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História Live And Let Die - Por quê?


Escrita por: bundinah

Capítulo 47 - Por quê?


Camila:

Duas semanas depois do jantar na casa do Chris, eu não tive muito tempo para estar com Lauren. Na loja onde eu trabalho as promoções se estenderam e Tyler e eu precisamos ficar um pouco mais que nosso horário normal. Tudo bem até então, não iria durar muito. Sem falar que isso me manteve ocupada...

Anteontem, quando era tarde da noite, meus pais receberam a notícia de que Sofia não estava muito bem. Ela estava com uma tosse de alguns dias e, quando chegou no ponto de tosse extrema, minha irmã começou a sangrar pela boca. Esse não é um bom sinal, é óbvio. Nesse dia fomos até o hospital ver como estavam as coisas. No dia seguinte (ontem, no caso), Sofia teria de fazer quimioterapia. Hoje ela estaria fraca demais.

Enquanto eu não podia sair do trabalho, conversei com Ty. Ele me pedia para manter a calma e ser confiante. Disse que eu precisava relaxar por que a Sofi é forte e que logo sairia dessa. Eu acreditei nele... sempre acredito na melhora. O problema é que sentir medo é inevitável. Tyler me abraçou na vez que não consegui segurar as lágrimas. Me sentia aflita. Era uma agonia estar bem aqui, de mãos atadas. Por que a minha irmã?

- Você tem de se livrar dessa desesperança, Mila. – Começou o meu primo depois de ter, provavelmente, visto a minha cara.

- Queria que fosse tão fácil quanto falar... desculpe.

- Tudo bem, eu sei que é difícil. Mas...

- Eu não sei quem estou tentando enganar, Ty. Quero creditar no melhor, digo que acredito e tudo, mas... não sei... sinto tanto medo! Ela estava tão bem e... e de repente...

Suspirei. De olhos fechados, lembrei da última vez que vi a minha irmã. Ainda ontem, com um lenço com sangue no colo, ela passava as mãos na garganta e seu rosto se contraía ao mostrar a dor. Se ao menos eu pudesse mudar isso tudo... O que desse para fazer, eu juro, eu faria!

Mais tarde ganhei uma carona até o hospital. Antes que eu saísse do carro, meu primo disse:

- Olha, tudo vai ficar bem... você só tem de acreditar.

Sorri. Ele estava certo. Ou não... eu queria me fazer acreditar em coisas boas, só que, francamente, não era como me sentia. Menti para mim mesma o dia todo. Quiçá, a vida.

Segui meu caminho até o hall de entrada do hospital, onde encontrei Lauren, o que me deixou surpresa. Ela tinha os olhos em mim, como se me esperasse. Foi até meu encontro e me abraçou. Antes de dar tempo para ela prolongar o abraço, eu me afastei para encarar seu rosto na expectativa de ver o que sua expressão de diria.

- O que foi?

- Nada...

- Nada?

- Só estava aqui em baixo te esperando.

 - Tem certeza que não é nada?

- Eu precisei descer para pegar uns papeis e vi que você estava vindo, nada além disso. – Assegurou. – Vamos subir?

Então fomos juntas. Ela me perguntou como eu me sentia e disse que qualquer pessoa poderia notar que algo estava errado comigo só de me olhar. Lauren sabia o motivo, nem precisei falar muito. Eu não queria falar muito. Na sua tentativa de me confortar, a ouvi dizer que coisas assim acontecem o tempo todo: os pacientes melhoram e pioram de um dia para o outro. Era normal. Eu sabia disso tudo de cor.

Sofia estava dormindo quando cheguei na sala dela. Lauren falou que Sofi estava triste por que não tinha ânimo para terminar seu livro de colorir. O livro com a enorme e colorida capa do príncipe em cima de um planeta mais uma raposa laranja e a rosa se encontrava bem ao lado da minha irmã. Peguei-o nas mãos e abri para ver suas artes cheias de cores. Havia apenas um desenho e meio para colorir. O que estava nas primeiras páginas só tinha o Acendedor de Lampiões e alguns planetas ao seu redor pintados, o restante ainda estava em branco à espera das mãos talentosas de Sofia. Havia mais um outro desenho, este sem cor alguma. Na última página do livro, encontrava-se um céu com grandes estrelas de cinco pontas. Abaixo desse céu, estava o Pequeno Príncipe que olhava para o alto com sua capa voando ao vento. Este desenho era maior que todos os outros pois as duas folhas se abriam para revelar uma continuidade.

