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História Llorando por dentro. - Sempre ao seu lado.


Escrita por: sientejc

Notas do Autor


Chegou um dos capítulos mais esperado por todos hahaha. E mais uma vez, agradeço por todos os comentários lindos que tenho recebido! Espero que gostem! Ah, ponham uma música bem tristinha para ler a fic KKKKK. Boa leitura!

Capítulo 8 - Sempre ao seu lado.


 

- Aldo, você é um ser humano incrível, e esses dois anos que eu vivi com você foram realmente importantes e significativos para mim, mas, eu acho que é melhor nos divorciarmos... – Falava em frente ao espelho do banheiro, na tentativa de encontrar as palavras certas. – Não! – Suspirei irritada. – Por que pedir um divórcio tem que ser tão difícil?

Desde que saída Conceitos, tentava buscar as palavras propicias para dizer nessa noite, mas eu simplesmente não conseguia. O meu cérebro paralisava só em cogitar a ideia de que estava prestes a magoar alguém que já me fez tanto bem. Sim, Aldo estava distante. Ok, nosso casamento entrou num abismo de monotonia. Mas isso não o fazia uma pessoa pior do que o que ele é. Isso não apagava todo o bem que ele me fez.

Eram dez e vinte e sete da noite, e para uma terça-feira, Aldo já deveria ter chegado. Mas resolvi agradecer por esse atraso, assim, eu teria mais tempo para pensar no que deveria dizer. Saí do banheiro e caminhei em direção ao quarto, sentando pesadamente na cama. Olhei ao redor e senti um aperto no peito, mas também senti uma alegria ao lembrar que em breve, teria Fernando em meus braços outra vez.

Estava perdida em meus pensamentos, quando ouvi meu celular vibrar. Levantei-me, e indo em direção a minha bolsa, que estava na poltrona ao lado da cama, peguei o celular. Era uma mensagem de Carolina.

*Carolina: E então? Como estão as coisas? Como ele reagiu?

Agradeci mentalmente por Carol ter me arrancado do tédio e do mar de ansiosidade que me corria. E digitando rapidamente, lhe respondi.

*Letícia: Ele não reagiu. -_-

*Letícia2: Ainda não conversamos.

*Carolina: Mas por quê? O que houve?

*Letícia: Ele ainda não chegou.

*Letícia2: O que é muito estranho, já que as terças-feiras quem fecha o restaurante é o subchefe. Aldo já deveria ter chegado.

*Carolina: Que estranho, amiga! Espero que não seja nada de mais.

*Carolina2: Me dê notícias!

*Carolina3: Mantenha-se calma. Vai dar tudo certo!

*Letícia: Não tenho condições de ficar calma. Acho que vou precisar de um balão de oxigênio a qualquer momento.

*Carolina: Hahaha

*Carolina2: Não seja exagerada.

*Carolina3: Boa sorte, amiga.

*Letícia: Obrigada! <3

Joguei meu celular sobre a cama, e voltei a me sentar, mas antes que eu pudesse me acomodar, notei que o paletó que Aldo havia usado no jantar de ontem à noite, estava jogado no canto do quarto. Suspirei impaciente, e caminhando na direção do casaco, o peguei. Com o casaco ainda em mãos murmurei o quanto já havia pedido a Aldo para colocar suas roupas em um lugar apropriado para elas. Dobrei o casaco em minhas mãos, quando percebi um papel caindo de seu bolso. Sem a mínima ideia do que se tratava o papel em minhas mãos, o abri.

 

“Oi, meu amor! Você estava dormindo tão tranquilo, que não tive coragem de te acordar quando saí. Obrigada pela semana maravilhosa que você me presenteou. Você é maravilhoso, em todos os aspectos. Espero ansiosamente pela próxima vez.

Beijos! Eu amo você!

Ps:. Obrigada por ter me apresentado à Cancun. É o meu mais novo lugar favorito.

 

Sua Paola.”

 

Senti minha garganta queimar, e logo um mar de lágrimas se formou em meus olhos. Ainda em choque, caminhei até a cama, com os olhos petrificados sobre o papel. A minha cabeça pesava e vários pensamentos turbados se misturavam em minha cabeça.

De repente, tudo fez sentido. Sua frieza, sua distância, seu desinteresse, e, sobretudo, suas viagens. Com os dentes cerrados e os olhos marejados, amassei o papel em minhas mãos. Uma dor insuportável tomava o meu peito, a ponto de me faltar o ar. E então, a ficha caiu: O Aldo realmente estava me traindo.

