História Live A Dream - Briga e reapresentação.

Gabriel levantou do sofá com certa pressa e visivelmente estava irritado. Não sei se irritado era a palavra certa, mas eu estava com medo do que ele pudesse fazer.

— Aonde você vai? — Eu perguntei quando vi ele indo em direção a porta.

— Eu vou ir ver qual é a dele — Gabriel disse.

Vai dar merda.

— Não, Gabriel — Eu me levantei e segurei em seu braço.

— Porque não? Você gostou do que ele fez, Clarissa?

— O que? Claro que não, Gabriel. Não seja idiota — Eu disse.

— É. Um cara beija a minha namorada enquanto eu não estou e você que me impedir de falar com ele, talvez eu seja um idiota mesmo — Ele diz. Estava alterado e é a primeira vez que o vejo assim.

— O problema não é você ir falar com ele, Gabriel. O problema é que você está de cabeça quente e não vai querer resolver as coisas só com palavras — Eu disse.

— O que você quer que eu faça? Que eu vá até ele e dê os parabéns pelo o que fez?! — Ele diz e ri sem humor.

— Não! Eu só acho que você não deve resolver as coisas com violência — Eu falei.

— Eu disse, não disse, Clarissa? Disse que era pra mantê-lo afastado e você deixou o imbecil fazer isso.

— Eu não deixei nada. Fui pega de surpresa. Eu jamais deixaria ele fazer isso por vontade própria — Eu disse.

— Eu alertei que ele não presta.

— Gabriel, eu não ia parar a minha rotina por que ele estava por aqui. Eu não tenho culpa se ele quis frequentar a academia no mesmo horário que eu — Eu disse.

— E você acha que eu acreditei quando a priminha dele entrou aqui por acaso? Pelo amor de Deus, Clarissa. Qualquer um perceberia que a intenção dele era outra.

— Eu não tenho culpa — Eu disse pausadamente — Ele desde que falou comigo pela primeira vez sabia que você é meu namorado.

— E aposto que mesmo assim ficou se jogando pra cima de você, não foi, Clarissa? — Ele perguntou e eu apenas fiquei quieta — Ótimo, era tudo o que eu precisava saber.

— Ele é um folgado, Gabriel. Falava algumas coisas mas eu nem se quer dava corda. Mas que merda, eu não te trairia com alguém como ele. Não faria isso. Você mais do que ninguém sabe que eu odeio traição.

— O problema não é você, Clarissa. É ele. Ele é o desgraçado e merece uma lição — Ele disse serrando os punhos.

Visivelmente Gabriel nunca gostou do Guedes. Eu não sabia o por que, mas tinha certeza que não era apenas por ser jogador do Palmeiras. Tinha algo por trás disso.

— Ah Gabriel, faça o que você quiser — Eu disse.

Já tinha perdido a paciência, apesar de saber que Gabriel estava certo em estar com essa raiva toda pelo Guedes. Ele estava de cabeça quente e podia fazer qualquer loucura, mas ficar discutindo com ele não me levaria a nada. A nada levaria também se ele fosse até o Guedes.

Eu sai da sala e fui em direção ao meu quarto, entrando no mesmo. Estava chateada. É sempre ruim brigar com o Gabriel e dentro de mim já começava a me culpar por deixar Guedes se aproximar tanto. Mesmo que eu só tenha respondido suas perguntas e falado com ele por educação e somente isso. Eu estava novamente com raiva desse garoto pelo o que fez e por tudo o que esse ato está me causando.

Depois de alguns minutos, eu sai do quarto e Gabriel não estava mais por ali. Mas eu sentia que algo não estava certo. Sai do apartamento e caminhei pelo longo corredor, até escutar gritarias.

— Ai não — Eu disse fechando os olhos levemente.

Suspirei e corri em direção ao povo que gritava. Chegando lá, eu vi o que já desconfiava. Gabriel e Guedes brigavam feio. Eu corri até eles, enquanto trocavam socos. Eu não consegui pensar nada e muito menos agir, eu estava em choque. Jamais me imaginei nessa situação e muito menos Gabriel brigando. Eu estava assustada.

— Parem os dois! — Eu gritei, mas fui ignorada.

Eles continuavam e eu ficava cada vez mais nervosa. As pessoas em volta olham, mas não faziam nada. Chegaram dois seguranças daqui do apartamento e separaram os dois.

— Não encosta mas nela, seu desgraçado — Gabriel disse visivelmente com raiva.

