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História Llorando por dentro. - Não foi por mim.


Escrita por: sientejc

Notas do Autor


Como ainda estamos nos primeiros capítulos, a de hoje estará um pouco curtinho, mas isso não vai durar muito! Obrigada por lerem, e muitíssimo obrigada pelos comentários!

Capítulo 2 - Não foi por mim.


- Finalmente acabou essa bendita reunião! – Disse a Tomás, enquanto entrava na sala. – Eu já estava a ponto de explodir! – Me sentei pesadamente na cadeira, passando a mão em meu rosto.

Em todo o tempo em que estive na presidência da Conceitos, nunca enfrentei clientes tão insuportáveis e exigentes. Nada era consideravelmente bom para eles, e Luigi teve que se esforçar muito para conseguir agradá-los.

- Eu não sei como o seu Luigi não teve um ataque de pelanca. – Tomás sentou em minha frente. – Ele não costuma ser tão paciente assim.

- Graças a Deus pelas aulas de ioga que ele tem feito, caso contrário, ele não teria a mesma paciência que teve hoje. – Disse sem olha-lo, revisando uns documentos que estavam em cima da mesa. – Mas eu vi o quanto ele lutou para se conter para não explodir.

- Mas eu entendo a exigência deles, para ser sincero. – Disse apoiando os cotovelos sobre a mesa.

O olhei com as sobrancelhas erguidas, esperando que ele continuasse.

- Jarritos tem sido a marca de refrigerante mais vendida e requisitada do país. É normal que queiram um trabalho impecável. Além do mais, eles foram bem generosos conosco. – Tirou os braços da mesa. – Eu não me lembro da ultima vez que recebemos tanto por um comercial.

- Você tem razão! – Suspirei. – Mas só de pensar que ainda teremos mais duas reuniões com eles para ajustarmos os últimos detalhes, me dá vontade de abrir mão da presidência da empresa.

Tomás riu e eu acabei me deixando levar também. Eu sabia que Tomás tinha razão. O senhor Enrique Sandoval deixou claro que não precisaríamos economizar com os gastos da produção, o que é muito raro. As últimas empresas com as quais trabalhamos, se pudessem nos dariam um orçamento no valor de dois reais, e pediriam o troco.

- Chefa, é sempre um prazer conversar com você, mas eu preciso ir. – Se levantou. – Prometi que levaria a Alicia para almoçar com as crianças hoje. Mas não se preocupe! Não vou usar meu cargo de diretor financeiro e melhor amigo da presidente, para ultrapassar meu horário de almoço.

- Não seja bobo! – Disse rindo.

- Até mais, Lety. – Se despediu.

- Espera, Tomás. – Disse antes que ele saísse da sala. – Você faz ideia do assunto dessa reunião relâmpago que o Seu Humberto convocou?

- Não faço a mínima ideia. – Escorou-se a porta. – Mas já, já saberemos. – Ele sorriu, saindo por fim.

Eu não costumava ser curiosa, mas todo o suspense que seu Humberto fez sobre essa reunião estava me deixando louca. Ele não quis adiantar o assunto, mas eu tinha certeza que não se tratava do estado financeiro da empresa, que ia muito bem por sinal. Será que ele quer me tirar da presidência, e colocar o Ariel em meu lugar? Mas se fosse isso, ele deveria conversar a sós comigo, antes de convocar todo o conselho.

Estava completamente estressada, não só pela curiosidade, como também pela reunião que tive há algumas horas. Ouvi um barulho na sala, e me assustei ao perceber que vinha do meu estomago. Me levantei e pegando minha bolsa, saí da sala.

Andei pelo hall, e ele estava vazio. Provavelmente todas as meninas já saíram para o almoço. Ainda com o estomago roncando e clamando por um pouco de comida, segui pela sala de Carol, e para a minha sorte, ela estava acompanhada de Luigi.

- Bom dia! – Disse parada a porta, com parte do corpo para fora da sala. – Atrapalho?

- Você nunca atrapalha, minha deusa. – Luigi respondeu, escorado a mesa.

- Além do mais, você é a presidente da empresa. – Carol disse sorrindo, levantando-se da cadeira.

- Então quer dizer que se eu não fosse presidente, eu estaria atrapalhando? – Fingi estar ofendida. – Olha que ótima melhor amiga eu fui arranjar. – Disse entrando finalmente na sala.

