[CAMILA POV]
Acordei sentindo algo puxando meus cabelos. Abri um olho lentamente e encontro o verde. Um lindo verde esmeralda me encarando curiosamente.
Tornei a fechar os olhos, era muito cedo para uma fada acordar. Um suspiro escapou dos lábios da ser-humano, seu hálito quente e com cheiro de menta chocou-se contra meu rosto. Sorri.
— Camz? – ela falou, manhosa. – Camila... – continuou a chamar. – Karlinha. – puxou meu cabelo de novo, sem força. – Só estou esperando você para irmos pra escola.
Abri os dois olhos, e por um instante, me perdi no sorriso estampado no rosto de Lauren. Seus dentes branquinhos e um pouco grandes combinavam perfeitamente com ela. Sem perceber, eu já estava sorrindo também.
— Vamos? – indagou, me tirando do transe. Pigarreei e subi rapidamente o olhar para as órbitas verdes.
— Acho que prefiro ficar em casa hoje. – falei de brincadeira, me espreguiçando e batendo as asas algumas vezes.
— Uh, minha mãe está de folga hoje. Boa sorte! – Lauren se levantou da cama onde estava sentada e deixou um beijo na minha cabeça, pegando sua mochila e andando até a porta.
— Ei, é brincadeira, volta aqui. – resmunguei, a morena riu e deu meia volta. – Por que tem que ser tão cedo?
— Porque quero chegar antes da Dinah.
— Oh, a Dinah! – sorri, vi Lauren revirar os olhos. – Ela é legal.
— Você já me disse isso. Muitas vezes, inclusive. Eu já entendi, obrigada. – bufou. Por que ela estava alterada? – Vai levantar não? Eu vou sem você.
Abaixei minha cabeça diante de suas palavras. Isso me deixou triste. Ignorei a ser-humano estúpida pelos próximos 20 minutos, exceto quando ela me ajudou a colocar uma nova roupa.
Agora eu usava um vestido rosa-choque e uma espécie de jaqueta jeans. Não era o que eu costumava vestir, mas é o que tem pra hoje.
E por falar no que eu costumava fazer, esta noite sonhei com a minha família. Eu espero que quando eu voltar par casa, meus pais me perdoem por ter sumido desta forma.
— Pronta? – a morena sorriu para mim, como se não tivesse acontecido nada a minutos atrás. Voei para fora do quarto, deixando Lauren para trás. – Camz, minha mãe está lá em baixo, me espera! – bufei e, involuntariamente, entrei no bolso do moletom da ser-humano.
— Bom dia, Lauren. – ouvi a voz animada da mãe da morena. Pelo que eu lembrava, seu nome é Clara.
— Bom dia, mãe. Eu já estou indo. – observei a morena deixar um beijo na bochecha da mulher e em seguida caminhar até a porta.
— Mas já? Não vai comer nada?
— Estou atrasada, não dá. – destrancou a porta.
— Mas ainda são 6h20, Laur.
— Tchau, mãe.
Imediatamente voei ao ombro de Lauren quando já estávamos na rua.
— Camz, me desculpa pelo a ocorrido no quarto. É que eu...-
— Ei, ei, ei, viadas! – a voz de Dinah preencheu meus ouvidos, interrompendo o discurso de Lauren. Me virei para encontrar a loira correndo até nós. – Pensando em partir sem mim?
— Exatamente. – Lauren riu sem humor.
Dinah deu um tapa estralado no braço de Lauren, a empurrando para o lado. Tive que me segurar na gola de sua blusa para não cair.
— Não bata em Lauren. – tentei inutilmente empurrar Dinah também.
A mesma me olhou com escárnio e me prendeu em suas mãos. — E quem vai me impedir? Você, projeto de Barbie? – grunhi tentando me soltar, logo Lauren interviu.
— Solta ela, DJ! – a morena gritou, me puxando e me pondo de volta no seu ombro. – Se machucou, Camz? – neguei com a cabeça.
— Vocês duas são chatas, ew! – começamos a caminhar para a escola. – Ei, Camz, a Lauren não te trata mal, né?
— Dinah, que pergunta é essa? – a morena revirou os olhos. – E não chame ela de Camz.
— Eu estou falando com ela. E eu a chamo do que eu quiser. – a loira respondeu, Lauren a empurrou para fora da calçada, rindo depois.
Ri também, era engraçado ver as duas brigando. No fundo elas se amavam. Mas eu não entendo o porquê de Lauren ficar tão antipática quando falo da Dinah para ela.
— Lauren não me trata mal. – sorrio de lado lembrando do sorriso da morena essa manhã.
— Ela te alimenta direitinho? – Dinah continuou com o questionário.
— Sim.
— Tem certeza que ela não te faz trabalhar como uma escrava para ela?
— Tenho certeza, Dinah. – ri.
— DJ, sabia que Camila é mais velha que nós duas? – Lauren falou.
— Quantos anos? Minha nossa, você deve ser uma criatura pré-histórica, né? – a loira perguntou com os olhos arregalados.
Me senti ofendida.