— Você vai tentar me bater de novo?! — Guedes disse debochado, deixando Gabriel ainda mais furioso.

Eles tentavam se soltar dos seguranças, mas sem sucesso.

— Gabriel para — Eu disse nervosa.

Sentia minhas pernas bambas, eu tremia dos pés a cabeça. Gabriel tinha seu supercílio machucado, assim como o canto dos seus lábios e sangravam levemente. Suspirei tentando manter a calma.

— Não tem mais nada pra ver aqui. Vão embora — Um dos seguranças disse.

As pessoas ainda cochichavam algumas coisas e olhavam feio tanto pro Gabriel, como pro Guedes. Eu não queria estar passando por aquilo e nem que isso caísse na mídia. Prejudicaria o Gabriel. Olhei pro Guedes com raiva e o mesmo me olhou também, e também tinha o rosto machucado. Até mais machucado que o Gabriel.

— Vamos embora — Eu disse puxando o Gabriel.

Fiquei em silêncio durante os curtos passos até o meu apartamento. Deixei ele na sala e fui pegar algumas coisas pra limpar aqueles machucados no rosto dele. Logo voltei pra sala e Gabriel continuava sentado no sofá, pensativo. Acendi as luzes e me sentei em sua frente. Peguei um pedaço de algodão e molhei com um pouco de água oxigenada, passando em seu supercílio.

— Au — Ele murmurou.

— Se tivesse me escutado não estaria doendo — Eu disse e sentia seu olhar sobre mim — Nada se resolve com violência, Gabriel. Nada. Você sabe disso.

— Eu sei — Ele disse — Au! Mas eu perdi o controle, Clarissa. Eu sai de mim. Ele é muito folgado. Ainda me disse faria de novo de tivesse oportunidade. Eu precisei dar uns socos nele.

— Tem noção do quando isso pode te prejudicar se vazar pra mídia? — Eu perguntei parando alguns segundos para lhe fitar — Não foi certo, Gabriel.

— Eu tô me lixando pra mídia, Clarissa — Ele disse após murmurar outro "au" — Ele achou mesmo que ia fazer o que fez e ia ficar por isso mesmo?

— Não tinha necessidade dessa briga — Eu suspirei.

— Cla...

— Esquece, já passou — Eu disse.

Voltamos ao silêncio, enquanto eu terminava de limpar os pequenos machucados e ainda sentia seu olhar sobre mim. Após terminar, guardei novamente as coisas que estava usando e joguei os algodões sujos de sangue no lixo.

— Obrigado — Gabriel disse aparecendo atrás de mim.

— De nada — Eu me virei em sua direção — Você tá bem?

— Tô — Ele disse se aproximando — E nós?

— Me diz você. Foi você quem brigou com o Guedes e você quem ficou chateado — Eu disse sorrindo fraco — Eu só estava com medo de te contar, da sua reação.

— Desculpa por isso, eu realmente sai de mim — Ele disse.

— Não quero que isso te prejudique na mídia — Eu disse.

— Eu, como homem, vou assumir meu erro. E a mídia não tem nada haver com o que eu faço fora de campo — Ele disse.

— É, mas você sabe que não é bem assim — Eu disse e suspirei — Eles vão cair matando.

— Eu sei. Vai ficar tudo bem... — Ele disse e pegou minhas mãos — Se você estiver comigo.

— Eu sempre vou estar — Eu sorri fraco olhando nossas mãos entrelaçadas — Meu marrento — Eu larguei suas mãos e lhe abracei forte.

— Não sou marrento — Ele riu me abraçando na mesma intensidade.

— É sim — Eu disse e ri.

Ele desfez o abraço e me deu um selinho longo e delicado, me puxando para um abraço novamente.

Duas semanas depois...

As minhas duas ultimas semanas de férias se passaram rápido e eu agradecia mentalmente por isso. Depois do a briga entre Gabriel e Guedes, o loiro foi embora, desde então eu e Gabriel não brigamos mais. Ah, e teve o lance da mídia. Sim, chegou a sair um vídeo e foi filmado por um morador daqui. Achei ridículo. Mas, ficou lá durante uns dois dias apenas. Tivemos que explicar – mais o Gabriel do que eu na verdade – para os nossos pais e o Dorival. Mas fora isso, ficou muito bem. Estamos muito bem também.

