História Live Fast, Die Young - You Caught Me

Soltei o ar dos meus pulmões pela boca, criando uma pequena nuvem de vapor devido ao meu hálito quente em choque com o ar frio da noite. Esfreguei meus braços de forma frenética, tentando de alguma forma aquecê-los, enquanto caminhava a passos rápidos pela calçada deserta. Por que raios os dias são tão quentes e as noites tão frias?! Odeio Los Angeles! Queria muito poder sair daqui, pena que não conheço nada além de alguns quarteirões ao redor.

Meu estômago roncou pela milésima vez. Quase dei um soco nele para fazê-lo se calar, mas sei que isso de nada adiantaria. O pior era o cheiro daqueles pães escapando pela sacola que eu carregava. Olhei mais uma vez para os únicos três pães que consegui comprar com o dinheiro que me restou. Respirei fundo e fechei a sacola. Controle-se, Felicity! A fome é psicológica! Me disseram...

Adentrei o cercado e finalmente cheguei à Comunidade. Resumindo, eu moro em um prédio ainda em construção, que foi abandonado pelo proprietário por falta de verbas. Junto de mim, mais algumas dezenas de pessoas usavam o lugar de moradia. Daí o nome criativo: Comunidade.

Depois de caminhar por um longo corredor, entrei em uma das portas da qual servia de casa. Assim que passei pela cortina, três pequenas criaturinhas vieram correndo me abraçar.

– Tia Felicity! Tia Felicity!

Não consegui evitar esboçar um sorriso ao ver a empolgação daquelas três crianças. Assim como eu, os três são órfãos de pai e mãe, e não tem ninguém para cuidar deles. Acabou que eu tomei para mim a responsabilidade de mantê-los ao menos alimentados. Quando os encontrei nem ao menos tinham nome, então, eu dei a eles nomes que pensei talvez guiá-los para a luz: Glory para a irmã mais velha, Hope e Peace para os garotos gêmeos.

– Oi criançada! Se comportaram? – perguntei, sorridente.

– Sim, tia Felicity! Se quiser, pode perguntar pra vizinha! – falou Hope, animado.

– Sim! Pode perguntar! – esse foi Peace.

– Eu acredito na palavra de vocês! Como recompensa, aqui está seu jantar!

Entreguei um pão de cada. Eles o comeram com tanto gosto que me deu uma sensação boa no peito. Desejei-lhes boa noite e fui para meu quarto, que ficava mais ao fundo do corredor. Me joguei no colchão velho, completamente exausta. O dinheiro que havia conseguido ontem não me serviu pra quase nada, além do fato de não ter conseguido encontrar um traficante. Estou à beira do delírio sem a minha cocaína.

A partir de amanhã terei de “trabalhar” mais se eu quiser ao menos comprar algo para encher o meu estômago. Talvez, quem sabe, eu roube outra casa de algum otário para conseguir dinheiro ou alguma garrafa de álcool para matar minha sede. Mas isso é papo para amanhã...

***

Duff POV ON

Parece que aquele seria o nosso ano! Conseguimos lançar nosso clipe de Welcome To The Jungle na MTV e já está sendo um estouro! No próximo sábado iríamos começar as gravações para nosso segundo clipe oficial, Sweet Child O’ Mine. Estou pressentindo que logo, logo, a banda Guns N’ Roses estará conhecida em todo o mundo. Nesse momento, eu e os motherfuckers estávamos nos embebedando, fumando e nos drogando no Rainbow. Uma pequena comemoração.

Mal posso esperar para sair tocando em várias cidades. Não pelo dinheiro, mas pela diversão e o prazer de fazer música.

– Vamo beber até cair, filhos da puta! – falou o poodle moreno, Slash.

– Só não vão morrer antes do sucesso, pelo amor. – riu Axl, logo bebericando sua cerveja.

– Quero logo gravar nosso clipe novo! – esse foi Stee.

– Com certeza a música vai estourar. Estou sentindo. – comentou Izzy.

– Então, vamos apenas beber como se não houvesse amanhã! – gritei, ao levantar minha garrafa de vodka para cima e brindar com os putos.

A noite hoje seria longa.

***

Felicity POV ON

– Ahhhh!

Acordei ao ouvir gritos. Me levantei correndo e fui até a porta, enquanto via luzes vindo da direção dos quartos e escadas.

– Mas que bela merda!