- Ah, Lety você sabe que...

- Oh.My.God! – Luigi exclamou, olhando estranhamente para mim.

- O que foi? – Perguntei olhando para trás.

- Você está maravilhosa! – Disse puxando minha mão, me aproximando dele.

Sorri e senti meu rosto corar imediatamente.

 - Mona, como você conseguiu esconder essa beleza e bom gosto por tanto tempo? – Levantou meus braços, me fazendo girar em torno do meu eixo.

- Ai, Luigi, você não consegue apenas elogiar? – Carol disse irritada. – Sempre tem que ter uma parte deselegante em seus elogios.

- Como assim, mona? – Luigi encarou Carol, soltando minha mão.

- A última vez que você me elogiou, você perguntou se eu passava saliva de Jesus no rosto, como creme hidratante.

- Luigi, você disse isso? – Perguntei tentando prender o riso.

- Mas isso não foi algo deselegante. – Se defendeu, colocando as mãos na cintura.

- Ah, claro que não! – Carolina revirou os olhos. – Você poderia cortar esses comentários estranhos, e apenas... elogiar. Vamos, tente!

Eu apenas ria, acompanhando toda a cena. Nesses últimos meses, desde que voltei para a Conceitos, Luigi, Carolina e eu nos tornamos inseparáveis. Tomás ainda era meu melhor amigo, mas agora ele tinha uma esposa e dois filhos, e nem sempre podia conversar ou me dar atenção. Então, acabei fazendo de Carol e Luigi meus cofres de segredos e desabafos, mas por algum motivo, eles sempre acabavam se desentendendo pelos comentários ou brincadeiras do Luigi.

- Vamos, Luigi, Estamos esperando! – Carol disse autoritária.

- Está bem! – Luigi suspirou rendido, tirando as mãos da cintura. – Letícia, você está muito linda hoje! – Disse engrossando a voz, e Carol e eu não conseguimos conter o riso. – Juro que se eu não amasse tanto o meu Ruli, eu atropelaria todos os meus princípios, e me casaria com você. O Aldo tem muita sorte.

Senti meu sorriso desaparecer. Eu e Aldo não estávamos brigados, mas estávamos tão distantes, que as vezes acredito que ele não se sente tão sortudo assim por estar casado comigo.

- Viu só! Não é tão difícil; – Carol sorriu satisfeita. – Você se saiu muito bem, não é, Lety?

- Ah, sim... – Tentei forçar um sorriso, inutilmente.

- Que cara é essa, minha rainha? – Luigi perguntou, tocando meu rosto. – Agora a pouco você estava rindo, e agora está com essa carinha de quem comeu e não gostou.

- Nada. Eu estou bem! – Menti.

- Lety, nós te conhecemos muito bem para saber quando você está mentindo ou escondendo algo de nós. – Carol se aproximou, tocando em meus ombros.

- Está bem! – Suspirei. – Mas só vou contar no restaurante. Estou a ponto de desfalecer de fome.

- Vamos! – Carol disse pegando sua bolsa.

- Vamos, gatinhas. – Luigi engrossou a voz mais uma vez, oferecendo seu braço para mim e Carolina. Nós sorrimos, entrelaçando nosso braço ao dele.

 

 

 

 

 

- E então, mona. Conte-nos tudo, e não nos esconda nada. – Luigi disse, bebendo um pouco do seu suco.

- É que... – Suspirei. – Eu e o Aldo não estamos bem.

- Como assim? – Carolina me olhou curiosa, escorando suas mãos no queixo.

- Eu não sei! – Disse desanimada. – De uns meses para cá, parece que o nosso casamento é a última prioridade na vida dele. O restaurante está sempre em primeiro lugar. Eu já perdi as contas de quantas vezes eu preparei um jantar especial, e dormi sentada na mesa, cansada de tanto esperá-lo.

- Ah, meu Deus... – Luigi disse colocando as mãos na boca. – Isso tem dedo de mulher, mona.

- Luigi! – Carolina o repreendeu. – Isso lá é coisa que se diga em uma situação dessas?

- Bicha, vai por mim. Eu conheço os homens muito melhor que vocês, porque mesmo não querendo, eu sou um. – Ele cruzou os braços. – Eu consigo farejar cheiro de pomba-gira de longe. Tem mulher na história.

- Pelo amor de Deus, Luigi! O Aldo seria incapaz de trair a Lety. – Carolina disse indignada.

