. Assim como a outra garota, Sophia, Lana tinha pessoas a protegendo, cuidando dela, observando cada passo para que ela permanecesse segura e bem, dando carinho. Dixon não sabia que sensação era a de receber um abraço carinhoso e desesperado como o que Lana recebia do irmão, ele nunca teve aquilo e, mesmo que tentasse fingir que não, seu peito reconhecia que a dor que lhe era apresentada demonstrava o quanto ele já havia ansiado por aquilo.

Mesmo no apocalipse eles pareciam a família perfeita, aquilo o enervou, mas não conseguia sentir raiva deles, diretamente, mas sim do seu passado. Não era culpa da família feliz se a vida dele antes e a após os mortos andarem sob a Terra era a mesma.

Hannah deixou Lana com um beijo aos cuidados do irmão sentado em um tronco, longe suficiente da linha das árvores para estarem seguros caso mais algum surgisse. Ela seguiu em direção aos cadáveres que estavam próximos da queda.

Tentando entender o que ela queria por lá, o caçador viu que um deles tinha uma adaga no crânio e outra no ombro. Ela se abaixou, recolheu as facas e se virou para pegar as mochilas que haviam sido esquecidas na terra, Seth se aproximou da irmã para ajudá-la e esse foi o seu primeiro erro.

Daryl ainda estava com os olhos nos irmãos ajustando as mochilas nas costas, eles estavam próximos demais da beirada para estarem seguros, mas tentou ignorar a sensação ruim que o assolava que era como um pressentimento, algo lhe dizia para chamar os meninos e afastá-los da beirada como se fosse certo que iria dar merda, mas só haviam corpos por todo lado, não poderia dar nada errado, certo?

Eles terminaram de ajustar suas coisas, voltaram a pendurar as armas, mas o Tripa deixou cair seu facão e aquele foi o seu segundo erro.

Sua irmã de abaixou para pegar o facão que havia parado próximo a um corpo que estava pendurado pela raiz de uma árvore com as pernas pendendo, balançando com a força do vento e achou que estava alucinando quando notou sua mão se mover.

O rosto de Daryl se contraiu em horror quando viu Hannah ser agarrada pelo monstro próximo a beirada. Ele quase podia ver a cova que cavaria por aquela louca quando uma mão pertencente a um walker a puxou com força pelo braço esquerdo e o Tripa tentar agarrá-la pelo membro livre para trazê-la de volta, fazendo da irmã uma corda num cabo de guerra mortal e aquele foi seu terceiro erro.

A menina cedeu a força da criatura e caiu no chão, chutou a cara do monstro diversas vezes, fazendo a mandíbula descolar e o corpo dele fazer força para trás. O galho que o segurava cedeu àquela agitação com um crack alto, Lana gritou e Seth agarrou com mais força os braços da irmã, mas era tarde demais.

Seth, a coisa e a garota caíram juntos no rio.

Daryl ainda não conseguia acreditar que tudo aquilo aconteceu em questão de poucos segundos. Ele se inclinou um pouco na beirada para tentar enxergar algo nas águas turvas, mas a aquela distância tudo o que pode ver foram as ondas formadas pela queda dos três sendo dispersadas e uma grande mancha espalhando-se pela água gradualmente. Sangue.

E lá estava mais uma chance de virar as costas e fingir que nada havia acontecido sendo completamente ignorada pelo caçador. Dixon pegou a mão de Lana que chorava compulsivamente e desceu pelo caminho mais seguro com a menina pendurada em suas costas. De cima ele não conseguia enxergar nada e muito menos ajudar. Para descargo de consciência, ele tentou se convencer que só estava preocupado com a boneca de Sophia que havia visto dentro de uma das mochilas, mas aquela desculpa não colou nem para si mesmo.

Não conseguiu evitar a culpa que o assolou por não ter matado a coisa antes que ela puxasse a morena. Ele deveria ter feito alguma coisa, não importava se tudo havia ocorrido rápido demais ou se não havia como ele ajudar. Daryl deveria ter sido mais rápido ainda que o walker e evitado que qualquer coisa acontecesse. Ele era o mais velho e experiente, ele é quem deveria assumir a posição de protetor e havia falhado nisso.

Se aquela maldita mancha maculando a água fosse o sangue de um deles - ou pior, dos dois - ele jamais poderia se perdoar por ter falhado mais uma vez. Se um deles não sobrevivesse, ele teria que viver com o peso merecido em suas costas castigando-o pelo resto de seus dias.

Ele não aguentava mais cometer tantos erros em defender as pessoas a sua volta.