— Eu só tenho 18 anos. – revirei os olhos.
— Caramba, você já bebeu? – ela riu.
— Bebeu o que? Água? – perguntei confusa.
As duas cairam na gargalhada. Não entendi, eu falei algo errado?
— Que puritana, Lauren. – Dinah precisou se apoiar na morena para não cair no chão de tanto rir.
Quando chegamos na escola tive que voltar a me esconder no bolso de Lauren, pois já tinha vários alunos espalhados pelo colégio.
Na sala de aula, pude ficar em meu lugar de sempre, na ponta da mesa, do lado da parede. A todo instante meus olhos iam parar no rosto de Lauren, na maioria das vezes na sua boca.
Lauren me pegou no flagra a secando. Senti minhas bochechas esquentarem e desviei o olhar para chão.
— Por que faz isso? – ela perguntou divertida. Não era bem a primeira vez que ela me pegava no flagra a olhando.
— Eu, uh, desculpa. – respondi sem jeito.
Lauren riu nasalmente e voltou sua atenção para a aula. Eu não queria ter que lhe explicar que não parava de olhá-la por não conseguir decidir qual de seus traços era o mais bonito.
Segundos depois e lá estava eu, fitando seu rosto novamente.
Okay, Camila. Chega.
O que está acontecendo comigo?
Suspirei e pulei da mesa até o colo da morena, entrando em seu bolso. Logo eu já estava deitada e tentando dormir. A ser-humano-não-tão-estúpida levou o seu polegar até mim, onde acariciou minha cabeça até eu cair no sono.
•••
— Ah, por favor, Lauren! – essa voz!
Abri os meus olhos, piscando algumas vezes, reconhecendo o lugar onde eu estava.
Ainda era o bolso de Lauren.
Pude ouvir una grande balhureira vinda dos alunos da escola. Deveria ser o intervalo. Coloquei a cabeça para fora para ver se aquela voz que me acordou era de realmente quem eu desconfiava.
É, era ela. Ruby.
Observei o quão perto de Lauren ela estava. E quando elas riam de algo, Ruby se jogava em cima de Lauren de propósito.
Garota atirada, não gosto dela.
O intervalo todo foi assim. Lauren nem sequer lembrou da minha existência, talvez estivesse ocupada de mais com Ruby. Mas deixa ela.
Minutos depois, senti a morena se movendo. Devíamos estar voltando para a sala, entretanto, ouvi uma porta batendo e uma discussão entre Dinah e Lauren.
— Agora é minha vez. – a loira dizia.
— Nós não compartilhamos a guarda dela, DJ.
— Ela nem é sua, idiota.
— Eu achei ela primeiro que você, e eu nem deveria ter te contado sobre Camila. – Lauren respondeu.
Espera, elas estavam discutindo para ver quem iria ficar comigo?
— Por que não deixa a própria Camila decidir isso? – Dinah propôs.
— Ela está dormindo.
Naquele momento saí do bolso da menina e voei até o lado de Dinah, ficando na altura de seus ombros. Estávamos no banheiro.
— Camz? – a garota dos olhos verdes franziu a testa.
— Ei, Mila! – Dinah sorriu para mim, retribui o gesto e voltei a fitar Lauren.
— Camila, diz pra Dinah que você prefere ficar comigo do que com ela. – sorriu confiante.
ELA ACHA QUE É ASSIM?
Passou o intervalo inteiro se esfregando com Ruby e agora quer ficar comigo?
— Não mesmo! – eu falei um pouco mais alto que o normal, claramente com raiva.
— O que? Como assim? – choramingou, enquanto Dinah gargalhava.
— Vai ficar com a Ruby. – resmumguei com o maxilar trincado. – Vamos, Dinah. – sorri para loira, me escondendo em seu ombro, entre seus cabelos.
— Perdeu, Jauregay. – deixamos Lauren para trás no banheiro.
Fomos para a sala de aula. Já havia alguns alunos lá, Dinah se sentou no seu lugar e eu fui até a ponta da mesa, me camuflando entre o material.
— Ainda bem que você me escolheu, Lauren é chata. – disse divertida, rindo.
Logo a garota que falávamos entrou na sala, passando por nós como um furacão e afundando em sua carteira. Ela estava tão emburrada, eu achei fofo, quase sorrindo por um segundo.
Me recompuz em meu lugar e logo as aulas se iniciaram, eu não tinha muito o que fazer. De vez em quando olhava para Lauren pra ver se ela continuara brava comigo. Não que eu ligue. Ela merece, certo?
•••
[LAUREN POV]
Quando finalmente soou o sinal indicando o fim das aulas, joguei meu materia de qualquer jeito na bolsa e saí da sala. Segundos a seguir, Dinah já estava andando ao meu lado.
— Normani esta aí fora. – a polinésia falou.
Dei de ombros, eu não perguntei nada.
— Camila me disse que está anciosa para conhecê-la. – sorriu.
Parei de andar e a loira parou alguns segundos à frente, me olhando confusamente.
— Você contou à Normani sobre a fada? – sussurrei para que ninguém ouvisse.
