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História Llorando por dentro. - Eu o perdi.


Escrita por: sientejc

Notas do Autor


Oi, mores. Quero agradecer a todos pelos comentários e pelos elogios. Vocês são extremamente incentivadores!
No capitulo de hoje, recomendo a música "llorar" de Jesse y Joy. Espero que gostem! Beijinhos!

Capítulo 3 - Eu o perdi.


Fanfic / Fanfiction Llorando por dentro. - Eu o perdi.

 

Essa noite, com certeza, vai entrar para a lista de piores noites da minha vida. Como se não bastasse dormir sozinha nessa casa imensa, tive que suportar os meus pensamentos me atormentando. Tudo embolava em minha mente, gerando um emaranhado de pensamentos e sentimentos incompreensíveis.

O modo estranha com o qual Aldo estava me tratando nesses últimos dias, por um motivo até então desconhecido, me deixava inquieta, mas não me rouba o sono. O que rouba meu sono é a volta de Fernando Mendiola. Vê-lo depois de tanto tempo apenas confirmou o obvio. Eu ainda o amo. Talvez mais que há dois anos. Mas ele está mudado. Seus olhos já não brilham mais, quando se cruza com os meus. Minha presença não parece causar qualquer efeito sobre ele. Parece que não houve um “nós”. Parece que não houve juras e palavras de amor. Parece que sua pele nunca conheceu a minha.

Depois de muito esforço, consegui vencer o turbilhão de sentimentos e pensamentos perturbadores, e consegui me render ao sono.

 

 

 

 

 

A ansiedade de rever Fernando não me deixou na cama por muito tempo, e uma hora antes que o normal, eu já estava acordada. Por algum motivo que nem ao menos eu entendi, senti uma vontade de estar mais bonita. Senti uma necessidade de surpreendê-lo. Senti uma necessidade incontrolável e descabida, de ser desejada por ele outra vez.

Demorei um pouco mais que o normal no banho, e eu inevitavelmente sorri ao perceber os efeitos que Fernando causa em mim, mesmo depois de tudo, mesmo depois de tanto. Ainda enrolada na toalha, sequei meus cabelos. Depois de vestir minhas peças intimas, caminhei até o closet, e pela primeira vez em toda a minha vida, me senti insatisfeita com minhas roupas. Nada me agradava por ali, e se não fosse tão cedo, teria ido naquele mesmo instante no primeiro shopping que encontrasse.

Depois de jogar praticamente todas as roupas ao chão, encontrei um vestido preto com um decote V, e eu sorri satisfeita ao perceber que havia encontrado a roupa perfeita. Não era tão sofisticado a ponto de deixar tão obvio que me arrumei por ele, mas não era tão simples a ponto de me fazer passar despercebida. Não era tão justo a ponto de me fazer parecer uma vassoura encapada, mas não tão folgado a ponto de me fazer parecer ter quinze quilos a mais. Não era curto a ponto de me obrigar a abaixá-lo a cada dois segundos, mas não tão comprido a ponto de me fazer parecer uma testemunha de Jeová. Definitivamente, aquele vestido era perfeito para as minhas intenções.

Optei por uma bota preta de cano alto, bico fino e salto agulha. Deixei meus cabelos completamente soltos, com a franja caída sob os olhos. Me olhei ao espelho, e sorri, mas senti que faltava alguma coisa. Enquanto colocava os brincos, olhei para a penteadeira, e então sorri ao diagnosticar o que estava faltando. Abrindo a minha maleta de maquiagem, peguei um delineador preto e um batom vermelho. Batom vermelho e delineador iam contra todos os meus costumes, mas não me parecia uma má ideia. Olhei para o espelho mais uma vez, e sorri satisfeita. Suspirei na tentativa inútil de conter meu nervosismo, e pegando minha bolsa, segui para a empresa.

Ao chegar à empresa, passei pela recepção feito um furacão, sem ao menos cumprimentar Yasmin. Diferente de todos os dias, o elevador parecia demorar. Em cinco segundos, olhei para o relógio em meu pulso quinze vezes, quando finalmente cheguei ao hall. Todas as meninas estavam em suas mesas, e por algum motivo, não estavam conversando entre si.