Se quer vi que Lauren não estava mais ao meu lado. Devo ter me perdido nesse festival de cores em minhas mãos. Olhei para Sofia e sorri, logo voltei minha atenção ao livro. Havia um papelzinho preso à página que dizia “o mais bonito por último”.

Me sentei na poltrona ao lado da cama da Sofi. Não se passaram mais de cinco minutos e um amigo dela apareceu. Esse eu conhecia, era o Mathew, que eu gosto de chamar de Matt. Ele estava mais alto que da última vez que me lembro de ter o visto.

- Oi... seu nome não é Kaki, é? – Perguntou o menino que passava os dedos no cateter em seu pescoço.

Ri e fechei o livro para lhe dar atenção.

- Decididamente, não. Eu me chamo Camila. A Sofia quem me deu esse apelido de Kaki.

- Eu sabia, só queria ter certeza. A Sofia nunca fala de você quando estou junto, ela acha que estou apaixonada mas nada a ver.

Dei risada dessa afirmação carregada de sinceridade.

- Eu tenho a irmã mais ciumenta do mundo, Matt...

O garoto parecia inquieto. Ora olhava para Sofia, ora olhava para o chão ou teto. Ele mordia o lábio freneticamente.

- Você ache que ela vai ficar bem logo?

- Com certeza, Matt, Sofi é forte.

- Ah, ela é forte mesmo, nunca vi igual. Ela é a mais forte daqui, sabia? Todo mundo demora para se recuperar nos dias de quimioterapia, menos a Sofi.

Ele continuou a puxar assunto comigo. Nessa conversa eu descobri que sua cor favorita era o verde e que, em sua opinião, nenhum cantor pode ser melhor que o Michael Jackson. Matthew disse que tem onze anos e, até então não sabia, mas seu câncer era diferente do de Sofi. O menino sofria com um Linfoma de Hodgkin, que, segundo a explicação que ele me deu, era um câncer que atinge o sistema linfático. No meio de outras conversas aleatórias, Matt pediu para ver o livro colorido de Sofia. Me contou que ela nunca o deixava ver.

- A Sofia me odeia... pior que eu nunca fiz nada.

- Não, nada disso. – Eu disse. – Tenho certeza que ela não sente isso por você.

- Mas é que eu nem posso falar com ela. Toda vez ela é chata e nunca me deixa usar seus lápis de cor. Até teve um dia que parou de brincar só por eu ter entrado na brincadeira. – Matt encolheu os ombros e mostrou uma feição despontada. Confesso que senti dó.

- Vou falar com a Sofi, tá? Ela não é assim... mas preciso saber se você nunca fez nada de errado mesmo, concorda?

- Eu juro juradinho que nunca fiz nada de errado!

Confiando nele, por que eu sabia que, de vez em quando, Sofia era uma pessoa difícil, eu fiquei ao seu lado. Minha irmã ainda estava num sono profundo e, curiosamente, se mexeu incomodada quando Matt me contou um segredo. Vi que demorou para o menino sentir confiança de contar, mas foi só soltar a primeira palavra referente e pronto: eu já sabia de tudo. Matthew tinha, nada mais nada menos, que uma paixão platônica por Sofia. Soube que desde que a viu pela primeira vez, ele oprime o sentimento. Outra vez, senti dó. Tive vontade de rir, mas é claro que iria conter.

De início, eu achei que era um amor platônico, só que logo parei e pensei duas, três, quatro vezes. Não é normal Sofi tratar alguém assim, isso entrega demais. Cheguei à conclusão de que ela, mesmo que inconscientemente, também gosta do Matt.

- Quer saber? – Soprando um ar decidido, eu falei: – Acho é que a Sofia também gosta de você, só não quer admitir.

- O que?! Você acha mesmo?

Ele olhou para a cama onde dormia sua pequena fera indomável. Nos seus olhinhos cor de mel eu pude reparar o brilho que se fez. Só que, por algum motivo, me lembrei de que poderia estar errada...

- Mas vá com calma, Matt. A Sofia nunca me disse nada a respeito disso... é só um palpite.

- Tudo bem. Não tem problema...

Ouve um silêncio breve, até o menino que, de repente, havia ficado eufórico, disse que precisava fazer uma coisa. Antes de me dizer um tchau, Matt perguntou se eu sabia se Sofia gostava de cartas...