Quando chegaram em baixo, Daryl continuou com Lana no colo até alcançar a margem; deixou a sua besta no chão ao lado da menina, pegou uma de duas flechas para usar como estaca e estava prestes a pular na água quando a morena enfezada saiu na margem a alguns metros de si com o facão de seu irmão em mãos e Seth gritando impropérios a suas costas.

- Sério isso? Nos manter vivos não significa se matar, sua louca! – ele gritou e ela se virou com a raiva fazendo seus olhos faiscarem.

- Será possível que o "Caçador Idiota" é o único com cérebro em funcionamento nessa floresta! – Dixon falou entredentes, a respiração pesada numa tentativa de recuperar o fôlego. - Ao menos briguem mais baixo. Ou atrairão mais deles para cá!– no fim, ele foi ignorado.

- Eu sou louca? EU SOU LOUCA! Você que entrou no meio sendo que eu tinha total controle da situação!

Daryl só se perguntava porque ele sempre era o mais zen não importava em que grupo estava.

- Você tinha controle da situação? Faça-me rir!

- Isso não é a droga de uma piada, Seth!

- Sério? Estou te achando com uma cara ótima de palhaça agora!

O Caçador não sabia o que fazer. Olhou para Lana, esperando lágrimas, mas a garota estava muito entretida com seu saco de balas ignorando completamente a briga de irmãos, como se o ataque de mais cedo não houvesse ocorrido e seus irmãos não estivessem prestes a matar um ao outro bem na sua frente.

- Qué uma? – ela perguntou com sua voz fofa, ele estava prestes a negar, mas ao ver os olhos da miúda... ele nunca conseguiria dizer “não” a ela.

Os cinco segundos que levou para Daryl olhar para Lana foi exatamente o tempo dos irmãos começarem a brigar no solo lodoso quando ambos caíram no chão. Tapas, socos e arranhões eram trocados com a mesma força de vontade dos gritos. E Dixon chegou um dia a achar que nada no mundo atraia mais zumbis do que os tiros de Rick.

Sem saber o que fazer, Daryl resolveu não fazer nada. Quando ele mesmo e Merle brigavam não havia ninguém no mundo que os parassem, o jeito era esperar que os dois acalmassem os ânimos. Viu que Lana havia se sentado em uma parte em que a areia estava mais seca e ficou em pé ao lado dela, de olho na mata para caso algo aparecesse, ele estaria preparado.

- Quando eles param de brigar? - pela reação da menina, aquilo era bem cotidiano. Lana o olhou e sorriu.

- Já, já. Seth vai ficar todo dodói, mas vai segura a mana. ‘Cê qué apostá? - ela perguntou estendendo a mãozinha, que Daryl só apertou para não deixá-la tristinha.

Ele odiava ficar perto de crianças pequenas por isso, se sentia um idiota quando fazia esse tipo de coisa pelo simples fato de não conseguir dizer “não”. 

- A DROGA DA MINHA FACA ESTAVA NO CHÃO E OS DENTES PODRES DAQUELA COISA A CENTÍMETROS DA TUA PERNA! - Seth, que apanhava, finalmente inverteu as posições e segurou os braços da irmã. - ADIVINHA O QUE ISSO SIGNIFICA? MAIS UMA MORTE. EU NÃO PRECISO ENTERRAR MAIS NINGUÉM!

- E VOCÊ ACHA QUE EU PRECISO?

Eles finalmente pararam. O supercílio do menino sangrava, havia pequenos rasgos na camisa e marcas de unha na bochecha, ela tinha sangue saindo de uma abertura em seus lábios e estava completamente descabelada, ambos estavam cobertos de lama. Ele realmente parecia mais acabado que ela.

Com tanto sangue e terra eu teria atirado primeiro e perguntado depois.

- Ganhei!- a menina ao seu lado gritou animada e sorriu grande. Dixon negou com a cabeça, incapaz de acreditar que ele havia mesmo feito uma aposta com uma criança daquela idade. - Meu prêmio vai ser… cavalinho? - perguntou com os olhos esperançosos brilhando.

- Nem em sonhos, Pequena. - lentamente a expressão dela se alterou, os olhos pareciam marejar mais a medida que os cantos da boca caiam, empurrando as linhas finas e rosadas para frente, num biquinho fofo, mas Dixon estava pronto para isso, apenas desviou o olhar para não ceder. - Precisamos andar, o pequeno desabafo de vocês vai atrair muitos daquela coisa. – Daryl falou para os outros dois apontando para o corpo que flutuava seguindo o curso do rio

Os irmãos pareceram acordar para a realidade e logo estavam novamente a caminho da fazenda. Ninguém falou mais nada, nem mesmo a pequena Lana que pareceu ter aprendido a lição após o último ataque e havia se conformado em andar e fazer bico com os bracinhos colados ao tronco um por cima do outro, sua versão de cruzar os braços sem qualquer coordenação.