- Bom dia, meninas! – As cumprimentei, parando ao centro do hall.

- Bom dia! – Elas responderam juntas.

Alguma coisa havia de estranho nelas, mas eu não fazia ideia do que poderia ser. Preferi não me esforçar muito para pensar o motivo da mudança de humor do quartel, e fui direto para a minha sala.

Sorri inevitavelmente ao lembrar que voltaria a ver Fernando todos os dias. Olhei para a porta de sua sala, sem saber se ele estava ou não estava ali, mas logo as minhas duvidas morreram quando o ouvi falar ao celular. Não era do meu feitio ouvir conversas alheias, mas eu não resisti em escutar do que se tratava a ligação. E então, caminhando lentamente, encostei meu rosto atrás da porta.

- Oi, Dani. – Sua voz não negava que ele estava com um largo sorriso nos lábios.

Foi inevitável não revirar os olhos até conseguir ver o meu próprio cérebro.

- Sim, é verdade, eu voltei. Sim, eu também senti saudades de você. – Fez-se silencio por alguns segundos. – Mas é claro que podemos nos ver hoje. Às sete e meia, está bem? – Ele gargalhou. – Eu sei, eu sei que até as sete vai demorar bastante, mas eu tenho responsabilidades, Daniela. – Ele deu um alto suspiro. – Nos vemos a noite. Até logo! Um beijo, onde você quiser que seja.

Senti meu sangue ferver, e uma vontade incontrolável de esbofetear essa tal Daniela que eu mal conhecia, me dominou por completo. Quase afundando o chão, caminhei a passos firmes até minha mesa, jogando minha bolsa com veracidade em cima dela.

- Dona Letícia? – Ele gritou de sua sala. – É  senhora?

“Quem mais seria? Está esperando a tal Daniela para uma sobremesa antes do encontrozinho de vocês, às sete e meia?”.  Era o que eu realmente queria responder, mas tive que me conter. Eu não tinha motivo de ter ciúmes dele. Eu segui a minha vida com Aldo, e nada mais justo que ele fazer o mesmo. Mas eu não conseguia evitar.

- Sim, sou eu. – Respondi simplesmente.

Eu ainda estava de pé, escorada a minha mesa, encarado sua sala com raiva e com os braços cruzados, quando vi a porta se abrir, e imediatamente desviei meu olhar.

- Bom dia! – Ele disse parado ao lado da minha mesa.

- Bom dia! – Respondi sem olhá-lo, tentando disfarçar meus ciúmes.

Um silêncio perturbador pairou ao ar, e aquilo estava me incomodando. Parecíamos dois estranhos, dois desconhecidos. Parecia que nunca tivemos qualquer relação além da profissional e por mais que ele quisesse demonstrar isso, sabíamos bem que não era verdade.

- E então, como está indo o primeiro dia de trabalho? – O olhei, e clamei aos céus para que ele não tenha percebido o quanto olha-lo me desnorteava.

- Bem. Muito bem, na verdade. – Disse colocando as mãos no bolso. – Eu sabia que sentia falta da empresa, mas não imaginava que era tanto assim. – Olhou ao redor da sala.

- Se sentiu tanta falta, por que não voltou antes? – Perguntei e me arrependi no mesmo instante.

Ele havia ido por minha causa, por causa do meu casamento. Eu fui o motivo de ele ter abandonado tudo o que conquistou. Fernando abriu mão de tudo, para me ter longe.

- Desculpa! – Disse envergonhada. – Não precisa me responder.

- Ah, não se preocupe. – Ele deu um meio sorriso.

Mas uma vez o silêncio se prolongou, e eu já não tinha o que dizer. O clima carregava uma tonelada em si, e foi a vez dele de tentar quebrar o silêncio, e ele disse algo que eu não gostaria de ter ouvido.