- Não estou disse que ele está traindo ela. – Ele se defendeu. – Só estou dizendo que tem mulher no meio. Pode não ser fisicamente, mas não podemos adivinhar os desejos de ninguém. – Levou o canudo a boca, bebendo um largo gole de suco.

- Que mente mais fértil, Luigi. – Carol disse ironicamente. – Lety, ignore o Luigi, está bem? – Ela me olhou.

Eu bem que gostaria, mas o Luigi  aparentemente tinha razão. Não havia outra razão lógica para o Aldo estar tão distante e ausente. Ele sempre foi chefe de cozinha desde que nos casamos, mas seus afazeres nunca o impediu de cumprir seus deveres como marido.

- Eu não sei não, Carol. – Disse brincando com a comida em meu prato. – Que outro motivo o Aldo teria para estar tão distante? Ele nem ao menos se esforça para demonstrar que se importa com o nosso casamento.

- Lety, homens não são como nós. Eles se importam com o casamento, mas demonstram de formas diferentes. – Carol segurou minha mão. – Eu tenho certeza que o Aldo é fiel a você.

- Ah eu queria ter essa certeza também. – Luigi sussurrou, e Carolina o olhou em repreensão. – Seja sincera comigo, está bem? – Ele me perguntou.

- Sobre o quê? – Perguntei confusa.

- Quem faz as perguntas por aqui sou eu, queridinha. – Passou a mão no cabelo. – Apenas diga se sim ou não.

- Lety, diga que não. – Carol sussurrou para mim.

- Carolzinha, meu amor. Deixe-me fazer a minha investigação. – Luigi forçou um sorriso e semicerrou os olhos. – E então, Lety? – Me olhou.

- Está bem! – Suspirei.

- Ótimo! – Comemorou, batendo palminhas. – Quantas vezes por mês o Aldo viaja?

- Não sei. Três a quatro vezes. - Respondi.

- E quantos dias duram essas viagens, geralmente? – Me olhou como se estivesse estudando minhas perguntas.

- Dois à quatro dias. – Perguntei sem entender o motivo de tantas perguntas.

- Agora é a pergunta mais importante...

- Lá vem bomba. – Carol disse o interrompendo.

- Shhhhh – Ele pôs o indicador em frente aos lábios.

- Continue, Luigi, por favor. – Pedi. Por algum motivo, eu queria saber a que conclusão Luigi chegaria com as minhas respostas.

Ele se inclinou na mesa, e olhando para os lados fez sua pergunta, e eu imediatamente me arrependi de ter aceitado aquilo.

- Com qual frequência vocês têm relações? – Disse quase sussurrando.

- Pelo amor de Deus, Luigi! – Disse indignada, praticamente gritando. – Eu não vou responder isso à você.

- Eu avisei! – Carolina disse me olhando.

- Se não quer responder, é porque as coisas não vão bem. – Sorriu maroto, e eu revirei os olhos.

De fato, Luigi tinha razão. Eu nem ao menos me lembro a última vez que Aldo e eu tivemos qualquer tipo de contato amoroso, além de um selinho de três segundos. E o pior de tudo, é que nenhum de nós dois nos importávamos com aquela situação. Para ser sincera, eu não sentia falta de uma caricia mais intima, e quando sentia, não eram as caricias dele que me vinha a memória.

- Lety, se realmente tem uma mulher no jogo, você precisa agir. Precisa fazer o Aldo perceber a tigresa que tem em casa. – Disse Luigi. – O faça revirar os olhos!

- Luigi...

- Lety, desculpa. Mas o Luigi tem razão. – Carol me interrompeu. – Não com essas palavras, mas tem.

- Viu só? – Luigi sorriu vitorioso.

- Eu sinto muito, mas não quero que meu casamento se baseie em olhos revirados. – Disse um pouco ríspida.

- Lety, eu acho que o problema não está apenas no Aldo. – Luigi me olhou desconfiado. – Está acontecendo alguma coisa com você, que não quer nos contar?

- Por que acha isso? – Cruzei os braços.

- Qualquer mulher em seu lugar, surtaria com a hipótese do seu marido ter uma amante, no entanto, você pareceu bem tranquila quanto a isso. – Ele olhou para as unhas, e logo em seguida olhou para mim.

- Mas é claro que não. – Me defendi.