Como eu pude ser tão idiota a ponto de abrir mão do amor da minha vida por ele? Como eu tive coragem de deixar o único homem que amei ir embora para me casar com o Aldo? Me sentindo a pior idiota de todas, me abracei ao travesseiro e chorei. Chorei por ter sido traída mais uma vez. Chorei por mais uma vez ter sido decepcionada por alguém a quem entreguei toda a minha confiança. Não, eu não amo o Aldo, mas uma traição não deixa de ser uma traição, independente do que sentimos. E por mais que eu não o amasse, meu coração ardia em dores por saber que tudo o que vivemos não significou nada para ele.

 

 

•••

 

Fernando

 

O relógio marcava às onze horas da noite, e pelo dia cansativo que tive hoje, eu já deveria estar dormindo. Mas eu não conseguia. O meu pensamento estava em Letícia, e algo dentro de mim dizia que ela estava precisando de mim. Eu sentia que ela não estava bem, que algo havia acontecido.

Depois de virar na cama por dezenas de vezes, me levantei e desci para o primeiro andar. Me sentei no sofá pesadamente, e ligando a televisão, busquei por algum programa que me agradasse ou que ao menos levasse aqueles turbilhões de sensações e pressentimentos para longe. Mudei uma, duas, três, quatro, várias vezes, mas nada me chamava a atenção.

Letícia não saia da minha cabeça, e mesmo sem saber o porquê, eu sentia que ela precisava do meu abraço, do meu apoio. Algo me dizia que ela precisava de mim naquele exato momento.

 

 

•••

 

Letícia

 

A minha cabeça ardia com tantos pensamentos, e quanto mais eu tentava afastá-los de mim, as palavras escritas naquele bilhete se repetiam várias e várias vezes. Um misto de raiva, mágoa, decepção e arrependimento se misturavam dentro de mim. Raiva por ter sido traída da maneira mais cruel e desprezível possível. Mágoa por ele ter me enganado por sabe-se lá por quanto tempo. Decepção por tê-lo entregado meu coração, mesmo sabendo que ele pertencia a outro. E arrependimento por ter perdido dois anos da minha vida, longe do homem que eu realmente amava.

Meus pensamentos e lágrimas se misturavam entre si, quando um barulho vindo do primeiro andar me chamou a atenção.

- Querida, cheguei! – Ele gritou, e pela sua voz levemente embolada, ele estava alcoolizado.

Ótimo! Além de cafajeste, era um bêbado. Era a única coisa que me faltava! Fechei meus olhos, e respirando o mais fundo que pude, busquei por paciência.

Como ele consegue ser tão sínico a esse ponto? Como ele consegue me trair e fingir que nada aconteceu? Como ele consegue ser tão sujo? Essas palavras não saíam da minha cabeça, mas assim que ele entrou no quarto, todas essas perguntas foram substituídas por uma única palavra: nojo.

- Boa noite, meu amor! – Disse levemente alterado, tirando seu paletó, e o jogando no canto do quarto. – Pensei que já estivesse deitada. – Se aproximou, beijando meu rosto.

O nojo de ter sua boca encostando em meu rosto, me fez esquecer completamente da irritação que senti ao vê-lo jogar o paletó no chão do quarto. Eu continuava imóvel, do mesmo jeito que estava antes de ele entrar. Lentamente, ele sentou-se a cama, e com os próprios pés, tirou os sapatos. Eu permaneci no mesmo lugar, de costas para ele, com o bilhete amassado em minhas mãos.

- O que você tem, meu amor? – Perguntou. – Ah, já sei... É o paletó, não é? – Sua voz evidenciava seu sorriso. – Está bem, eu vou pegar.

 Com um pouco de dificuldade, ele se levantou e caminhando até o canto do quarto, abaixou-se, pegando o paletó.

- Viu só? – Disse se aproximando. – Eu juro que...

- Quem é Paola, e o que ela fazia com você em Cancun? – Perguntei baixo, antes que ele se aproximasse de mim.

Ele parou de caminhar e ficou em silencio, como se não tivesse entendido a minha pergunta.

- Eu perguntei quem é Paola, e o que ela fazia com você em Cancun! – Disse entre os dentes, virando-me para ele.

- Lety, de onde você tirou isso? – Perguntou, me olhando desconfiado.