Algo havia mudado no ambiente ao redor deles. A floresta permanecia úmida e quente, mas eles não pareciam ser os mesmos e olhando ao redor Dixon não conseguiu entender como podia sentir que algo grande havia acontecido quando todos ainda aparentavam ser os mesmos.

Eles não eram mais três estranhos que poderiam enfiar uma faca nas costas uns dos outros a qualquer sinal de ameaça e uma criança a tiracolo. Daryl não saberia dizer o que exatamente havia mudado, mas após aquele pequeno contratempo que lhes levou boas horas do dia, com certeza havia alguma coisa diferente no ar e, sinceramente, ele não estava muito preocupado em identificar essa coisa.

E muito menos entender o que era aquele olhar estranho que assumia a expressão de Hannah todas as vezes que ela passava os olhos rapidamente por ele para desviar logo em seguida.

Ele nem havia percebido quando haviam ficado mais fisicamente próximos. Aos poucos em meio a caminhada todos parecia ficar menos desconfiados a respeito uns dos outros. Assim como ocorria com a pequena Lana, os irmãos sentiam que algo no Caçador inspirava confiança e foi com essa constatação que Hannah passou a andar ao lado de Daryl com Lana e Seth logo atrás, deixando claro que agora ele não precisava mais de alguém nas suas costas e uma arma o ameaçando para ter certeza que ele ficaria na linha.

- Não vamos pegar a besta de volta? - o Tripa, mesmo ainda irritado com a irmã, a perguntou quando finalmente deixaram o som da água corrente para trás.

- Ah, - os olhos dela caíram rapidamente para o monte de madeira e metal nas mãos do Caçador. - não. Um homem trabalha melhor com suas próprias ferramentas.

- Um movimento errado, cara. Só um. - Seth tentou ser ameaçador, mas as palavras apenas fizeram Daryl soltar um bufo com um sorriso no rosto. O garoto chegava a ser patético quando usava aquele tom com o timbre rouco de adolescente que estava alterando a voz.

Ainda houveram algumas ameaças ditas em voz baixa por parte de Seth, o que fazia Daryl rir todas às vezes e Lana o acompanhar, não porque ela entendia o motivo de tanta alegria, mas porque ela gostava dele, mesmo que este houvesse lhe negado uma carona em suas costas quando a claramente ganhou uma aposta.

Com sua besta de volta Dixon finalmente pode se sentir mais seguro, completo. Toda vez que via algo se movendo entre as árvores ou arbustos logo atirava e ficava tudo numa boa. Acabou ganhando quatro esquilos, dois coelhos pequenos e um walker mortos nessa brincadeira. Seus reflexos eram de um bom caçador, essa conclusão deixou Hannah quase orgulhosa dele, ela sabia que a balestra não era uma arma qualquer, não quando estava apoiada nas mãos forte onde ela se tornava uma extensão de seu braço.

Eles não fizeram mais paradas para comer, apenas dividiram entre si duas garrafas de água - Daryl foi forçado a beber uma a mais, pois Hannah havia o lembrado da quantidade de sangue que ele perdeu e, mesmo que a culpa lhe batesse, ele não pode negar muito a sede que sentia.

Após mais um tempo de caminhada, Daryl se acostumou a ver o alívio no rosto de Hannah toda vez que viam que aquele barulho desconhecido era apenas algum animal. Ele estava quase gostando da sua companhia, o modo como ela falava frases desconexas de vez em quando para quebrar o clima tenso ou brincava com seus irmãos mais novos, principalmente com Lana, já que Seth ainda estava um pouco arisco após a briga. De qualquer forma, o trio era como uma lufada de ar fresco depois de um ataque traumático.

O clima se tornou leve até encontrarem a cerca que delimita a propriedade de Hershel. Naquele momento o sol estava começando sua descida no céu, ele suava sob sua camisa rasgada e sentia como se o chão estivesse tremendo, resultado de tanto esforço depois de tanto sangue perdido.

Dixon soltou algumas estacas antes de atravessar a cerca, ainda conseguiria andar mais um pouco antes de chegar a sua barraca que estava logo ali. A distância podia ver o trailer de Dale e uma fogueira ardendo, provavelmente estavam se preparando para mais uma noite fria.

- Venham, ainda tenho alguns analgésicos, talvez alguns ansiolíticos e água, vou repor o que vocês gastaram comigo. – disse e Seth congelou enquanto colocava sua mochila no chão, Daryl teria sorrido se o mundo não estivesse girando.

O rapaz parecia desconfiado, Lana estava pulando animada já a mais velha deles era com certeza indecifrável.

- Como dissemos, só te deixar na porta. – disse Seth secamente.

