História Live A Dream - Fora do normal.

— Eu não acredito que você ia fazer isso, garota — Eu disse entrando na cozinha.

— Eu não ia fazer nada. Ele que...

— Cala a boca e não coloca a culpa no Gabriel, por que eu vi tudo e a atirada é você — Eu disse irritada — Você não tem vergonha garota? Querer ficar com alguém comprometido.

— Não — Ela disse e ergueu as sobrancelhas — Não tem mal algum sentir atração por um homem.

— Um homem comprometido — Eu destaquei e ela deu os ombros.

Eu me aproximei dela e em um ato rápido, senti minha mão arder em seu rosto. Gabriel veio pro meu lado e segurou em meus braços levemente, enquanto eu queria bater mais naquela cara magra. Eu estava com raiva por ela ser tão patética a ponto de achar aquilo que fez – ou ia fazer – uma coisa normal. E não é. Sim, eu estava alterada e queria descontar minha raiva dando mais uns tapas nela. Naquele momento, não existia a Clarissa boazinha e compreensiva, ela havia passado dos limites e estourado minha paciência. Eu queria voar em cima dela.

— Clarissa... — Gabriel disse calmo.

— Você tá maluca, garota? — Beatrice gritou.

— Você quem tá maluca. Gabriel namora e por sinal eu sou a namorada dele.

— O que tá acontecendo? — Dhio perguntou entrando na cozinha.

— Nada — Beatrice disse.

— Nada? Você tenta beijar o Gabriel e diz que não aconteceu nada? — Perguntei e ri sem humor.

— Como assim? — Dhio perguntou confusa.

— A tua amiguinha é uma atirada, Dhiovanna. É folgada e mau caráter — Eu disse — E ainda tentou colocar a culpa no Gabriel — Eu neguei com a cabeça respirando fundo e sai da cozinha. Não iria prestar se eu ficasse ali.

Eu escutei mais coisas vindo da cozinha, mas ignorei. Eu não deveria ter descontado minha raiva na Dhio. Minha tpm não ajudava e seria pior se eu voltasse. Apressei meus passos até o lado de fora da casa. Abri a porta e sai, caminhando pro fundo. Me sentei na grama verde e suspirei. Somente a luz da lua clareava ali, estava calor mesmo sendo madrugada. Respirei fundo mais uma vez, ainda sentindo a raiva me consumir e ainda não acreditando na atitude da vaca lá.

— Ah, te achei — Escutei a voz do Gabriel atrás de mim — Tá tudo bem?

— Não — Eu olhei pro mesmo que estava sentado ao meu lado.

— Você deixou a cara dela marcada — Ele disse e riu divertido.

— Não tem graça — Bufei.

— O que você tem? — Perguntou.

— Cólica — Eu disse e ele riu. Talvez esperasse que eu falasse outra coisa — E raiva — Eu disse e acabei rindo também.

— Ainda não passou? — Ele me abraçou de lado.

— A cólica ou a raiva?

— A cólica — Ele riu.

— Não — Eu disse suspirando — Eu queria descontar essa dor e essa raiva no meio da cara dessa guria folgada e atirada — Falei.

— Se acalma, Cla — Ele disse.

— Se acalma nada — Eu revirei os olhos — Eu deveria ter batido mais.

— Ou — Ele colocou uma mão na minha boca e riu — Você é muito estressada.

— Ela ia te beijar, Gabriel — Eu disse tirando a mão dele da minha boca.

— Mas eu não deixei — Ele sorriu pra mim — Eu não deixaria ela, nem qualquer outra, fazer isso.

— O problema não é você. É ela! Eu sempre soube que ela queria alguma coisa. Mas se eu falasse você iria dizer que era implicância minha. Mas não é assim, Gabriel. Ela nunca gostou de mim, eu também não gosto dela e agora quero quebrar aquele nariz fino dela — Eu disse e ele gargalhou alto — Por que você tá rindo, seu idiota?

— Você fica agressiva quando está brava. Mas você é tão inofensiva — Ele disse. Minha raiva só aumentou.

— Ah vai te ferrar, Gabriel — Eu me levantei e novamente escutei sua gargalhada.

— Ou — Escutei ele se levantando e logo seus braços fortes em minha cintura.

— Sai — Eu disse tentando sair, mas ele é bem mais forte que eu.

— É difícil de lidar com você nessas fases de tpm viu?! — Ele diz.