- Do seu paletó. – Ri ironicamente, erguendo o bilhete, quase o esfregando em seu rosto. – Mas, me responda. O que você fazia com a Paola em Cancun?

- Letícia, eu posso explicar. – Se aproximou, tocando em meu braço. – Não é nada disso do que você está pensando!

- E O QUE EU ESTOU PENSANDO, ALDO? – Gritei, sentindo as lágrimas correrem por meu rosto. – QUE VOCÊ ME TRAÍU? QUE VOCÊ É NO MINIMO O HOMEM MAIS HIPÓCRITA, SUJO E CAFAJESTE QUE EU CONHEÇO?

- Letícia, para de escândalos, por favor. – Disse colocando as duas mãos no cabelo, e deslizando-as até sua nuca. – Os vizinhos podem escutar.

- QUE SE EXPLODAM OS VIZINHOS! QUE SE EXPLODA ESSE CASAMENTO! – Gritei ainda mais alto. – QUE SE EXPLODA VOCÊ.

A raiva que eu sentia era incontrolável. Era horrível a sensação de saber que estava sendo enganada por tanto tempo, e me doía ainda mais a ideia de que eu estava hesitante em pedir o divórcio.

- Lety, essa noite eu vou dormir no sofá, e amanhã, quando você estiver de cabeça fria, conversamos. – Disse caminhando até a porta.

- Eu não preciso esfriar a cabeça para fazer o que já deveria ser feito há muito tempo. – Disparei. – Eu quero o divórcio.

- Como é que é? – Perguntou irônico, parando de caminhar.

- Exatamente o que você ouviu. – Disse, me aproximando dele. – Eu quero o divórcio. E quer saber? Eu estava esperando você chegar para fazer exatamente isso, e eu me senti a pior pessoa do mundo por “magoar você”. – Ironizei, fazendo aspas com os dedos. – Mas eu acho que eu não poderia ter escolhido uma decisão melhor. – Sorri ironicamente. – Alias, poderia sim. Eu poderia ter escolhido o Fernando quando eu estava indecisa entre você e ele. Mas eu sou muito idiota mesmo, por ter deixado o único homem que já amei na minha vida, para ficar com você.

Sua feição mudou completamente, fazendo veias saltarem de seu pescoço e testa. Mas eu queria mais, eu precisava dizer mais. Eu queria deixar bem claro o motivo do meu pedido de divórcio.

- E sabe qual é o real motivo do meu divórcio? – Perguntei sorrindo ironicamente, enquanto lagrimas de raiva rolavam por meu rosto. – Pelo Fernando! Ele voltou, e retomaremos nossa relação do zero. Eu vou recuperar esses dois malditos e longos anos que joguei fora, estando ao seu lado.

- Então é por isso? – Ele perguntou sarcástico, cruzando os braços. – Eu já deveria imaginar. – Riu ironicamente.

- Que se dane o que você deveria imaginar ou não. – Cuspi as palavras. – O que me importa é o nosso divórcio, e eu quero o mais rápido possível.

- MAS EU NÃO VOU TE DAR. – Gritou. – EU NÃO VOU ME DIVÓRCIAR DE VOCÊ, LETÍCIA. – Deu um passo a frente, agarrando o meu braço com força.

- Você vai sim, por bem ou por mal – O enfrentei, puxando meu braço com força.

Eu não deixaria nada nem ninguém me impedir de ser feliz com Fernando. E se antes eu tive duvida de me divorciar do Aldo, essas duvidas foram anuladas.

- Eu não vou deixar o homem da minha vida sair da minha vida outra vez. – O olhei com desprezo. – Não por você, não mais. – As lagrimas embaçavam minha visão. – Como você pôde ter sido tão sujo, a ponto de me trair?

- Ah, Letícia, por favor. – Riu irônico. – Você só não me traiu porque não teve oportunidade.

Senti meu sangue ferver em minhas veias ao ouvi-lo dizer aquilo. Como ele tem coragem de dizer isso de mim? Ele mais do que qualquer outra pessoa conhecia os meus princípios e a minha fidelidade a tudo e a todos. Como ele teve coragem de me comparar com as suas atitudes sujas?

- Você só não foi para cama com Fernando, porque ele não estava aqui. Então não seja hipócrita, por favor. Não me cobre a fidelidade que você só me deu por falta de opção. – Me agarrou pelo braço com mais força que antes.