— Sim. Eu já falei que ela é minha namorada e vou vou contar tudo à ela.
— Tá, mas não poderia ter esperado um pouco? Você descobriu sobre Camila ontem!
— E daí? – revirou os olhos. – Ela nem acreditou quando eu disse. – riu, voltamos a caminhar para fora da escola.
Ao passarmos pela porta do colégio, vimos a Amarok branca estacionada ali em frente. Normani estava encostada no veículo e assim que nos viu, sorriu alegremente, acenando para nós.
Dinah correu para abraçar sua namorada, enquanto eu fiquei mais para trás observando Ruby acenar para mim de longe. Acenei de volta sorrindo e cheguei até onde as meninas estavam.
— Oi, Laur. – Mani me cumprimentou, sorri e entrei no carro enquanto Norminah matava a saudade.
Logo já estávamos todas no carro. Cruzei os braços esperando por Dinah que estava a apresentar Camila para Normani, a própria entrou em choque.
— Dá pra devolver minha Camila agora? – perguntei sem paciência.
— Sua Camila? – a loira sorriu de lado, a fada me olhou com os olhos semi-cerrados e Normani gesticulava, abrindo a boca e fechando, ainda em choque.
— É. Minha Camila. – puxei a criaturinha de suas mãos e coloquei em meu colo.
Depois de beber um pouco de água para se acalmar e ouvir algumas palavras de Camila, Normani acelerou o carro até minha casa. Quando paramos em um sinal vermelho, fiquei de vela porque as duas meninas da frente começaram a se pegar.
Ew!
Reparei Camila olhando para as duas e em seguida para mim. Lhe lancei um sorriso, mas ela revirou os olhos.
O que foi que eu fiz?
Chegamos em frente a minha casa. Joguei minha mochila nos ombros e abri a porta do carro.
— Tchau, sapatonas. – ri suavemente.
— Tchau, Lauren. – Mani sorriu amigavelmente. – Uh, tchau Camila.
— Quer vir conosco, Mila? – DJ indagou.
— Cala a boca, sua ridícula. – puxei a fada para mais perto de mim.
— Você me chamou do que? – a loira soltou-se do cinto de segurança e tentou me acertar um tapa.
— Dinah, calma, Dinah! – a negra tentou segurar sua namorada.
Saí do carro rindo e corri para dentro de casa. Quando entrei, subi direto para o meu quarto. Joguei minha bolsa no chão, precisava falar com Camila.
— Posso saber por que me trocou por Dinah? – fui direto ao ponto.
— E daí? Eu não pertenço à você! Não sou sua Camila. – ela disse seca, voando para o banheiro.
Mas o que diabos eu fiz pra essa fada ficar brava comigo? Não tive nem a chance de ir atrás de Camila, porque minha mãe entrou no quarto carregando algumas roupas lavadas em suas mãos.
— Lauren, pode me explicar o porquê de ter roupas de bonecas no meio das suas roupas sujas? – ela perguntou.
— Uh, eu, é que tava tudo meio com poeira, então coloquei para lavar. – disse atrapalhada.
A mulher assentiu, acho que ela acreditou. Deixou as roupas em cima da cama e saiu do quarto.
— O almoço está pronto, vá comer alguma coisa. – disse por último.
Girei meus calcanhares para ir buscar Camila, mas meu celular tocou. O número era desconhecido por mim. Atendi e levei o celular até o ouvido.
— Alô?
— Lauren?
— Ruby?
— Isso mesmo! – ouvi sua risada no fundo.
— Uh, como conseguiu meu número? – perguntei franzindo as sobrancelhas.
— Dinah me deu. Eu liguei para saber se você tá afim de sair comigo qualquer dia desses... – ela disse timidamente, sorri.
— Eu vou ver quando estou livre e te ligo.
— Ah, certo. Até amanhã, então.
— Até.
Desliguei o telefone e o lancei na cama. Eu aprendi a suportar Ruby. Ela não era tão chata assim, na verdade era muito interessante. Mas não sei se quero sair com ela. Creio que ela está criando expectativas comigo, mas eu a quero apenas como amiga. Não vai ser uma boa aceitar esse encontro. Até porque se eu aceitar, Camila vai me odiar.
— Camila? – eu chamei pela pequena.
— O que você quer? – falou entediada, saindo pelo banheiro e pousando na cama.
— O que tá rolando com você? Eu não fiz nada!
— Não? Você esqueceu de mim o intervalo todo e ainda ficou se esfregando com a... a Ru... Ah, não consigo nem falar o nome dela!
— Você me trocou pela Dinah! – eu rebati.
— Porque você me trocou primeiro! – bufou. – Não fala mais comigo. – disse emburrada, cruzando os braços.
— O que? Camila não seja imatura. – falei, mas a criatura já tinha virado as costas para mim.
— Eu devia ter ido com Dinah. – resmungou.
— Deveria mesmo! – revirei os olhos violentamente.
Não estou nem aí se ela não quer falar comigo. Ela prefere a Dinah, então ela fica com a Dinah, porque eu vou sair com a Ruby!
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