- Dona Letícia, não precisa ficar esse clima entre nós. Já faz dois anos, e eu já superei. – Ele me olhou sério. – E foi exatamente por isso que voltei. Porque eu já superei e consegui seguir a minha vida, assim como a senhora seguiu a sua. – Tirou as mãos do bolso, e a reposou em meus ombros. – E eu acho que não poderíamos ter tomado uma decisão melhor.

Ele deu um breve sorriso, e tirando suas mãos dos meus ombros, seguiu para sua sala. Um vazio perturbador me invadiu por dentro, e quando dei por mim, lágrimas estavam banhando meu rosto. Abafei a boca com as mãos, e me sentei pesadamente na cadeira. As últimas palavras de Fernando martelavam em minha cabeça, a ponto de fazê-la pesar.

No fundo ele estava certo. Eu segui a minha vida, eu escolhi o Aldo. Ele não poderia passar o resto dos dias sofrendo por isso. Mas ele estava completamente errado ao dizer que não poderíamos ter tomado uma melhor decisão. Meu peito ardia feito brasa ao me dar conta de que para ele, a melhor decisão foi interromper nossa história. Foi seguir um caminho posto ao meu. E me doía ainda mais perceber que tudo isso aconteceu por minha causa. Porque eu fui fraca. Porque eu preferi escolher o caminho mais cômodo para mim, mesmo não sendo o melhor. E não havia um só dia em que eu não me arrependesse disso.

 

 

 

 

Fernando andava de um lado a outro, completamente transtornado. Seus olhos estavam embaçados pelas lagrimas que insistiam em se manifestar. Havia acabado de descobrir que Letícia havia escolhido Aldo, e por mais que ele já soubesse disso, ele se recusava a acreditar.

- É que...é que... – Falava consigo mesmo, andando de um lado a outro. – Se a Lety estiver com o Domenzaín, eu... eu... –  Ele deu um largo suspiro, tentando controlar inutilmente sua vontade de chorar.

- Seu Fernando... – Lety disse se aproximando de Fernando, que ainda andava de um lado a outro por aquele corredor.

- Oi... – Fernando disse assustado. Não esperava ver Lety ali. Não queria ver Lety ali.

Um curto silêncio parou sobre o ar, mas Letícia o quebrou.

- Seu Fernando, eu...

- Não, Não! – Fernando a interrompeu. – Depois! Depois, Dona Lety! Porque... porque... – Disse totalmente alterado e nervoso.

Fernando sabia exatamente do que se tratava o assunto, e por isso fugia dele. Letícia ia confirmar que escolheu Aldo, e por mais que ele já soubesse, ele não queria ouvir da boca de Letícia. Seria um golpe muito duro, e ele não suportaria. Ele não suportaria saber que a mulher da sua vida escolheu outro.

- Eu te imploro, Seu Fernando! – Letícia pediu. – De verdade, não sabe como me dói. – O olhou com pesar.

- Não, não. Nem me diga, Dona Lety. – Fernando disse balançando o dedo indicador negativamente, enquanto mantinha seus olhos arregalados na esperança de conter as lágrimas. – Por favor, não me diga nada... é que... é melhor. Eu não suportaria, sabe? Então é melhor... – Ele deixou sua frase morrer, dando um sorriso triste logo depois.

- De verdade, Seu Fernando, eu preciso te explicar o que aconteceu. – Letícia disse com a voz embargada. Estava sendo mais difícil do que ela pensou que seria.

- Para quê, Lety? – Fernando perguntou calmamente, ainda com os olhos marejados. – É melhor... evitar mais dores, porque finalmente já estou sabendo do mais importante. – Sua voz estava embargada.

Letícia o olhou com pesar. Seus olhos estavam marejados, e ela mordia seu lábio inferior na intenção de conter o choro. Seu coração se rompia ao ver Fernando daquele jeito. Se sentia culpada. Ainda que involuntariamente, ela era a culpada de toda a dor do Fernando.

- Primeiro Aldo me contou, e eu... – Forçou um riso, que não conseguia ofuscar sua dor. – E eu não acreditei... – Uma lágrima se manifestou em seu rosto, e ele foi rápido em secá-las. – E logo depois, sem querer, eu... eu os ouvi falando. Então já confirmei que vocês...