— É, e você ainda deixa a vaca lá se aproximar — Eu disse revirando os olhos.

— Não foi culpa minha, Clarissa — Ele disse em um tom mais sério — Eu te disse que não deixaria nada mais afetar o nosso namoro e não vou. Dá pra confiar em mim?

— Eu nunca deixei de confiar em você. Só não entendo. Você sempre soube que ela é afim de você e sempre deu corda — Falei e ele me soltou, então me virei pra ele.

— Eu nunca dei "corda" nenhuma pra ela. Mas eu sou educado e falava o básico. Não tenho culpa se a menina é uma atirada. Eu não deixei ela fazer o que pretendia por que eu amo você e não queria brigar contigo. Mas pelo visto não resolveu — Ele disse negando com a cabeça e saiu dali.

Primeiramente eu me sentia uma idiota por ter brigado por uma coisa que eu vi que ele evitou. Eu vi tudo o que aconteceu e estava sendo injusta com ele. Eu sou uma cabeça dura. Aquela menina estava me irritando – e não é de hoje –, a cólica estava me irritando e se uma agulha caísse no chão, isso me irritaria. Isso não é motivos para brigar com o Gabriel. Ele realmente não tinha culpa dela ser folgada e ele tinha razão, sempre falava apenas o necessário com ela. Mas eu precisava estragar tudo.

Peguei meu celular e a chave do meu carro em cima da mesinha de centro e sai de pijama mesmo. Estava prestes a entrar no meu carro, quando ouvi alguém me chamar. Era Dhiovanna. Eu também tinha errado com ela, não deveria descontar a minha raiva de Beatrice nela.

— Aonde você vai? — Perguntou.

— Pra casa — Eu respondi.

— Assim? — Ela apontou pra mim e eu assenti, então rimos — Vocês brigaram?

— Sim — Eu disse e revirei os olhos — Dhio desculpa te tratar daquela forma, eu não deveria descontar em você.

— Tá tudo bem, Cla. Eu entendo. Já conversei com a Bea. Na verdade nós brigamos também e ela vai embora amanhã cedo — Ela disse sorrindo fraco.

— Sinto muito — Forcei um sorriso.

— Você não tem culpa. A culpa é dele por ser tão sem noção, mereceu seu tapa. Sempre disse pra ela esquecer meu irmão e nunca ousar fazer nada. Ela traiu minha confiança. Eu não queria que você e meu irmão brigassem — Ela diz.

— É, isso na verdade foi culpa minha mesmo — Eu disse e ri.

— Entra — Ela acenou com a cabeça — Não vai embora agora não. É perigoso — Ela falou.

— Mas eu...

— Você pode dormir no meu quarto se quiser. Beatrice ficará no quarto de hóspedes — Ela diz.

— Ok então — Eu sorri e entramos.

Nós apagamos as luzes em baixo e trancamos tudo, em seguida subindo.

— Não vai falar com ele? — Dhio perguntou baixinho quando passamos pela porta do Gabriel.

— Não — Eu disse — Não agora.

— Você é muito orgulhosa — Ela riu fraco.

Continuamos andando e chegamos ao quarto dela. Ela fechou a porta trancando a mesma.

— Me dá alguma coisa pra eu dormir no chão — Eu disse e ela me olhou feio — O que?

— Você não vai dormir no chão, Clarissa. Pode deitar aqui do meu lado — Ela disse.

Era uma cama de casal e parecia bem confortável. Eu ainda morria de dor e me parecia relaxante, então acabei deitando sem contestar.

— Boa noite, Dhio — Eu disse já de olhos fechados.

— Boa noite, cunha — Ela diz.

Deitei de bruço e esperei até que a cólica passasse. Em longos minutos, eu senti ela se aliviar e consegui pegar no sono.

(...)

Acordei com dores fortes. Aquela cólica não era normal, nunca havia sentido algo forte assim antes. Me levantei com cuidado para não acordar a Dhio e sai do quarto. Percebi que já estava amanhecendo e os primeiros raios de sol do dia entravam pela porta de vidro da sala. O relógio dali marcavam quase seis da manhã. Eu ainda estava morrendo de sono, mas a dor não me deixava dormir. Fui até a cozinha e tomei liberdade para abrir algumas portas do armário, a procura do remédio de cólica da Dhio.

— Tá tudo bem? — Escutei a voz rouca do Gabriel atrás de mim. Aquilo me assustou e eu gritei abafado pela mão.