- Lety, o Luigi está certo mais uma vez. – Carol interviu. – Nós acabamos de te aconselhar a tentar lutar pelo seu casamento, mas você simplesmente se recusou.

- Eu não me recusei a lutar pelo casamento, me recusei a usar o método sugerido por vocês.

- Qual o de revirar os olhos de seu marido? – Luigi perguntou. – Você assinou alguma clausula de castidade pós-casamento?

No fundo, eu sabia que eles tinham razão. Qualquer lugar em meu lugar não mediria esforços para reconquistar o marido ou ao menos tentar seduzi-lo.

- Lety, está acontecendo alguma coisa? – Carol me perguntou olhando  no fundo dos meus olhos, e inevitavelmente senti meus olhos marejarem.

- Não precisa responder. – Luigi disse segurando minha mão. – Desabafe, minha rainha. Você vai se sentir muito melhor.

Desabafar seria a melhor opção, se eu soubesse o que dizer e como dizer. Na verdade eu nem ao menos sabia o que estava se passando comigo, a única coisa que estava clara para mim é que a cada dia que se passava, a lacuna abismal que a presença de Fernando me causou, se intensificava ainda mais. Eu não sei se a frieza provocou a saudade do Fernando, ou se a saudade do Fernando provocou a frieza em meu casamento, mas estava mais que claro que a vida sem ele estava se tornando um inferno.

- Lety... – Carol me olhou, me induzindo a iniciar meu desabafo.

- Eu não sei o que está acontecendo comigo... – Passei a mão em meu rosto. – A minha cabeça está confusa, e o meu coração está indo no mesmo ritmo. Aldo é um homem maravilhoso, sempre me respeitou e me tratou com muito carinho, mas...

- Mas? – Luigi me olhou.

- Mas eu percebi que... – Suspirei. – Eu percebi que eu não amo o Aldo.

- O QUÊ? – Carolina gritou.

- COMO ASSIM, LETÍCIA? – Luigi disse no mesmo tom de Carolina. – Até hoje eu tenho um rancorzinho rosa bebê de você, por você ter tirado o Aldo de mim.

- Mas eu não o tirei de você. – Ergui uma das sobrancelhas. – Vocês nem ao menos eram namorados.

- Não éramos ainda. – Luigi disse irritado.

- Gente, pelo amor de Deus, foquem! – Carolina disse. – Letícia, como você simplesmente percebeu que não ama o seu marido depois de dois anos de casada?

- Eu estou tão confusa quando você, Carol. – Disse desanimada.

- Lety, essa historia está muito mal contada. – Luigi semicerrou os olhos.

Eu não tinha a mínima coragem de confessar que sentia falta do Fernando, e que ele era o motivo de eu não querer lutar pelo meu casamento. Eu não tinha coragem de assumir que Fernando é o homem que sempre amei. Eu não tinha coragem de confessar que não havia um só dia, em que Fernando não roubasse toda a minha estabilidade, ainda que por pensamentos.

Carol e Luigi ainda esperavam por alguma resposta, mas eu simplesmente não tinha o que dizer, ou não tinha coragem para dizer. Então, não me restou outra alternativa ao não ser mudar de assunto.

- Vamos deixar essa história para lá, está bem? – Sorri agradecida – Eu agradeço que queiram me ajudar, mas a única coisa que preciso é esquecer um pouco esse assunto, e reorganizar minhas ideias.

- Sei... – Luigi disse. – O que você precisa mesmo é de uma viagem à Paris, um jantar romântico, umas tequilas e uma calcinha comestível. Seu marido vai adorar!

Eu o olhei em reprovação, mas não consegui me segurar por muito tempo.

- Vocês sabem o motivo dessa reunião de ultima hora? – Carolina mudou de assunto, para a minha sorte. – Ele estava com tanta pressa que nem convocou pessoalmente. Apenas enviou uns emails.

- Eu também fiquei chocadíssima com isso, Darling. – Luigi disse ajeitando sua franja.

- Ah, gente. Não sei porque tanto espanto.  – Bebi um pouco do meu suco.

- Como não? – Carolina me olhou perplexa.

- Talvez ele não teve tempo de ir à empresa, e convocou por email. – Respondi fazendo pouco caso.

- Eu estou mesmo espantado pelo fato de ele ter um computador, e ainda por cima ter um email. –  Luigi disse ainda mexendo em seu cabelo. – Eu pensei que ele ainda usava maquinas de escrever ou um pombo-correio.