Letícia sentiu-se ainda mais culpada. Diferente do que ela planejou, Fernando não soube por ela, soube da pior maneira possível. O coração de Letícia se rompia a cada palavra dita por Fernando. Era insuportável para ela vê-lo daquela maneira, e tudo ficava pior quando ela se dava conta de que indiretamente, ela o estava magoando. Ela não conseguia dizer nada, por mais que quisesse.

- É que eu fui um idiota, Lety. Na verdade, eu fui um idiota, porque em que momento me ocorreu a genial ideia de... de... – Sua voz falhou em meio a suas palavras, mas respirando fundo, ele conseguiu continuar. – De deixá-la livre para decidir, se... – Suspirou pesadamente, deixando suas palavras morrerem.

Em toda a sua vida, a coisa mais difícil para Fernando, foi deixar Lety livre para decidir. Mas ao contrário do que aconteceu, ele acreditava que ela se daria conta de que estava apaixonada por ele. Ele se sentia o maior idiota de todos, e se culpava incessantemente por tê-la perdido.

- Me perdoa, Seu Fernando. – Lety disse com pesar, e com a voz embargada. – Perdão. Eu te peço de todo o coração.

Fernando a olhou magoado, e por dentro, desejou morrer. Para ele, a morte ainda era uma melhor opção ao ter que ver Letícia com outro.

- Eu nunca quis que o senhor... – Ela deixou sua frase no ar, se aproximando dele – Não sei como dizer...

Nenhum dos dois gostaria de estar vivendo aquele momento. Fernando sentia seu peito arder, e seu coração se romper na mesma frequência com a qual batia. Nunca em sua vida imaginou que sentiria uma dor tão forte.

Sem saber o que fazer para consolá-lo, Letícia se aproximou, abraçando Fernando. Sua cabeça repousou no peito de Fernando, e as mãos de Fernando envolveu toda suas costas. Fernando acariciava as costas de Lety, enquanto lutava para não fraquejar em sua frente. Ela não conseguiu se conter, e chorou no peito de Fernando, que mesmo em chamas, serviu de apoio para Letícia.

- Não... não diga nada. – Fernando pediu com a voz embargada. – Prefiro pensar que isso é um sonho, ou melhor, um pesadelo. É melhor...

Letícia afagou sua cabeça no peitoral de Fernando, enquanto ele a envolvia em seus braços.

- Seu Fernando, eu o entendo muito bem. – Ela inspirou. – Sou grata ao senhor por ter dado o meu espaço para decidir.

- Não, não me agradeça porque... – Ele apertou o abraço. – Porque nesse momento eu... eu cavei a minha própria cova. Minha própria cova, Lety.

A dor era notável no olhar dos dois. Fernando intensificava o abraço na esperança de que aquele momento não acabasse nunca. Letícia intensificava o choro. Era horrível a sensação de magoar alguém que ela tanto amou... alguém que ela tanto ama.

- Olha, eu... – Fernando disse, afastando-se do abraço. – Eu quero pedir que... que se esqueça de mim... para que seja feliz. – Levou as mãos aos olhos, limpando as lágrimas que ali estavam – Pelo menos para que... algum de nós dois seja feliz.

Fernando sentia facas colidirem contra o seu peito, e a cada segundo que passava, a colisão era mais intensa e profunda. Letícia percebia o quanto ele tentava ser forte, para que ela não sofresse tanto, mas era impossível vê-lo daquela maneira e não sentir um aperto no peito.

Fernando sorriu triste, tentando disfarçar a dor que sentia.

- Vai... vai trabalhar, Lety. – Ele pediu carinhosamente, tocando nos ombros de Letícia.

- Sim... – Letícia assentiu com a cabeça, limpando os olhos.

Fernando abaixou a cabeça, e Letícia lhe deu as costas, mas logo voltou, olhando-o com pesar.

- Vai, vai, Lety. Tem muitos pendentes. – Gesticulou com a mão, encarado o chão em seguida.

Letícia o olhou com pesar, e suspirando, se afastou, deixando Fernando a sós. Fernando escorou-se a parede, e com o coração em chamas, olhou para cima, na tentativa de impedir as lágrimas de rolarem por seu rosto.