- Você está me machucando. – Disse com os olhos marejados, tentando soltar o meu braço, mas Aldo o segurou com mais força. – E eu não estou falando apenas do meu braço.

- Você não tem mesmo vergonha na cara, não é? Depois de tudo o que ele te fez... – Apertou ainda mais o meu braço, me sacudindo com veracidade. – Eu já deveria imaginar que bastaria ele voltar, que você voltaria como uma cadelinha que caiu da mudança para os braços dele.

Nunca em toda a minha vida eu senti tanta raiva e dor, e tomada por um impulso, soltei meus braços dos seus, lhe dei um belo tapa no rosto, fazendo-o virar. As lágrimas rolaram por meu rosto, não só pela dor que suas palavras me causaram, mas também pela dor que sentia em meu braço.

- E nunca mais se ouse em me ofender dessa maneira, está bem? – Disse apontando meu dedo indicador em seu rosto. – Nunca mais se ouse a...

Antes que eu pudesse responder, ele tirou a mão de seu rosto, e olhando para mim enfurecido, devolveu o tapa, me fazendo cair na cama.

- NUNCA MAIS SE OUSE A ENCOSTAR A MÃO EM MIM, VOCÊ ME OUVIU? – Gritou, erguendo meu corpo, segurando em meus braços com brutalidade. – NUNCA MAIS! – Me soltou com veracidade na cama, e andando para o lado oposto, escorando-se à janela.

Levei as mãos no meu rosto, ainda o sentindo dolorido. As lágrimas rolaram com mais ansiedade, e não conseguindo mais me conter, solucei pesadamente. Meu braço doía, meu rosto doía, mas nada doía mais que a minha alma. Nem em meus maiores e piores pesadelos, imaginei que o Aldo fosse capaz de me bater. O meu choro se intensificava a medida que eu relembrava dos momentos que tinha acabado de vivenciar.

- Lety, por favor, me perdoa. – Disse sentando-se na cama, com os olhos vermelhos. – Eu juro que não quis fazer isso, mas quando você me bateu, eu sento uma raiva que nunca senti em minha vida. Me perdoa, por favor. – Se aproximou de mim.

À medida que ele se aproximava de mim, eu abraçava meu corpo, escorando-me no canto da cama. Estava apavorada, e não conseguia parar de chorar. Eu estava com medo, como nunca em toda a minha vida. Me sentia amedrontada, sozinha e desprotegida.

- Eu não quero te fazer mal, Lety. Só que quando você disse que quer se divorciar de mim, eu fiquei louco. – Ele tocou no meu rosto, e eu o virei. – Olha, eu vou dormir em um hotel hoje, e amanhã, de cabeça fria, resolveremos tudo, está bem? – Beijou minha testa.

Eu não o respondi. Não que eu não quisesse, eu simplesmente não tinha forças para isso. Uma sensação horrível tomava conta de mim, e a única coisa que saía de mim era lagrimas e soluços. Aldo me machucou, e me machucou de todas as maneiras possíveis e pensáveis.

 

 

•••

 

Fernando

 

A noite foi horrível. Mal consegui pregar o sono, e quando consegui, sonhei com Letícia, e não sonhei do jeito que queria.

 

 

------------

 

Fernando corria, mas não sabia exatamente para onde estava indo. Apenas seguia os pedidos de socorro que escutava, e mesmo sem saber de onde e de quem vinha o pedido, não hesitou em atendê-lo.

O lugar era escuro, e era quase impossível de se enxergar qualquer coisa, mas isso se tornou irrelevante com os gritos se intensificando, e ao ouvir um ultimo grito, ele parou de correr.

- Letícia, é você? – Gritou, olhando ao redor. – Lety, me diz o que está havendo.

- Seu Fernando, por favor, me tira daqui. – Ela soluçava. – Eu estou com muito medo, e preciso do senhor.

Fernando mal conseguia ver, a escuridão o impedia de ver com clareza. Ele conseguia ver apenas alguns formados e silhuetas, mas nada concreto. E apenas a voz que clamava por seu nome, o guiava em meio aquela escuridão.

- Lety, onde você está? – Perguntou desesperado. – Eu não consigo te ver.

Letícia não respondeu, o que deixou Fernando ainda mais preocupado.  

-  LETÍCIA! – Gritou, andando sem ao menos saber para onde estava indo. – LETY! ONDE VOCÊ ESTÁ?