Minha irmã despertou do sono lentamente, acredito que uns dez minutos depois que o apaixonado tinha ido embora. Sofia me viu e deu um sorriso fraco. Eu contribuí, chamando-a de anjo e perguntado se se sentia bem. Coloquei minha mão em sua testa para ver se tinha algum sinal de febre. Nada. Tudo estava bem. Enfermeiras entraram no quarto para entregar o café da tarde às crianças da sala. Sofia comeu empurrando uma torrada e o chá ralinho. Até tentei insistir para ela comer mais, só que tudo o que ela queria era pintar. Entreguei seu livro, né. Deveria ter feito uma troca do tipo “se você comer um pouco mais, eu te entrego o livro”, mas não, sou frouxa demais para essas coisas.

Mais tarde, quando a minha irmã anunciara que havia terminado o penúltimo desenho do seu livro de colorir, eu me admirei com seu trabalho (juro que não fazia isso para deixa-la feliz, é que suas pinturas eram mesmo muito boas). Lhe dei um abraço e beijos. Estava ficando tarde.

Não queria, mas precisava ir embora. Me sentia exausta... muito exausta.

- Até amanhã, gatinha.

- Tchau, Kaki.

E eu ia me esquecendo...

- Por que você não mostra ao Matt esse desenho? Ele me disse hoje que gostaria de te ajudar a pintar qualquer dia. Sabe...

- O Matt é chatinho. – Disse com toda a sutileza.

- Ele fez algo a você?

- Não, nunca...

- Olha, Sofi, o Matt é um menino bem legal... Por que você não puxa um papo? Não vai te custar nada.

- Só se ele prometer não ficar implicando comigo. – Uma carinha fechada formava-se. Agora eu tinha plena certeza de que o sentimento de Matthew era recíproco.

Sofia, que estava sentada na maca e com as costas apoiadas no travesseiro, sorriu. Vi que ela tentou não mostrar o feito. Tarde demais...

- Aposto que ele vai ser legal. – Assegurei.

Depois de guardar sem pressa os seus lápis no estojo, Sofia disse que iria virar amiga dele, já que eu insistia tanto. Ela ainda estava fraquinha, mal expressava suas emoções. Voltei ao seu leito e lhe deixei um beijinho na testa.

- Eu amo muito você, viu?

- Eu te amo também, Kaki.

E ao sair, olhei para trás. Com a cabeça encostava de lado no travesseiro, ela havia fechado os olhos. Sorri e parti.

. . .

- Não sei, Alejandro, estou tão preocupada com tudo.

- Você não é a única, querida. Todos estamos. Você viu o estado da Karla?

Foi o que ouvi quando cheguei em casa. Meus pais estavam discutindo na cozinha e eu permaneci atrás da porta.

- Eu não... eu não aguento mais! – Disse a minha mãe, cujo a voz estava se modificando. Ela estava prestes a chorar.

- Nossa Sofia vai ficar bem, Sinu. Temos uma guerreira em miniatura que é forte... Tudo vai ficar bem.

Meu coração ficara acelerado de repente. Minha respiração se tornou pesada. Por alguma razão, eu não queria ser vista pelos meus pais. Fui até meu quarto, eu queria tomar um banho.

Naquela noite as horas se enrolavam. Meus olhos ardiam, mas o sono não chegava. Era um misto de... sei lá... um tipo de angustia e eu também sentia medo. Quando me entreguei aos pensamentos que mais queria fugir, eu chorei. Chorei feito criança. Era essa vontade descomunal de arrancar de mim a incapacidade de mudar as coisas. Era essa revolta crucial que me fazia pensar mil porcarias. Era, enfim, a mão espinhenta que me aperta sem dó o coração; que faz pesar; faz parecer que está a segundos de despencar.

Será que eu nunca me cansaria de perguntar o porquê?

Por que ela, a minha irmã?

Por que nessa família?

Por que tanta dor e injustiça?

Por quê?

Será que valia a pena eu acreditar e ser positiva? Eu tenho sido isso a vida toda. Faço o que com essa desesperança que cresce e cria raiz dentro de mim? O pior de tudo era saber que essa tristeza, que não era só minha, tinha dois caminhos: o primeiro é a cura ou milagre, o segundo é o fim, que faria toda dor triplicar e tomar conta de tudo o que sou eu. Queria ter fé na primeira opção. É só que eu não posso me enganar. Talvez se eu me acostumasse com a idade... se eu ficasse conformada desde já. Tinha de ser honesta comigo mesma.

Por um raio de vida, hoje, como tantos dias passados, eu não queria ser eu.

 


Notas Finais


Vou fazer o máximo para terminar a fanfic ainda esse ano. Amo vocês! <3


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