E ali, naquele corredor, Fernando Mendiola vivenciou um dos piores momentos de sua vida. Fernando Mendiola confirmou que havia perdido Letícia para sempre.

 

 

 

 

 

Aquela manhã pareceu ser a mais longa da minha vida. Fernando não saiu um segundo sequer de sua sala. Eu olhava a sua sala todo instante, na esperança de que ele saísse de sua sala, sentasse na cadeira a minha frente, e dissesse que nada do que ele sentia mudou.

Eu encarava a tela do computador na esperança de conseguir me concentrar em alguma coisa, mas as lágrimas que se formavam em meus olhos me impediam de enxergar com clareza. Naquele momento, eu senti na pele toda a dor que Fernando sentiu ao descobrir minha decisão, e essa dor eu não desejaria nem ao meu pior inimigo.

Por mais que eu quisesse acreditar que aquilo fazia parte de um jogo, mas não era assim. Eu sentia em seus olhos foscos, que antes brilhavam tanto, que algo havia morrido entre nós. Eu sentia em seus toques tão frios e sem emoção, que algo nele havia mudado. Mas me perturbava a ideia de que ele havia deixado de me amar. Eu me acostumei com seus olhos se declarando para mim a cada instante. Eu me acostumei com sua pele clamando pela minha em silêncio. Mas isso mudou. Seus olhos não tinha o mesmo brilho de antes, e me partia o coração notar isso. Me partia o coração saber que Fernando já não me amava quanto antes, e me doía ainda mais saber que é tudo minha culpa. Eu não valorizei o seu amor, a sua dedicação em me provar o quanto me amava, e, sobretudo, não valorizei o amor que eu sentia por ele.

Estava perdida em meus pensamentos, em minhas dores e arrependimentos, quando a porta de sua sala se abriu. Imediatamente tratei de abaixar a cabeça, e encarar os papeis em minha mesa, na esperança de ele não perceber minhas lágrimas.

- Dona Letícia, eu estou indo almoçar. – Ele disse parado em frente a minha mesa.

- Hunrum... – Respondi de cabeça baixa, sem olha-lo.

- Então, com licença. – Se retirou, caminhando até a porta, e ao abrir, a fechou atrás de si.

Quando ouvi o barulho da porta, levantei a cabeça, e senti o peso de um prédio cair sobre mim.

Sua mudança o impedia de perceber quando eu não estava bem. O Fernando de dois anos atrás notaria imediatamente que eu não estava bem, e faria de tudo para me ver bem outra vez. Eu sei que eu não posso e nem devo cobrar nada de Fernando, afinal de contas, eu ainda sou casada com Aldo. Mas é mais forte que eu. Eu não vou saber me acostumar com essa mudança e frieza de Fernando, quando inúmeras vezes foi ele quem me aqueceu, e protegeu minha alma do frio. Protegeu minha alma da solidão.

Eu não saí da sala para o almoço. Não tinha apetite e nem animo para isso. Continuei ali, remoendo a dor de ter Fernando tão perto e ao mesmo tempo tão longe, enquanto contava os segundo para que ele voltasse. Mesmo trancado em sua sala, me fazia bem saber estávamos tão perto. Me fazia bem saber que ele estava ali, ali bem pertinho de mim. 

Aproveitei que faltavam alguns minutos para o horário de almoço encerrar, e fui até sua sala, entrando. Fechei meus olhos e revivi os inúmeros momentos que tive com ele naquela sala. Seu perfume impregnava todo o ambiente, e foi impossível não reconhecer seu cheiro. As inúmeras lembranças passavam como um filme em minha cabeça. Todos os momentos. Dos bons, aos ruins.

 

Me perdí buscando ese lugar
todo por tratar de demonstrar
Olvidé que sin tu amor no valgo nada
Y tomé una vuelta equivocada

 

 

***

 

“Até amanhã, Seu Fernando.”

“Ouça, Lety... Diga-me se me ama. Necessito saber se me ama, para mim é muito importante saber. Você me ama, Lety?”