- Calma, Seth. – Hannah colocou sua mão no ombro do irmão que a olhou desconfiado. Ela estendeu a Daryl as facas dele e a boneca suja de Sophia. Ele se surpreendeu quando viu o amontoado que mais parecia ser feito de terra do que pano, tantas coisas haviam acontecido nas últimas vinte e quatro horas que até havia se esquecido de que tudo aquilo havia sido pela garota que ainda estava perdida. – Nós estamos indo. Será uma longa caminhada até o carro e planejo chegar lá antes de tudo ficar escuro.

Lá no fundo do seu ser Dixon sentia que deveria pedir para que eles ficassem, mas nunca foi de insistir com as pessoas, muito menos se humilhar por atenção ou qualquer coisa do gênero. Então pegou suas coisas e se preparou mentalmente para o interrogatório pelo qual com certeza passaria.

Também pensou em até mesmo uma justificativa para conseguir olhar nos olhos esperançosos de Carol sem se sentir muito culpado enquanto explicava da forma menos humilhante possível o porquê de ter perdido um dia inteiro de procura.

- Já está quase escurecendo, tem certeza que vão voltar à floresta? Temos carros aqui, você pode conseguir um pouco de gasolina, comida e um teto por essa noite. – ele não era de insistir, mas havia sido um dia difícil para todos. E, tecnicamente, os dois mais velhos haviam se metido entre ele e um walker.

- Não queremos abusar da hospitalidade. – o Tripa continuava irredutível.

- Não vamos ficar com o tio? - Lana perguntou tristinha, o bico que ela fez quase partiu o coração dele em dois, mas Seth se manteve firme.

Tudo o que veio a seguir aconteceu muito rápido sequer dando a Dixon um momento para analisar a situação.

Ele viu um movimento suspeito pela sua visão periférica e sem pensar muito agarrou sua faca e atirou-a em direção a cabeça de Seth, errando por poucos centímetros a testa do garoto e acertando a criatura que se esgueirava por trás dele.

-  Não! – alguém gritou. Ele nunca saberia quem.

Daryl deu um passo para trás tentando se equilibrar nos joelhos que pareciam prestes a ceder ao seu peso, ele iria desmaiar estava sentindo os músculos moles e leves, fora de sintonia com a mente bagunçada, ele se sentia perdido com o chão tremendo sob seus pés.

Seth se aproximou dele empurrando o ombro do outro com força, Dixon não o culpava, se atirassem uma faca sob o risco de acertar sua cabeça essa seria a última ação do sujeito. Mas a empatia que sentiu não impediu o ímpeto de querer dar uns socos na cara dele pela vontade de matar o garoto que achava que tinha tamanho de gente para o enfrentar.

A força de do rapaz foi o suficiente para os derrubar no chão, Daryl tentou levantar a mão para bater no menino, mas não encontrou forças. Apenas conseguiam ouvir gritos e mais gritos antes de um tiro soar à distância e o menino acima de si gritar de dor.

Ele queria ver o que estava acontecendo, sabia que não estavam seguros, que algo importante estava acontecendo, mas aquela batalha foi perdida antes mesmo de começar. Dixon não conseguiu impedir suas pálpebras pesadas de cerrarem tapando a visão embaçada de cabelos sujos acima de si e do fundo azul, azul, tão azul do céu sendo tocado timidamente com folhas pretas, pretas e vermelho se misturando assim como o mundo girava à sua volta. A sensação era de que estava flutuando naquele círculo preto e vermelho.

O grito infantil de Lana foi à última coisa que ouviu antes da escuridão o engolir.


Notas Finais


Eu fico tão feliz escrevendo essa fanfic que vocês não devem ter uma ideia do quão feliz eu fico sabendo que ela existe e que sou eu escrevendo. A mãe mais orgulhosa: eu mesma, Anna Mello.
Então, o que acharam?
Ai gente eu tô meio “HM” com a cena de ação, por favor, me digam se está aceitavam pq eu com certeza sei escrever romance, mas luta está sendo algo um pouco mais problemático.
Esse capítulo era para sair apenas no dia 8, mas aí resolvi mudar o dia de postagem, então agora todos os domingos teremos capítulo novo e, caso eu não possa atualizar, tentarei avisr com antecedência, mas não esperem muito de mim, ok?
Próximo capítulo temos a chegada oficial na fazenda e muita tensão vindo por aí com direito de tentativas de assassinato, dedo no cu e gritaria. Se eu receber muitos comentários, talvez eu atualize antes do dia 10 RS
Eu t pensando na possibilidade de lançar capítulos bônus entre os capítulos normais contando um pouco da história deles pré-apocalipse pra tentar deixar a história um pouco mais fundamentada, o que vocês acham?
Deixem aí a opinião de vcs nos comentários sz
Até a próximaaa
Nana


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