Por mais maldoso que fosse aquele comentário, não consegui conter o riso.

- Ah, Luigi, chega de você por hoje! – Carolina disse se levantando. – Vamos voltar porque o horário de almoço já está acabando.

- Ai, que horror! – Luigi disse ofendido, colocando uma das mãos no peito. – E nós estamos com a presidente, meu amor. Não precisamos nos preocupar com o horário.

- Acontece que a presidente está morta de curiosidade para saber do que se trata essa reunião. – Fiz sinal, chamando o garçom.

- Ai, que chatas vocês! – Luigi disse emburrado.

 

 

 

 

 

Os ponteiros do relógio pareciam estar fazendo um jogo comigo, pois a cada vez que ele dava um passo à frente, parecia dar quinze atrás. A minha curiosidade estava me matando, e em poucos minutos só me restariam às unhas dos pés para roer, o que vai contra os meus princípios higiênicos.

Estava concentrada nos orçamentos do próximo comercial – ou fingia estar – quando ouvi meu celular tocar dentro da bolsa. Suspirei impaciente. Atender telefones nunca foi o meu forte, por isso eu sempre optava por usar o  método de mensagens de texto. Peguei o celular em  minha bolsa, e inevitavelmente senti uma pontada de insatisfação ao ver o contato na tela. Juntei todas as minhas forças, e tentei ser a  mais convencível possível.

- Alô? – Aldo disse do outro lado da linha

- Oi, meu amor! – Fingi estar animada e me senti a própria nota de três reais.

- Está animada! – Sua voz indicava que ele estava sorrindo. – Mas infelizmente, não sei se a sua animação vai durar muito tempo.

- O quê? Por quê? – Perguntei alterada. – Aconteceu alguma coisa?

Fez-se um silencio por alguns segundos, sabe-se lá Deus que inferno estava acontecendo do outro lado da linha.

- Alô? Aldo? -  Insisti.

- Oi, meu amor! – Ele finalmente atendeu, e parecia estar ofegante.

- Você correu uma maratona nesse intervalo em que me deixou plantada ao telefone? – Perguntei um pouco grossa. – Por que está tão ofegante?

- Er... nada! – Ele respondeu notavelmente tenso. – Uns funcionários me obrigaram a gritar um pouco.

- Mas eu não ouvi nenhum grito. – Disse desconfiada.

Eu sabia perfeitamente quando Aldo estava me escondendo algo, e ele estava definitivamente me  escondendo algo.

- Er... é que eles estavam na cozinha, e como estou usando o telefone da recepção, você não pôde me ouvir.

Eu conhecia O sabor da vida como a palma da minha mão, e sabia que a cozinha não era tão distante da recepção ao ponto de ouvir gritos vindos de lá. Aldo estava mentindo, e eu sabia disso, mas não estava com a mínima animação de seguir indagando.

- Ah, sim... – Fingi estar convencida. – Mas o que aconteceu para me ligar a essa hora da manhã? Você não faz isso há meses.

- E eu gostaria de não ter que ligar hoje, meu amor. – Ele disse, e em seguida cochichou algo inaudível com alguém ao seu lado. – Mas eu preciso fazer uma viagem de urgência para o litoral.

- OUTRA – Praticamente gritei. – Você viajou semana passada.

- Eu sei, meu amor, e sinto muito por isso. Mas eu realmente preciso ir.

- E por quanto tempo vai durar essa... viagem? – Brinquei com uma das canetas em cima da mesa.

- Uma semana!

- Uma semana! – Forcei a caneta contra a mesa, fazendo-a cair. – Obrigada por avisar, meu amor. – Disse cerrando os dentes.

- Eu sinto muito por isso, meu amor. – Ele disse parecendo estar desapontado. Mas só parecia. Conheço o Aldo e sei exatamente quando ele está fingindo ou mentindo para mim. – Você está brava?

- Eu? Não... lógico que não. – Disse fazendo pouco caso. – Faça boa viagem.

- Obrigada, meu amor!

Eu não respondi. Estava irritada, desconfiada e nervosa demais para isso.

- Te amo! – Ele disse, por fim.

Ótimo! Tudo o que mais preciso é dormir sozinha por uma semana. Eu estou completamente confusa em relação ao meu casamento, e meu marido resolve surgir com a maravilhosa ideia de viajar por uma semana.