“Sim, Seu Fernando. Eu nunca deixei de amá-lo.”

“Te amo mais que nunca, Lety. Te amo mais que sempre.”

 

 

 

***

 

 

 

“Por que não me disse que encontrou essa maldita carta?”

“Melhor me responder o senhor. Por que brincou assim comigo? Sabia que eu teria dado a vida pelo senhor, e o senhor não parou um instante para pensar no mal que me fazia. Planejou tudo conscientemente sabendo que depois ia me mandar para longe, muito longe daqui.”

“Necessito que me escute, Letícia.”

“Não. Não, já é muito tarde, Seu Fernando. Esperei muito tempo essa explicação.”

 

 

 

***

 

 

 

O tempo passou rápido enquanto eu me afogava no mar de minhas lembranças, quando Fernando abriu a porta da sala, me olhando assustado.

- Dona Letícia, o que a senhora faz aqui? – Disse entrando.

- Perdão! – Disse tensa. – Eu estava procurando uns papeis.

- E os encontrou?

- O quê? – Perguntei distraída.

- Os papeis, oras. – Passou por mim, escorando-se a mesa.

- N..não. – Me apressei em me afastar dele. – Devem estar com o Luigi. – Caminhei até a porta. – Perdão mais uma vez. Com licença!

- Toda! – Respondeu sem me olhar, sentando-se em sua cadeira.

Saí de sua sala ainda atônita, sentando pesadamente em minha cadeira. Estava perdida em meus pensamentos, quando Carol entrou em minha sala.

- Boa tarde, Lety! – Ela sentou na cadeira a minha frente. – Por que não almoçou conosco hoje?

- Estava sem fome. – Respondi sem muito animo.

- E qual o motivo dessa falta de apetite repentina? – Apoiou o cotovelo na mesa, escorando o queixo em uma das mãos.

- Não sei. – Disse sem olhá-la. – Apenas não estou com apetite.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, até que eu a olhei, indicando que ela falasse algo.

- Eu vim te fazer um convite, e como minha melhor amiga, você não pode recusar. – Ela disse erguendo seu corpo, e tirando os braços da mesa. – Vamos sair hoje a noite?

- Ai, Carol, eu não estou com animo para festas hoje. – Disse sincera.

- Mais um motivo para você ir. – Disse decidida. – Não é porque o Aldo viajou, que você tem que ficar trancada em casa até que ele volte.

O Aldo não era o motivo da minha desmotivação, mas Carolina não sabia disso.

- O Omar foi para a casa dois pais, e eu não estou a fim de ficar sozinha em casa.

- Você não deveria acompanhá-lo? – Perguntei.

- Eu não! – Respondeu rapidamente. – Eu não me dou muito bem com a mãe dele.

Ela disse e eu ri, embora tenha me perguntado quem em sã consciência não se daria bem com a Carol.

- Anda, Lety! Por favor. – Ela juntou as mãos, suplicando.

Eu sabia que Carolina ia me convencer de qualquer maneira, então resolvi aceitar logo de uma vez para encurtar a discussão.

- Está bem! – Disse rendida. – Mas já vou avisando que não vou ficar até tarde.

- Ok! – Carol sorriu.

 

 

 

 

 

 

Me quedé sin movimiento
Sin saber por donde regresar
Lleno de remordimiento
Dejándote detrás, fingir ser alguien más

 

 

 

Assim que pus os pés onde Carolina me levou, tive uma imensa vontade de voltar. O lugar era cheio, escuro, a música era extremamente alta, e as pessoas pareciam não se  preocupar com o fato de que amanhã é uma quarta-feira. Algumas pessoas passavam com dois copos de bebida na mão, e misturavam os líquidos, e eu juro que me perguntei como eles conseguiam beber aquilo sem vomitar os rins.

Carolina foi buscar uma bebida para nós – com a condição de que não seria nada forte – mas já estava começando a demorar. Saí de onde estava sentada e me levantei na esperança de encontrá-la, mas o lugar era tão escuro que seria impossível identificar qualquer pessoa.

