Inicio a reflexão sobre o que fazer, sendo tomado por uma onda de emoções que desencadeia lágrimas involuntárias.
Minha mãe adentra o quarto e depara-se com a cena. Sem proferir uma palavra, a complexidade do momento já está clara em minha expressão. Conto-lhe toda a situação, e podemos sentir o peso coletivo no coração diante do desafio que se apresenta. O silêncio, nesse instante, fala mais do que qualquer palavra.
- Você deve ir atrás da S/N. - ela diz.
Observo-a com surpresa, sem titubear. Rapidamente, oculto o soco inglês, afasto-me do hotel em direção à residência dela, embora a dor intensa em meu corpo represente um desafio considerável.
Ao alcançar o destino, aciono a campainha, sendo atendido pelo pai dela. A ansiedade permeia o ambiente, enquanto me preparo para enfrentar a série de acontecimentos que se desdobrarão a partir desse encontro.
- Fodeu... - pensei - mas eu tenho que ser homem.
- A S/N está? - eu pergunto.
- O que você quer com minha filha? Está louco?
- Eu preciso muito falar com ela, por favor.
Ele dá uma risadinha.
- Estou brincando. Vou chamá-la. Espere um momento.
Ela aparece na porta, sem pensar duas vezes dou um abraço nela. Ela começa a chorar, começo a chorar também.
- Eu amo você, Mark. - ela diz.
Eu seguro em seus braços.
- Eu também amo você. - finalizo dando um beijo nela. Eu estava nem aí se o pai dela estava olhando ou não.
Ela me convida a entrar e apresenta-me à sua família. Imagino quão peculiar foi a situação, com a garota apresentando seu “namorado” com o rosto machucado e este se movendo com dificuldade. Os pais dela demonstraram ser pessoas muito amigáveis. Ela era filha única e pertenciam a uma família abastada.
Os dias subsequentes transcorrem nesse padrão. Embora estivéssemos namorando, a circunstância de eu não ser nativo da região e estar prestes a partir permeava nossos momentos juntos.
À medida que o tempo avança, culminando no dia anterior à minha partida, encaminho-me em direção à residência dela. O peso da despedida iminente paira no ar, e a atmosfera carrega consigo uma mistura de sentimentos contrastantes.
Um veículo se detém, e o reconheço imediatamente. Quatro indivíduos emergem do carro, sendo que três ostentavam uma constituição física robusta, contrastando com o quarto, que apresentava menos imponência.
Iniciam uma aproximação decidida em minha direção, formando um cerco iminente. A tensão no ar é palpável, intensificando a sensação de vulnerabilidade que pairava sobre mim naquele momento.
- Então você bateu no Braga, né, seu merdinha?! - um deles fala.
- Que Braga? Você está louco? - eu pergunto.
Do nada um rapaz sai do banco do motorista. Era o ex da S/N.
- Não consegue me pegar sozinho chama os amigos, né, seu desgraçado?! - eu falo.
- Você não está em uma situação boa para falar besteiras, moleque. - ele diz.
E aí, Braga, o que vamos fazer com ele? - um deles pergunta.
- Vamos bater nele um pouco.
Após isso, mesmo debilitado, tentei resistir à agressão, mas a desproporção numérica era esmagadora. Cada soco parecia uma sentença, uma expressão de raiva descontrolada.
- Coloquem ele no carro. - Braga diz.
Subitamente, sou agarrado pelos agressores e impelido violentamente para o porta-malas do veículo. Uma tontura avassaladora ameaça me desfalecer, e a escuridão que se instala no compartimento só intensifica minha desorientação. A condição precária em que me encontrava, somada à brutalidade do ataque, faziam com que a recuperação fosse uma perspectiva cada vez mais remota.
- Merda... - pensei.
Após aproximadamente vinte minutos, a viatura se imobiliza, e o compartimento de carga se abre, projetando-me ao asfalto em uma região que, de certo modo, assemelha-se a uma favela. O suplício recomeça, enquanto estou prostrado, incapaz de oferecer resistência aos chutes e pisões desferidos por eles. Sem forças para me defender, desfaleço no chão. Subitamente, cessam as agressões. Braga se dirige ao carro e retorna com um pequeno aparelho, assemelhando-se a um dispositivo de corte capilar. Ao pressionar um botão, revela-se um teaser. Agonizo no solo enquanto eles retornam ao veículo, abandonando-me naquele local. A consciência se esvai, e mergulho na escuridão...
Desperto sob o manto noturno. Ergo-me, e uma aguda dor acomete um dos meus braços, tornando-se verdadeiramente insuportável.
Em meio à penumbra, busco compreender a extensão dos meus infortúnios
.- Acho que quebrei algumas costelas. - digo, e não conseguia andar de forma normal, andava encurvado.
Começo a andar por aquela favela, até que passo na frente de um beco, e tinha uns caras conversando.
- Ei, vocês podem me ajudar, por favor?! - eu tentava falar.
Eles se aproximam, e um dos indivíduos extrai uma arma. Fixo meu olhar no rosto do rapaz que empunhou a arma, reconhecendo-o como aquele que tentara nos assaltar na praia. A tensão no ambiente se intensifica, enquanto tento avaliar a situação e pensar em uma estratégia para lidar com a ameaça iminente.
- Ah, boy... Falei que ia te matar, desgraçado. - ele diz e apoia a arma na minha cabeça.
Eu não iria implorar pela minha vida.
- Últimas palavras, boy? - ele pergunta dando um tapa na minha cara.
- Vai se foder! - eu digo olhando para a cara dele.
Ele dá uma coronhada na minha testa e aponta a arma na minha cabeça novamente.
- Adeus, boy.
Os dedos repousam no gatilho, e eu, num gesto instintivo, cerro os olhos.
A expectativa do disparo ecoa, enquanto ele pressiona o gatilho e eu dou meu último suspiro.
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