Fernando ainda caminhava, mas logo parou ao ouvir a ultima coisa que gostaria de ter ouvido;

- SOCORRO! – A voz de Letícia ecoou. – ME TIREM DAQUI.

O coração de Fernando gelou, e toda a água que existia em seu corpo, saiu por seus olhos.

- LETY! – Gritou em desespero, mas não obteve resposta.

 

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A ansiedade tomava conta de mim, e eu não consegui ingerir absolutamente nada. Eu precisava ver Letícia. Precisava saber se ela estava bem, e se não estivesse, eu trataria de animá-la. Algo em mim gritava que havia acontecido alguma coisa, e mesmo sem saber o que poderia ser, senti um calafrio percorrer por todo o meu corpo.

Sem muito humor e paciência, passei pela recepção, cumprimentando Yasmin com um meio sorriso. Entrei no elevador, e apertado diversas vezes, pedi pelo segundo andar. Demorando exatamente uma eternidade e três milênios, o elevador chegou ao andar pedido, e quase como um furacão, passei pelo hall.

Abri a porta da saca, e para meu alivio, Letícia estava sentada a mesa. Sua cabeça estava baixa, direcionada a vários papeis espalhados à mesa, mas seus olhos fitavam um ponto fixo na mesa. Ela não havia notado a minha presença, e eu não quis assustá-la, então esperei até que ela despertasse do seu transe.

Ela parecia triste, parecia aflita e desanimada, e isso corroeu meu coração por dentro. Eu olhava atentamente para seu rosto que estava abaixado, quando uma lágrima correu por seu rosto e ela liberou um soluço abafado. Meu coração apertou por alguns segundos, e sem paciência para esperar ela me notar, me aproximei.

 

- Dona Lety... – Me sentei na cadeira a sua frente, a olhando.

Imediatamente ela ergueu sua cabeça, me olhando assustada. Rapidamente, ela passou a mão no rosto, limpando as lagrimas que caiam. Assim como seus olhos, seu rosto estava vermelho e marcado pelas lágrimas. Seus olhos inchados e sua aparência cansada não negava que, assim como eu, ela não havia dormido nada na noite passada.

- Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupado, temendo a resposta.

Ela abaixou a cabeça, e a balançou negativamente.

Sua reação não negava que ela estava mentindo, que estava escondendo alguma coisa. Me levantei da cadeira, e dando a volta a mesa, arrastei lentamente sua cadeira para o lado, me ajoelhando em sua frente.

- Dona Lety, o que aconteceu? – Toquei em seu queixo, erguendo sua cabeça.

Quando ela ergueu sua cabeça, seus olhos cruzaram com os meus, e então as lágrimas voltaram a cair pelo seu rosto. Ela mordia seu lábio inferior na tentativa de conter seus soluços.

Vê-la daquela maneira destroçava meu coração, e ver a maneira que seu choro se intensificava me fazia sentir ainda pior. Senti meus olhos marejarem, mas me contive. Precisava ser forte por ela.

- Letícia, por favor... – Sussurrei. – Me diz o que houve.

- Nada, Seu Fernando. – Respondeu com um fio de voz.

- Não precisa mentir para mim, Dona Lety. – Sorri triste. – Eu a conheço, e sei quando está mentindo. – Escorreguei minha mão por seus braços.

Ela não respondeu, mas ao sentir o contato de minhas mãos em seu braço, ela gemeu baixo, mexendo o braço. Eu a olhei assustado, e então, não aguentando mais, ela chorou. Eu não sabia o que fazer, e a aconchegando em meu peito com cuidado, a abracei. Ela desabafava em meus braços, e seu choro parecia que não teria mais fim. Afaguei minha mão em seu cabelo, e fechei meus olhos, lutando para não chorar junto com ela. Aos poucos, ela se acalmou, e se afastando do abraço, me olhou.

- Agora me diz o que aconteceu, por favor. – Pedi.

Ela não me respondeu, apenas afastou a cadeira, e com cuidado, tirou sem blazer. Eu a olhei confuso, sem saber o que estava se passando naquela sala, mas ao ver o blazer em suas mãos, e voltar meus olhos para os seus braços, entendi o que aquilo significava. Haviam hematomas roxos pelo seu braço, e aquilo não parecia ser queda ou um acidente.

- O que... – Suspirei, engolindo seco. – O que é isso?

Seus olhos voltaram a encher de lágrimas, mas ela conseguiu se conter.