Eu já estava ficando impaciente, e um desejo incontrolável de sair e deixá-la ali sozinha me tomou por completo, quando a vi se aproximar estranhamente animada, com dois copos de batida de maracujá na mão.

- Você estava plantando o maracujá? – Perguntei tomando a bebida de sua mão.

- Desculpe, queridinha. Mas a fila preferencial abrange apenas idosos, deficientes e grávidas. – Ela tomou um largo gole de sua batida. – E como você pode ver, eu não me encaixo em nenhuma das três situações.

Eu não respondi, apenas revirei os olhos e tomei um pouco da minha bebida, que estava muito boa por sinal.

Para ser sincera, a ideia de Carol não foi tão ruim quanto acreditei que seria. Era engraçado ver as pessoas dançando – ou achando que estavam dançando – e bebendo como se aquilo não fosse trazer nenhum malefício ao fígado. Carolina dançava em sua cadeira, mas não se contendo, achou que seria melhor dançar de pé.

- Vamos dançar? – Ela perguntou sorrindo.

- Você já está dançando. – Cruzei os braços. – E eu estou muito bem aqui, se quer saber.

- Você entendeu, Letícia. – Ela revirou os olhos. – Não vai adiantar de nada você ter vindo até aqui, se vai ficar o resto da noite pregada a essa cadeira, que nem é tão confortável.

Eu a olhei pensativa por alguns segundos, e de fato, ela tinha razão. Não fazia sentido ficar a noite toda sentada, se o meu objetivo era esquecer parte dos meus problemas. Não sei se a bebida estava com mais álcool que o normal, mas sorrindo, me levantei e segurei a mão de Carolina, indo para a pista.

Eu não fazia ideia do que eu estava fazendo, mas eu estava me divertindo, e por uns minutos, nem Aldo nem Fernando perturbaram meus pensamentos. Eu estava me divertindo como há muito tempo não me divertia. Entre as músicas que tocavam, Carolina e eu dávamos um fora em todos os homens que pediam para dançar com uma de nós, e por sorte, todos eles aceitaram muito bem.

Toda aquela animação acabou me fazendo soar mais que o normal, me causando uma sede anormal.

- Eu vou pegar alguma coisa para beber. Você quer? – Perguntei a Carol.

- QUERO! – Ela gritou, completamente alterada.

Rindo pelo estado de Carolina, fui até o balcão, chamando a atenção do barman.

- Duas cervejas, por favor. – Pedi, me escorando ao balcão.

- Trago em um instante. – Ele piscou para mim. – Com licença.

Sorri agradecida, e me virei de frente para a pista, olhando Carolina dançar. Ela dançava muito bem por sinal, chamando atenção da maioria dos homens que estavam ali, e a minoria era gay, e estava pedindo para que ela os ensinasse a dançar.

- Aqui. – o Barman disse dando as bebidas.

- Obrigada. – Disse pegando as cervejas da mão dele.

Caminhei na direção de Carolina, e tive que fazer malabarismo para não me chocar com alguém enquanto levava as cervejas até Carol. Eu olhava atentamente para frente, quando algo ao lado me chamou atenção. Inevitavelmente senti meus olhos encherem-se de água, e meu corpo perder a força a ponto das cervejas caírem das minhas mãos.

Eu ainda olhava perplexa para a mesma direção de segundos antes. Fernando estava com um copo de uísque na mão, e a outra estava envolta da cintura de uma mulher, que o beijava. Senti um misto de ódio e tristeza, e algo me sufocando por dentro a ponto de me fazer perder o ar. Ele não me viu ali, e eu agradeci por isso. Ainda atônita com a visão que acabara de ter, caminhei até Carolina, puxando-a pelo braço.

- Eu preciso ir embora aqui. – Disse com a voz embargada. – Agora!

- O quê? Por quê? – Ela perguntou assustada. – O que aconteceu?

- Agora, Carol. – Uma lágrima rolou por meu rosto. – Por favor.

Ela não discutiu, e assentindo, entrelaçou sem braço ao meu, saindo da boate.