Pelo visto, os policiais resolveram finalmente nos enxotar daqui. Não pensei duas vezes em correr na direção do quarto das crianças, mas fui obrigada a parar quando vi luzes vindas da porta e seus gritos de socorro. Praguejei fundo. Se eu fosse pega agora, nunca conseguirei sair dessa merda de cidade!

– Me perdoem, meninos...

Assim que um policial saiu pela porta e me avistou, dei meia volta e saí correndo como se não houvesse amanhã. Como esperado, o policial logo começou a correr atrás de mim. Segui em frente no corredor, até enxergar o fim da construção. Pulei sobre o guindaste e abaixei a corda de forma brusca, quase não conseguindo parar, mas por sorte, evitei uma queda brusca e segui minha fuga, sem rumo pela calçada.

Ajustei o gorro sobre a minha cabeça, antes de soltar o hálito quente entre minhas mãos, para mantê-las aquecidas. Merda! Por que aqueles caras apareceram justo em uma noite tão fria como esta?! Vou congelar se ficar aqui fora! Pelo visto o dia não demoraria a amanhecer, mas mesmo assim, as primeiras horas do dia são as mais frias!

Como se a natureza lesse a minha mente, uma forte cortina de vento gelada surgiu do nada, obrigando-me a abraçar meu corpo rapidamente e fechando meus olhos.

Mas logo os abri assim que ouvi um ranger. Olhei para a minha direita na calçada, avistando um portão de ferro enferrujado, que balançava um pouco devido aquele forte vento, que agora desapareceu. A casa que tinha naquele cercado era meio grande, com dois andares. Era completamente branca e com uma varanda em frente. Apesar de tudo, era uma casa velha, pois a tinta já estava descascando.

– Hamp! Aposto que essa casa velha está cheia de janelas mal trancadas. – falei, enquanto sorria – Bem, essa vai ser a vítima da noite.

Adentrei aquele cercado, indo até a lateral da casa, onde havia uma janela obviamente fechada. Olhei ao redor, até encontrar um rastelo de ferro, e usei suas garras para adentrar a falha entre as folhas e facilmente quebrar o trinque. Fácil, fácil. Levantei o vidro e entrei. A janela dava em cheio na cozinha. Automaticamente meu estômago começou a roncar.

Abri a geladeira e avistei uma fatia de pizza. Não pensei duas vezes em comer fria mesmo. Com a fome que eu estava, qualquer coisa era bem vinda!

No armário de cima havia mais algumas coisas, como biscoitos e comida enlatada. Pena eu não ter ao menos uma mochila para pôr essas coisas. Resolvi vasculhar mais a fundo a geladeira. Abri a gaveta abaixo do congelador. Meus olhos se arregalaram. O que eu encontrei ali foi uma preciosa garrafa de Vodka. Man, há quanto tempo eu não bebo uma dessas?

Peguei a garrafa com as mãos trêmulas. Nem me preocupei em usar um copo. Abri a garrafa e comecei a mergulhar seu precioso líquido em minha boca. Meu coração se acelerou, senti minha pele se arrepiar e minha garganta esquentar. Estava no ponto...

De tão distraída com a Vodka, mal percebi as luzes da cozinha se acenderem...

***

Duff POV ON

Chegamos de manhã na nossa Hell House. Os motherfuckers foram logo para seus quartos com suas vadias, mas eu precisava molhar o bico antes. Eu sei, eu já bebi horrores no Rainbow, e já estava mais pra lá do que pra cá, mas dormir sem sentir o gosto da vodka em minha boca? Não cola, meu amigo.

Quase trombei na porta antes de chegar a entrar na cozinha. Tateei a parede ao lado da soleira até conseguir acender a luz. Meus olhos arderam com a claridade, demorando um pouco a se acostumarem. Pisquei lentamente, vendo uma imagem em frente à geladeira. Uma garota com mais ou menos 1,65 de altura, usando uma regata verde musgo, short jeans minúsculo e surrado, All Star da mesma cor da blusa, gorro cinza e um lenço preto no pescoço. Ela tinha lindos, longos e ondulados cabelos loiros, e assim que olhou em minha direção, notei seu brilho azul intenso nos olhos serenos e angelicais.

Puta que pariu, estou tão bêbado que estou enxergando anjos.

Mas pera aí... Esse anjo está bebendo a MINHA Vodka!