- Ontem, eu saí da empresa decidida a pedir o divórcio para o Aldo. Eu passei toda noite planejando como contar sem o magoar, mas... – Ela suspirou fundo, tentando não cair em prantos mais uma vez. – Mas eu descobri que ele me magoava de uma maneira bem mais dolorosa. – As lágrimas caíam em seu rosto, enquanto olhava para um ponto fixo. – Eu descobri que ele estava me enganando. Eu descobri que ele tem uma amante.

Senti meu corpo arder em raiva, e involuntariamente cerrei os punhos e dentes. A minha vontade era sair dali naquele exato momento, mas respirando fundo, me contive para que ela pudesse contar.

- E então, ele chegou bêbado e alterado. Eu perguntei sobre sua amante, a mesma que havia deixado lhe deixado o bilhete que estava em seu paletó. – Sua voz era falha, e eu mal conseguia entender com clareza. – Eu me senti uma idiota, e disse toda a verdade. Que queria me divorciar para ficar com o senhor, e ele ficou furioso. Ele estava fora de si, e então segurou os meus braços com muita força. – Ela suspirou mais uma vez. – Então, ele começou a dizer coisas horríveis, coisas que eu tenho até vergonha de repetir. E então, eu lhe dei um tapa, e ele... Ele revidou.

Ela voltou a chorar, e eu imediatamente me levantei. Tudo ao meu redor pareceu escurecer, e eu podia sentir o meu sangue borbulhar em minhas veias. Como o Aldo teve coragem de bater em uma mulher? Como ele teve coragem de bater na Lety? Como ele teve coragem de ofendê-la?

Sem pensar em mais nada, saí feito um louco pela sala. Todos no hall olharam assustados para mim, mas eu não me importei. Quase quebrando o botão, chamei o elevador, quando Letícia abriu a porta da sala, enquanto vestia seu blazer.

- Seu Fernando! – Disse se aproximando do elevador, colocando às mãos na porta, o impedindo de fechar. – O que o senhor vai fazer? – Me olhou assustada.

Eu não a respondi, apenas a encarei com os olhos marejados, tentando digerir tudo o que ela havia me contado. Eu iria acertar as contas com Aldo. Iria fazer pagar com a própria vida cada dor que ele fez Letícia sentir.

- Por favor, vamos voltar para a sala. – Seus olhos estavam vermelhos, e isso só fez a minha raiva aumentar. – Por favor.

Eu me mantive em silencio, e com delicadeza, tirei as suas mãos das laterais do elevador. Ela entrou no elevador, e não se manteve em silencio um minuto sequer. Eu não havia prestado atenção em nenhuma palavra, estava tomado por uma raiva que me impedia de prestar atenção em qualquer coisa ao meu redor.

O elevador se abriu, e eu saí desesperado em direção ao estacionamento. Letícia correu, e segurando meu braço, me impediu de caminhar.

- Seu Fernando, aonde o senhor vai? – Perguntou com os olhos marejados.

Mais uma vez não o respondi, e abrindo a porta do carro, liguei a chave. Antes que eu desse partida, Letícia entrou no carro, me olhando assustada. Pisei fundo no acelerador, sem pensar em nenhuma consequência que isso pudesse trazer.

Feito um furacão, segui para um endereço que eu sabia muito bem. Segui um endereço que tive o desprazer de conhecer assim que voltei do Brasil.

- Seu Fernando, o que o senhor vai fazer? – Letícia perguntou ao perceber onde eu havia estacionado o carro.

Saí do carro sem respondê-la e com a fúria me dominando, entrei no restaurante. Assim que cheguei avistei Aldo falando com uns funcionários. A raiva aumentou ainda mais quando o vi sorrindo como se nada tivesse acontecido. Guiado pela raiva, segui em direção ao Aldo, chamando a atenção de todos ao redor.

- COMO VOCÊ SE ATREVEU A TOCAR NA LETÍCIA? – O agarrei pelo colarinho. – COMO VOCÊ SE ATREVEU A ENGANÁ-LA? – Disse o acertando com um soco.

Estava transtornado, e a raiva me tomava por completo. A cada golpe que eu dava, parecia que a raiva ficava ainda mais forte, e eu só queria extravasar toda a raiva que sentia.

- EU JUREI QUE SE VOCÊ A MAGOASSE, VOCÊ IRIA SE VER COMIGO, NÃO DISSE? – O empurrei contra a mesa. – VOCÊ VAI APRENDER A RESPEITAR UMA MULHER.