Tentei voltar a minha concentração aos meus afazeres, quando o telefone da presidência tocou. Impaciente, revirei os olhos, e quase arrancando o fio que ligava o gancho ao telefone, atendi.

O que é? – Disse extremamente irritada.

- Lety? É... Seu Humberto já está aqui, e disse que a reunião começará em cinco minutos. – Era Paula Maria, e ela estava notavelmente assustada com a maneira que atendi ao telefone.

- Obrigada, Paula! – Disse mais calma.

- Por nada, Lety. É o meu dever. – Ela disse ainda assustada.

- Paula, perdão pela maneira que atendi ao telefone. Não foi minha intenção gritar com você.

- Não se preocupe! – Ela disse mais tranquila.

- Obrigada mais uma vez!

- Por nada! – Ela disse encerrando a ligação.

Um pouco mais calma, pus o telefone no gancho, e passando a mão em meu cabelo, me preparei para sair da sala, quando Carolina entrou quase derrubando a porta.

- Lety, eu preciso te contar uma coisa urgente! – Ela disse eufórica.

- Carol, a reunião começa em dois minutos. – Disse sem fazer muito caso. – Depois você me conta, está bem?

- Não, Lety. Tem que ser agora! É muito sério! – Ela estava notavelmente alterada. – Você vai cair para trás quando souber.

- Mais um motivo para eu saber depois. – Passei por Carol, parando de frente a ela. – Não quero ir para a reunião carregada.

Eu não costumava tratar a Carol assim, na verdade, não tratava ninguém. Mas Carolina costumava fazer esse mesmo escândalo para contar qualquer noticia, por mais boba que fosse.

- Lety, por favor...

- Depois, Carol. – A interrompi. – Agora, vamos! A reunião já vai começar. – Sai da sala, deixando-a sozinha.

Obviamente, fui pelo atalho que existia dentro da sala da presidência, e todos já estavam lá. Com exceção de Humberto e Terezinha.

- Bom dia! – Disse entrando na sala.

- Bom dia! – Todos responderam em uníssono.

- Onde estão o Seu Humberto e a Dona Terezinha? – Perguntei me sentando a cabeceira da mesa. – Achei que ele já estivesse aqui.

- Ele não vai demorar. – Omar disse sorrindo estranhamente.

Eu já estava estranhando tudo aquilo. Primeiro o Humberto convoca uma reunião de ultima hora, e simplesmente é o último a chegar. Eu já estava começando a ficar impaciente com toda aquela demora, e quando estava prestes a me levantar e procurar por ele, ouvi o barulho da porta. Imediatamente, olhei para a porta, e senti meu coração sair bela boca. Tudo ao meu redor pareceu perder o sentido, e inevitavelmente senti meus olhos marejarem. Pisquei incessantemente, não só para conter as lagrimas, como também para me certificar de que não era uma alucinação. Abri a boca varias vezes, mas não conseguia dizer nada, e para o meu espanto, eu era a única a ter aquela reação. Carolina também parou a porta, e ao ver a minha reação, pude ouvi-la balbuciar as seguintes palavras: “Eu disse que era importante”.

Eu ainda os olhava assustada e com os olhos marejados, temendo que aquilo não passasse de uma pegadinha.

- Seu Fernando... – Disse quase inaudivelmente.

Sorrindo, ele, Humberto e Terezinha entraram na sala. Ele sorria  a todo o momento, e cumprimentava a todos a mesa. Eu não pude deixar de notar o quanto aquela viagem o fez bem. Estava mais forte e mais moreno também, alguns poucos fios da frente do seu cabelo estavam levemente grisalhos, deixando-o ainda mais sedutor. Eu ainda estava atenta a suas mudanças, quando finalmente chegou a minha vez de ser cumprimentada. Imediatamente, eu me levantei para abraçá-lo, e eu podia jurar que se o apertasse um pouco mais, quebraria seus ossos. Mas algo havia de errado, ele não me correspondeu como costumava fazer.

Todos ficaram notavelmente felizes com a sua volta – menos o Ariel – e faziam varias perguntas sobre a viagem. Eu apenas o ouvia. Estava com saudade de ouvir sua voz, e me deliciar do barulho quase imperceptível de sua respiração.

- Eu sei que todos estão assustados coma volta do Fernando, e estão cheios de perguntas, mas deixemos isso para depois. – Seu Humberto disse puxando uma cadeira para Dona Terezinha, sentando-se ao lado dela. – Sentem todos, por favor.