— Que susto — Suspirei levando a mão ao peito — Sabe aonde sua irmã deixa o remédio dela?

— Não — Ele disse.

Nunca me cansaria de sua cara "amassada" ao acordar.

— Ainda está com dor?

— Sim — Eu disse — Volta a dormir, eu vou me virar.

— De forma alguma — Ele disse — Sobe pro meu quarto, eu já vou.

— Por que? — Perguntei.

— Sobe logo — Ele sorriu fraco.

Novamente preferia não contestar, então subi direto para o seu quarto. Me deitei em sua cama que ainda estava aquecida pelo corpo dele e me enrolei nas cobertas. Fechei os olhos tentando relaxar, mas dessa vez não funcionava. Me virei para os lados da cama algumas vezes já irritada com aquilo.

Em minutos, Gabriel entrou no quarto. Ele segurava um Mercur provavelmente cheio d'água, um copo de água e um comprimido.

— Achei o remédio da minha irmã, toma — Ele me entregou.

Eu bebi o mesmo e deixei o copo em cima do criado-mudo. Gabriel deitou-se ao meu lado e se esticou para pegar a bolsa emborrachada.

— Vem cá — Ele segurou em minha cintura, me puxando para mais perto.

Após me abraçar forte, prensou a bolsa emborrachada contra minha barriga. Contorci um pouco ao sentir a bolsa quente em contato a minha pele, mas logo relaxei.

— Uma vez vi minha mãe fazer isso com a Dhio. Eu acho que funciona — Ele disse baixinho em meu ouvido.

— Você deveria estar dormindo, Gabriel — Eu disse.

— Não vou dormir enquanto sua dor não se aliviar — Ele disse e beijou meu ombro, isso me fez sorrir.

Eu tenho sorte de ter Gabriel comigo.

— Você é muito cabeça dura, sabia?!

— Você também — Eu disse.

— É ciumenta — Ele continuou — E bem bravinha. Acho que isso nunca vai mudar, mas eu ainda amo como você fica vermelha quando está brava. Todas as suas qualidades e defeitos só me fazem te amar mais.

— Eu sou uma idiota mesmo — Eu disse rindo fraco — Me desculpa.

— Eu não vou deixar ninguém atrapalhar o nosso namoro, Clarissa. Por Deus, eu não suporto ficar longe de você e muito menos brigar contigo.

— Eu também não — Eu disse — A gente pode esquecer o que aconteceu?

— Se você acha melhor assim, por mim tudo bem — Ele disse — Eu quero você pra mim pro resto da vida.

— E se você enjoar? — Perguntei franzindo o cenho.

— Impossível, isso não vai acontecer — Eu disse.

— Como me garanti isso?

— Eu não imagino minha vida sem você nem daqui a quarenta anos. Não imagino alguém que não seja você quando eu já estiver velhinho treinando o Santos ao meu lado — Ele disse e eu ri com essa última parte — Vai ser sempre você.

— Tá, mas você vai ter que me prometer que vai me deixar ser sua auxiliar técnica quando for treinar o Santos — Eu disse.

— Não acho que isso vai dar certo, mas eu prometo — Ele disse rindo.

— Por que? — Perguntei.

— Por que você prefere um sistema defensivo, eu prefiro um ofensivo.

— Ah amor, depende do jogo — Eu disse rindo — Eu vou ser uma boa auxilar.

— Só quero ver. Nosso filho vai estar jogando no Santos.

— E se ele quiser jogar... Vôlei?!

— Eu expulso ele de casa — Gabriel disse me fazendo rir novamente.

— Credo, Gabriel. Você sai de casa mas meu filho não.

— Nossa, amor. Magoou — Ele disse e eu ri.

— Eu te amo — Eu disse tirando a bolsa da minha barriga e me virando pra ele.

— Eu também te amo — Ele disse selando nossos lábios. Eu sorri.

Deixei a bolsa emborrachada em cima do criado-mudo também e Gabriel me olhou confuso.

— Tá tudo bem, a dor já alivou — Eu disse.

— Tem certeza?

— Tenho. Só dorme — Eu disse fazendo leves carinhos em sua bochecha.

Ele lentamente fechou os olhos enquanto eu continuava os carinhos. Logo, sua respiração estava leve, ele havia dormido. Já sem muita dor, eu fechei os olhos também e logo peguei no sono ao lado do Gabriel.