Estava prestes a dar outro soco, e quando levantei o meu braço, Letícia entrou, nos olhando assustada.

- Seu Fernando, não, por favor! – Ela correu até mim, segurando o meu braço. – Por favor, não faz isso, eu te imploro. – Lágrimas corriam pelo seu rosto.

Eu olhei para Letícia, e quando estava prestes a dar outro soco em Aldo, fui surpreendido com um golpe em meu rosto. Senti meu sangue ferver, quando toquei em minha boca e vi um liquido vermelho escorrer. Juntei toda a força e raiva que sentia, e partindo para cima do Aldo, dei mais um, dois, três, vários socos. Nunca em minha vida pensei que seria capaz de sentir uma raiva assim.

- Seu Fernando, por favor, já chega. – Letícia gritou chorando, me afastando de Aldo que estava praticamente desacordado.

Acatando o pedido desesperado de Letícia, soltei o colarinho de Aldo, o fazendo cair no chão. Eu o olhei com desprezo, e apenas por respeito à Lety, não lhe dei a quantidade de socos que a minha raiva pedia.

Letícia chorava em desespero. Estava notavelmente assustada e com medo, e tocando meu braço, me puxou em direção a saída. Eu a segui, mas antes que pudesse sair do restaurante, eu parei, e voltei a encarar Aldo.

- E da próxima vez que você quiser agredir alguém, procure alguém do seu tamanho e gênero. – Disse entre os dentes.

 

 

 

•••

 

 

- O senhor não deveria ter feito isso, Seu Fernando. – Letícia disse, levando um pano molhado ao canto da minha boca.

- Ai – Disse puxando o ar entre os dentes. – Como eu não poderia ter feito isso, Dona Lety? – A olhei. – Ele te agrediu.

Estávamos na sala da minha casa.  Decidimos que não seria apropriado e sensato voltarmos para a empresa daquele jeito. Letícia ainda chorava muito, e eu estava com a boca sangrando, totalmente transtornado.

- Eu não poderia deixar isso barato. – Fiz uma careta ao sentir uma dor no canto da boca. – Eu jurei a mim mesmo que ele se veria comigo se a magoasse, e foi eu cumpri.

Ela me olhou terna, e com os olhos brevemente marejados. Ainda era notável e tristeza em seu olhar, por mais que ela tentasse disfarçar isso.

- Dona  Lety, eu... ai, vai devagar aí. – Disse entre um gemido. – Eu posso te perguntar uma coisa?

Ela tirou o pano da minha boca, e me olhando curiosa, assentiu.

- Isso já aconteceu antes? – Perguntei sério. – O Aldo já a agrediu antes.

- Não! – Ela suspirou, me olhando. – E por isso eu me assustei com sua atitude. Ele nunca havia sequer gritado comigo... Não até ontem. – Me olhou triste.

- E você vai denunciá-lo, não é?

- Eu não sei ainda, Seu Fernando. – Voltou a limpar o sangue do canto da minha boca.

- Como assim, Dona Lety? – A olhei indignado. – Ele a agrediu! A senhora tem que fazer alguma coisa!

- O senhor já vez! – Respondeu sem me olhar. – E é exatamente por isso que não quero envolver a polícia nisso. O senhor o agrediu, e se eu denunciá-lo, ele pode acusar o senhor de agressão, e eu não me perdoaria nunca se algum mal lhe acontecesse por minha causa. – Ela me olhou nos olhos. – Eu não me perdoaria se o senhor sofresse mais uma vez por mim.

- Eu não me importo com isso, Dona Lety. – Disse sincero. – O Aldo tem que pagar pelo que fez.

Ela suspirou pesadamente, encarando um ponto fixo no meio da sala. Parecia perdida em seus próprios pensamentos, parecia presa em seu mundo paralelo. Estava prestes a despertá-la do seu transe, quando ela virou seu rosto para mim com os olhos marejados.

- Obrigada! – Disse emocionada. – Por me defender e cuidar de mim, mesmo depois de tantas coisas.

- Ah, Dona Lety, não me agradeça. – Sorri, segurando a sua mão. - Eu estarei sempre aqui para cuidá-la e protegê-la, e não me importa que consequência isso possa gerar. – Apertei sua mão. – Eu estarei sempre ao seu lado. Sempre. 


Notas Finais


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