Eu estava com tanta saudade de entrar em campo, jogar, fazer gols. Eu estava com sede de bola. Hoje era o dia de reapresentação no Santos e semana que vem já tinha um amistoso marcado contra o Ferroviária e seria na Vila. Estava ansiosa, princialmente por que Andressinha joga lá. Eu estou morrendo de saudades dela.

Terminei de pentear meu cabelo e peguei minha mochila, saindo do quarto logo em seguida. Já havia tomado café, então era apenas trancar as coisas e sair. Fiz isso rápido, e em minutos já estava no estacionamento entrando em meu carro. Liguei o som e deixei minha playlist tocar. O caminho até o CT Rei Pelé foi bem tranquilo e eu cheguei rápido. Estacionei e desci do carro, pegando minha mochila.

— Ou — Escutei uma voz conhecida um pouco distante.

Me virei sorrindo e vi Bueno caminhar sorrindo em minha direção. Sorri largo e corri em sua direção.

— Vitor — Pulei em cima dele, que riu alto.

— Que saudade — Distribuiu beijos em minha bochecha — Como você está?

— Muito bem, e você? — Perguntei saindo dos seus braços.

— Tô bem — Ele beijou minha testa.

— Como foram suas férias? — Eu perguntei enquanto ele me abraçava de lado e saíamos do estacionamento.

— Foram muito boas — Ele sorriu — E as suas?

— Maravilhosas — Ri fraco.

— Já estão nesse mel? — Braz apareceu no corredor.

— Ai não posso nem matar a saudade em paz — Eu revirei os olhos sorrindo e eles riram — Oi Braz — Eu abracei ele.

— Oi, Cla — Ele riu — Tudo bem? — Perguntei e eu assenti.

— Não brinca?! Zequinha — Eu disse alto ao ver o mesmo caminhando e sorrindo.

— Clarissinha — Ele veio em minha direção e me abraçou forte.

— Saudades — Sorri.

— Saudades também — Ele beijou minha bochecha ao desfazer o abraço.

— Quanto assédio na minha garota em — Gabriel aparecei me abraçando por trás.

— Quanto ciúmes em — Vitor disse e rimos.

Nós continuamos conversando e logo o Pastor chegou também, junto com o Alison, o Lucas e o Victor. Ficamos ali matando um pouquinho daquela saudade que eu sentia, da zoeira deles, as brincadeiras e trollagens da reapresentação para um 2016 ainda mais forte. E a equipe do Santos filmava tudo para os bastidores do Santos TV, mas logo a farra acabou e fomos rápido para o primeiro dia de treino do ano.

— Keth — Gritei a mesma que vinha do outro lado do corredor.

— Cla — Ela gritou também e rimos.

Apressei meus passos e fui logo abraçar a minha amiga bem forte.

— Que saudade, sua vaca. Você sumiu em — Eu disse.

— Eu fui passar minhas férias em Portugal com a minha família — Ela disse rindo.

— Hum, foi pra Europa, que maravilhoso — Eu disse.

— E você foi pra Disney — Ela me empurrou de lado e rimos — Tu não vai acreditar quem eu encontrei em Portugal.

— Quem? — Perguntei curiosa.

— O Jonas — Ela disse sorrindo.

— Mentira?! — Eu sorri também.

Sentia saudades do Jonas vestindo a camisa do Santos, apesar de não ter visto muitos jogos dele pelo clube antes de ir pro Grêmio.

— Juro — Ela disse.

— E como foi? — Perguntei enquanto começamos a caminhar para os vestiários.

— Ele foi maravilhoso comigo, Clarissa — Ela disse sorrindo boba e eu ri.

Nós continuamos conversando durante o caminho, enquanto ela me contava como foi encontrar com o Jonas. Eu apenas ria da empolgação dela. Ketlen amava o jogador e se inspirava muito nele. Quando chegamos no vestiário, comprimentamos as outras meninas e nos trocamos.

Vesti o uniforme do Santos com um sorriso no rosto. Faria um ano que estava aqui e ainda tenho mais dois pela frente. Ainda parecia mentira, mas eu realmente vivia o meu sonho dia após dia. Estou muito feliz jogando pelo meu clube de coração, me dedicando e ajudando sempre. Terminei de amarrar os cadarços das minhas chuteiras e me levantei, ajeitando meu cabelo que estava preso num rabo de cavalo agora. Então, segui pro campo aonde encontrei o professor Caio Couto, que nos deu as boas vindas de volta com o seu famoso discurso de incentivo e logo começamos o primeiro treino do ano.