Como ele pediu, sentamos, olhando-o atento.

- Depois de dois anos, o meu filho finalmente voltou. – Ele sorriu, olhando para Fernando. – E essa reunião é para informá-los que ele voltará a trabalhar na empresa.

Todos sorriram felizes, e eu pensei que minha boca se rasgaria com o largo sorriso que abri.

- Mas não como presidente. – Fernando complementou. – Não é justo eu passar dois anos longe da empresa, e voltar de uma hora para outra assumindo a presidência. – Ele olhou para mim, e eu senti meu corpo estremecer. – A presidência deve permanecer com a Letícia.

Ouvi-lo pronunciar meu nome fez meu corpo se arrepiar dos pés a cabeça, e eu não sei se consegui disfarçar isso.

- E o que você sugere, filho? – Terezinha perguntou.

- Não sei... eu poderia voltar ao meu cargo de assistente. – Ele me olhou. – Claro, se não houver problema algum a Letícia.

- N..não. – Disse olhando-o. – Problema algum.

Ouvi-lo dizer que queria voltar a trabalhar como meu assistente, à apenas alguns poucos metros da minha sala, me vez voar com pés em terra. Eu só não sabia o quanto conseguiríamos nos segurar estando tão perto um do outro. Eu ainda o amava, e meu corpo ainda ardia em chamas por ele, mesmo que eu tenha demorado tempo demais para perceber.

- Então estamos combinados! – Seu Humberto sorriu satisfeito! – Amanhã mesmo você pode começar.

- Ótimo, papai. – Fernando sorriu.

- Mas isso merece uma comemoração! – Dona Terezinha disse animada.

- Ai, eu concordo! – Luigi disse. – Inclusive, posso ajudar na organização.

- Eu agradeço, Luigi. Mas dispenso a sua ajuda com a organização da minha festa. – Fernando disse. – Eu sei muito bem que tipo de festa está acostumado a frequentar.

- Eu também estava morrendo de saudades, Chiquinha. – Luigi disse revirando os olhos, e todos riram.

- Bom, esse era o motivo da reunião!- Seu Humberto disse se levantando, e todos (menos eu) se levaram em seguida. – É bom tê-lo de volta, filho. – Pôs as mãos no ombro de Fernando.

- É bom estar de volta, papai. – Fernando o puxou para um abraço, seguido de vários tapas nas costas.

 

A reunião foi encerrada e todos se levantaram para cumprimentar Fernando. Eu apenas o olhava de longe. Não sabia o que dizer, e nem sabia o que ele pensava ao meu respeito naquele momento.

Todos seguiram para suas salas e afazeres, mas eu não conseguia fazer nada. Permaneci na sala de reuniões. Ainda não tinha digerido a volta de Fernando, ainda não estava acreditando e a todo momento temia que tudo aquilo não passasse de um sonho. Suspirei pesadamente, me levantando segui para a minha sala. Eu ainda estava incrédula com tudo aquilo, mas estava feliz, imensamente feliz.  Levada por um impulso, segui para a saleta, e a abri. Para o meu espanto, ele estava lá.

- Ah, perdão! – Me apressei em dizer. – Não sabia que estava aqui.

- Não se preocupe! – Ele disse sem me olhar. – Só estou organizando a sala do meu jeito.

Ele enfeitava a mesa com uns carrinhos de brinquedo e o seu inseparável boneco. Sorri inevitavelmente.
Ambos estavam em silencio, e o clima começou a ficar pesado. Eu não sabia o que dizer, e ele não parecia estar afim de um dialogo naquele momento, mas por algum motivo, eu resolvi quebrar o silêncio.

- E então? Como têm passado esses últimos anos? – Coloquei minhas mãos para trás.

- Bem, muito bem! – Ele finalmente me olhou. – Olha, Dona Letícia, eu adoraria continuar aqui com a senhora, mas eu e o Omar marcamos de sair. Como o meu primeiro dia de emprego é apenas amanhã, amanhã conversamos. Com licença!

Sem esperar que eu desse qualquer resposta, Fernando passou por mim, saindo da sala. Eu o acompanhei com o olhar, e então senti um mar de lagrimas se formar em meus olhos. E com aquela pequena “conversa”, eu percebi que Fernando voltou, mas não foi por mim.


Notas Finais


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