 

 

 

 

 

Por sorte, consegui convencer Carolina de que ela não precisava me acompanhar até em casa, já que ela estava mais alterada do que eu. Durante todo o percurso até minha casa, mantive minha cabeça escorada a janela do taxi, enquanto as lágrimas banhavam meu rosto. A cena de Fernando beijando outra mulher não saia da minha cabeça. E as suspeitas de que ele havia me esquecido apenas foram confirmadas. Uma dor insuportável tomou cada parte do meu corpo, e estava quase impossível conter as lagrimas. Por sorte, a minha casa não era tão longe da boate, e em meia hora eu já estava em casa.

Caminhei pesadamente pela casa, e sem forças para trocar de roupa, sentei-me ao chão, e com a cabeça escorada ao sofá, chorei. Chorei de raiva, de ciúmes, de dor, de tristeza. Me sentia impotente. Me sentia traída. Me sentia uma idiota, porque sabia que tudo isso foi apenas uma consequência das minhas escolhas.

Ouvi meu celular tocar dentro da bolsa, mas nem me importei em olhar quem era. Ainda sentada ao chão, abracei uma almofada, chorando ainda mais forte. O meu peito ardia, queimava. A minha vontade era voltar naquela boate, arrancar Fernando das mãos daquela mulher. Mas eu não podia. Eu perdi o direito quando o deixei partir, mesmo com todo o meu corpo clamando por sua presença. Mesmo sabendo que eu ainda o amava.

Não sei se por desespero ou por solidão, mas algo me fez pegar o meu celular, e logo eu vi que a chamada perdida era de Carolina. Resolvi não retornar sua chamada naquele momento. Eu precisava ouvir a voz de alguém que costumava me acalmar, alguém que sempre sabia o que me dizer. Eu precisava ouvir a voz do meu marido. Luigi e Carolina tem razão. Eu preciso lutar e recuperar o meu casamento.

Disquei seu número, mas já estava começando a me arrepender. Chamou uma, duas, três, e quando eu já estava prestes a desligar, uma voz feminina atendeu.

- Alô? – Ela disse do outro lado da linha.

- Aldo, por favor? – Respondi ríspida. Estava nervosa demais para fingir educação.

- Quem gostaria?

- A esposa dele, meu amor. – Respondi irritada com tamanha audácia. – E você, quem é?

- Sou... é... – Ela gaguejou. – Eu sou a recepcionista, e como o celular dele estava na recepção, eu atendi.

- Olha, não precisa passar a ligação. Ele deve estar muito ocupado. – Disse impaciente. – Ou melhor, nem diga que eu liguei.

Eu não esperei que ela respondesse, apenas desliguei, e colocando o celular sob o meu peito, chorei mais uma vez, e milhares de pensamentos corroeram minha mente. O Aldo seria realmente capaz de me trair? O Aldo seria capaz de me trair mesmo depois de eu tê-lo escolhido? A minha cabeça queimava com tantas hipóteses, mas para a minha tristeza, a de Luigi prevalecia em minha cabeça.

Ainda em lágrimas subi para o segundo andar. Precisava de um banho relaxante. Precisava esfriar minha cabeça, e eu tinha esperança de um banho gelado fazer isso. Liguei o chuveiro, e me joguei de completo debaixo dele. Deixei a água correr por todo o meu corpo, na esperança de que ela arrastasse a dor que eu sentia consigo. Eu abraçava o meu corpo enquanto a água corria por ele, mas não conseguindo me conter, sentei ao chão e ainda abraçada ao meu corpo, chorei. Mas ao contrário do que eu queria acreditar, eu não chorava pelo Aldo, eu chorava pelo Fernando. Chorava por ter confirmado o fato de que o havia perdido para sempre. Sofria por saber que outros lábios tocavam os deles. Chorava por saber que ele já era meu.

 

 

 

Y llorar, y llorar, (y llorar)
No sirve de nada ahora que te perdi
Te quiero recuperar
Ven sálvame, despiértame, rescátame
Del sufrimiento, oh no
Del sufrimiento.


Notas Finais


O que acharam? Beijos! Até segunda. <3


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